Cry Baby escrita por Helen Muniz


Capítulo 3
Casa de Bonecas - Parte 2




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  Papai não apareceu para o café nessa manhã. Max questionou minha mãe sobre isso e ela apenas respondeu que ele fora resolver umas coisas e que logo entenderíamos tudo.

  Na verdade, meu pai não estava perdendo nada. Ninguém se olhou durante o café da manhã e isso foi muito incomodador.

  Durante o almoço, papai finalmente apareceu, e ele não veio sozinho, havia uma moça loira com roupas bem formais junto dele.

  — Crianças, quero que cumprimentem a Senhorita Sorenson. Ela será a nova governanta da casa. — meu pai apresentou-a à nós.

  “Então é isso que ele foi resolver?”, pensei

  — Por que precisamos de uma governanta? — perguntei.

  — Melanie, que modos são esses? — minha mãe me repreendeu.

  — Não precisa se preocupar, Senhora Martinez! Não sou de formalidades e a garotinha só fez uma pergunta. — Senhorita Sorenson falou.

  Eu sorri, apesar de ter me incomodado um pouco com ela me chamando de “garotinha”. Isso, de alguma maneira, me lembrou “Bebê Chorona”.

  — Podem me chamar de Amanda. — ela continuou. — E eu estou aqui para dar um descanso à mãe de vocês. Não acham que ela merece?

  Olhei para minha mãe e me lembrei do que aconteceu de madrugada. Ela devia estar exausta, por isso afogou suas lágrimas numa garrafa de uísque.

  — Além do mais, hoje receberemos a visita da tia Lorelay, se lembram dela? — minha mãe perguntou tentando desviar do assunto.

  Como não se lembrar? Tia Lorelay: a advogada da família, 99% mulher correta no dia a dia, mas 1% se embebeda nas festas de família e fica dizendo horrores do marido. Ah, e ela também é irmã da minha mãe.

  — Eu não vejo a hora de ver nossos queridos e amados parentes. — falei ironicamente.

  Minha mãe me lançou um olhar de fúria fazendo com que eu me calasse no mesmo instante.

***

  Já era final de tarde e o sol estava se pondo. Eu estava com um vestido rosa bem clarinho e um laço no cabelo da mesma cor. Minhas sapatilhas eram de um rosa um pouco mais escuro.

  Amanda havia vindo até meu quarto para avisar que nossos parentes já haviam chegado e estacionado o carro. Corri para conseguir chegar na sala antes deles.

  Quando cheguei, o óbvio aconteceu: minha mãe me deu uma bronca. Felizmente, ninguém havia entrado ainda.

  — Você precisa ser mais pontual, Melanie! Agora vá para o lado de seu irmão e seja uma boa garota. Ah, e de preferência, não abra a boca a não ser que te perguntem algo. — ela avisou e me empurrou para o lado do Max.

  Ele estava rindo.

  — Do que está achando tanta graça, em seu idiota? — perguntei. — Não acharia graça se...

  Tim, dom! Era o som da campainha. Nos ajeitamos enquanto Amanda atendia a porta. Ela deu espaço para os convidados entrarem.

  — Olá! — alguém cumprimentava.

  — Como vai? — alguém perguntava.

  Eu não conseguia identificar de quem eram as vozes, ou não queria. Todos falavam juntos e isso era tão chato.

  — Nossa, como ela está grande! Já é uma moça! — minha tia exclamou enquanto me abraçava.

  Forcei um sorriso.

  — Como estão todos vocês? — ela perguntou logo depois.

  — Estamos ótimos. Acho que estamos na nossa melhor fase de nossas vidas, sabe? Mel e Max já estão crescidos e não aprontam mais. Aliás, são alunos exemplares no colégio. E Jorge e eu nunca estivemos tão apaixonados! — minha mãe falou.

  Meu queixo caiu por ouvir tamanha mentira! Será que ela não via ou fingia que não via o que estava acontecendo conosco? Papai sempre está no trabalho, sempre! Max está se drogando às escondidas e ontem mesmo ela estava se afogando em bebidas.

  E para completar tamanha invenção, ela disse:

  — Acho que posso dizer que somos uma família perfeita.

  “Realmente.”, falei para mim mesma. “Apenas não deixe que eles olhem através das cortinas.”


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