Mamãe só está cansada ... escrita por Lolla


Capítulo 6
Tele mamãe.


Notas iniciais do capítulo

obrigada por vir ler !!



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As vezes, quando a Lili dorme, quando o Henrique está entretido com as coisas dele, e me pego naquele silêncio estranho, com o qual fazia tempo que não sentia, eu sempre penso em mim, como mãe, literalmente isso, apenas mãe, como vou ser quando a Lili tiver seus dezesseis anos, e quiser sair com as amigas, namorar e ter uma vida longe da minha.

Como eu vou lidar com a ausência dela, sem os choramingos, sem as risadinhas que nos fazem gargalhar, sabe, não é fácil, você passa todos os dias e todas as horas do dia, na companhia de um bebê que aprendeu a te reconhecer como o porto seguro, e você aprendeu a reconhecê-la como filha e amiga e nem tem dois anos ainda.

Pensei em como seria o dia em que ela saísse de casa, na formatura da faculdade, se casando, tendo filho e eu ficando velha ao lado do Henrique, eu entrei em pânico, literalmente, minha respiração ficou ofegante, minhas mãos suaram e eu não sabia o que dizer, eu me vi sem a minha filha, sem ela todos os dias comigo, me ouvido e até sendo fofa como sempre é.

Nesse dia eu quis que existisse um Tele-Mamãe, para mães que como eu (e devem ser muitas)entram em pânico ao perceber que filho é exatamente como a música diz " ...Vira passarinho e quer voar...". Como assim voar? Meu ninho não é grande e quente o suficiente? Não, não pode ser, a minha Lili não é uma boneca, é um ser humano que vai crescer e sair voando por ai, procurando outro ninho ou criar o seu...

Não sei mas deveriam dizer isso antes de sair da maternidade também, que de repente, quando a gente menos esperar em uma noite qualquer vamos ter uma epifania que por mais que seja rápida, vai nos afetar muito, porque vamos finalmente aceitar que eles saem voando por ai, deixando o ninho vazio.

Agora a Lili tem um ano e quatro meses, ela aprendeu a andar essa semana ainda, comigo, ela veio até a minha direção com aqueles bracinhos gordos, e os passinhos sem coordenação, e aquele sorriso agora semi banguela. Ela começou a treinar as "asinhas" para voar pra longe, e ela poderia ter ido para outra direção, mas veio até mim, com sorriso e braços abertos, talvez ela saiba que se quiser voar pra longe ela pode ir, mas, sabe que se precisar, sempre e quando precisar, o meu ninho vai estar sempre no mesmo lugar.

Um pouco depois de aprender a andar, ela aprendeu a sua primeira palavra, que eu jurava que seria "Não". Porque nessa idade, quando sabem andar ou engatinhar, eles também querem pegar tudo, ou comer tudo, e só o que você pode fazer é dizer um belo e sonoro "Não".

— Não Lili, não pode comer isso, é caca.

—Lili, ai não.

—Lili, assim não.

Tudo se transforma em não, mas naquele dia, quando a minha sogra veio pegar ela do meu colo (sem autorização prévia) a Lili chorou e disse " Mamãe", foi sonoro, foi claro, foi lindo e até libertador, a minha sogra levou aquele belo soco na cara da realidade, a Lili sabia definitivamente que eu era a mãe e não a moça demoníaca.

Ela disse "Mamãe"! E veio correndo até mim, e se acalmou nos meus braços, por fora eu sorri gentilmente e a abracei. Mas por dentro, ah por dentro eu estava segurando uma taça de  cristal cheia de espumante, com um vestido lindo, longo de seda e cristais, olhando pra minha sogra e jogando o espumante na cara dela e gritando : - TOMA ESSA !!!!!

Foi como tirar uns trinta quilos das minhas costas, pude até respirar fundo e tranquila, nunca imaginei que uma palavra fosse me libertar de quase tudo que me afligia. E com a Mamãe,veio logo um papai, e depois um vovô, e depois um "padinho" que era como ela chamava pelo padrinho, que é irmão do Henrique.

A Lili estava crescendo, e eu não estava envelhecendo como imaginei há mais de um ano. Eu estava ainda jovem, vigorosa e feliz por ver a minha querida desenvolver. Ai entramos em outra fase da maternidade que ninguém te diz como fazer. Dar limites, ensinar e educar.

Nessa idade eles absorvem tudo muito rápido, então suas palavras precisam ser claras, nada de palavrão e tudo deve estimulá-los, cores, sons, texturas, sabores, cada segundo do dia deve ser aproveitado em prol do desenvolvimento deles, então começa a busca por músicas infantis, por joguinhos educativos e desenhos animados politicamente corretos. E você, vê, ouve  e sente aquilo todos os dias, por muitas horas. Acorda ouvindo aquilo e dormindo vendo aquilo outro, seus filmes, suas novelas, tudo isso vai embora muito depressa, e por mais que você sinta falta, você não deixa de entupir seu filho de palavras educadas, boas maneiras e músicas calmas.

Então, depois de mais de cinco meses, sem saber o que é telejornal ou filmes em cartaz, decidi que era hora da Lili, aprender tudo isso e me dar uma folga algumas horas por dia. Sim a fase e a temida creche entra em cena. As mães caem então em cima de outras mães que mesmo não trabalhando querem ou precisam de um "Break" da vida materna.

Onde já se viu deixar a criança com outras crianças brincando o dia todo sob a supervisão de duas mulheres profissionais no assunto ?


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