Atendimento #146: Nível de serviço

Vamos ser bem razoáveis? Se você fosse o dono de uma empresa e pudesse economizar, você abriria mão da qualidade de seus serviços? Pois é. É complicado pensar que TODAS as empresas podem ser perfeitas, porém pouquíssimas se esforçam realmente para que isso aconteça.

Podemos citar a empresa onde nossos heróis trabalham como um bom exemplo disso, afinal de contas, já vimos que a equipe possui capacidade suficiente para exercer ótimos níveis de serviço, entretanto…

— Como é ? — Ezequiel indagara confuso.— Eu acho que eu não entendi direito, só pode ser um absurdo isso que eu escutei.

— Não, não é.— Igor levantou-se, meneou a cabeça confirmando a informação que acabara de ser dita pelo supervisor temporário. — Ô lagartixa com câimbra repete pra quem chegou agora no atendimento. — Complementou estalando o dedo em direção a Jailson.

O atendentes estavam todos de pé com seus headsets na cabeça, seus clientes esperavam  pacientemente pelo atendimento.

— Nossfa gesftora fiu que nossfos nifeis esftão pefeitos, atendemosf rápido, bem e ainda fafemos fodos ofs refistros fertinho. Mas o froblema é que ser ferfeito não é bom. — Jailson tentou exemplificar o que queria dizer com gestos. — Penfe que fomos cafegafores de pesfo e que esftamofs cafegando com franquilidade um feterminado pesfo. A empresfa fendo que esftamofs com folga teoricamenfe colocafia mais pesfo em fima de nófs. Como não fem como colofar maifs clientefs ligando eles vai fafer o oposfto que é...

— Demitir pessoas. — Igor interferiu passando pelos corredores de braços cruzados.

Amanda deu uma olhada em sua volta.

— Eu tô prenha e se me demitirem eu vou botar todo mundo no pau! — A garota sorriu com o barrigão na blusa preta de caveira, sabia que não poderia ser demitida grávida então estava tranquila quanto a isso.

— Por isso vamos ter de diminuir o nível de serviço, se não vão começar a demitir pessoas do nosso setor. — o batuque dos anéis metálicos despontou por toda a operação que mantinha-se em silêncio. Alastor abriu um sorriso. — Hoje vamos usar a tática “dividir para conquistar”

O dividir para conquistar era um código implementado por Igor quando ele ainda era supervisor, este era um conceito bem simples. A equipe era dividida em duas, metade dela atendia e metade não atendia, assim poderia gerar uma fila e por consequência diminuir o nível de serviço. Oh! Espero que não esteja chocado em descobrir que as empresas fazem questão de ter filas em suas operações. Sim na lógica deles é melhor pecar pela falta do que pelo excesso. Em outras palavras, você que se lasque! :D

— Vamos lá então macacada.  

Alastor sentou-se em sua cadeira, ao seu lado esquerdo Amanda tirava o chiclete de tutty-fruti da boca e o grudava no monitor. Ezequiel também não mais atenderia naquele dia e portanto ficara junto de sua garota paparicando sua barriga.

Dois minutos após retomarem as atividades a chamadas começaram a se acumular e fatidicamente Igor teve de atender.

— Aê como combinamos ein...— O ex-encarregado arqueou a sobrancelhas para suas duas “crianças”.

Igor tirou do mute e a cantoria dos três começou ao som de sua batucada.

“Siga em frente, olhe para o lado.

Se liga no mestiço da batida do cavaco.

Siga em frente, olhe para o lado.

Se liga no mestiço da batida do cavaco.”

— Afe...— Relutante a mulher blasé que ligara ameaçou desligar.

— Calmaê dona, tamo aqui só pela diversão. Manda aê o que deu… — Alastor tapava naquele instante a boca dos dois que queriam continuar cantando a musica dos super heróis nacionais.

— Eu só quero o endereço de uma autorizada precisa ficar cantando bosta no meu ouvido?
Fica a dica fera… se você esperou muito na fila para ser atendido no telefone e começa destratando o atendente é bem possível que isso aconteça, olha só.

— Só isso? — Igor tirou a mão das bocas dos dois atendentes que continuaram cantando e batucando:

Siga em frente, olhe para o lado

— Faz assim senhora liga de novo e olhe para o lado.— Igor encerrou a chamada pressionando o drop.— Próximo!