Atendimento #143 Vontade própria

Aquele que nunca se preocupou com a possibilidade de perder um arquivo por causa do computador parar de funcionar não sabe o que é viver perigosamente. Foi para para sanar esse medo maluco de perder os nudes dos ex parceiros que a cliente Ágatha Silvina comprou seu HD externo.

Ela era uma daquelas pessoas neuradas com tudo saca? Ágatha vigorava entre o ranking de clientes que mais ligavam na central, não era uma semana normal se alguem não reclamasse da burrice dela.

— O hd externo da senhora parou né dona Silvina. — Ela não era velha, mas Igor, e os demais atendentes, faziam questão de chamá-la assim para ver se a maluca parava de ligar a cada bip que seus dispositivos faziam em casa.

— Igor você já me conhece, falei com você diversas vezes quando ainda era supervisor. Aliás é uma pena ter sido rebaixado.

— Não fui rebaixado dona... — Respondeu ele revirando os olhos de forma a quase poder ver o cérebro no interior do crânio. — Só quero plantar umas trinta sementes da discórdia e possíveis processos para a empresa como forma de vingança, aliás eu ficaria muito feliz se pudesse contar com sua colaboração senhora Silvina.

A mulher não entendeu muito bem o que o atendente queria dizer e por isso ficou quieta por alguns segundos. Percebendo que não fora claro o suficiente, Igor reiterou.

— Processos senhor, tirar uns cascalhos em cima da empresa saca? Mandar o presidente pra cadeia, essas coisas que geram dinheiro para o cliente. Sabe quando você liga para reclamar do telefone?

— Ah! — A mulher finalmente entendera, mas já era tarde de mais para pegar a graça da piada, esta já se fora a muito tempo.

Enquanto Igor fazia o cadastro da mulher os bips de seu dispositivo ressoavam intermitentemente.

— Certo. — Falou Alastor ao abrir a centuagésimo quadragésimo terceiro protocolo da cliente Ágatha.— E o que deu agora chefia?

— Então eu comprei um hd externo pensando que ele poderia me ajudar a guardar meus arquivos, no começo até que ele estava cumprindo bem o papel dele, mas agora ele ficou rebelde e está pedindo para ser formatado.

Claro que Igor sabia o que significava inteligência artificial, entrentanto, ele também sabia que nenhum hd externo, fosse ele da sua empresa ou de qualquer outra, possuia essa tecnologia.

— A senhora cheirou suco em pó por acaso?— Levou a mão até um um dos bolsos menores da mochila. — Não tô julgando. — sacou um suco em pó sabor laranja e despejou sobre a mãos em forma de trilha. Lambeu. — Só não compartilho do seu gosto estranho.

— Você ta me achando uma louca por acaso?

— Aê particularmente falando, não acho que você seja uma Deusa, feiticeira talvez?

A cliente começara a ficar impaciente.

— Tá, tá e como eu faço aqui

— Como faz...— Ele não tinha outra escolha, ou embarcava na maluquisse ou ficaria eternamente em linha.— E o que ele esta falando para a senhora agora?

— Só um segundo.

A mulher religou seu computador que encontrava-se desligado, assim que a tela iluminou-se ela passou a ler a mensagem estampada.

— "Não quero mais guardar foto de macho, formate-me!"— Leu a cliente Ágatha com calma. — E ai, como é que pode isso?

Igor, que batucava com os anéis dos dedos na mesa, parou. A principio ele acreditou que a cliente estivesse de sacanagem, mas ao invés de quebrar-lhe as pernas decidiu investir nesse caminho.

— Beleza então senhora bora fazer esse safado tomar rumo na vida. Arranca ele da energia e religa.— A cliente desconectou o hd externo da entrada USB e logo em seguida reconectou. O computador da cliente emitiu o barulho característico de uma mensagem sendo exibida — Lê ai chefia.

— "Por que você não vai lavar uma louça ao invés de me desligar?"

Igor arregalou os olhos, realmente o dispositivo tinha vontade própria e pior, era machista.

— Ora essa ele tá querendo mandar em mim agora vê se pode! — A cliente reclamou desconectando o dispositivo, njão demorou e ela o religou. — "Esse é seu ultimo aviso piranha, para ou acabo com você"

Igor não conseguia rir, era surreal de mais vivenciar aquela situação. Após pensar um pouco ele chegou a única conclusão possível.

— Dona, a senhora têm uma furadeira?