O Apócrifa dos Pesadelos escrita por Kentaro Miyazaki


Capítulo 3
Um Sacrifício Nobre? - I




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Bom, agora eu me lembrei de que quase não fiz uma apresentação exata sobre mim, mas então, por onde deveria começar? Tudo bem, eu me chamo Matthew, Matthew Taylor Walker, também conhecido como Matt, e os relatos que estou a lhes contar aconteceram na Inglaterra, ano de 2014. Como eu já havia mencionado anteriormente, possuo uma estranha capacidade de ver seres obscuros em reflexos. Nightmares, são assim como nós os chamamos, são seres gerados na parte sombria do universo lírio, e de alguma forma, logo após o surgimento de um anjo, os mesmos começaram a invadir o universo que conhecemos.

Logo após os acontecimentos já relatados, acabei por fugir de minha cidade, Ripon, e me escondi com a família Johnson em outra cidade da mesma região, Bradford, nos mantivemos por ali por aproximados dois anos. Durante o tempo que fiz minha estadia, aconteceram muitas coisas que irei lhes contar a seguir, coisas bem inacreditáveis, porém não tenho o porquê os enganar.

Quando chegamos em Bradford, os nightmares não pareciam ter partido para lá, então vimos um bom lugar para nos escondermos por um tempo enquanto dão continuidade às pesquisas, tentamos viver uma vida normal, e eu, claro, não consegui alcançar tal resultado. Estive muito traumatizado com a perda de minha família, não possuía mais coragem para sequer sair de casa, Joey tentou o máximo me confortar, porém não era um caso que um amigo poderia ajudar. Depois de já passados quatro meses, resolvi tentar sair de casa para conhecer mais a cidade, pois até então eu sequer havia a explorado, partindo então observar as redondezas, não encontrei nada que me surpreendera, era uma cidade bem comum, possuía grandes praças, muitos templos (tantos cristãos como de outras religiões), e um céu sempre nublado, quase nunca dava para avistar a luz do sol. Continuei a caminhada sem rumo ao redor da cidade, quando me deparei com uma praça onde estava havendo uma espécie de seita (acho que “culto” seria a palavra mais adequada), ali estavam várias pessoas juntas, de crianças até idosos, com roupas brancas, ajoelhados com suas mãos erguidas ao céu, uma única pessoa estava de pé, era um ancião, alto, com uma longa barba branca, ele estava conversando com o restante, eu como fiquei curioso resolvi me aproximar para entender o que estava acontecendo naquele lugar, lentamente eu cheguei mais perto deles e pude ouvir o que o homem dizia.

—... nós juntos oferecemos a vós todas as nossas graças, poupe-nos do sofrimento e tenha misericórdia de nossas crianças, permita com que nosso destino não se acabe em vossas mãos, amém. –Parece que eu havia já perdido uma parte do discurso.

As pessoas então abaixaram suas cabeças e começam a fazer uma forma de reverência, eu permaneci parado os observando calmamente quando então o ancião dirigiu sua palavra a mim:

—Menino!

—Olá, em que posso ajudar? –Pergunto em um leve tom irônico.

—Por que não se curva também? E por que está vestido dessa forma? Deveria trajar túnicas brancas, não essas roupas.

—Desculpe? –Fico incomodado com a personalidade imperativa do ancião.

—Blusa e camiseta preta com calças jeans, não estamos em um desfile de moda ou show de bandas adolescentes, deveria se portar devidamente ao lugar que se encontra. –O senhor parecia aborrecido comigo.

—Ah, me desculpe, não estava participando de sua oração, vim aqui apenas por curiosidade, e por falar nisso, por que estavam fazendo esse culto?

—O que? Você realmente não sabe?!? –O ancião fala em um tom espantado. –Tudo bem, em outros tempos eu lhe falaria que não há um motivo para se fazer cultos, devemos sempre louvar a nosso Deus por todas as graças que precisamos e as que alcançamos, porém ultimamente as coisas estão indo de mal a pior, ficamos sabendo pelas reportagens que algo horrível está acontecendo em algumas cidades próximas, e não só aqui na Inglaterra como em todo o resto do mundo, há relatos e gravações de seres estranhos que estão por algum motivo destruindo as cidades por completo, e levando junto os que estiverem nela, você provavelmente não acreditará em minhas palavras e achará que estou caducando, sim, eu sei, parece surreal demais, mas é a verdade.

—Entendo, eu já tinha ouvido esses relatos, mas uma coisa que ainda não entendi é o porquê desse culto, e principalmente de uma das suas frases, “permita com que nosso destino não se acabe em vossas mãos”. –Inconformado com a situação, eu o faço esta pergunta.

—Garoto, antes de mais nada, você tem quantos anos?

—Quatorze.

—Você é muito jovem para entender isso, e ainda é muito cedo para tentar pensar tanto a respeito, nesta sua idade é a “fase rebelde”, então provavelmente não irá acreditar no que tenho a dizer mas mesmo assim te falarei. –O idoso para por um instante, se aproxima de mim e sussurra. –Esses seres que estão aparecendo são nada mais nada menos que castigo de nosso próprio Deus, somos pecadores, e assim como Jesus morreu na cruz para nos salvar, precisamos passar por essa provação, os com grande fé seguirão em frente sem nada os amedrontar, os hereges pagarão por todos os seus pecados, você me entende? Precisamos oferecer toda a nossa vida para Deus, para assim nos salvarmos em sua benevolência.

—O senhor está louco. –Retruco imediatamente.

—O que está dizendo, garoto? –O idoso se irrita.

—Vocês mesmos que defendem um deus todo perfeito, cheio de compaixão e bondade, acham mesmo que o que está acontecendo é um castigo do mesmo? Vocês são todos iguais, usam da fé para separar as pessoas, para causar conflitos, realmente, vocês me enojam. –Ao falar isso, eu dou as costas para o ancião e vou embora enquanto vou ouvindo seus xingamentos se afastando.

Logo após isso, resolvo então voltar para casa, e assim que eu chego na mesma me deparo com sua decoração, era uma casa provavelmente de um antigo colecionador pois possuía várias estátuas e artefatos bem antigos, continuo então me dirigindo à sala de estar, ligo a televisão para ver sobre as reportagens, e logo me assusto com o que está sendo exibido.

—A cidade de Ripon inteira está desaparecida, as pessoas foram sumindo de pouco a pouco até não sobrar ninguém agora, e nos arredores da Catedral de Ribon foram encontrados diversos cadáveres, principalmente de mulheres e crianças, a cidade inteira está um caos, por algum motivo toda a sua vegetação está morrendo, e sua rede elétrica inteira foi completamente danificada...

Desligo a televisão e levando subitamente do sofá, espantado, novamente meu corpo estava tremendo, eu sabia que eles iriam vir para cá logo depois, então naquele momento eu não consegui mais pensar por mim mesmo, eu estava tão desesperado que pudera ter enlouquecido brevemente, mas esse devaneio foi suficiente para decidir minhas ações logo após aquilo. Saio correndo pela casa em busca de alguma arma nos artefatos antigos, ali então eu encontro uma espada de tamanho médio, em sua empunhadura havia detalhes dourados com azuis, se assemelhavam com runas, não era pesada, mas como eu mal sabia manejar uma eu precisava necessariamente empunhá-la com duas mãos, logo então vou em direção à van dos pais de Joey, tento fazer ligação direta e sigo para Ripon, porém é claro, como também não sabia dirigir, posso dizer que foi uma viagem um pouco descuidada, e em vários momentos senti que estava sendo seguido, mas não foi algo que dei importância.

Ao chegar em Ripon, me passou um frio na espinha, seu céu estava completamente negro, aquele vórtice ainda estava nas nuvens, eu não reparei na última vez, porém agora era nítido que o mesmo localizado bem em cima da catedral, e eu, ainda provavelmente num devaneio, resolvo partir para lá. Durante o caminho, podia-se confirmar as noticias do jornal, todas as árvores haviam perdido suas folhas e seus troncos estavam apodrecendo, as flores estavam murchas, nas ruas não havia ninguém passando, nem pedestre e nem outros veículos, as casas estavam em sua maioria com janelas quebradas, era um cenário completamente mórbido. A cada momento que eu via estar mais próximo da catedral, mais meu corpo balançava de medo, eu realmente não sei o que passou comigo naquele momento, mas era como se algo na catedral estivesse me chamando, e eu caí nesse sedutor medo que sentia no momento. Chegando na catedral, parei a van no meio da rua e passei pelos portões externos que dão no jardim frontal da mesma, olhei e avistei os cadáveres mencionados, e neste momento eu me segurei para não vomitar ao ver a cabeça decepada de uma menininha, meu corpo tremia mais do que antes, porém o chamado era mais forte e eu continuei em direção para a enorme entrada principal, ao adentrar a mesma, ela estava completamente escura, possuía umas poucas velas acesas aos arredores do altar que se encontrava há uma boa distância, amedrontado porém ainda fora de mim, continuei em sua direção, passando pelos assentos da catedral, ao me aproximar do altar eu ouvi algo, parecia um cântico latim, mas era um cântico amedrontador demais para ser uma louvação cristã.

—Assysissath payotlbaelzurg shiragotli basytlish-thild, bad'loch baldhothand. –Uma voz cantando atravessava pelo enorme hall vazio, gerando altas repetições ecoadas.

Conforme eu ia me aproximando, empunhando a antiga espada, pude visualizar melhor o altar a minha frente, e lá via uma garotinha sobre o mesmo, um homem de cabelos de tamanho médio e loiros estava atrás dele, segurando um livro que se parecia com uma bíblia.

—Você! –Ele subitamente me chama, e eu me acovardo.

—O-o q-que você quer? –Respondi com voz trêmula.

—O assassinato para forma de sacrifício se torna a nobre invocação da criança escolhida gerada pelo ódio e maldade, o sangue se espalhará em suas mãos condenadas. –Ele para por um momento e respira fundo. –Essa seria a tradução para o seu idioma deste maravilhoso cântico.

—O que você quer dizer com isso? –Seguro firmemente a espada.

—Isso significa que o sacrifício é a forma mais eficaz de chamar o meu novo senhor que está por vir. – Ele guarda a bíblia e levanta um punhal para com o peito da menina, a criança abre os olhos, ela ainda estava viva, mas acabara logo ali, após um golpe perfurante em seu abdómen, encerrando seu último resquício de existência.

—NÃO! –Eu grito desesperado, levanto minha espada e parto em direção ao homem, desferindo um ataque que deveria atingir seu peito, mas, em uma fração de segundos o homem segura a espada com a mão despida. –O QUE?! COMO ISSO É POSSÍVEL? –Meu corpo começa a ficar mais trêmulo e eu acabo soltando minha lâmina ao chão.

—Que decepcionante, eu poderia jurar que era meu mestre quem se aproximava, mas não, é só um garoto ingênuo, Has'ctho!

Após esse chamado, consegui ver um par de olhos se aproximando rapidamente como um lobo numa noite de caçada, ao chegar uma certa distância, já consigo identifica-lo, realmente se assemelhava muito a um licantropo, ele carregava algo em suas presas, era o ventre de uma gestante, com seu feto ainda, o mesmo dilacerava aquele órgão e lambia seus enormes dentes de forma completamente horripilante.

—Has’chto, livre-se deste garoto.

A criatura medonha se aproxima novamente de mim, eu não possuo nem força para correr, novamente eu vi minha vida sendo extinguida por um ser horripilante...


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