é Amor escrita por hanna barbara


Capítulo 1
Ditadura Militar




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                Sendo filha de Almirante da Marinha, Nathália, não podia falar nada sobre política, nem ter ideais opostos ao do governo residente da época. O Brasil enfrentava o Movimento Feminista, Movimento Hippie, Movimento estudantil.

Almirante Falcão era casado com dona Fernanda.  Era um Homem autoritário, adorava regras e tudo alinhado. Roupa bem passada, sapatos e cintos brilhando, a cama bem feita, a casa limpa e mantinha seus filhos na palma da mão. Um “Ai” era palmatória na hora. Palmatória, um objeto de madeira que os pais costumavam dar nos filhos quando faziam coisas erradas, e no caso do Almirante, que destribuia palmada por motivos fúteis.

Quando o marido batia nos filhos, a esposa, Dona Fernanda chorava no quarto, não gostava daquilo, mas tinha que aceitar. Ela era totalmente oposta ao seu marido, acobertava seus filhos quando podia para que não fossem pegos pelo pai e apanhassem. Era uma batalhadora. E como mãe de sete filhos ela tinha seus favoritos a vista, era a Nathália, sua única filha mulher, que estudava em colégio de freiras, e Marcos, seu segundo filho que dava muito gosto, por ser estudioso, trabalhador e obediente.

                Por causa do Coronel, a família Falcão mudou-se varias vezes, moraram em mais de dez cidades em espaços curtos de tempo. A ultima parada foi no Ceará, na capital, Fortaleza.  O período militar vinha com força, e grande batalha dos militares era nas cidades litorâneas onde as idéias revolucionárias se espalhavam bem rápido.  Rotina conhecida, a família tentava se estruturar em um ambiente novo. Agora, Mauro com 21 anos, Marcos com 20 anos, Jarbas com 18 aos, Nathália com 17 anos, Joel com 14 anos, Francisco com 10 anos, Carlos com 6 anos.  Mauro, Marcos e Jarbas seguiam a carreira militar por causa do pai, porem nenhum deles gostavam, achavam uma pratica horrível. Nathália continuava estudando em colégios de Freiras, ( aquelas escolas que preparavam a mulher para fazer tudo, Cozinhar, costurar, tomar conta de criança...) e ao mesmo tempo ajudava a sua mãe a tomar contar dos irmãos menores: Joel que era cego e seu irmão favorito, aquele a quem contava tudo, Francisco levado alem da conta e muito chato, e Carlinhos a criancinha da casa.

                Chegando ao Ceará, na escola de Freiras, Nathália aprendeu a matar aulas, a paquerar e escondeu seu maior segredo, participou de manifestações estudantis. Tudo escondido dos pais e irmãos. Apenas Joel sabia desses fatos. Manifestações do qual nunca arrependeu-se de ter ido. Foi nela que nossa mocinha conheceu Humberto. Um cara moreno, alto, cabelos escuros assim como os olhos, forte, barbudo e totalmente contra o governo.

Humberto era natural de Natal/ Rio Grande do Norte, perto do Ceará. Foi mandado para fortaleza para estudar administração, pois assumiria os negócios que seu pai Antônio deixou antes de morrer.  Filho único, e com seus dezessete anos tentava se virar em uma cidade grande. Foi preso pelas forças militares e por incrível que pareça passou apenas três meses na prisão, mas em compensação, foi torturado ate o momento que conseguiu ser libertado. Saindo da prisão voltou para as manifestações, onde encontrou com Nathália e ali nascera um romance.

                A data, não me recordo bem, mas era um dia de Quarta Feira do ano de 1977.  Havia saído uma nota do governo em jornais, rádios e na televisão que iriam reforçar o monitoramento do governo sob as escolas, clubes de festas, e a partir das nove horas ninguém poderia estar perambulando na rua.  Nessa época, cada sala de aula apresentava uma presença ilustre nas aulas, militares que fiscalizavam se o que o professor dizia era oposição ao governo. Não poderia ter grupinhos de conversa em intervalos, pois eles chegavam e encaminhavam para o posto militar dizendo que estavam se manifestando. Músicos e compositores tinham de ser espertos para que pudessem lançar seus discos, camuflavam suas musicas contra o militarismo, e era assim que a mensagem chegava a pessoas exiladas em outras partes do mundo. Os sindicatos que reuniam-se durante a noite em casas de integrantes, passaram a ter dificuldades com o toque de recolher, mas mesmo assim "vamos conseguir" Diziam.

Era um dia com sol forte e quente, foi na Praça José de Alençar que combinamos de nos encontrar para reivindicar aquela historia de toque de recolher, de ter militares em salas de aula, de censura em jornais, televisões, rádios. Milhares de estudantes manifestando, eu ali, com duas semanas de libertado da prisão, ainda me encontrava com escoriações no corpo, magro, enfim estava melhorando. Ao meu redor muita gente, mas uma que me chamou a minha atenção. Magrinha, cabelos lisos com pontas cacheadas, castanho escuro, olhos grandes, boca carnuda, magra, alta e perfeita. Será aquela a mulher dos meus sonhos, aquela que idealizei por tanto tempo? Estava eu apaixonado a primeira vista?

Tirando do bolso do jeans, puxei a carteira de cigarros.

 –Quer um? perguntei-a.

 –Não fumo. Respondeu soltando um sorriso bem lindo de um lado ao outro da boca.

“Vou ficar com ela” . NaFoi o que penseiquele dia a praça cheia de gente gritando, com placas, faixas e num piscar de segundos todos correndo porque o exercito chegou. De repente a perdi de vista, e pensei que a teria perdido pra sempre.

                Uma semana se passou e eu aqui, sentado em meu quartinho alugado pela minha mãe, pensando naquela figura de mulher. E se você soubesse como pensamento atrai aposto que iria fazer isso sempre.  Havia perdido o ônibus que me levava para casa, e daqui que passasse novamente durariam umas duas horas, daí pra ir a pé não dava porque era muito longe, então andei cinco quarteirões ate a parada que fica de frente a escola de freira, pegaria um ônibus que desceria perto da minha casa. Quando cheguei a parada, só o que tinha eram mulheres, quer dizer, alunas vestidas de vestidos brancos, tiara no cabelo, meia e sapatos. E todas dando risadinhas, conversando baixinho e é claro, aposto que estavam falando de mim.    Mas ai vi aquele cabelo liso escuro com as pontas cacheadas virada de costas para mim.

-Juro que não acredito. Falei baixinho em seu ouvido. Ela deu um pulo e os olhos das suas amigas estavam totalmente arregalados.

-Esta me seguindo é?

-Posso chamar isso de coincidência, pois, perdi o ônibus.

-Jura? Que legal. Só assim você me veria né.

-É o que eu acho. Mas e ai, eu quero saber o seu nome.

-E se eu não quiser dizer?

-Você não vai dar uma de difícil só porque esta na frente das suas amiguinhas vai?

-Prazer, Nathália.

--Muito prazer, Meu nome é Humberto.

Esse foi apenas o começo da nossa conversa na parada. E para variar, pegamos o mesmo ônibus, mas ela desceu cinco paradas antes que eu.  Nosso romance começou escondido, fiquei sabendo dos pais dela, e ai quando saia da aula voava para a parada para que pagássemos o mesmo ônibus. Quando ela conseguia escapar de casa íamos ao cinema, tomar um sorvete e ate a algumas manifestações.

                Levamos um ano inteiro assim, nos encontrando escondidamente, o que tornava tudo mais gostoso. Completei meus dezoito anos, dei uma festinha, mas ela não pode comparecer, por causa, que o pai nem podia suspeitar que sua filha tivesse um “amigo” homem. Mas mesmo assim ela esteve na festa, pois revelei uma foto sua, coloquei em um quadro e fiquei agarrado toda a festa com ele, quer dizer: ELA.

O governo ia piorando com seu regime e nos dois querendo vivenciar o nosso amor. Ate que ela não agüentou mais e falou para o pai que tinha um namorado.

-É O QUE MENINA?

-É pai, tenho um namorado.

                Naquela noite de 1976 que Nathália assumiu seu namoro com Humberto, ninguém jantou nem dormiu naquela casa. Fernanda foi obrigada a assistir a surra que sua filha tomara com folha de urtiga (Urtiga é uma planta que quando entra em contato com a pele, deixa irritada com o sintoma de ardor), planta que deixara o corpo da Nathália todo cortado, pois apanhou pelada. Todos estavam chorando pelo que o Almirante Falcão estava a fazer com sua filha única. E no outro dia ele tratou de arranjar um casamento com um tenente amigo.

No dia seguinte Nathália estava de cama, não agüentava se mexer, não queria comer, chorava muito e não tinha forças para nada. Joel, mesmo sendo cego, ajudou a mãe, dona Fernanda a cuidar da irmã. Sem enxergar nada, sabia melhor que a mãe os locais que estavam cortados e doloridos. Ele conversava com Nathália, era a única pessoa que arrancava dela algumas palavras, palavras chaves, ricas em informações que fez com que Mauro encontra-se Humberto e combinassem uma fuga, tirar urgentemente Nathália dali.

                Tudo bem planejado esperaram o momento em que o Almirante chegara tarde e cansado da base naval. 11 de Março de 1976, o almirante Falcão como previsto chegou cansadíssimo, tomou o banho, jantou com a família toda a mesa e depois se recolheu. Depois da refeição todos os irmãos arrumavam as coisas do jantar, as colocavam em seus devidos lugares. Varriam a cozinha e proseavam um pouco mais, Dona Fernanda gostava de saber o que cada um tinha feito de especial do dia. Nathália escutava tudo o que todos diziam atentamente, apenas observava os gestos de cada um, qual pensava que nunca mais iria ver um dia. Ali, na porta da sala, já perto da escada, Nathália deu um abraço bem apertado na mãe de faltar ar, uma lágrima soltou o rosto, e como se a maternidade advinha-se o que aconteceria disse “Vá em paz minha filha”.

Meia noite, estavam todos dormindo na casa, menos Joel e Mauro que iriam por o plano em ação. Humberto já esperava do lado de fora da casa, Nathália pulou a janela com a ajuda dor irmãos e uma corda que Mauro havia comprado no centro da cidade, a pouca mala que Nathália havia arrumado foi jogada pela janela e infelizes seus irmãos e pais ficaram naquela casa.

                Humberto contara tudo a mãe, que mandara dinheiro para comprar um carro. O que facilitou a vinda deles a Natal, pois provavelmente no outro dia a estrada deveria estar cheia de militares parando ônibus a procura dos dois.


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