Hermione estava fazendo o que há muito tempo não fazia: passar o final de semana em casa. Aproveitou que estava sozinha e resolveu colocar os estudos em dia, era o melhor momento para estudar, no silêncio absoluto. Não que precisasse colocar os estudos em dia, mas testar seus conhecimentos era uma espécie de vicio que ela tinha, e se orgulhava dele.

Concentrada em seus livros de angiologia, ela odiou quando o interfone começou a tocar desesperadamente e ela teve que se levantar para atendê-lo. O porteiro avisava que tinha alguém querendo subir, e esse alguém era Rony Weasley. Deu a autorização para que ele subisse e correu para o banheiro. Checou seu visual e perguntou-se por que gostava de ser tão infantil? A começar pelo pijama que não tinha tirado desde que acordara: Ovelinhas? É sério mesmo, Hermione? As pantufas: Tinham que ser do Mike Wazowski? Eram pra combinar com as de Cedrico que eram do Sulley! E as duas trancinhas que usava no estilo "Maria Chiquinha"? Ok, não poderia mais reclamar dos apelidos que os amigos lhe davam, afinal ela mesma estava repleta de motivos para o uso deles.

O tempo que desperdiçara entrando num conflito interno com sua própria consciência por conta de seu look infantil fora o suficiente para que Rony subisse, ela teria que abrir a porta vestida daquele jeito mesmo. Encaminhou-se até a porta e abriu-a um pouco envergonhada.

— Oi, Ron.

— Oi, Mione! — ele disse animado e a envolveu num abraço de urso que a tirou do chão.

— O que faz aqui há essa hora? Tínhamos combinado alguma coisa?

— Já é uma da tarde, senhorita! E não, não combinamos nada, mas... Eu trouxe uma coisinha! — ele disse pegando uma caixa grande que estava atrás dele — Posso entrar?

— Pode. — ela disse dando passagem e ele entrou.

— Estava estudando? Estou atrapalhando? — ele perguntou sentando-se no sofá.

— Não, eu estava só... Hm, arrumando algo pra passar o tempo! — disse sentando-se também — O que trouxe?

— Lembra quando me disse que você e o Cedrico tinham um costume que você gostava muito de fazer, mas agora o trocaram pela corrida?

— Ah sim, me lembro. Patins, não é?

— Exatamente! Já que Cedrico agora prefere correr... Então você pode andar de patins comigo!

— Eu adoraria andar de patins com você, Ron!

— Então vamos!

— Ok, vamos. Podemos marcar...

— Mione, nós vamos agora!

— Agora?

— Sim! Eu trouxe meus patins! — ele disse e ela gargalhou.

— Que maravilha, Ron! Vamos! — ela disse se levantando.

— Vamos ao parque andar de patins e depois vamos fazer piquenique!

— Ah, Ron. Obrigada! Vai ser tão divertido!

— Ótimo, vá trocar de roupa! Aliás, eu adorei seu visual. — ele se levantou e andou até a garota para depositar um beijo em sua bochecha — Acho que agora entendi porque você é a miss meiguice/Fofurina/Princesinha do grupo.

— Obrigada, aparentemente você é o único que gosta, já que minhas roupas infantis são motivos de piadas para os babacas que eu chamo de amigos! — disse brava com os apelidos que recebia — Mas, poxa, elas são confortáveis! Será que eu posso gravar você dizendo que gosta pra mostrar pra eles? — agora foi à vez dele de gargalhar.

— Vá trocar de roupa, garota!

(...)

Hermione trocou de roupa, mas manteve o penteado. Ela e Rony estavam sentados em um dos bancos do parque enquanto calçavam seus patins. A garota colocou o dela rapidamente com agilidade, já Rony atrapalhou-se tentando copiar os movimentos dela até que ela o ajudou.

— Você não vai colocar o equipamento de proteção? — ele perguntou pra ela ao ver que só ele usava capacete, joelheiras e cotoveleiras.

— Não, eu não vou cair.

— Ok. — ele disse um pouco desconfiado.

— Vamos? — ela disse e logo se levantou.

— Vamos. — disse com medo de levantar-se, mas todas suas tentativas foram falhas. — Você pode me ajudar?

— Claro! — Hermione lhe estendeu a mão e ele levantou-se com dificuldade.

— Ok, vamos lá.

Hermione dera o primeiro passo com os patins ainda de mãos dadas com o ruivo que tentou acompanhá-la, mas caiu, levando ela junto consigo.

— Só porque você disse que não ia cair! — ele disse sem graça.

— Vingativo, agora? A sua sorte é que você amorteceu minha queda! — disse levantando-se — Vai ter volta, Weasley. Vamos!

— Você pode me ajudar de novo?

— Ok, vem! — ela disse tentando puxá-lo, mas os dois caíram de novo. — Ron... Você sabe andar de patins, por acaso?

— É claro que sei! Sou muito bom nisso! Sou ótimo na verdade... Não, eu não sei! — ele declarou depois de receber um olhar duro dela.

— Você não tinha nenhum patins, né? Comprou depois que te contei que eu gostava de andar de patins...

— Claro que não!

— Ron...

— Sim, eu comprei.

— Ron, você não precisa tentar me agradar o tempo inteiro.

— É claro que preciso!

— Não precisa não! Esses dez meses são para eu conhecer o Ron de verdade, o Ron que existia sem me conhecer, ok? Não precisa tentar me impressionar... Se bem que essa tentativa deu certo...

— Deu? — ele perguntou animado com o sucesso.

— Deu, mas não precisa disso. Me mostre quem você sempre foi, o que seremos agora um com o outro nós construiremos juntos, ok?

— Ok.

— Então agora eu vou ensinar você a andar de patins, vamos lá pra quadra!

(...)

— Acho que já pode soltar a grade, Ron!

Hermione estava empenhada em ensinar o ruivo, mas ele era muito medroso. Porém, ele já tinha feito um grande progresso, já que agora conseguia deslizar os pés da maneira correta, o que fazia com que ele tivesse mais medo ainda, pois segundo o mesmo: quanto mais deslizasse, mais facilmente cairia.

— Eu acho que não! — respondeu.

— Eu estou segurando sua mão!

— Ainda bem, acho bom não soltar! — disse aumentando o aperto na mão da garota. — Acho que é melhor pararmos um pouco e deixarmos o treinamento para outro dia.

— Só vamos parar de você soltar as mãos dai e dar uma volta comigo. Eu não vou soltar sua mão, se sentir que vai cair pode se segurar na grade! — ele a olhou cogitando a ideia — Por favor!

— Ok, esse beicinho fofo me convenceu! HERMIONE! — ele gritou quando a garota soltou suas mãos para comemorar quando ele aceitou a proposta.

— Desculpe! — ela disse rindo pegando a mão dele novamente — Vem, nós vamos devagarzinho...

Hermione nunca vira um devagarzinho tão devagarzinho na vida, Rony definitivamente era muito medroso! Mas gostou de saber que ele confiava nela e que estava disposto a enfrentar seus medos por ela. Rony era um cavalheiro, e ela queria muito negar, mas sabia que aquilo por mais bobo que fosse tinha mexido com ela.

— Enquanto você tira seu patins eu vou dar mais uma volta, ok? — ela disse assim que terminara de ajudar o ruivo a sentar-se.

— Ok. — ele respondeu e ela saiu em disparada.

Aquele foi sem dúvida nenhuma um momento humilhante para Ronald. Depois de horas andando grudado nas grades da quadra, ele vê-la andando rapidamente em seus patins com a maior facilidade do mundo era definitivamente humilhante. A morena tinha movimentos rápidos e precisos, parecia tão fácil para ela. Fácil e divertido, pois o sorriso que carregava no rosto era extremamente prazeroso! Houve um momento em que ela abriu os braços e tombou a cabeça para trás como se estivesse absorvendo toda a felicidade do mundo e passou a girar enquanto ria como uma garotinha, — as trancinhas que ainda usava ajudavam e muito com a aparência de garotinha — os raios de sol que iluminavam seu rosto eram tão humilhados quanto ele acabara de ser, pois a luz que ela emanava era muito maior que a luz de qualquer outra estrela.

Ele estava apaixonado, definitivamente apaixonado, e não sabia até quando aguentaria ficar próximo a ela sem tomá-la nos braços, mas ela queria tempo e ele respeitaria isso, mas o usaria a seu favor. Logo ela veio patinando em sua direção e agilmente parou em sua frente e agachou-se para começar a tirar os próprios patins também.

— Você precisa aprender a andar logo, pra poder me acompanhar! — disse animada.

— Ah claro, tenho certeza que logo estarei andando igual a você. Perfeitamente! Espero que saiba que me senti completamente humilhado agora!

— Essa era a intenção. — disse fazendo com que os dois rissem. — Vamos pro piquenique?

— Ora, ora, Hermione, pensei que eu é que fosse o morto-de-fome da relação... — disse para provocá-la e recebeu um tapa como resposta.

— Cale a boca, Weasley! Vamos comer logo.

(...)

  — O que trouxe? — Hermione perguntou olhando para as coisas que Rony tirava da cesta de piquenique.

Depois de andarem de patins os dois procuraram a sombra de uma árvore que estivesse desocupada e abriram a toalha de piquenique para sentarem-se e lancharem.

— Trouxe sanduíches, geleia, suco, bolo...

— Foi você que preparou esta cesta?

— Não, foi a minha mãe. Eu sou uma negação para a cozinha, mas sou ótimo pra comer!

— Isso eu percebi, você só pensa em comida.

— Não é que eu só penso em comida, é que comer é vida! É como o ar, eu preciso pra sobreviver.

— Que linda história de amor... — disse zombando dele.

— É impossível não viver uma história de amor quando você cresce sendo alimentado pela minha mãe! Prove a geleia, foi ela que fez. — ele disse passando um pouco de geleia no pão e entregando a ela.

— Veremos... — ela disse dando uma mordida de olhos fechados.

— Saboreie... Sinta o gosto do morango... O açúcar nos seus lábios... O sabor da melhor comida de mãe do mundo... — ele ia dizendo calma e pausadamente.

— Essa descrição foi quase melhor que a geleia, mas isso aqui é divino demais... Nada é melhor que essa geleia!

— Ahá! — ele disse vitorioso — A comida da minha mãe é maravilhosa! Você tem que provar mais coisas... Aliás, ela adoraria que você fosse lá em casa...

— Eu? — disse depois de engasgar-se.

— Sim, você. Aliás, não lá em casa, na casa dos meus pais...

— Eu ir lá?

— Sim, você.

— Ron, eu nunca fui nem no seu apartamento. Imagine ir à casa dos seus pais!?

— Não seja por isso, você será sempre bem-vinda lá no meu apartamento. Quem sabe se quiser passar a noite... Você sabe que fazer cara de brava com essas trancinhas não intimidam ninguém, né? Só fica mais fofa. — ele disse assim que ela formou uma carranca com a brincadeira que ele tinha feito.

— Ah, Ron, é que... Você não acha um pouco cedo pra isso?

— Claro que não, faz três meses que estamos saindo juntos, mas já faz muito mais tempo que nos conhecemos. Meus pais sabem sobre você e querem te conhecer.

— Eles sabem sobre mim? Tipo... Sobre nosso acordo?

— Sim, é claro que sabem.

— Meu Deus, eles devem querer me matar! Imagino que querem que eu vá lá pra me jogarem no incinerador secreto que eles devem ter...

— Incinerador secreto? — perguntou depois de gargalhar — Hermione, que maluquice!

— Então eles têm algum outro tipo de máquina de tortura?

— Não, é claro que não! — disse ainda rindo — Eles só querem te conhecer, todos querem. Meus pais, meus irmãos... A minha irmã Gina está louca pra te conhecer!

— Suponho que ela me odeie também, já que parece ser bem possessiva pelo excesso de fotos dela que colocou no seu escritório.

— Na verdade não é de mim que ela está com ciúme, é de você!

— De mim?

— Sim, ela acha um absurdo até o Harry e o Neville conhecerem a cunhada dela e ela não.

— O Neville... Devo desculpas a ele ainda.

— Ele nem lembra mais da discussão no bar, Mione. E desde que você faça propaganda dele pra Luna, ele te perdoará fácil, fácil! Ele está apaixonado, mas não conte isso pra ela!

— Sério? Ela também está!

— Que maravilha! Logo poderemos fazer um encontro de casais decente, já que nossa primeira experiência deve ser apagada da mente de nós quatro.

— Espero que se apague mesmo, tenho vergonha até de lembrar.

— Eu fico feliz, é bom saber que mesmo depois daquilo estou aqui com você.

— Eu pensava que você era um louco, sério! Mesmo depois de saber a verdade eu achava que você era louco!

— Por quê?

— Por que é que você ia querer algo comigo? Eu que fui super mal educada com você?

— Porque eu sabia que aquela não era a Hermione que tinha conversado comigo na boate, sabia que a verdadeira Hermione é simpática, bondosa e gentil. Não aquela estressadinha. — disse e ela riu.

— Tome cuidado, às vezes a Hermione estressadinha ainda toma conta de mim.

— Todo mundo é um pouco estressadinho às vezes, eu saberei lidar com isso. Ainda mais quando a estressadinha é linda e cheirosa como você. Posso sentir o seu perfume?

— Po-po-pode... — disse insegura com o pedido repentino e ele aproximou-se.

Rony afastou uma das trancinhas de Hermione do pescoço dela e segurou o rosto dela de forma que ela o tombasse para um lado, inclinou-se em sua direção e roçou seu nariz no dorso do pescoço da garota inalando o delicioso aroma doce de seu perfume, fazendo com ela se arrepiasse. Rony não resistiu à tentação e acabou encostando seus lábios naquela região e sentiu a garota estremecer, mas aliviou-se ao perceber que ela não se afastou.

Hermione já estava arrependida de ter deixado o ruivo sentir o cheiro de seu perfume, sabia que aquilo não acabaria nada bem! E estava mais arrependida ainda por ter deixado o ruivo a sentir estremecendo com o toque de seus lábios, mas foi impossível conter o calor que percorreu sua espinha, assim como fora impossível conter o suspiro que soltara quando ele começou a percorrer um caminho de beijos por seu pescoço. Não demorou muito para que ele chegasse em suas bochechas, e logo pegou-se encarando-o nos olhos. Ela sabia o que ele estava fazendo, estava esperando sua permissão para prosseguir com aquilo que desejava. Mantenha-se sã, Hermione. Sã! E foi com aquele pensamento que ela afastou-se dele visivelmente atordoada.

— Você estava falando dos seus pais, acho que quero conhecê-los também. Podemos marcar algum dia. — disse com o rosto corado.

— Ótimo, ótimo. — Rony disse odiando-se por saber que estava com as orelhas mais vermelhas que seus cabelos — Acho que tenho a data perfeita.