Atendimento #038: 500 conto

Já comprou peça de mostruário? Não sabe nem o que é isso? Okay, vamos la… Mostruário são os produtos que ficam nas prateleiras das lojas de eletrônicos, sabe aqueles que você meche, toca, passa a mão engordurada de Doritos e tal? Então é esses dai.

Quando você vai comprar um produto, qualquer que seja, a loja deve ter um estoque do mesmo. Porém, quando ele se esgota sempre resta aquela peça final que fica nas prateleiras, para se livrar dela as revendedoras baixam seu preço a um nível ridículo. E é nessas horas que algum otário cai. Agora que eu parei para analisar friamente, acho que comprei meu notebook de mostruário...Mas enfim, vamos aos atendentes.

— Então Ezequiel, é que eu comprei um computador e estou tendo alguns problemas com ele.— Este é o cliente, como já aprendemos, todo cliente é burro! Por isso não ligava do telefone gratuito, mesmo que este pudesse.

— Certo, que tipo de problemas senhor? — Nosso herói balançava a cabeça de um lado para o outro buscando manter-se acordado, os sábados eram ruins, mas aquele estava de lascar.

— Bom, eu comprei ele em uma loja aqui perto da minha casa e paguei só quinhentos conto foi um achado que eu me orgulho muito sabe, inclusive falei pra todo mundo quando…

Na cabeça de Ezequiel começou a tocar aquelas músicas típicas de quando um elevador está descendo vários andares, se imaginou dentro deste elevador e, como estava sozinho liberou seus gases fazendo um grande barulho. Não demorou e voltou ao foco. O atendente imaginava como um cliente tinha conseguido comprar um computador por aquele preço. Imaginou o cliente assaltando a loja, mas ai os quinhentos conto não fariam sentido. Pensou que fosse erro de impressão na nota, mas seu sistema também mostrava o mesmo: quinhentos conto.

—… ai eu pensei: Pô, mas é mostruário, pode ser que dê problemas. Final das contas, deu problemas e agora ele não liga.

— Mostruário né.— Coçou a cabeça percebendo o rolo que aquilo iria dar. — Certo, o senhor têm certeza que o valor pago no produto foi esse mesmo?

— Sim ué, foi por isso que eu comprei.

— Tá bom, eu suspeito que têm algo estranho nisso, mas como o produto não é meu não tô nem ai. — Ezequiel não ligava para o que o cliente acharia de sua resposta, estava tão de saco cheio do dia que já tinha ligado a alavanca do “foda-se”. — Vamos lá então chefe, tira a bateria dele e tira ele do carregador, vamos faze alguns testes.

O cliente ficou confuso, as instruções do atendente do outro lado da linha não faziam sentido. Aquele era seu primeiro notebook, então qualquer procedimento era novidade.

— Como é que eu vou tirar qualquer coisa se não têm?

AS palavras do cliente tiraram Ezequiel do modo automático.

— Oi? Como assim não têm? Todo notebook têm carregador e bateria. — Pronto, o rolo tinha começado e os problemas só se agravariam. Um estalo o lembrou. — Senhor, o disse que comprou o produto de mostruário certo?

— É isso ai ué…

— Okay...o senhor se certificou que ele veio com bateria e o carregador?

O cliente largou o telefone e saiu revirando tudo o que estava próximo a procura da caixa do produto, jogou sapatos para um lado, olhou em baixo de camas, sim ele estava em casa, e até procurou no banheiro.

— Não, agora que você falou eu percebi que não veio mesmo.

O atendente colocou a chamada no mudo.

— É por isso que têm tanto vagabundo no mundo, tá vendo? Eu aposto o que for que esse imbecil viu o preço e pensou “Ai ta barato de mais, vou me dar bemzão aqui. Vou comprar o notebook por quinhentos conto e vou sair me enaltecendo como O economista. ” — Com “quinhentos conto” ele fazia um sotaque misturado de diversas partes do país. — Seu burro! Animal! — Tirou o telefone do mudo. — Então senhor, quando nossa empresa vende os aparelhos eles vão completos, o que provavelmente está ocorrendo é que o carregador que venderam com o produto não está funcionando.

 — Não! Você não tá entendendo, não veio carregador mesmo.  — Respondeu o cliente interferindo. — Não veio nem carregador nem bateria meu amigo.

Ezequiel rangeu os dentes e projetou os lábios para frente, quem o visse naquele momento pensaria que ele imitava a boca de um cavalo. Balançou a cabeça em negativa.

— Isso explica por que ele custou tão barato não? — O cliente nada respondeu.  — Senhor já que o senhor é um PUTA economista, faz o seguinte, economiza lá na autorizada beleza?  —  Ezequiel transferiu a ligação para a assistência técnica mais próxima.