Atendimento #181: Hold

Uma coisa que acontece bastante nas centras é a mudança de procedimentos técnicos, vira e meche aquilo que se fazia antes se torna proibido. Algum tempo atrás atender o cliente era obrigatório mesmo que esse fosse de um setor que você não tinha nada a ver com o seu. Sim, nosso heróis antes atendiam todos os tipos de produtos, mas é como eu já mencionei, procedimentos mudam a toda hora. É nesse momento que você deve se perguntar: “Tá, mas como foi resolvido esse problema de atender os outros?”

Ah! Isso foi simples eles simplesmente fizeram os operadores atender todos os tipos de produtos e ponto final.

— Não… Você só pode está sacanagem com a minha cara né seu bichinha? — Amanda se levantara e ameaçava lançar o sapato preto cheio de espinhos na cara do supervisor. — Como você teve a coragem de fazer isso cara?

— Fazendo ué, essa é a minha função aqui; presar pelos interesses da empresa e manter vocês na linha. — Kauã soava esnobe como se tivesse ficado milionário da noite para o dia.— Mostrar pra todo mundo que o procedimento mudou por conta de um operador burro é minha função. Eu vou até repetir pra não deixar dúvida. — voltou-se para Ezequiel. — Foi por assumir a culpa da sua burrice que o Igor foi convidado a se demitir e eu não vou cometer o mesmo erro que ele.

Ezequiel travou no mesmo instante; olhos arregalados, suor escorrendo na testa. Ele teria derramado lágrimas, mas seu choque foi muito grande. Nosso herói realmente não imaginava a razão exata para Igor ter se demitido até aquele momento.

— Como você escroto cara. Não precisava falar isso pra ele. — Amanda tentou confortar Ezequiel dando-lhe um abraço mas ele desvencilhou-se.— Amor?

— Você nunca me chama assim, a não ser quando tá preocupada. Isso só quer dizer que você sabia e não me contou.— Nosso heroi se levantou e ameaçou sair da sala.

— Volta que eu não terminei de falar o que vai acontecer. — Kauã fez com que ele parasse no lugar. — Por causa daquele incidente que você fez com a diretoria e em seguida o vazamento de informações de clientes, os chefes proibiram o uso do botão mute.
A noticia foi completamente assustadora a todos os operadores que instantaneamente se levantaram e começaram a falar suas opiniões indignadas.

— Mas sem o mute eu não posso xingar ninguém tranquila! — Amanda

— Mas tossir, espirrar e pigarrear sempre deram descontos cara, sem o mute como é que fica isso?

Kauã apenas deu de ombros.

— Isso é problema de vocês, não atendo mais mesmo. — Sorriu malignamente e por um instante todos tiveram a clara impressão vê-lo como um senhor de engenho escravizando-os. — Agora se precisar de um tempo na chamada você vão ter de pressionar o botão hold.

O botão em questão jamais havia sido usado na empresa de nossos heróis pro ser incrivelmente irritante. Não acredita em mim? Pois bem. Preste atenção. Sabe quando você liga, preenche todo o caminho da ura e ainda assim acaba tendo de ficou ouvindo aquelas musica irritante? Então ela só entra em duas ocasiões, a primeira é fila extrema e a segunda é quando um atendente coloca você no hold.

— Só um momento senhor estou recebendo uma informação do meu supervisor. — Amanda tinha acabado de receber ligação de um cliente e quando iria colocar no mute instintivamente, o supervisor a impediu.

— O hold, por favor. — Ordenou Kauã.

Ezequiel deixou a operação indo em direção ao banheiro enquanto discava um número no celular. Sua esposa pressionou o hold fazendo o cliente ouvir a “musiquinha”

— A mas que desgraça, agora que eu fui atendido tenho de ficar ouvindo essa porcaria. — O cliente podia ser ouvido pela garota normalmente.— Deixa essa garota voltar que eu vou dar uma voadora na cara dela.

— Ô já ta de chilique aqui cara. — Falou ela apontando par ao telefone.

— Agradeça a sua bichinha por isso, só tô aqui pela empresa filhinha, vocês que se lasquem.— Kauã ameaçou ir para a mesa do supervisor. — Ah! Sim, antes que perguntem que deu essa sugestão de parar de usar o mute fui eu mesmo.

— Senhor sabe essa musica que você ouviu agora? Então sinto dizer mas via ter de continuar ouvindo ela por mais um tempo pois é uma orientação do meu supervisor.

— Mas eu já terminei de falar garota, pode atender o cliente.— Kauã respondeu sme se virar.

— Mas eu não terminei de falar aqui. — Amanda nem se quer se dera o trabalho de pressionar o hold ou mesmo mute. — Desde que o Igor saiu você fica de graça pra cima de todo mundo, tá querendo dizer que agora eu vou ter de comprometer a qualidade do meu atendimento por sua culpa? O cliente vai ser mesmo obrigado a ficar ouvindo isso?

O cliente permaneceu quieto apenas avaliando a situação da operadora enquanto ela falava indignada com o encarregado.

— Você deveria é agradecer ainda ter emprego garota, — Virou-se furioso. — Sabia que se eu fosse o supervisor na época do atendimento #100 você teria sido demitida por ficar grávida?

Completamente pasmo com o que acabara de ouvir o “cliente” mudou o tom de voz.

— Querida isso aqui era para ser um teste regular mas pode ficar tranquila com a sua nota, só chama o Kauã na minha sala.

A garota ao se levantar apenas pôde ver o gestor, aquele que costumava deixar a sala aquário embaçada com o supervisor apontando para Kauã enquanto segurava um telefone.

— Aê seu babaca. — Amanda pontou para a sala do gestor. — Ele ouviu o que você falou e tá te chamando. — Voltou-se para o gestor no telefone. — Obrigada, espero que dê uma comida bem boa de rabo nele.

Enquanto amanda deixou o telefone e foi conferir como seu marido estava o gestor finalmente percebeu que a sala que ele e o “namorado” brincavam era completamente visível a todos.

— Pode deixar... — Embasbacado enquanto via Kauã entrar na sala quieto.