Eu te odeio, Midorima Shintarou escrita por Aquarius


Capítulo 2
O especial Shin-chan


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoas. Se é que tem pessoas aí. Aqui vai mais um capítulo, espero que gostem e boa leitura! ^^



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Takao não levou um segundo de hesitação ao responder:

— Chego aí em cinco minutos.

Ele não esperou uma resposta, sabendo que ela não viria. Pegou uma moeda qualquer e enfiou no bolso. Desceu as escadas, quase tropeçando em seus próprios pés, rabiscou um bilhete dizendo onde ele estaria caso precisassem dele e o colocou sobre o de sua mãe. Shirou o encarou, a cabecinha inclinada.

— Não dá tempo de explicar, ele precisa de mim. Até mais, parceiro.

Takao zuniu pela porta e agradeceu aos céus por Midorima morar a dois quarteirões de sua casa. Na metade do caminho, pegou a moeda e apertou os números de sempre na máquina de lanches, pegando o especial Shin-chan: sopa de feijão vermelho enlatada.

Em dois minutos, Takao batia à porta. E em dois segundos, Midorima o puxava para dentro.

Os dois se encararam em silêncio. Takao, ainda ofegante, olhou para seu pulso e ruborizou. Shin-chan ainda estava o segurando. Percebendo isso, Midorima o soltou. Mais uns momentos se passaram sem que Takao soubesse o que dizer.

— Hey - cumprimentou ele, finalmente.

— Oi - respondeu Midorima. Ele fez sinal para que Takao o seguisse e entrou em seu quarto.

Não é como se fosse a primeira vez que pisasse no quarto de Midorima; havia estado tantas vezes ali que memorizara os mínimos detalhes: a parte da parede que Midorima costumava descascar quando nervoso, a madeira gasta da cabeceira de cama, a marca de durex no pôster da NBA... Mas naquele dia, Takao sentia como se sua presença ali fosse algo íntimo. Talvez fosse por causa da expressão frágil no rosto do amigo, ou porque sabia que Shin-chan estava se expondo num momento de fraqueza. Precisava tirar aquela expressão dali, não combinava com ele.

— Eu te trouxe isso.

Ele jogou a sopa, ciente de que Shin-chan jamais perderia um arremesso seu. Naturalmente, as mãos de Midorima se moveram como que por instinto, segurando a lata com facilidade. Takao teve que sorrir. Shin-chan ajeitou os óculos, um gesto que o moreno podia ler com facilidade: naquela ocasião, era o modo Midorima de sorrir.

— Obrigado.

Takao não respondeu. Em silêncio, segurou a mão do amigo e o deitou na cama, oferecendo seu colo como travesseiro. O moreno percorreu os dedos por entre os fios de cabelo de Midorima, e, pouco a pouco, sentiu-o relaxar.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa - sussurou ele ao pé do ouvido do garoto.

E, simples assim, Midorima lhe contou tudo. Seu pai estava chegando cada vez mais tarde e mandava torpedos o dia inteiro dizendo serem para alguém do trabalho. Certa noite, Midorima estava indo para seu quarto quando escutou seu pai falar ao telefone algo como "estou com saudades", "nos encontramos no lugar de sempre amanhã" e "eu também te amo". Não é preciso dizer que sua mãe estava na cozinha, sem suspeitar de nada.

Takao não deixou passar o modo como a voz de seu melhor amigo falhava vez ou outra e o leve tremor que havia em seu lábio inferior, mas não disse nada; apenas continuou emaranhando seus dedos em lisos cabelos verdes.

Quando Shin-chan parou de falar, Takao sentiu uma gota molhar sua calça. Ele suspirou e tomou o rosto do amigo em suas mãos, virando-o para que pudesse olhá-lo nos olhos.

— Eu não vou dizer que sei o que você está passando - sussurrou, limpando os cílios molhados do outro com o dedão - mas você é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Se alguém pode resolver isso, esse alguém é você, Shin-chan.

Como Midorima não disse nada, ele continuou:

— E eu vou sempre estar aqui pra você, não importa o que aconteça. Você não tem que passar por isso sozinho.

Depois disso, Midorima não conseguiu mais conter as lágrimas. E Takao secou cada uma delas.

 

Se lhe perguntassem, Takao não poderia dizer quanto tempo eles passaram naquela posição, mesmo depois que as lágrimas e soluços cessaram. Ele também não saberia dizer quando Midorima havia pegado no sono, mas ele não poderia ligar menos. Takao passou o que pareceu uma eternidade observando o subir e descer do peito do outro, o modo como seus cílios longos descansavam em suas bochechas, as curvas de seu rosto. Midorima era injustamente bonito. Não havia uma palavra certa para descrevê-lo, mas as que mais se encaixavam eram injustamente bonito. Takao perdia o ar só observando. Seus dedos se moviam por conta própria, deslizando sobre o nariz, queixo e testa de Shin-chan. Ele sabia muito bem que não deveria se apaixonar por seu melhor amigo. Takao podia ser muitas coisas: bobo, distraído, inconsequente e zombeteiro. Mas não era burro. Sabia muito bem que Shin-chan jamais ia olhar pra ele daquele jeito. Mas o que ele poderia fazer? Tudo naquele adorável idiota fazia seu coração acelerar, parar, dar piruetas, apertar e expandir.

Takao não poderia estar mais apaixonado e não podia fazer nada para mudar isso. Então tudo o que ele fazia era estar lá por ele, exibir seu sorriso mais brilhante e se esforçar ao máximo para fazê-lo rir (ou revirar os olhos, que acontecia com mais frequência. Shin-chan era a criatura mais fofa do mundo emburrada, ele não conseguia evitar). Mas isso lhe era suficiente. Estar ao lado dele, mesmo que sempre como um amigo e nada mais, valia totalmente a pena. Ainda que parte do seu coração sempre desejaria por mais.

Takao não percebeu que estava a ponto de chorar até que sua visão ficou embaçada.

— Hã? - disse ele, tocando o próprio rosto. - Não, não, não. De novo não, eu não vou passar por isso.

Takao contou até três, respirou fundo e forçou o nó em sua garganta a descer. Patético. Como ele poderia apoiar Shin-chan e ser seu suporte se nem conseguia manter-se firme por conta própria? Não, ele tinha de ser forte. Por Shin-chan.

— Takao? Você está começando a me machucar.

Só então o moreno percebeu que estava penteando furiosamente o cabelo de Midorima, a ponto de puxar.

— O-oh. Desculpe, Shin-chan, eu me distraí. Te acordei?

— Ah, de jeito nenhum. Eu não costumo me incomodar quando tentam arrancar meu couro cabeludo.

Takao soltou uma risadinha.

Ao contrário do que muitos poderiam pensar, Midorima tinha senso de humor. Takao jamais se apaixonaria por alguém que não o fizesse rir.

— Kazu, o que há com você?

Takao amava quando Shin-chan se preocupava com ele. É claro que Midorima não ousaria chamá-lo de Kazu na frente de todo mundo, mas em momentos como esse, não havia problema algum. Eram esses momentos que mais enchiam o coração dele de alegria e afeição por aquele pateta.

— Está tudo às mil maravilhas, Shin-chan. Eu só queria ter certeza de que você tem cabelo mesmo, e não tufos de grama implantados.

Midorima franziu as sobrancelhas em desaprovação e deu um peteleco na testa do moreno.

— Shin-chaan! Não seja tão mau! - choramingou Takao, fazendo o maior bico que Midorima já vira.

— Então não faça piadas com a cor capilar alheia, idiota!

— Mas você tem um gramado tão legal... É dessa cor lá embaixo também?

— Takao!

O moreno expliodiu em gargalhadas. Shin-chan irritado era simplesmente bom demais. Eu te amo. Takao parou de rir. Não era a primeira vez que essas palavras lhe vinham a mente ao lado de Midorima, mas dessa vez ele estivera a ponto de dizê-las.

— Shin-chan, eu preciso correr. Aproveite sua sopa de feijão!

Dizendo isso, Takao se levantou abruptamente, fazendo com que o amigo rolasse e caísse de cara no chão de madeira. Midorima chamou-o, mais irritado e confuso que nunca, mas o moreno já estava correndo porta afora.

Droga, Kazunari. Controle-se! Seu rosto estava vermelho e sua respiração pesada, mas isso não tinha nada a ver com o exercício. Sua mente estava inundada com pensamentos e imagens de Midorima. Ok, ele definitivamente precisava dar um tempo nesse negócio de Shin-chan. E ele sabia exatamente quem poderia oferecer uma boa distração. Takao pescou o telefone do bolso, discando um número que há muito não discava. O telefone foi atendido no primeiro toque.

— Takaocchi!

Ele suspirou. Agora já era tarde demais para voltar atrás.

— Hey, Kise.

— Que surpresa agradável, Takaocchi! Quanto tempo, né? A gente nunca mais se vê.

— Me desculpe por isso, eu estive meio ocupado ultimamente.

— Tem razão, a culpa é toda sua, Takaocchi. Você é um amigo horrível.

Takao quase podia ver Kise fazendo bico.

— Eu sei, eu sei. Acho que vou ter que te compensar.

— Huummm... agora está ficando interess- Takaocchi, você tá bem? Tá bufando feito um cavalo.

— Isso não vem ao caso, Ki-chan. A questão é... eu tenho uma proposta pra você.


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Notas finais do capítulo

E o loiro mais querido do Brasil acaba de entrar em cena! Mais alguém está feliz com o aparecimento do Kise? Ele é meu personagem preferido de escrever. E o que vocês acharam de um Midorima frágil? Deixem-me saber o que se passa nessas cabecinhas.