Mentes Gêmeas escrita por Lune Kuruta


Capítulo 1
Mentes Gêmeas (capítulo único)




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Tolices românticas como “feitos um para o outro” não eram do feitio de Gêmeos e Aquário.

 

Mas que era verdade, ah, era.

 

Transgressão. Diversão. Caos. Eram aquelas palavras que os uniam, de certa forma, mas ao mesmo tempo transformavam seja lá o que tivessem em algo tão imprevisível e único que uma análise racional teria de contemplar muitos pontos.

 

Não eram oficialmente "os melhores amigos", a princípio. Ou, a bem dizer, Aquário parecia ver todo mundo como amigos (a menos que quisessem estragar sua reputação de um cara original. Ou que fosse o Libra porque, se todo mundo gostava do cara popular, claro que ele não iria gostar...), enquanto Gêmeos sempre foi um cara sociável (obviamente, quando não se tratava de um sádico escorpiano tentando torturá-lo). Dessa forma, eram amigos, ainda que não alardeassem tal obviedade ao mundo.

 

E aquela amizade era natural, permeada pelo que tinham em comum: mentes extremamente férteis.

 

Talvez fosse impossível a um não-iniciado participar de uma conversa entre os dois. Podiam estar falando do vizinho fofoqueiro em um momento e, duas frases depois, discutindo a Área 51. Podiam debater mitologia grega e, no minuto seguinte, Zeus dava lugar a Darth Vader.

 

Fofocas. Mitos. Teorias. Conspirações. Ideias geniais. Ideias ridículas. Ideias.

 

Não raro iam até altas horas, esquecidos do mundo, quando se embrenhavam em alguma discussão mais acalorada. A insistência de Aquário em seu ponto de vista era incansavelmente desafiada pelos incontáveis argumentos de Gêmeos. Mas ninguém precisava se preocupar com o desfecho daquelas altercações: nada dava mais prazer a Aquário do que o debate. Nada dava mais prazer a Gêmeos do que poder falar por horas e horas. Muitas vezes Gêmeos sequer acreditava nos argumentos que trazia, mas os emitia pela simples diversão de ver Aquário refutá-los.

 

Era assim a amizade cúmplice daqueles dois, regadas a conversas e muitas estripulias. E funcionava bem, na verdade. Era o tipo de equilíbrio caótico que poderia durar por muitos e muitos anos…

 

… Até Aquário encasquetar que desejava a boca de Gêmeos para outra coisa além do papo.

 

000

 

Começou com uma singela provocação, e Gêmeos apenas riu, meio incrédulo. Aquário tinha suas manias excêntricas, de fato, e aquela insistência por contato físico poderia ser mais uma, por que não?

 

Contudo… as provocações continuavam cada vez mais incisivas, e a ideia de que Aquário realmente queria seu corpo nu começou a criar forma em sua cabeça. A resposta era automática, óbvia e negativa. Não, Gêmeos não queria estragar aquela amizade bacana. Não, não queria ceder àquele cara incrível e perder seu controle mental. Paixões o assustavam.

 

E também, lá no fundo… sinceramente imaginava os dois depois de… bem… e o aquariano soltando um “Pegadinha do Mallandro!”, e que diabos… não queria aquilo, realmente não queria. Não queria ceder para o aquariano simplesmente enjoar e o jogar fora depois de conseguir vencer o “desafio”...

 

Ei, ei, não que Gêmeos fosse um cara romântico sonhando com o príncipe encantado, era uma questão de… orgulho, certo? Era sempre ele a enganar e usar as pessoas, nunca o contrário!

 

… Embora Aquário sempre conseguisse trollá-lo com uma frequência preocupante…

 

O pior era que aquelas investidas estavam ficando cada vez mais cansativas e… tentadoras. No fundo, no fundo, acabava se divertindo com as tentativas até originais (e como poderiam não ser?) de Aquário. Estava começando a fraquejar, e sabia que precisava colocar um fim àquela história de uma vez por todas. E, conhecendo Aquário, tinha uma noção da melhor forma de fazê-lo desistir dele. E teria cuidado, claro. Não chegaria aos extremos da cama...

 

000

 

Aquele tédio gostoso da tarde de domingo. A sala da TV estava vazia e lá estava Gêmeos lendo sossegado um mangá em seu pufe favorito. Silêncio atípico, pensando bem.

 

— Nngh...

 

Um arrepio correu sua espinha e se virou, corado. Aquário havia se esgueirado silenciosamente até atrás de si para soprar sua nuca… ele e suas entradas repentinas! Apenas revirou os olhos, um meio sorriso em seus lábios enquanto o aquariano dava a volta no pufe para se sentar no chão diante de Gêmeos, fitando com a animação que denotava que ele tinha uma teoria nova a debater.

 

— Diga…

 

— Ah, é que andei lendo sobre hormônios. A química humana é fascinante.

 

— É mesmo…

 

— Por exemplo… — Aquário ergueu o indicador para falar de forma mais veemente — Li que alguns hormônios podem ser trocados entre pessoas através do mero contato, acredita? Como por exemplo… num beijo.

 

Lá vamos nós…

 

— Oh, bacana… — Gêmeos sorriu amarelo enquanto o outro se inclinava em sua direção.

 

— É que a boca é bem permeável, sabe… digo, a mucosa e tal — Aquário deslizou devagar o indicador pelos lábios de Gêmeos.

 

— V-você anda lendo muito sobre isso…

 

— Sobre beijo? Ah, achei legal. Beijar libera hormônios e neurotransmissores bem agradáveis. Ocitocina, serotonina… dopamina… imagina, cara… dopamina é o neurotransmissor do desejo, do vício

 

Gêmeos engoliu em seco. Cantada nerd. Nice. Tudo bem… nunca se podia esperar algo convencional vindo de Aquário, e cantadas estavam no meio disso tudo.

 

— Dá uma descarga cerebral bem louca. Se o beijo for bom, é tipo uma droga. Legal, né?

 

— Whoa, sai dessa vida, cara… — Brincou o geminiano.

 

— Nem tô. Pra que se drogar quando a gente pode se beijar, né não? — Aquário abriu um sorriso ainda maior, chegando mais perto — Que tal a gente curtir esse barato juntos, Geminho? Bora nos viciar nos lábios um do outro?

 

A primeira reação de Gêmeos foi recuar com o tronco, pronto para sair correndo. Porém… havia decidido acabar com aquela trollagem elaborada do aquariano, e só conseguiria fazê-lo se respondesse à investida de uma forma imprevista. Dessa forma, armou-se de coragem e sorriu.

 

— Topo.

 

Aquário pestanejou algumas vezes, parecendo incrédulo.

 

— O-oi?

 

— Ora… — O sorriso de Gêmeos se alargou, divertindo-se com a reação surpresa do outro — Você vive me tentando… quer beijar a minha boca? Pois bem, eu também quero beijar a sua… — Passou os braços pelo pescoço do maior — E agora…?

 

Psicologia reversa, certo? Aquário era tão “do contra” que, no momento em que o outro revelasse que queria o mesmo que ele, certamente desistiria. Desta forma, aguardou que o maior se recompusesse do choque e dissesse algo como “Agora não quero mais”, “Meh, vai passar um documentário sobre aliens no History Channel agora”...

 

Mas o sorriso que brotou nos lábios do aquariano surpreendeu Gêmeos.

 

— Até que enfim! — Aquário parecia exultante, puxando-o mais para si.

 

Gêmeos ainda acreditou, até o último segundo, que fosse um teste para ver até onde o geminiano sustentaria aquela resposta. Um teste de trollagem, talvez. E só quando os lábios se tocaram foi que se deu conta de que aquela ideia de psicologia reversa havia realmente saído pela culatra.

 

E também se deu conta ali, enquanto recebia a língua voluptuosa de Aquário em sua boca, de que o maior estava certo quando falava em vício

 

000

 

Depois daquela troca de amassos, saliva, hormônios e o que fosse, Gêmeos ainda esperava (agora com bastante receio) que Aquário dissesse estar satisfeito. Curiosidade saciada, desafio vencido, partir pra outra, certo? Afinal, Aquário era independente, sem qualquer amarra ou sentimentalismo… adorava a novidade, o exótico e, bem, jamais havia provado dos lábios do geminiano, não é?

 

Não sabia, por outro lado, que Aquário receava a mesmíssima coisa.

 

Ah, Gêmeos e sua eterna curiosidade, seu desapego dos outros… Aquário havia se surpreendido com o sinal verde do geminiano e sinceramente achara que o outro só havia aceitado porque queria ver como era. Experimentar, provar o novo sem outro interesse que fosse a novidade em si.

 

Na verdade, como signos mentais que eram, palavras como “apego” (ou “grude”) e “relacionamento sério” pareciam causar até alergia. E, de certa forma, havia um pavor implícito de que aquele recém-adquirido vício acabasse por toldar as mentes afiadas que tanto valorizavam.

 

Então… no começo, era uma espécie de jogo em que trocavam beijos e toques enquanto aguardavam pelo movimento do outro. Xadrez, talvez. Ou testavam terreno em um campo-minado. Podia beijar o pescoço sem ser rechaçado? Podia descer mais as mãos? E tocar por baixo da blusa?

 

Se eu disser que sonho com os beijos dele, serei ridicularizado?

 

Se eu disser que sonho com ele na minha cama, ele vai se afastar de mim?

 

Se eu disser que quero estar sempre com ele, ele vai fugir?

 

E, por ironia... aqueles dois, que nunca se importaram com a opinião alheia e se gabavam de não se prenderem a ninguém, viram-se atrelados à visão que o outro tinha de si…

 

000

 

Não era um relacionamento sério, mas era fato que estavam ficando cada vez mais próximos. Era mera questão de tempo até começarem a descobrir a “amizade colorida” que se iniciara entre Aquário e Gêmeos.

 

O primeiro a notar, claro, foi Libra. O loiro tinha um faro apurado para relações humanas, e nem havia precisado flagrá-los (como Câncer acabaria por fazê-lo, encontrando os dois aos beijos na despensa). Uma vez que Aquário mal se permitia ficar no mesmo cômodo que o libriano, teve de buscar informações com o próprio Gêmeos.

 

Só que, para alguém que vivia fofocando com Libra, Gêmeos estava especialmente arredio quanto àquele assunto...

 

— Não tem nada entre Aquário e eu!

 

— Tem, sim! Veja, eu já tava desconfiando por vocês andarem juntos demais ultimamente… além dos olhares suspeitos que vocês vivem trocando, e depois… — Libra arqueou a sobrancelha e ergueu uma mão, começando a contar nos dedos — Sagi deixou escapar que viu vocês na moita do jardim, Câncer quase morreu de susto ao pegar vocês dois sem camisa dentro da despensa... fora vocês terem enchido a piscina de mil litros pra brincarem de “pegar o sabonete”...

 

— Ah… bom, não é nada de mais e…

 

— Querido, todos na casa já sabem que vocês estão de rolo! — Libra sorriu, apoiando o queixo nas mãos — Ok, talvez todos menos o Peixes, pobrezinho. Aliás, Capri e eu estávamos debatendo durante o chá da tarde se estamos diante de um Aquagêmeos ou de um Gemiquário

 

— Ah, sim, eu ouvi… — Gêmeos cruzou os braços — Fui eleito o uke da relação assim, sem mais nem menos!

 

— Ah, mas você admite que uma relação, não é?

 

Gêmeos apenas bufou, mas não soube responder.

 

000

 

— O que você tava conversando com aquele cara?

 

A voz sobressaltou Gêmeos assim que entrou no quarto.

 

— Caralho, Aquário! Quer me matar do coração? — Fechou a porta atrás de si — Nada de mais, só fofocar um pouco.

 

— Você devia se afastar dele, ele é um conspirador. Gente popular demais nunca é confiável. São os primeiros a serem controlados pelos aliens pra manipularem os terráqueos! Essa gente tem pacto com os aliens manipuladores de mentes!

 

Gêmeos revirou os olhos e se recostou à porta fechada. Aquário se aproximou um pouco mais.

 

— Ele tava perguntando da gente, né? — O aquariano parecia sério.

 

— Ora, ora, então o senhor estava espionando? — Deu um sorrisinho de canto — É, parece que o pessoal tá falando da gente. Você não se incomoda com o que os outros falam, né?

 

— Nem… — Um ligeiro sorriso desanuviou a expressão do maior — E você?

 

— Nah… — Espreguiçou-se, seguindo até o espelho tirando a blusa sem qualquer cerimônia, aleatoriamente. Ou não.

 

O aquariano deu um sorrisinho de canto e colocou os fones de ouvido sobre a escrivaninha, cobrindo-os com a blusa dispensada pelo menor. Murmurou: “Ei, Willian, vamos precisar de certa privacidade aqui…”.

 

— Hm, isso é bom… — Aquário enlaçou o geminiano por trás, olhando para ele pelo espelho — Porque eu te curto pra caralho.

 

— Também… por mais que às vezes eu não consiga saber o que você tá pensando.

 

— Eu sou imprevisível, baby — Aquário sorriu e piscou para o reflexo do bicolor no espelho.

 

— É o seu charme… — Gêmeos riu por um momento, mas se calou ao sentir a mão do outro subir devagar por seu tronco nu.

 

— É só um dos meus… — Sussurrou o maior, alisando a pele pálida do outro — E você vem descobrindo cada um deles, dia após dia…

 

Os dedos alcançaram os mamilos do menor, que tombou a cabeça para trás, o rosto corado com os estímulos gentis. A voz de Aquário chegou macia a seus ouvidos.

 

— Quer conhecer mais alguns…?

 

As mãos de Aquário tornaram a descer, desta vez buscando a braguilha da calça do geminiano. Estava claro o que ele pretendia depois de tantos dias de mútuo teste de terreno. O menor apenas suspirou, alisando os braços que o rodeavam sem interromper a ação.

 

— Você me conhece bem demais pra saber que adoro aprender… especialmente sobre você.

 

Sem titubear, Aquário guiou Gêmeos até a cama, deitando-o sobre ela e tomando seus lábios com vontade. Logo os toques alcançavam novas paragens, os lábios novas texturas, as línguas novos sabores. E, no calor das peles nuas um do outro, perceberam que perder o controle de suas mentes e corpos por alguns momentos não era ruim. Na verdade era bom, muito bom...

 

Naquela tarde, naquela cama, caía mais uma barreira entre os dois.

 

E, por mais que Aquário jamais fosse admitir, Libra e Capricórnio estavam certos quanto à dinâmica da relação

 

000

 

O receio de que as coisas se arrefecessem tão logo fizessem sexo foi rapidamente esquecido por ambos. Talvez por não terem enjoado ainda? Talvez porque estavam levando numa boa o lance de amizade colorida elevada ao nível “proibido para menores”?

 

Talvez porque, assim como o beijo, o sexo entre eles também viciasse?

 

Ah, certamente viciava. Contudo, a explicação ia além: enquanto se entregavam um ao outro, enquanto permitiam que seus pensamentos fossem varridos pela onda de êxtase, sentiam-se curiosamente… seguros. Estava ali uma outra pessoa que também se pautava pela racionalidade. Entendiam-se. Entendiam o receio de se deixar perder.

 

Nos braços um do outro, permitiam-se ceder aos instintos… juntos, sem receio de serem chamados de fracos ou tolos, pois no fim das contas se compreendiam àquele respeito. Nos braços um do outro, tinham segurança para voar.

 

Gêmeos, tão eloquente, estava se tornando fluente na linguagem nem sempre racional dos gemidos e do prazer extremo.

 

Aquário, tão afeito à sua individualidade, estava aprendendo as maravilhas de quando dois corpos se tornavam um só.

 

Não que houvesse nada oficializado. Eram dois amigos que transavam de quando em quando, certo? Não queriam que surgisse alguma rotina que esfriasse as coisas entre eles, um relacionamento que transformasse aquela delícia de estarem juntos em um compromisso formal.

 

O problema era aquela maldita palavra com “c”.

 

Gêmeos e Aquário não eram ciumentos, que os deuses os livrassem! Eram racionais, eram livres, não havia espaço para um sentimento de posse tão problemático. Claro que não haveria problema se o outro ficasse com outras pessoas, nem eram namorados, certo?

 

Exceto que Gêmeos, sem que tivesse intenção, ficava irritadiço quando via Aquário próximo demais a Áries e Touro.

 

Exceto que Aquário tinha ganas de arrastar Gêmeos para longe quando o menor ficava insistentemente buscando a atenção de Peixes.

 

Ah, não fazia sentido algum! Não havia relacionamento ali, céus, eram só amigos que se pegavam! Não era como se tivessem de ficar grudados um no outro, claro que não se interessavam por aquelas coisas melosas e ridículas de um namoro convencional.

 

Exceto que Gêmeos se pegava imaginando o quão gratificante devia ser mimar a pessoa que amava, como Câncer fazia com Capricórnio.

 

Exceto que Aquário se pegava imaginando como seria ter coragem de sair fazendo altas serenatas no violão, tal como Sagitário fazia para um envergonhado virginiano.

 

E ambos se sentiam ridículos por isso.

 

000

 

Era incrível como pareciam cada vez mais longe de enjoarem daquele “não-namoro”. A faísca parecia longe de se apagar, de fato, mas nem só de amassos e sexo viviam Gêmeos e Aquário. Na verdade, o sexo era apenas um detalhe, e as conversas e planos pareciam a melhor parte daquilo tudo.

 

Um dos hobbies do casal… digo, da “dupla”, sem dúvida, era planejar locais diferentes para transar.

 

— O que você acha da despensa, Gê?

 

— De novo, Aqua? Câncer até já nos pegou lá uma vez…

 

— Mas a gente não tava transando! Imagina a reação dele!

 

Os dois riram.

 

— Acho que ia ser engraçado fazer no armário dos produtos de limpeza do Virgem…

 

— Gê, seu suicida! — Aquário riu — A gente também podia pedir emprestada a barraca de camping do Sagi...

 

— Queria a piscina de novo. Se bem que a lubrificação fica foda…

— Não quero te machucar…

 

Suspiros, os lábios do aquariano roçando os cabelos bicolores do menor.

 

— Tá de boa…

 

— Você é… — Aquário suspirou e sorriu, mudando de tópico — Tá, eu descolei aqueles lubrificantes que esquentam. Vamos ver se você curte depois…

 

— E o que achou desse de morango?

 

— Preferi o de cereja, mas é gostoso assim mesmo.

 

— Percebi, tava animado no beijo grego… — O geminiano riu — Cada vez melhor, quase que não aguentei segurar…!

 

— Uhum… — Riu baixinho, com certa malícia. Fez uma pausa de alguns segundos antes de prosseguir a conversa — Sabe do Escorpião?

 

— Tinha ido levar o Peixes ao cinema… — Gêmeos olhou para o relógio à cabeceira da cama — Puuutz, a sessão acabou faz uma hora!

 

— Caralho!

 

O aquariano se levantou, assim como seu parceiro. Arrumaram cuidadosamente a cama, recolhendo o tubo de lubrificante e embrulhando em papel a camisinha com textura que haviam utilizado antes de jogá-la na lixeira, afundando-a bem para não ser notada. Apanharam as peças de roupa espalhadas pelo quarto.

 

— Tá tudo aí? Você quase esqueceu a cueca no escritório da última vez!

 

— Conferido! Mas nem rola de a gente perder tempo se vestindo aqui… vamos correr pro meu quarto, fica mais perto, aí a gente se troca lá!

— Ou não… ~

 

— Mas já quer de novo, seu minion insaciável? — Aquário acabou rindo alto. Pra quem tinha enrolado tanto pra aceitar um beijo, parece que o jogo tinha virado — Não tá nem dolorido?

 

— Besta, sabe que eu aguento! Agora vamos logo antes que cortem o nosso pescoço!

 

Os dois saíram correndo, roupas em mãos, rindo como dois moleques depois de uma grande travessura.

 

Sexo na cama do Escorpião: check!

 

000

 

— Aqua?

 

— Hm, Gê?

 

— Libra não para de me encher o saco dizendo que a gente tá namorando.

 

Aquário suspirou, fitando o teto do motel em que estavam. Motel clichê demais pra uma dupla tão diferente do convencional. Espelho no teto, roupa de cama vermelha. Hidromassagem, roupão vinho. Cama redonda, pétalas de rosa.

 

Clichê demais, brega demais, meloso demais. Mas nenhum deles tinha algo a reclamar.

 

— E o que você diz?

 

— Que ele anda muito enxerido, ué!

 

Aquário não conseguiu deixar de soltar uma risadinha pelo nariz com a ironia da situação. Afagava tranquilamente as costas nuas do menor enquanto fitava o reflexo dos dois.

 

— Eu tava pensando, sabe… eu nunca dei a mínima pra rótulos e sei lá o quê. Mas cê não acha que o que a gente tem... bom… sabe…

 

— Não é o que a gente faz com amigos, é isso?

 

— Bom, eu pelo menos não faço! Você faz? — Aquário arqueou a sobrancelha, e Gêmeos acaba negando com a cabeça, rindo baixinho — Então…

 

— Você tá me pedindo em namoro?

 

Um olhou para a cara do outro — desta vez diretamente, sem o subterfúgio do espelho — e suas expressões eram igualmente… aterrorizadas.

 

— Er… veja bem, Gê…

 

— Ai, cacete, como não notei isso antes?! Esses apelidinhos manhosos de Malhação!

 

— Nem vem que tu me chama de “Aquinha” na cama!

 

— Não tô reclamando, afe! Mas é uma evidência, Aquaaa!

 

— E esse grudinho depois do sexo, cara. É gostoso.

 

— Eu gosto de acordar contigo, sua cara de sono é… fofa. E a gente fica pelo menos uma hora conversando abraçadinho na cama antes de o Virgem bater na porta pra acordar a gente...

 

— E sempre que quero aprontar alguma coisa acabo te colocando no meu plano sem nem notar!

 

— Ainda bem, né? Serve pra desgrudar um pouco do Áries e do Touro, tu não cansa de ser vela?!

 

— Ah, e você com o Leão e fofocando com aquele lá? — Aquário se referindo obviamente a Libra — Tem assunto demais com aqueles dois!

 

Uma ligeira pausa, um olhando para a cara do outro.

 

— A gente tá tendo uma DR, cara, não acredito! — Aquário se deu um facepalm.

 

— E a gente fala como se tivesse… sabe… aquela palavra com “c”! — Gêmeos arregalou os olhos.

 

— É… acho que não tem mais volta, né?

 

— Verdade… no fim das contas, nem precisamos oficializar nada...

 

— Isso te faz falta? Oficializar?

 

Gêmeos pensou um momento.

 

— Meh. Tô bem assim. Tô bem contigo.

 

— Também, Gê… — Selinho — Foda-se o resto.

 

— E me fode também!

 

Aquário acabou rindo alto com o geminiano e piscou com malícia, sobrepondo-se ao corpo menor.

 

— Com o maior prazer… namoradinho.

 

— Então vem pegar, meu boy

 

Pausa.

 

— Isso foi muito gay, Gê.

 

— Estamos indo pra terceira rodada, Aqua. A essa altura nem o lençol é hétero mais!

 

Mais risos, corpos embolados, beijos e… o resto era o resto.

 

000

 

Tolices românticas como “feitos um para o outro” não eram do feitio de Gêmeos e Aquário.

 

Mas no fim das contas, eram românticos à moda deles. E funcionava, não?

 

Mentes afinadas, corpos fundidos. Sentir não era tão assustador assim quando tinham um ao outro como suporte. Bizarramente, enquanto estavam unidos, alcançavam uma dimensão nova de liberdade. Jogando vídeo-game, transando, atormentando alguém, criando mil teorias sobre A Vida, o Universo e Tudo o Mais, reforçavam dentro de si mesmos a ideia de que tudo ficava melhor quando feito a dois.

 

Ou quando era feito um com o outro, em específico.

 

“Feitos um para o outro”... até hoje, quando leem ou ouvem esse tipo de frase melosa, Gêmeos e Aquário torcem o nariz.

 

Mas, lá no fundo… em uma espécie de segredo só deles, os olhos castanhos encontram os heterocromáticos, certos de que, por mais melosa que seja, essa bendita frase é verdadeira. Ah, se é.



FIM


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Notas finais do capítulo

Eu consegui encerrar a fic? É isso mesmo, produção? Não acredito!

(Espero que a formatação esteja ok, o Nyah às vezes encrenca comigo. Caso haja algo errado, corrigirei assim que notar, ok? Já peço desculpas caso algo passe batido)

Sei lá… eu imagino mais ou menos essa dinâmica de relacionamento entre os dois. Bem livres, leves e soltos, mas né, no fundo… lá dentro, no coração… mora um romancezinho básico. Excêntrico, mas rola e q

O intuito do desafio de oneshots era falar do cotidiano do OTP e a fic acabou fugindo um pouquinho… mas ah, dá pra encaixar, né? Afinal, de forma meio subjetiva, dá pra ver a rotina do relacionamento entre eles, a dinâmica da relação e tal. Enfim, tá valendo, né? Uma descrição meio subjetiva, enfeitada, mas é...

Espero de coração que tenham gostado. Eu tô numa fase em que realmente não estou conseguindo escrever fics. Tá bem foda. Mas ainda sonho em escrever mais fics do meu OTP, então… quem sabe um dia?

Obrigada por lerem!


Kissus,

Lune Kuruta (20/02/2016)