A Diferentona escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 1
Bem-Vindo à Clichésville


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da minha nova fic :)



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— Chegamos, querida – minha avó anuncia, tirando-me de meus devaneios.

 Retiro os fones de ouvido e, através da janela do banco de trás do carro parado, olho uma residência. É a casa dos meus avós, um lugar em que passei as férias da minha infância, e que a partir de agora, irei viver.

— Sabemos que não é grande coisa – comenta meu avô sobre a casa –, mas era isso ou o orfanato.

 Recentemente, meus pais morreram num acidente de carro. Foi tão trágico que quase não sobrou nada deles para enterrar.  Após isso, entrei numa profunda depressão, tendo comportamentos suicidas como ouvir Lana Del Rey.

— Para falar a verdade, iríamos deixar você para ser adotada – comenta minha avó. – Não queríamos mais despesas, mas como você é uma jovem de dezessete anos cheia de energia, vai servir para fazer todo o trabalho doméstico.

— E cortar as unhas encravadas dos meus pés – acrescenta meu avô.

— Obrigada pela consideração – falo, forçando um sorriso.

 Agora, cá estou eu, indo morar com meus avós na pequena cidade de Clichésville, localizada em alguma parte não-específica dos Estados Unidos.

 Ao sairmos do carro, pegamos minhas coisas e levamos para meu novo-velho-quarto, no segundo andar da casa.

— Essa é a ultima – meu avô avisa, se referindo à mala, pousando-a no meio do dormitório. – Bom, vou te dar privacidade e ir transar com sua avó. – Ele se retira e fecha a porta.

 Dirijo-me até o banheiro dentro do quarto e paro diante do espelho, encarando meu reflexo. A imagem que visualizo é de uma garota magra, pálida, de longos cabelos ruivos presos num coque frouxo, que possui olhos azuis e usa óculos.

— Meu Deus, como você é feia! – digo para mim mesma.

 Assim que deito na cama, ouço gemidos dos meus avós e batidas contra a parede atrás de mim.

Queria estar morta, penso.

* * *

 Na manhã seguinte, acordo atrasada para o primeiro dia de aula na escola nova e me arrumo rapidamente de qualquer jeito. Vestindo meu cardigã favorito, desço para o primeiro andar às pressas com a mochila nas costas e encontro meu avô sentado numa poltrona, lendo o jornal.

— Bom dia, Emily – ele diz, desviando o olhar do jornal para mim assim que atravesso seu caminho. – Você parece péssima. Não dormiu bem?

— Seria difícil dormir bem com você e minha avó fazendo todo aquele barulho ontem a noite – respondo.

— Uma hora vai se acostumar. Se não conseguir, reclame com seus pais. – Ele começa a rir descontroladamente, e ao tentar recuperar o fôlego, solta um tossido carregado de catarro e volta a rir novamente, caindo da poltrona.

— Não vai tomar o café da manhã, querida? – minha avó pergunta da cozinha, fazendo ovos com bacon e torradas.

— Ah, não – digo andando pelo corredor em direção à porta. – Eu vou tomar no Starbucks, no caminho da escola.

— Que bom. – A ouço falar. – Sobra mais comida para mim e seu avô!

Em seguida, vou embora, batendo com força a porta atrás de mim.

* * *

 Já na High Cliché School, tenho minhas primeiras aulas e nada de interessante acontece. Porém, quando saio da classe de biologia e caminho distraída pelo corredor em direção ao meu armário, esbarro com um rapaz e derrubo meus livros no chão.

— Me desculpe, eu sou uma estabanada. – Me agacho, os apanhando.

  E então, ele também se agacha para me ajudar e nossas mãos se tocam ao tentarem pegar o livro que faltava. Erguemos as cabeças ao mesmo tempo e nossos olhares se encontram. Fico observando seu belo semblante por alguns segundos, que pareciam ter se alongado para minutos, como se tudo estivesse se movendo em câmera lenta.  Estou guardando cada detalhe da imagem dele em minha mente para quando eu me tocar hoje à noite. Branco, musculoso, alto, cabelos escuros, sobrancelhas grossas, olhos azuis, nariz reto, lábios finos e rosados (ah, como eu gostaria deles beijando os meus lábios debaixo)... o típico padrão de beleza de um rapaz que toda garota que assiste filmes de romance sonha em ter.

 – Aqui estão – ele diz me entregando os livros. – Melhor prestar mais atenção por onde anda. – E abre um largo sorriso, exibindo seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.

 Estou toda molhada, penso. O bico do meu peito chega a coçar, penso.

— Obrigada – digo enquanto ele se levanta e se distancia.

* * *

 No horário do almoço, pego uma bandeja com comida que não vou comer porque é somente cenográfica, e sento em uma mesa vazia.  De repente, noto dois alunos andando até mim. Um deles é uma garota negra, de longas tranças soltas, e o outro é um rapaz branco como porcelana, de franja, usando roupas estilosas cheias de lantejoulas.

— E aí, menina? – cumprimenta a garota, sentando com o rapaz ao seu lado. – Meu nome é Laquisha. O seu é...?

— Emily – respondo. – E qual é o nome do seu namorado? – indago me referido ao rapaz a acompanhando.

 Ambos caem na gargalhada, no entanto, não entendo o motivo.

— Namorado?  – Laquisha pergunta incrédula, aos risos. – O Bart?

— Eu disse algo engraçado?

— Sim – Bart fala. – Eu sou gay!

— A mais afeminada do grupo – comenta Laquisha.

— E pela sua inocência, você deve ser nova aqui. – Ele supõe. Balanço a cabeça positivamente. – Por isso viemos te convidar para o Clube Glitter.

— Clube Glitter?

— O coral do colégio – explica ela. – Um grupo onde só tem minorias e oprimidos: negros, latinos, asiáticos, gays, gordos, deficientes...

— É um lugar onde ninguém sofre bullying. Onde todos cantam e são felizes.

— E onde fazemos orgias nas sextas-feiras – Laquisha acrescenta.

— Já que você é ruiva e não temos nenhuma no coral, queremos saber se você gostaria fazer parte – Bart diz.

 Essa é oportunidade perfeita para eu fazer amigos pela primeira vez, me encaixar em um grupo e participar de orgias.

— Sim! – respondo de imediato.

— Ótimo! Mas antes você precisa fazer a audição – fala ele.

— Hoje?

— Não. Amanhã, no próximo capítulo.

— E se eu não conseguir entrar?

— Vai conseguir, sim – diz Laquisha. – Essa é a sua história. Tudo já está planejado. Está até escrito que eu serei sua melhor amiga.

— Bom, agora precisamos ir.  – Bart se levanta com a amiga. – Está na hora da gente lacrar de salto quinze numa performance no meio da aula de matemática. Te vemos na audição.

— Boa sorte – deseja Laquisha.

 E os dois vão embora desfilando pelos corredores da escola ao som de Crazy in Love.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem (por favor, nunca te pedi nada) que em breve postarei o próximo capítulo ^^