Atendimento #175: Pausa

Vamos ser bem racionais...todos sabem que as vezes é preciso dar um tempo para relaxar, respirar e passar aquele fax no banheiro. Os atendentes, após um extenso combate que vitimou mais de mil headphones em protestos, revoltas furiosas, e xingamentos a clientes, conseguiram o direito na justiça, de ter pausas de dez minutos durante o dia de trabalho.

Não são todas as empresas, mas muitas delas liberam essas pausas para seus supervisores também. Bom... no caso de Kauã, que tinha de manter seu posto com o gestor, essas pausas era importantíssimas.

— Isso é muito horrível cara... — Ezequiel olhava para o aquario embaçado do gestor. — O cara fica aqui bancando o hitler e depois fica ali brincando de barbie e ken...

Amanda se apoiava em seu ombro enquanto suspirava pela situação, parecia uma menininha boba ao ver a sombra dos dois se movendo dentro da sala.

— Homens se pegando é tão lindo...

— Você é muito estranha cara...— Nosso herói a encarrou cerrando um do olhos enquanto arregalava o outro.

— Cala a boca se não eu uso o meninão v8 em você hoje. — Respondeu a garota ainda boba com as mãos de Kauã no vidro turvo.

— Pra que estudar, né? É só dar uma cantada no gestor que tá tudo legal... Malditos puxa sacos.— Ezequiel voltou a chamada que deixara no mute. — Senhor?

O cliente de nosso heroi era o típico caso das pessoas desorganizadas que ligam sem nem saber o que querem da vida.

— Senhor? — Ezequiel já havia unido das mãos e começava a orar para que o cliente ficasse quieto.

— Achei! — Falou o cliente mais entusiasmado que um cachorro quando sai pela primeira vez para passear e vê a cadela da sua vizinha. Observação, a cadela é referência ao cachorro fêmea da vizinha, não confunda funda com bunda...

— Aff. — Nosso herói se lamuriou levando as mãos a cabeça.

Ezequiel tinha pedido para o cliente uma informação de sua última conta, entretanto ele não estava com ela em mãos e foi procurar, nisso se haviam passados uns...trinta minutos mais ou menos... A demora tinha sido causada devido a enorme zona que era a casa do cliente. O individuo procurou tanto que até encontrou seu filho que tinha se perdido quando criança, ele estava em baixo do cesto de roupas e já tinha barba.

— Agora podemos dar continuidade a análise?

— Claro né...— Ezequiel tinha que verificar por que o telefone tinha registrado diversas chamadas para vários estados do brasil. De acordo com o cliente eles nunca aconteceram.— Senhor aqui consta no meu sistema, isso quer dizer que alguém em sua casa realmente tem feito essas ligações.

— Como eu disse isso não pode ser, minha esposa trabalha fora e meu filho trabalha em casa usando a internet.

— Entendi, então pegue o cpf do titular.

— A não, caiu aqui no meio das coisas enquanto eu procurava. Só uma pausa e já volto com ele na mão.

— Não... — Antes de Ezequiel pedir ao cliente que este deixasse a documentação de lado o mesmo sumiu por entre a toca de roupas sujas igual o coelho da Alice. — Você vem falar de pausa seu infeliz desgraçado? Eu to aqui com uma vontade incrível de dar uma mijada e você faz isso comigo? — Nosso heroi já tinha dado duas voltas com as pernas para não urinar nas calças. Sim ele deveria estar em pausa, mas como o cliente era mais lerdo do que eu assim que acordo, Ezequiel praticamente teve de "dar um nó" para não vazar.

Durante o tempo que o cliente ficou fora da linha Ezequiel se conteve, sua cara parecia um pimentão vermelho e os lábios ameixa seca. Ele não parou de falar em nenhum momento por que se o tivesse feito certamente teria liberado a cachoeira.

— Eu juro que se eu te vir eu vou fazer você engolir três litros de refrigerante seu filho da p#%@! — Reclamava o hidrante de urina que nós chamamos de Ezequiel.

— Espera. — Nosso heroi ouviu a voz abafada do cliente retornando do mundo da fantasia que existia em baixo da bagunça de sua casa.— Acho que já sei o que meu filho anda fazendo...

O cliente, ao invés de achar o seu documento, encontrou um caderno com diversos número de pessoas aleatórias.

— Meu filho anda passando trotes né? Vou enfiar um cabo de vassoura por baixo dele e fazer sair pela boca. — O cliente descobriu naquele instante que seu filho era um dos famigerados youtuber's e que este era famoso por passar trotes, outra de suas descobertas foi uma calça boca de sino que ele não via a décadas e que estava mais mofada que fruta pode depois de um mês. — Ezequiel você é uma cara legal então vou pegar o CPF pra te passar, só mais uma pausa está bem?

— Não! Pelo amor de posseidon e todos os outros deuses relacionados a água não faça isso. Eu to mais apertado que que cinturalho de mulher, se o senhor sumir eu vou me mijar! Já passou da minha pausa eu preciso ir no banheiro.
— E por que não vai ao banheiro rapaz?

— POR QUE EU TO TE ATENDENDO!

— Isso faz sentido... — Concluiu o cliente levando as mãos ao queixo. — Vai lá depois eu ligo pra vocês para me ajudarem com a minha vingança. — Anunciou o cliente antes de encerrar o contato.

Ezequiel rapidamente colocou o código de sua pausa no telefone e saiu em disparada para o banheiro. Ele conseguia ouvir a musica da vitória ecoando em seu cérebro, mas essa não demorou até virar uma marcha fúnebre. Nosso herói parou em frente a porta da salvação e leu o que nela estava escrita.

"Fechado para limpeza, volte em quinze minutos"