Atendimento #027: Observação

Como já vimos antes os atendentes não sabem de tudo, porém o que ninguém sabe é que a rotatividade, ou seja, a quantidade de pessoas que entra e sai nas centrais e atendimento é bem alta. Esse é um dos principais problemas que impedem pessoas “sãs” como eu e você, de ter um atendimento decente. Pensa em uma catraca de metrô então, é pior...

É eu também fiquei com essa ideia de “isso explica muita coisa”, mas algo que é bem verdade é que o recrutamento de pessoas nesse ramos é constante e interminável. Todos os santos dias Ezequiel vê estranhos zanzando pelos corredores,muitos deles nunca voltam, os poucos que permanecem duram pouco. Depois de entrevistas de emprego e treinamentos os futuros atendentes têm de realizar algo chamado observação.

— É sério que a cliente ligou só para saber se estamos atendendo? — Fabiana tinha ouvido falar de alguns casos peculiares mas aquele que Ezequiel acabara de passar foi realmente bizarro.

— Calma que essa porcaria ainda piora. — O herói de nossa história, já recuperado do nonsense da cliente ajeitou-se na cadeira. — Quando você começar a atender você vai ver.

— Tá tudo certo aê macacada? — Questionou Igor chegando de súbito.

— Sim líder supremo. — Ezequiel fazia naquele instante levou o punho fechado ao peito como um soldado. — Estamos operantes.

Com uma camisa de botões aberta até o peito e uma corrente de ouro o supervisor continuou a verificar os demais atendentes. Naquele dia três pessoas sentavam-se com os atendentes enquanto eles trabalhavam, essa é a ultima fase do treinamento para atendentes a observação.

— Você fala estranho sabia disso? — Alana constatou a maneira com que Antônio atendia os clientes. — Você fala assim mesmo em casa ou é só pra trabalhar?

— Olha minha estimada esta é minha…

— A… eu percebi você fala assim mesmo — Alana interrompeu colocando a mão sobre a boca do atendente. — Prefiro ouvir um disco arranhado que sua voz, da licença.

Igor passou ao lado deles em silêncio, seus olhos analizaram brevemente a postura do atendente Antonio que cruzava as pernas. Balançou a cabeça.

— Esse moleque escorrega, certeza.

— Senhor espera um pouco. — A voz de alguém desconhecido ecoou.

Igor apressou o passo. Ao chega na mesa de Amanda viu a garota sentada ao lado de Cassio, porém diferente dos demais que estavam de observação, ele estava em linha atendendo um cliente.

— Tá doida moleca?— O supervisor indagou a atendente abismado. — Por que esse aspira tá atendendo no teu lugar? Se pegarem na monitoria você se lasca.

— Oxe Igor, você mandou que ensinássemos como se trabalha, estou fazendo do meu jeito. — respondeu pincelando o esmalte de cor laranja na unha do dedo médio. Ergueu o dedo em direção o superior. — Ficou legal essa cor?

— Tá perguntando pra mim? Fala com teu marido. Tu é gata mas eu não sou talarico não fia. — Aponto para a mesa de Ezequiel. —  Que que tu ensinou pra essa criança?

O supervisor encostou-se junto a mesa e começou a ouvir o aspirante a atendente. Ele parecia já estar naquele atendimento a algum tempo e a cliente começava  a perder a paciência.

— Entendo então a senhora ainda não consegue usar o projetor?

— Quantas vezes você já me perguntou isso? Dez quinze vezes? Você sabe arrumar essa porcaria aqui ou não? —  a cliente bufava junto ao microfone. Parecia que era do tipo esquentada, aqueles que ligam aponto de explodir. —  Se não souber eu fico feliz em ligar de novo.

— Moça relaxa essa pança que eu vou resolver o problema. — As palavras do atendente assustaram os demais colegas em treinamento. Cassio virou-se para sua instrutura de cabelos raspados que apenas respondeu com um polegar positivo. — Sou profissional o suficiente para resolver problemas que a senhora nem tinha detectado ainda, por isso que perguntei varias vezes, então relaxa que eu estou fazendo meu trabalho.

Amanda arqueou as sobrancelhas em direção ao supervisor que levantou-se do apoio. Igor tocou no ombro de Cassio com um sorriso.

— Já tá quase pronto aspira, só precisa treinar um pouquinho mais.

— Fabiana bom dia como eu posso ajudar?

Ezequiel, inspirado pela ideia de Amanda,colocou sua pupila para atender em seu lugar. Porém ele não estava nem ai se ela aprenderia ou não, tudo o que queria era que ela demorasse e ele tivesse algum tempo de folga dos clientes.

— Vai me dizendo o que esse corno quer. — Avisou Ezequiel recostando-se a uma cadeira.

— Tranquilo senhor, quer falar sobre sua linha de telefone é isso? — A atendente esperou por alguns segundos até a resposta do cliente. Escreveu algo no sistema. — Pô ai é ruim mesmo ein, mas querido vamos analizar, isso não foi culpa nossa.

— O que ele tá falando? — A pergunta de Ezequiel ficou sem resposta enquanto a garota ergueu a palma da mão.

— Moço você está de sacanagem com a minha cara né ? — A voz de fabiana começou a elevar-se de tom. — Como o senhor tem a coragem de dizer que fizemos isso só para deixar o senhor sem internet e telefone fixo?

— O que ele tá falando cacete! — Ezequiel não mais se continha de curiosidade, queria tomar o telefone da garota, mas não poderia já que a chamada ainda estava ativa. — Fabiana me diz logo.

— Senhor ligue para um sanatório, serio mesmo! — A garota sentiu um toque nos ombros a massageá-la. — Você acha que derrubaríamos uma arvore na rua do senhor só para que ficasse sem internet e telefone?

A garota tirou o telefone do mudo.

— Acho sim! E quer saber eu vou chamar a policia! —  Respondeu o cliente em furia.

— Não, chega. — Falou Igor apertou o botão que derrubava a chamada. — Você já atendeu seu primeiro treze, pode vir na minha mesa pegar seu headphone e começar a atender. Não precisa nem de fazer a prova.