Muda

Eu trouxe do alto daquela colina,

A flor mais bela da árvore mais cítrica.

Envolvida por um manto pincelado de azul,

Como se protegesse suas pétalas de algum...

Sentimento preso a um passado não tão distante.

E isso era fácil de notar,

Pois a profundidade das cicatrizes parecia lacerante.

Foi quando então eu plantei aquela flor...

No sopé de uma montanha isolada.

Para se recriar em um novo ambiente,

Com ventos serenamente frequentes...

Onde as feridas,

Escondidas tão unicamente por aquele véu azul,

Pudessem talvez sarar assíduas.

Porque eu já ouvi,

Nas preces de um monge tupiniquim,

Que as dores nós curamos assim...

Em um novo lugar.

E eu esperei-a recuperar...

A beleza que mesmo ferida,

Aquela flor conseguia mostrar.

De sentimentos novos a terra em que fora plantada,

Surgiu um estonteante charme verde.

Tão diferente do antigo marrom seco,

Que tornava o sopé daquela montanha tão solitário.

Pelos cantos de olho, de soslaio...

Eu vi a primavera que floresceu em Maio.

Foi assim que a mudança aconteceu...

A linda flor que colhi naquela desolada colina cresceu.

E fez acabar toda a devastação que antes assolava aquele lugar,

De estranha inquietação marrom.

Pois tudo que aquela bela flor,

Pincelada de azul como se para proteger

Do inverno de seus próprios sentimentos,

Precisava, era de uma mudança.

Como há de ser nas estações...

Pois nenhuma dor é eterna...

E nenhuma vida temporária.

Cada caule que se enraíza no solo,

De uma colina qualquer,

Pode ver numa terra esquecida,

O nascimento de uma muda de esperança,

Que viceja doce em uma montanha distante de antigas lembranças.

~Gabriel.