Atendimento #105: Convocação imediata

Quem controla uma rede de contatos vasta e bem ligada controla o universo. Catherine sabia disso, por esse motivo a mesma se preocupou em fomentar uma amizade com todos os membros do altos escalão da empresa. Como forme o tempo passou, seus conhecidos foram “desaparecendo” da empresa deixando-a com a influência acima de todos os demais.

A mafiosa fez isso com o intuito de vender seus produtos, não era o certo a se fazer, ao menos de acordo com as normas da empresa, porém sua atividade em nada prejudicava. Entretanto alguns faziam esquemas que era muito mais sutis e muito mais prejudiciais do que vender creme para o rosto.

— Meu produto não chegou e queria fazer uma reclamação. — A cliente Adele tinha razão em estar tão furiosa, seu telefone celular de quase cinco mil fora para o concerto e nunca mais foi visto.

— Vamos lá, eu quero primeiro entender o que aconteceu com o produto. — Ezequiel atendia a mulher enquanto vislumbrava catálogos de carrinhos de bebê.

— Ele ficou perto da janela a noite, ai aqui no prédio onde eu moro é frio pra caramba. Quando eu acordei eu vi que o meu telefone tinha trincado a tela de tão frio que estava.

O atendente parou e foi conferir o estado que a cliente residia.

— Rio grande do sul é gelado mesmo senhora, só não imaginava que poderia ser de rachar.— Nosso operador foi conferir a ordem de serviço da mulher, ao fazê-lo notou que o endereço para onde o aparelho retornaria não era no mesmo estado da cliente. — Mas o que?

— O que foi Ezequiel? Achou alguma coisa?
— Não na verdade não senhora. — Mentiiiiira. Sua preocupação era tamanha que ele não acenava para seu superior, no lugar fazia passos incríveis de street dance para chamar sua atenção. — Só me espere por gentileza.

Igor percebera a atitude desvairada de seu subordinado, mas relutou a dar-lhe atenção.  Estava ocupado demais olhando fotos de sua esposa bezuntada de Azeite.

— Droga isso não vai dar certo. — O operador se dirigiu até sua colega mafiosa. Catherine, ao pressentir a aproximação do rapaz, estendeu-lhe as costas da mão. Ele beijou e iniciou o relato. — Dona Catherine eu estou com um problema ali na.

— Silêncio. — A mulher virou-se sorridente com um pequeno pacote vermelho. Retirou o girassol de plástico que carregava na orelha esquerda e o usou para lacrar o envelope.— Aqui está meu primeiro presente como madrinha do seu bebê. — Nosso herói notou que o presente eram dois sapatinhos, porém ele não sabia que a mafiosa seria madrinha de seu filho. — Foi a própria Amanda que me concebeu essa honra. —  E ao dizer isso voltou-se a garota sorridente.

—  Tá, obrigado por aceitar. —  Deu dois passos para trás e colocou o presente sobre a mesa de Amanda. —  Precisamos conversar sobre isso. —  Sussurrou para esposa.

— Não precisamos não. Ela é madrinha e ponto.

— Mas por que?

— Ela é mafiosa, os mafiosos são bons aliados e excelentes padrinhos e madrinhas. Principalmente pelos presentes que eles podem dar. — Amanda abriu o pacote. — Esses sapatinhos valem mais de dois mil.

Nosso herói se viu com uma fonte de presentes caríssimos a sua frente, rapidamente retornou à Catherine feliz da vida.

— Certo dona Catherine meu bebe mal pode esperar para te conhecer. — A voz tinha o tom aprazível igual a de quem tenta conversar com o sogro pela primeira vez. — Mas mudando de assunto, eu tenho um cliente que teve seu produto extraviado.

— Problema dos correios, se eles perderam a carga do cliente eles que se virem para encontrá-la. — A mafiosa já puxara outra flor, esta era uma Tulipa Semper Algustus.

—  Aí que está, o endereço foi alterado no nosso sistema.

—  Opa. —  A mulher estralou os dedos da mão. —  Isso é um crime grave.

O que eles se referiam era um assalto. Você pode não acreditar mas isso acontece em frequências absurdas nas empresas. O procedimento é simples: O atendente registra tudo sobre o produto do cliente e faz o procedimento para a postagem, porém no retorno o mesmo coloca um endereço que ele deseja. Quando o aparelho volta para o endereço determinado pelo operador, alguém o recebe e em seguida desaparece.

— Se senta aqui do meu lado por favor Ezequiel. — A mafiosa sacou o celular do bolso, que aliás, era muito simples para alguém como ela, e enviou uma mensagem para seu grupo de contatos. — Convocação i-m-e-d-i-a-t-a.

Assim que a mensagem foi enviada, diversos celulares, em vários setores daquele andar, tocaram. Como que em um efeito de cascata vários supervisores, gestores e até o gerente geral foram se levantando; esperaram parados por cerca de dez segundos até que o alarme de incêndio soou.

Os operadores largaram as linhas e começaram a ir em direção as saídas de emergências, os únicos que ficaram em seus lugares foram os convocados por Catherine, Ezequiel e Amanda. Tão logo o andar se esvaziou os superiores se aproximaram.

— Que que houve, qual a treta? — Igor fazia pergunta a Ezequiel que o fitava como quem quer esfolar um animal.

— A culpa da convocação é sua, Alastor. — A mulher estendeu a mão que logo foi beijada pelo supervisor. — Os desvios de produtos estão acontecendo de novo. Ezequiel acabou de pegar um caso do nosso setor e eu quero que o culpado seja pego.

— Deixa eu ver isso. — O gestor geral acessou o sistema com seus privilégios elevados e conseguiu verificar quem fora o responsável por alterar o endereço.— Tá ai… — Mostrou o nome do responsável.

Muitos balançaram a cabeça em sinal de decepção. Começou no mesmo momento uma reunião para decidir o que seria feito com o criminoso.

Enquanto isso, no telefone de Ezequiel....

— Alô? Alooooou? Você achou alguma coisa Ezequiel?