Atendimento #195: Atraso Leve

Se atrasar é algo perfeitamente normal em uma cidade cheia de pessoas, claro que se você morar próximo do seu emprego isso se torna mais difícil, até porque você não têm de pegar ônibus, trêm, metrô, camelo, avião e um navio, para poder chegar e atender os clientes.

— Onde você estava? — Falou amanda ao fincar uma faca peixeira bem afiada na mesa de nosso herói que acabava de chegar.

— Oi? — Ele suava igual a um porco depois de uma sessão de sáuna.

— Você saiu primeiro que eu e chegou vinte minutos atrasado. — O fuzilou com o olhar. — Quem é o macho que tá te pegando sem eu saber?

Existem algumas empresas que possuem horários maleáveis para os supervisores, claro que a maioria deles respeitam a escala famosa de cinco dias trabalhados por dois escançados, mas no caso de Ezequiel era atraso mesmo.

— Seu pai aquele gostoso. — Falou ele colocando a mochila na mesa e indo conferir um chamado de um atendente.— Foi só uma cratera na rua mulher, choveu abriu um buraco gigante e parou o trânsito.

— Chefe esse cara aqui tá reclamando da falta de internet na casa dele. Ele tá falando que já teve problemas conosco anteriormente quando nós derrubamos uma árvore na rua dele só pra ele não usar a internet. — O atendente tinha uma expressão confusa estampada na face, sabe quando alguém te olha e você lê nas rugas da testa dele "mas que desgrama você está falando?"— Têm como ver isso?

Ezequiel acenou positivo enquanto empurrava o atendente para fora da cadeira para que ele pudesse se sentar.

— Senhor o senhor fala com o supervisor da operação tudo bem?

— Finalmente o líder da conspiração apareceu. Vocês não têm vergonha na cara não? — O cliente falava como se estivesse realmente cara a cara com seu pior inimigo de guerra.— Vou denunciar vocês para as autoridades porque agora não têm mais como esconder.

— Do que você está falando cara? Quem aqui está querendo esconder alguma coisa, fumou por acaso?

— A um tempo vocês derrubaram uma árvore na minha rua para que eu não pudesse ligar e nem me comunicar com os colaboradores da minha sociedade secreta, agora vocês vão e fazem isso aqui na minha rua? Por causa dessa porcaria dois postes caíram e eu fiquei sem rede.

Ezequiel estava em um estado deplorável tamanho era seu sono. Já não bastasse isso, o ônibus carregava mais pessoas do que se era possível imaginar. Sério mesmo, o veículo estava tão lotado, mas tão lotado que quem o via se perguntava como ele não tinha se desmontado inteiro.

O supervisor logo foi verificar o endereço do cliente e seu histórico de ligações, ele percebeu com isso que este era o mesmo cliente maluco do atendimento #027: Observação.

— A não cara, qual a probabilidade de um maluco conspiracional morar na mesma rua que a cratera se abriu depois da chuva? — Ezequiel nem se quer tomou cuidado de colocar no mute.

— Agora você está admitindo que foram vocês não é? Mas vocês não vão me parar eu vou continuar meu trabalho...

Enquanto o cliente falava todas as ameaças mais desconexas e loucas que um maluco conspiracional pode inventar; alienígenas, experiências do governo envolvendo o clima e até half life 3, Ezequiel chamava a sua esposa para mostrar-lhe a razão do seu pequeno atraso.

— Senhor diz de novo o que nós fizemos na rua da sua casa?

— Vocês destruíram a minha calçada, abriram uma cratera na rua só pra derrubar os postes e me deixar sem internet.

Ezequiel abriu o mapa da cidade e mostrou exatamente onde o cliente morava e por onde ele passava para ir trabalhar, em dado momento a garota se tocou que Ezequiel realmente falara a verdade.

— To de olho em você. — A garota foi até a mesa da supervisão e retirou a faca cravada.

— Alo?

— Senhor, minha paciência tá curta então vou ser bem sucinto... — Ezequiel pensou um pouco no que ele diria para fazer o cliente parar se bancar o louco conspirador. — É isso mesmo somos uma organização do mal, pare de investigar ou vamos ir atrás de você! — Falou ele entonando a voz de forma a imitar um vilão caricato.

O cliente assustado deligou a chamada.

— Vacilão, não aguenta nossa organização do mal não liga.