Kaoru ficou mais surpreso com  Haruhi do que com si mesmo. Então isso significava que ela também gostava dele?!? Tudo parecia um sonho agradável do qual ele não queria acordar. O rapaz estava repleto de uma completa felicidade, a qual nunca tinha sentido antes. Mal conseguia acreditar que ela tinha devolvido o beijo. . .  Era suficientemente bom demais saber, e então deu um pequeno sorriso entre seus lábios unidos. Alguns segundos depois, ambos se separaram, pois o ar havia se tornado uma importante necessidade. Os dois  estavam sem fôlego, com suas bochechas coradas como maçãs  enquanto ofegavam em busca de ar.

Já Haruhi não sabia o que dizer. . . A garota estava confusa quanto aos seus próprios sentimentos. Havia dito a si mesma de que não gostava dele, então, por que seu corpo cedeu, afinal? Nunca havia se apaixonado nenhuma vez em sua vida, e sempre fora desinteressada em ter qualquer relacionamento romântico com alguém. O sentimento era até então desconhecido, a sensação era estranha e avassaladora. Ela não conseguia entender. . .

Kaoru tomou uma respiração profunda e suspirou enquanto olhava para a morena de cabelo curto a seu lado.

— Haruhi. . . Eu. . .  — O ruivo tentou terminar a frase que estava prestes a proferir, porém teve que respirar um pouco mais para que finalmente pudesse falar. Ele ainda sentia que seu rosto estava terrívelmente quente e corado. O de Haruhi também não parecia diferente. Tinha sido ousado de roubar - lhe um beijo, mas não pôde se controlar. Ou melhor, não pode controlar seus sentimentos. Kaoru Hitachiin não era impulsivo, porém, como já foi dito antes, tinha sido algo que nem ele mesmo havia previsto que fosse fazer. . . Agora, nesse momento, tinha uma chance de se declarar á ela, dizer finalmente o que sentia. Ele olhou para a menina, a qual tinha uma expressão confusa em sua face, como se estivesse se debatendo muito sobre o que acabara de fazer.

Escondido atrás da porta, estava um gêmeo com o coração partido, surpreso, arrasado e chocado com a cena que acabara de ver. Seu coração estava desfeito e quebrado em um milhão de pequenos pedaços como cacos de vidro. . .

Era tão doloroso para ele que a dor que sentia era como uma facada. Não queria ser tomado por suas emoções como sempre, porém falhou míseravelmente. Lágrimas subiram imediatamente por seus olhos dourados e brilhantes, escorrendo por seu rosto enquanto o som de seu choro era abafado pela porta a sua frente. Ele queria socar Kaoru! A raiva e o ego tomaram conta dele e pareciam subir por todo o seu corpo e parar direto em sua garganta. Haruhi deveria ser DELE. Como ele pode?!? Seu irmão havia mentido para ele negando seus sentimentos, algo que  o gêmeo nunca havia feito antes com Hikaru. Aliás, ambos nunca mentiam um para o outro, compartilhavam e contavam tudo, mantendo seus laços e amizade fortes entre si. Doía mais ao saber que era seu próprio irmão. . . Podia ser qualquer outro membro do clube, mas não seu irmão. Era inacreditável! Hikaru se sentia traído, não sabia mais se poderia voltar a confiar nele. Ver Haruhi e ele juntos assim o feria. . . Não queria ver mais nada, essa cena tinha sido o suficiente. Então, sem pensar, ele bateu a porta antes entreaberta com força extrema, sem se importar se os dois ouviriam o barulho e saberiam de sua presença ali. Para ele, isso não importava.

 Saiu correndo o mais rápido que pôde em direção ao quarto, e, chegando lá, se trancou no banheiro, algo que  sempre fazia quando tinha um acesso de raiva e não queria ver ninguém. Se sentou no chão, encostado contra a parede. Abraçou seus próprios joelhos e continuou a chorar, isolado. Ele estava magoado, seu coração amassado como papel, e doía, doía sem parar. . .

Haruhi recobrou seus sentidos imediatamente quando escutou a porta bater com força. Estava claro que alguém os tinha observado o tempo todo. Ela recolheu suas coisas que estavam em cima da mesa rápidamente.

— Me desculpe, eu. . . eu tenho que ir! — Disse ela, e em seguida saiu correndo.

— Haruhi, espere!  — Kaoru a chamou.

Mas já era tarde demais. A garota já havia atravessado a porta e ido embora, desnorteada.

Tinha estado tudo bem até aquele momento. Kaoru havia tomado coragem para se confessar e estava preste a revelar seus sentimentos, até escutar uma batida da porta. E ele infelizmente já tinha ideia de quem poderia ter estado do outro lado. . .

Haruhi desceu as escadarias rápidamente, e, chegando a porta, encontrou o motorista que a havia trazido até ali. Ele lhe dirigiu um olhar e então perguntou:

— Sra. Haruhi, você já vai?

— Sim.  — Ela o respondeu.

— Você gostaria que eu a levasse de volta para casa?

— Obrigado, é muita gentileza da sua parte, mas isso não será necessário, senhor.  —Ela disse, dando-lhe, em seguida, um pequeno sorriso.

— Não, senhorita, por favor, eu insisto.

Haruhi resolveu não protestar, e então aceitou, suspirando.

— Ok, tudo bem, você pode.

O motorista, satisfeito, saiu andando na frente em direção a limusine em que eles vieram, que estava estacionada em frente a mansão e abriu a porta elegantemente para que ela entrasse no carro, fechando-a em seguida quando ela entrou.

Haruhi deu o endereço de seu complexo de apartamentos e o motorista somente assentiu com a cabeça e começou a levá- la.

Enquanto olhava a cidade pela janela, milhares de pensamentos giravam em sua cabeça. Como, por exemplo: Kaoru estava mesmo apaixonado por ela? O que ela realmente sentia por ele, afinal? Quem os teria observado enquanto eles se beijavam? Por que ela o beijou, afinal de contas?

Esses e outros pensamentos permeavam sem parar. Haruhi tocou seus lábios levemente, se lembrando do beijo de minutos atrás, e corou. O gosto ainda permanecia em sua boca, e junto a ele, uma lembrança. . .

Kaoru deu um longo suspiro. Ele havia pensado em segui-la, porém resolveu deixar que ela se fosse. . .

Seus lábios ainda formigavam do ocorrido de minutos atrás, e ele relembrou a sensação: tinha sido maravilhosa, emocionante e indescritível, de todas as maneiras. Muitas vezes, ele já tinha imaginado como seria beijá-la, tinha até mesmo sonhado e fantasiado com isso, porém nada se comparava ao beijo real que eles compartilharam, e ele ansiava por outro. Isto é, se Haruhi realmente se sentisse da mesma forma que ele e eles começassem a namorar. Tudo o que ele precisava era de uma confirmação vinda da boca da própria Haruhi, e então ela poderia ser dele. Sim, apenas dele. Ele realmente tinha se tornado egoísta quando o assunto era ela . . Se Haruhi o aceitasse, então eles poderiam ficar finalmente juntos. Kaoru sorriu com o pensamento. Porém, seu sorriso logo desapareceu quando ele se lembrou de Hikaru. Rápidamente, ele se levantou da cadeira e correu até o quarto que compartilhava junto com seu irmão, encontrando suas coisas da escola jogadas em cima de sua cama. Em seguida, ele olhou para a porta do banheiro e andou até lá. Estava trancada. Encostou seu ouvido na porta e ouviu um choro abafado e dolorido vindo do outro lado, e suas suspeitas se confirmaram. Acesso de raiva. Ou era isso ou Hikaru quebrava as coisas, ou gritava, ou descontava sua raiva em qualquer pessoa ou coisa que visse pela frente. Era sempre assim. Seu irmão nunca conseguia se controlar. Porém, se trancar no banheiro era uma das coisas menos prejudiciais que Hikaru Hitachiin poderia causar. Se ele não estava bravo, e sim, apenas magoado, então o caso era grave. E Kaoru sabia que o motivo era ele. Suspirou e o chamou, batendo três vezes na porta.

— Hikaru!

— VÁ EMBORA, KAORU! EU NÃO QUERO TE VER! — Veio o grito de Hikaru do outro lado.

— Hikaru, por favor, abra a porta, vamos conversar! — Kaoru chamou novamente, gritando.

— Não! Não vou abrir a porta para um mentiroso traidor! — Hikaru disse friamente do outro lado.

Ai! Aquilo tinha doído no fundo de seu coração, e foi como se ele tivesse levado uma flechada, ou melhor, várias flechadas ao mesmo tempo. Ele sabia que o motivo de seu irmão estar com raiva era culpa dele. Kaoru estava arrependido de ter mentido para ele, ele nunca foi de mentir para seu irmão, e sabia que o reconhecimento por ele de seus sentimentos por Haruhi poderia provocar uma verdadeira tragédia entre os dois, e Kaoru não queria que eles brigassem ou que Hikaru ficasse bravo com ele. Ambos eram sempre verdadeiros um com o outro e contavam tudo, sem esconder um segredo que fosse, como ele havia feito. Porém, ele não imaginava que as coisas tomariam aquele rumo. Ele achou que conseguiria esconder mais seus sentimentos e que talvez nunca os revelaria, porém esteve se enganando por muito tempo, afinal.

Kaoru deu um pesado suspiro enquanto se preparava para explicar para seu irmão; ou melhor, estava se preparando para tentar se explicar para ele. Não podia suportar ouvi-lo chorar assim. Queria se desculpar com ele e fazer as pazes, confortá-lo e recuperar sua confiança. Seu sofrimento era de partir o coração, e fez com que antes sua momentânea alegria fosse substituída por um sentimento de culpa, mágoa e dor. . .

Ele saiu de frente da porta e se encostou nela, frustrado, suspirando. O que diabos ele acabou fazendo?!? 

Ficou por um longo tempo sentado ali, encolhido no chão frio, pensando em seu erro. Uma lágrima escorreu lentamente de seus olhos. O que ele queria, afinal? "Haruhi", foi a resposta que lhe veio a mente. Ele a amava, mas não  tanto quanto Hikaru, que jamais seria substituído . . .

Se levantou num pulo quando escutou um clic da porta se destravando. Seu coração acelerou e este arregalou os olhos ao se deparar com a figura de seu irmão, aquele que esteve ao seu lado, que prometeu que nada interviria na vida deles desde que eram crianças. Por um momento, sentiu vontade de abraça- lo e pedir um milhão de desculpas á ele, no entanto, apenas o encarou com sua face avermelhada e seu cabelo bagunçado e disse:

—  Me desculpe, Hikaru, mas eu amo Haruhi.