Atendimento #242: Divulgação gratuita

Quando se faz algo absurdamente fora do comum a tendência é que você chame a atenção. As empresas só fazem isso das suas vidinhas empresariais milionárias; celulares que filmam raio-x, raio-x que funciona como celular, celu-raio que funcionam como x, são sempre coisas bizarras que tentam inovar, melhorar e facilitar a vida de quem o usa. Algumas falham, outras…

— Meu Deus dos céu...— Ezequiel chegava no trabalho naquele instante e se deparara com todos os operadores lendo os dados que haviam vazado, suas telas brancas com palavras escritas não deixavam dúvidas que algo acontecera. — Como todos já têm isso?

— Claro que todo mundo já têm isso, está na internet.

As palavras de uma pessoa aleatória que nosso herói nem sequer conhecia foi o suficiente para fazê-lo balançar. Sua mochila caiu, sua visão ficou turva. Desmaiou.

O susto foi tão grande que muitos atendentes correram em direção a nosso herói para auxiliá-lo. Várias mãos o seguraram e rapidamente ele foi colocado em sua cadeira de supervisor, uma pessoa correu para o refeitório e buscou um copo de água gelada para que o mesmo bebesse quando acordasse, entretanto, esta tropeçou e derramou o líquido na cara do encarregado fazendo-o começar a despertar.

— Dá um espaço galera, deixa ele respirar, bora vai, vai. — Luly empurrava a galera para que o supervisor pudesse despertar tranquilo.— Como é que tá chefe? Além de molhado é claro.

Ezequiel estava rodeado de pessoas de diversos setores, muitos ele nem sequer conversava, seus olhares tinham uma mistura de admiração e preocupação.

— O que aconteceu? — indagou.

— Colocaram na internet os dados daquele projeto que você tinha no computador e todo mundo já está sabendo que você é o criador, aqui na operação, ao que parece fez sucesso e o pessoal gostou por ser inovador. — Ancelmo jogou a realidade sem nem sequer dar tempo de nosso herói se levantar. Encostado em sua mesa e sem encará-lo o colega continuou.— Seu passatempo agora é o passatempo de todo mundo que gosta de ler.

— Filho da mãe… — uma chamada surgiu no telefone Araya do supervisor. Receber uma chamada ali só era possível em duas situações, a primeira era por alguém interno, e a outra era se alguém de fora soubesse exatamente o código do mesmo. — Telefone desconhecido…isso não é possível.

Outra coisa que nunca acontece é o telefone dos clientes aparecerem como “desconhecido”, isso porque os telefones dos operadores possuem uma detecção especial que mostra até mesmo números corporativos de empresas de segurança.

— Ezequiel bom dia...— Atendeu nosso herói com o telefone no auto falante.

— Bom dia meu querido Ezequiel, faz muito tempo que você e eu não nos falamos não é mesmo? — Ele sabia quem era que falava e mesmo esperando algo de ruim ele não pensou que seria tanto. Aquela voz era de um antigo cliente que já se ferrou nas mãos de nosso protagonista. — Gostou da minha divulgação gratuita? Eu não pude deixar essa obra prima passar em branco pelo mundo, todos merecem conhecer esse seu trabalho. Espero que tenha muito sucesso nesse seu projeto e não se esqueça nunca de mim ein!

— Fábio você ferrou muita gente com isso...se tinha algo comigo deveria ter arranjado outra forma de se vingar.— Ezequiel falava com o dono do jornal jornal, o jornal mais que real. Sim aquele onde fora sacaneado no atendimento #033 e futuramente o extorquiu no atendimento #034 e #100.— Aquelas coisas eram só um passatempo, você não deveria ter ido tão longe assim para me ferrar…são dezenas de famílias envolvidas aqui.

— Ah meu amigo a honra de um homem não pode ser ferida e ficar por isso mesmo. Fora que eu não envolvi ninguém, você que o fez.— Ele emitiu uma risada maligna que foi ouvida por todos.— Você me fez perder muito dinheiro e prestígio com aquela sua brincadeira, sabia? Sabia que por muito pouco eu não perdi meu jornal? Pois é todo o meu império ficou a beira de desmoronar por sua causa.
Enfurecido, porém controlado, o supervisor fez sinal para que o grupo de seus atendentes mais fiéis se aproximasse.Colocou no mute. Cochichou algo para um rapaz com um capacete de moto e alguns envelopes na mão que também se aproximara do coro, este saiu correndo para o lobby dos elevadores assim que recebeu a instrução do encarregado. Sua missão deveria ser cumprida com velocidade.

— Senhor Fábio você começou instruindo um de seus funcionários a me ferrar, agora vêm dizer que a culpa é minha? Tá me achando o que? Filhão jumento dá coice e não lambida, se você vier me ferrar eu vou te atacar é simples assim. — Pigarreou.— Agora, divulgar essas informações não foi algo muito inteligente de se fazer, isso eu posso te garantir. — Ezequiel não estava preparado para as consequências, ele estudou livros e mais livros trabalhistas, mas nenhum deles lhe dava uma solução para todas as possíveis consequências do vazamento. Mas sua lábia poderia lhe garantir algum tempo.

— Por que? Vai me dizer que você não não gostou de ver que todos agora sabem como é que funcionam as coisas do outro lado da linha? — A risada dele novamente reverberou pela chamada. — Eu até consegui uma quantidade de vendas mais alta do jornal por sua causa. Curiosamente até mesmo algumas editoras entraram em contato demonstrando interesse na matéria do meu jornal. “Atendente escreve livros com informações de como é sua vida e de seus colegas de trabalho e obra vaza na internet.” Isso foi uma manchete sensacional.

— E não é...— Meneou a cabeça em negativa. — Você sabe que...colocar uma acusação falsa é passível de processo né?— Falou ele tentando intimidar o adversário pela legislação.

— E vazar duzentos e cinquenta atendimentos não convencionais? An?— Fábio finalmente mostrava que não estava de brincadeira e queria realmente se vingar de nosso herói. Seu contra argumento mostrava que ele agia pela razão, equilibrado e estratégico.— Aliás esse é um belo nome para seu projeto de anotação de casos bizarros...Do outro lado da linha: Duzentos e cinquenta atendimentos não convencionais… parabéns pela criatividade ao batizá-lo assim.