Atendimento #196: Foto de perfil

As redes sociais são uma maravilha do mundo moderno, facilitam a comunicação, encurtam as distâncias e ainda de quebra ajudam as pessoas a descobrir se são cornas ou não. O problema das redes sociais, não, o problema de tudo na vida, são as pessoas leigas que se julgam detentoras de todos o saber. As centrais estão sempre recebendo ligações desses especialistas de p*##@ nenhuma, muitas empresas inclusive têm pessoas responsáveis para tratar com esse tipo de cliente.

No caso da central de nossos heróis o mais qualificado era Ancelmo.

— Eu não seu lagarto alienígena. Eu não vou falar com essa jumenta, mas nem aqui nem na china.

— Por favor cara. Eu não vou conseguir fazer isso, não vou me controlar.

A garota que pedia para Ancelmo entrar em contato com a sua cliente era Luly. Essa operadora não fazia parte do setor de nossos heróis, na realidade nem do mesmo prédio ela era. Suas funções eram basicamente pegar os clientes que já haviam entrado no procom e resolver antes que eles conseguissem levar uma grana forte da empresa.

— Eu já disse que não vou fazer isso sua maluca espacial. — O atendente chamava a garota de vários nomes relacionados ao espaço devido ao visual singular da garota. Este se consistia de um cabelo enrolado e fortemente desgrenhado, uma roupa de frio muito maior que ela e um óculos laranja bem inusitado por ter sido pintado de canetinha hidrocor permanente.— Vai ver com o super, talvez ele tenha dó de você.

Luly saiu dando a lingua para o colega atendente enquanto se dirigia para a mesa de Ezequiel, a garota magra igual a um palito se debruçou sobre a mesa dele.

— Nem vem tentar de novo, eu não vou passar os nudes da minha esposa.— Falou ele sem nem se quer desviar o olhar do monitor.

A garota do procom tinha o hobbie peculiar de colecionar os nudes das colegas de empresas e eu digo hobbies pois ela não possuía atração alguma por mulheres, era apenas um passa tempo bizarro que fez ela ser conhecida como "A garota que coleciona tetas"

— Não esquenta, a Amanda já me passou.

Ezequiel olhou incrédulo para a própria esposa, como ela estava na mesa imediatamente a frente esta ouvia tudo e virara o rosto envergonhada.

— Se quiser depois eu te passo via bluetooth, mas agora eu preciso de uma ajuda sua. — A garota levou a mão ao cabelo e de dentro daquele pantanal ela tirou uma folha de papel tamanho A4 enrolada. — Esse cliente aqui —abriu a folha com os dados e reclamações do individuo.— entrou em contato e eu preciso explicar para ele que o caso não é passível de justiça. Mas se eu ligar eu vou rir.

Como nosso herói não é muito adepto de frescura foi logo vendo o telefone do cliente e discando em seu dispositivo Araya.

— Vocês do procom são uns cagões viu, não conseguem resolver seus problemas e têm de vir no prédio dos outro só pra causar a discórdia.— Ezequiel ficou quieto pois a cliente atendeu. — Senhora Francisca a senhora fala com Ezequiel, tudo beleza?

— Tudo beleza? — A cliente se sentiu confusa por ser tratada de maneira informal.

— Ah acabei de descobri que minha esposa mandou uns nudes pra uma colega, mas beleza. — respondeu Ezequiel como se a cliente tivesse perguntado alguma coisa. — Então senhora eu to ligando aqui a respeito da sua reclamação no procom.

Naquela altura Luly já apertava os lábios para não rir.

— Sim, a respeito do meu celular que é uma bosta sem fim. — A cliente entoava a voz com uma raspinha de raiva e uma pitada de sarcasmo.

— Então senhora eu gostaria de tentar compreender e resolver o problema aqui.

— Eu espero realmente pois eu quero mesmo usar meu face.

A mente de Ezequiel brecou, todos os seus pensamentos foram voltados para a garota que já rolava no chão sem controle das risadas.

— Face? — O supervisor franziu o cenho e passou a ler o que a folha lhe reservava. Colocou no mute. — A cliente colocou em todos os canais possíveis e imaginaveis da internet sua indgnação a cerca do celular, a mesma informou que seu produto é de péssima qualidade e que após mudar a foto de perfil do facebook o mesmo não permitiu que ela mudasse mais. — Ezequiel parou por um momento de ler e voltou o foco para Luly. A garota, sem controle da bexiga, tirava da mochila uma frauda geriátrica e colocava por cima da calça na tentativa de não deixar o vazamento por risos se alastrar.— Após várias tentativa e reset's de fábrica a cliente desistiu e mandou o produto para a autorizada. Lá a mesma foi taxada de burra e agora quer resolver o problema. — Ezequiel arregalou os olhos e respirou pesado ao ler a frase subsequente. — A cliente afirma que o código de defesa do consumidor prevê que o cliente pode mudar a imagem de perfil sempre que ele quiser em seu celular.

— Viu porque eu não consigo? — Luly se apoiava nos joelhos enquanto continuava se contorcendo de tanto rir.

— Você me paga, colecionadora de tetas.— Falou nosso herói buscando alguma desculpa cabível para passar para a cliente.