Atendimento #184: Cheiroso

— Creme corporal né? — Kauã se aproximou de Ezequiel com um sorriso no rosto. — Foi engraçadão pra caramba ein. Nem usar o hold usou e ainda destratou o cliente.

Nosso herói tinha acabado de encerrar o contato com a cliente e seus ânimos estavam ótimos devido a chamada, por isso não deu atenção a ironia do encarregado.

— Tá me ignorando por acaso é seu idiota?

— Não, só tô evitando que dê algum problema entre nós dois. Afinal você ameaçou minha esposa grávida com demissão, então tô querendo manter tudo quieto.

— A é? Sabe...eu já dei boi de mais pra você cara, toma. — Kauã colocou uma folha e uma caneta na mesa de Ezequiel. — Tá suspenso por quatro dias.

Se lembra na escola quando o pessoal do fundão era chamado para a diretoria e ficavam uns dois ou três dias sem ir para a escola? Bom eu não lembro, até por que eu era o cara do fundão.

Pode parecer infantilidade, mas nas operações aquelas punições de escola também existem. Os supervisores têm a função daquela professora dedo duro que é passar a punição para qualquer coisa que você faça de errado. Claro que isso varia da politica de cada encarregado, no caso de Kauã era pura e simples politica do terror.

— Ah! claro...— Ezequiel apanhou o papel, rasgou e em seguida jogou na cara de Kauã. — Você tá querendo me dizer que um cara que entrou quase dois anos depois de mim, com notas piores, atendimento péssimo vai querer mandar em mim assim? Boa sorte tentando.

— Não vai aceitar a medida disciplinar né? — Kauã abriu um sorriso maligno. — Então vai ser justa causa mesmo, vou buscar os papeis. — mais rápido que uma bala ele saiu da operação e entrou na sala dos gestores.

Sim, isso pode acontecer caso um encarregado não consiga aplicar a medida disciplinar no operador. É tipo você tentar matar uma barata com inseticida. Jogou inseticida e não funcionou, taca a chinela!

Do outro lado do corredor Ancelmo observava a situação com o telefone no mute.

— Eu imaginei que isso ia acontecer, mas não pensei que seria tão rápido. — Falou ele decepcionado.— E a Amanda nem tá aqui pra saber disso.

— Tá então não têm jeito de arrumar isso por aqui mesmo? — O cliente do atendente adestrador tinha uma ar preocupado típico de quem sabe que está para se ferrar.

— Senhor, vamos ser bem frangos.— Ele já falava fora do mute. — Uma família comeu macarronada estragada, entrou em seu taxi e vomitaram em tudo. Sinceramente eu não sei como o senhor está se preocupando com o reprodutor de som…

— A...é que o meu chefe...— O cliente diminuiu o tom da voz como se estivesse se escondendo. — ele é um cara meio nervoso e se eu não resolver eu vou me ferrar.

— Seu chefe é um cara nervoso? Você não sabe do que você tá falando...

— Ele disse pra eu resolver isso e pedir para falar com um atendente especifico.

— Olha pra resolver isso senhor eu recomendo que leve na autorizada, talvez ele passem alguma coisa que higienize, uma soda cáustica talvez…

— Entendi...Já que é assim vou avisar ele, mas e o atendente Ancelmo, você conhece?

Realmente, um cliente falar com tamanha intimidade com um atendente era bem estranho, era quase como ver um ator conversando com a plateia. Curiosamente a chamada estava sendo monitorada por Jailson que, da sua mesa distante, observava as reações do atendente domador com muito interesse. Sim! Desde que Amanda deixou claro que Ezequiel era seu trampolim particular, o monitor de qualidade passou a demonstrar interesses pelo fã de tokusatus.

— Senhor, eu sou Ancelmo, mas eu não quero que essa ligação me dê problemas…— Ele encarava Kauã com certo medo.— Vamos manter o foco na chamada está bem? Vou procurar uma autorizada para o senhor.

— Ancelmo para de bancar o aspira, pivete. Tá esquecendo do pai? — O silêncio subiu na chamada enquanto o cliente continuou. — Eu tô sabendo do que tá rolando por ai, tenho uns “povo” que me conta as coisas.

— Perdão? —  O atendente não compreendeu por que o cliente dissera aquilo.

— Meu chefe me mandou ler isso pra você saber quem é…

Naquele momento o monitor de qualidade, percebendo o que acontecia entrou no meio da ligação.

— Anfcelmo, pofde afender nofmal. Eu não fou te ferrar, por isso.

Ancelmo assustou-se e se levantou da mesa para ver onde estava o monitor de qualidade, ao encarar Jailson e receber uma piscadela de volta, abaixou-se.

— E o que seu chefe quer que eu faça? — O atendente tinha medo, o encarregado estava naquele momento assinando as folhas que formalizavam a demissão de Ezequiel por motivos disciplinares. Mas seu susto era pela expressão amorosa que o monitor lhe passara naqueles breves instantes. — O protagonista da história tá sendo demitido por justa causa agora.

— Pode confiar nele e fazer o que eu vou falar.

Ancelmo e o monitor de qualidade ouvirma atentos ao que ele dissera. Jailson ficou assustado e logo se levantou da mesa para impedir que o operador fizesse aquilo, entretanto, ele foi lento demais.

“Pegue as colônias do vendedor que tentou desbancar a Dona Catherine e despeja no Kauã, pode rasgar as folhas da demissão do Ezequiel sem medo que jaja tudo se resolve. E se perguntarem fala que fui eu, Igor Alastor quem mandou. ”

— O que você fez seu imbecil? — Gritou Kauã mais cheiroso que todos os operadores juntos da central.