Abri o pequeno portão branco - que era igual a cerca de todas as casas da rua - e entrei no jardim da frente.
A casa dos Hasting’s tinham tantos jardins quanto poderiam, além das flores que ficavam na janela quando os pais de Cassie e Jason ainda eram casados. Eu me lembro de passar na frente da casa deles quando voltava da biblioteca pública com algum exemplar de física ou peças literárias que com toda a certeza não eram para minha idade.
Caminhei em passos despreocupados até o jardim de trás, pensando se ela estaria ali, já que fazia um dia gostoso para o outono apesar de seus 16° ou 18 graus.
Parei onde a parede da casa acabava, a vista da piscina com a água parecendo tão gelada, a porta da cozinha, com uma pequena escadinha e os canteiros de flores que o Sr. Hasting mantinha mesmo depois da morte de sua mulher.
Ela então abriu a porta e desceu a escadinha com seus pés delicados e descalçados, segurando um regador clássico branco na mão enquanto seus lábios se ocupavam murmurando alguma canção.
Cassie sorriu quando seus pés tocaram a grama.
Não é como se eu fosse um tipo de psicopata e ela fosse minha obsessão, ela era apenas tão bela e tão distante, que nunca seria minha.

Eu te vi sair da porta para o teu jardim
Florido e perfumado só por ti.
Vi você descendo as escadinhas com os pés
Tão delicado, eu te vi sorrir.

Andou até o canteiro, regou alguns gira-sois que não sobreviviam muito bem no outono e então parou no pequeno canteiro que havia plantado de alfazema com a mãe, lembro me de um trabalho, onde levou uma muda em um vidrinho e o carregou por todos os cantos, no jardim de infancia.
Abri minha boca para tentar chamar seu nome, mas nada saiu, por mais que tentasse.
Eu continuava sendo o mesmo garoto tímido, e apenas por esses dias eu consegui olhar no olho dela, isso seria um tipo de coisa de greek, mas a verdade é que eu sempre preferi livros do que pessoas, mas esse habito mudava com ela por perto, tinha vontade de falar e nunca deixa-la sair de perto de mim.
Nos tinhamos coisas da escola para resolver, ela havia pedido um livro emprestado, que meus dedos automaticamente apertaram mais forte.

Eu olhei para mim e para você

Eu tentei chamar mas o meu jeito nem deixou

As vezes, eu desejava que ela gostasse de mim como gostava dos outros caras com quem andava, mas parecia tão claro que ela nunca teria nada comigo alem de uma amizade e algumas palavras que as vezes deveriam ficar apenas nas nossas mentes.
Olhei para os meus pés vendo o par de All Star preto gasto de sempre, os cadarços brancos sujos, estava envergonhado de qualquer coisa, tal essa que eu nunca saberia o que viria a ser.
Eu tinha medo, essa era a verdade, toda vez que eu olhava para ela, tinha medo.
Medo do batimento cardíaco acelerado, do estômago embrulhado, e da vontade de sorrir para ela como um bobo.
Medo de falar algo errado e estragar tudo, quando não tínhamos nada.
Eu queria roubar ela só para mim e passar um bom tempo jogando vídeo game, assistindo TV, segurando sua mão pequena na minha, conversando, sorrindo um para o outro, tocando piano e nos alimentando com brownies e lasanhas.

Foi difícil ter que te deixar passar sem perceber

Que eu estava ali olhando, olhando...

Todas aquelas moedinhas que eu guardei

Eu vou quebrar o meu cofrinho pra te levar

Pra passear no meu jardim que eu imaginei

Pra nós...

Ela poderia fazer um terrario em uma parte do meu quarto, eu compraria uma luz solar vermelha para cuidar de seu pequeno canteiro.
Seguiu regando todo o canteiro com o regador enquanto cantava uma música com um ritmo calmo e gostoso.
Suspirei, me virando e indo embora, com o medo me dominando mais do que a timidez alguma vez já dominará.