Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 16
A história de Ashlee




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Selene

Como sempre, Ashlee desceu para me ver, parecendo surpresa ao notar minha atitude abatida.

— Selene. — Seu tom é de preocupação, e parece sincero. — Está tudo bem?

 — Por que não me deixa ir embora? — Pergunto. — Pensei que tivesse dito que não sou sua prisioneira.

Ashlee

Suas palavras me abalam, talvez mais ainda porque ela tem razão. Selene não é minha prisioneira no sentido verdadeiro da palavra mas, de certa forma, está ainda mais presa do que se o fosse, pois minha necessidade de tê-la por perto é cada dia mais intensa.

— Pode ir embora a hora que quiser, Selene. — Eu digo, me inclinando para olhar em seus olhos. — Mas ... A verdade é que você quer ficar. Não é, querida?

Seus olhos se tornam maiores e mais profundos, enevoados pela influência do meu poder. Eu me odeio por fazer isso, mas é a única opção que vejo por enquanto.

— Sim. — Ela confirma num tom suave e monocórdio. — Sim, é verdade. Eu quero ficar.

Selene

Minha frustração inicial é substituída por empatia. A expressão nos olhos dela é de tanta solidão que não consigo evitar querer ficar ao seu lado.

— Ashlee. — Me ajeito mais confortavelmente na cama, abrindo espaço. — Me conte alguma coisa sobre você.

Ela parece surpresa por meu pedido por um breve segundo, mas logo sorri e se acomoda ao meu lado.

— O que você quer saber?

— Como você se tornou uma vampira?

Seu rosto ensombrece, sua expressão se toldando de tristeza com minha pergunta.

— Me desculpe. — Digo imediatamente. — É um assunto difícil? Não precisa falar se não quiser.

— Não, eu ... Quero que você saiba. — Ela responde baixinho, abraçando os joelhos junto ao peito enquanto fala. — Foi em 1545. Eu vivia na França com meus pais, minha irmãzinha e meu irmão mais velho. Éramos uma família abastada, nada nos faltava ... Até a morte de papai. Stefan, meu irmão, herdou a propriedade, e foi aí que nossas vidas se tornaram um inferno. Ele vendeu Angeline, minha irmã, para um lorde estrangeiro, passou a agredir mamãe e ... E me usava como queria. Me disse para jamais dizer uma palavra sobre nossos "encontros" a ninguém, ou ele mataria nossa mãe. Aguentei esse pesadelo em silêncio por dois anos.

— Ashlee ... — Não consigo mascarar o horror em minha voz. — Eu ... Sinto muito.

— Obrigada. — Ela responde com um sorriso fraco. — Enfim ... Depois de dois anos, não aguentei mais. Num dia em que Stefan não estava, contei tudo à nossa mãe. Ela ficou furiosa, é claro. Assim que ele voltou, mandou que eu fugisse. Lembro de correr pela floresta o mais rápido que podia, e de ser agarrada por Stefan em algum momento. Ele me colocou em cima de seu cavalo e me levou de volta para ver nossa casa queimando. Como se isso não bastasse, pude ver mamãe em uma das janelas, tentando sair. Ele a havia trancado lá dentro. Não sei como fiz aquilo, mas de alguma forma consegui roubar o punhal de meu irmão e matá-lo. Eu fugi e, depois daquela noite, a vida se tornou ainda mais difícil. Pensei que acabaria morrendo afinal, mas então conheci Demetri. Ele me encontrou dormindo em um beco e me transformou. Isso foi minha salvação.

Quando termina de falar sua cabeça está baixa, as mechas de cabelo loiro escondendo seu rosto. Diante de sua fragilidade, fico completamente desarmada. Me aproximo delicadamente e afasto seus cabelos, vendo seu rosto lavado de lágrimas, que limpo com os polegares.

— Eu sinto muito. — Repito, dessa vez com mais sinceridade. — Você merecia coisa melhor.

Ashlee

Apesar de minha influência, suas palavras não deixam de me surpreender.

— Acha mesmo?

— Acho. — Ela declara com convicção. — Qualquer um mereceria coisa melhor, especialmente alguém como você.

— Alguém como eu?

— Boa. — Selene responde, seus dedos acariciando de leve minha bochecha. — Você não é o monstro que pensei que fosse no começo, isso é óbvio. Tem cuidado de mim muito além do que qualquer um faria nessa situação, me ajudado em mais de um sentido ... A única coisa que não se encaixa nisso tudo é o que você fez com meu pai.

— Não fui eu, Selene. — Confesso em voz baixa. — Eu ... Eu estava lá naquela noite, sim, mas por você. Jamais sequer pensaria em ferir sua família.

— Somente a mim.

— O que?! — Ergo os olhos para encará-la, chocada. — Não!

Para minha total surpresa, ela sorri, o que logo se transforma em uma risada.

— Desculpe. — Ela diz. — Eu estava brincando. Por favor, continue. Me conte por que estava coberta de sangue quando nos encontramos.

— Eu ouvi uma das janelas se quebrar. — Contei. — Fui investigar, mas já era tarde, seu pai já estava inconsciente. Tentei ajudar, dar-lhe um pouco do meu sangue, mas ...

— Espere. — A morena interrompe, surpresa. — Você tentou salvar o meu pai?!

— Inacreditável, não é? Um monstro como eu ...

— Pode parar! — Seu tom é ríspido, um comando. — Você não é nenhum monstro, Ashlee. Nunca mais diga isso!

Sua afirmação me desestabiliza por completo, e as lágrimas que antes corriam silenciosamente se transformam em um pranto alto, quase infantil. Selene me abraça com firmeza, como minha mãe costumava fazer, suas mãos correndo gentilmente pelo meu cabelo e minhas costas enquanto ela sussurra palavras de conforto.

Selene

É muito estranho se ver abraçando a pessoa que você acha que matou seu pai. Mesmo assim, Ashlee parece tão solitária, tão vulnerável ... Simplesmente não consigo me obrigar a odiá-la. Não mais, pelo menos.

Mais tarde naquela noite, enquanto estou tentando dormir, um grito rompe o silêncio. Subo rapidamente a escada que leva ao porão, aproveitando o fato de Ashlee tê-la deixado aberta mais cedo. Logo descubro que quem gritou foi a própria loira, que encontro sentada em sua cama, tremendo visivelmente.

— O que aconteceu? — Pergunto. — Está tudo bem?

— Foi ... Um pesadelo. — Ashlee responde, sua voz tremendo tanto quanto seu corpo. — Pode ... Ficar aqui comigo, só um pouco?

Em vez de responder, simplesmente me deito ao seu lado. Ela chega mais perto de mim e, aos poucos, posso sentir seus tremores pararem enquanto a abraço.

Ashlee

Essa noite não consigo nem sequer pensar em ficar sozinha. Sem parar para pensar, chego ainda mais perto de Selene, escondendo meu rosto em seu ombro. Ao invés de se afastar, ela começa a me fazer cafuné.

— Tente voltar a dormir. — A morena sussurra depois de algum tempo.

— Não consigo. — Sei que soo como uma criança manhosa, mas não posso evitar. — Estou com medo.

— Tudo bem. — Ela dá uma risadinha. — Ajuda se eu cantar?

— Sério?!

— Sério. — Selene ri mais uma vez. — Quem sabe? Talvez ajude.

— Tudo bem.

A morena então começa a cantar uma canção de ninar. Sua voz é reconfortante e suas mãos, uma na base de minhas costas e a outra ainda acariciando meus cabelos, me fazem sentir segura como não me sentia há séculos.

Selene

Pouco a pouco, os tremores de Ashlee vão cedendo até pararem completamente, e sinto seu corpo relaxar de encontro ao meu.

— Selene.

Estou sonolenta demais para responder com mais do que um grunhido. Ashlee parece achar graça disso, pois a ouço dar uma risadinha.

— Eu pensei ... — Sua voz é baixa. — Que você tivesse nojo de mim.

— Ashlee. — Abro os olhos para encará-la. — Por que você pensaria uma besteira dessas, sua boboca?

— Porque você sempre me evita. 

— Ah, Ash, me desculpe. — Eu faço mais um cafuné em seus cabelos loiros. — Eu só estava ... Definindo minhas opiniões a seu respeito.

— E a que conclusão você chegou?

— Amanhã eu conto, ok? Apenas tente dormir agora.

— Tudo bem. — Ashlee boceja e se aninha mais confortavelmente a mim. — Apenas fique aqui, tudo bem?

— 'Tá bem.

Sem parar para pensar, lhe dou um beijo na bochecha, o que a faz sorrir. É um sorriso tão meigo que não consigo não retribuir. Pouco depois, nós duas caímos no sono.


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