Atendimento #170: Ura

Você sabe o que é uma Ura? Não? Já vou adiantar que você odeia essa coisinha infeliz. Sim! Você já conhece, só não sabia disso.

A U.R.A ou unidade de resposta audível, OU também conhecida como, atendente eletrônico que fica nos prendendo em opções infinitas enquanto nosso créditos vão desaparecendo junto com nossa paciência, é um sistema que têm como função simplesmente filtrar as ligações dos clientes que aparecem. Sim todos ligam para o mesmo telefone, então é mais que óbvio que alguma coisa vá mandando os clientes de um lado para o outro. Mas é claro que algumas vezes você é esquecido e fica lá ouvindo aquela musiquinha tocada pelo diabo em pessoa.

— Que desgraça é essa! — O cliente Jean reclamava e resmungava, mas ninguém o escutava.

“Por favor selecione uma opção”

— Vou selecionar sim! vou selecionar a sua mãe aquela cadela no cio!

O cliente reclamava com a ura como se essa fosse uma pessoa real. Sim em algumas empresas as ligações são gravadas assim que você é atendido pelo menu eletrônico. Existêm aqueles que dizem que isso é uma invasão de privacidade. Bom, até é...Mas só se você tiver tara por vozes pré-programadas com funções.

“ Pressione um para suporte, dois para contas, três para tv a cabo, quatro para promoções, cinco para...”

— Cacete essa coisa não para de falar! Eu quero ser atendido de  uma vez sua secretária eletrônica de m!@#

“ Digite um, zero,zero, um, nove,nove, cinco se desejar esconder dinheiros ilícitos em bancos do exterior”

— Que tipo de opção é essa? Ô Erivânia!— O cliente chamou sua esposa para tentar resolver o impasse com a voz feminina e eletrônica.— Vem ver isso aqui.

— O que foi homem? Para que tanta gritaria assim? — A mulher que deveria estar secando os cabelos veio de pronto achando que algo tinha acontecido com seu esposo. — Por que você tá gritando tanto no telefone, tá maluco por acaso?
— Não, eu to puto da cara com essa secretária eletrônica que não faz o que eu mando.

“Finalmente ele chamou o macho da relação”

O cliente arregalou os olhos assim que ouviu a resposta. Assim como você deve ter percebido isso não era uma resposta que uma URA normal falaria, isso se tivesse totalmente sã, é claro…

— Não! Eu me recuso a acreditar que isso é uma secretária eletrônica falando!

O cliente largou o telefone fixo na mesa, a mulher logo o tomou nas mãos querendo descobrir o que deixava seu companheiro mais irritado do que se seu time fosse o lanterna da rodada.

— Alô?

“Opção inválida, por favor, digite um para suporte...  ”

— Você é muito estressado Jean. Tenta respirar e relaxar um pouco homem! — A mulher falou enquanto continuava escutando a URA anunciar as opções

“ Digite meia, meia, meia, para vender a sua alma. Digite dois, cinco, zero, para ouvir o relato de um parto, digite nove, nove, nove para destravar um mini game, digite...”

— Meu deus...—  A mulher começara a arregalar seu olhos como se estivesse envolvida por entorpecentes alucinógenos.

“Deus não têm nada a ver com isso”

—  A secretária eletrônica tá falando comigo…

“Secretária eletrônica é a sua mãe aquela assaltante de carrinho de rolimã que fica na frente dos hipermercados pronta pra roubar as compras dos outros.”

— Jean! — O homem voltou-se para a mulher. — Você ligou certo mesmo?

— Claro que eu liguei. A primeira vez foi uma voz diferente que chamou ai quando eu apertei o “um” ficou tudo quieto e depois entrou essa voz com esse menu.

Enquanto o casal de clientes tentava a todo custo ser atendido, do outro lado da linha, Ezequiel balançava a cabeça em negativa enquanto fazia a monitoria em tempo real de sua esposa.

“Digite oito, zero, zero, um, para descobrir qual o seu poder de luta”

Nosso herói se aproximou da mesa da garota de cabelos platinados e vestido branco de caveiras estampadas. Ela se divertia horrores ouvindo os insultos dos clientes que ainda acreditavam falar com um sistema integrado

— Já apertei o UM seu sistema animal! Para de falar opções! Só faz o que eu mando de uma vez!  —  A mulher do cliente gritava com Amanda que continuava a fingir e a modular a voz de maneira quadrada.

— Psiu! — Interrompeu nosso herói. — Por que você não para de fingir que é a ura e atende esse cara?

Amanda se virou para Ezequiel, puxou alguns fios loiros do seu cavanhaque ralo e com os olhos fixos nele falou.

“Se você quer descobrir digite um, sete, zero.”