Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 13
Last kiss




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Katerina

O dia está cinzento, com uma garota fina caindo ininterruptamente e um vento que sopra sem trégua. O tipo de dia escuro e triste apropriado a um funeral.

Estou tão distraída em minha própria dor que só percebo a aproximação de Selene quando ela apoia uma mão espalmada em minhas costas, acariciando de leve num gesto de conforto, descrevendo pequenos círculos.

Não digo nada, apenas me recosto contra sua mão e deixo que ela me apoie, observando enquanto o caixão de Lennya é baixado na terra e sentindo cada vez mais frio. Não que eu possa sentir frio, é claro. Há séculos que já esqueci o que é essa sensação. Esse frio que sinto é diferente, algo que vem de dentro de mim.

Fico ali, mesmo muito depois de todos os poucos que compareceram já terem ido embora. Selene é uma constante ao meu lado, tão imóvel quanto eu. Por um segundo me pergunto se, vistas de longe, parecemos uma dupla de estátuas.

— Eu sinto muito, Kat. — Ela diz, sua voz baixa se misturando ao som constante da chuva. — Sinto muito mesmo.

— Eu sei. — Minha voz está embargada pelas lágrimas, e me odeio por isso. Não tenho o direito de chorar. — Também sinto muito. Você nem imagina o quanto.

— Ah, Kat ... Não faça isso.

O tom gentil de sua voz me irrita. Não quero isso. Não mereço. Sou exatamente o monstro que sempre temi, que tanto lutei para não me tornar. Não mereço gentileza ou piedade, apenas ódio e desprezo.

— Foi minha culpa, Selene. — Revelo, agora falando com mais firmeza, quase esperando que ela recue com nojo. Mas Selene permanece ao meu lado. — Eu a matei.

Desabo em lágrimas mais uma vez e minha namorada dá um passo à frente, de braços abertos. Aceito seu abraço, enterrando o rosto em seu ombro enquanto ela acaricia meu cabelo encharcado sem dizer uma só palavra.

Selene

Eu a abraço o mais forte que posso até que ela enfim se acalma e dá um passo para trás, desvencilhando-se com gentileza de meus braços.

 — Katie ...

Meu coração se aperta numa súbita premonição. Posso ver, naqueles olhos cheios de dor e culpa, exatamente o que ela vai dizer em seguida. Katerina vai se punir da forma mais dolorosa ao seu alcance.

— Não. — Seu tom é cortante, afiado, destoando completamente de seus olhos assombrados. — Eu preciso ir, Selene. Meu lugar não é aqui.

— E quanto a nós, o que acontece? — Pergunto, encarando-a em desafio até que ela não consegue mais sustentar meu olhar. — Vai simplesmente fingir que nunca aconteceu?

— É claro que não. — Seu tom é mais doce agora, carinhoso. — Jamais vou esquecer você, nem poderia. Mas, se eu ficar, essa dor jamais vai me deixar em paz.

 — Vou esperar. — Anuncio. — Esperarei por você. O tempo que for.

— Não. — Ela estende uma das mãos, delicadamente aninhando atrás de minha orelha uma mecha molhada de cabelo. — Não quero que fique presa a uma lembrança. Siga a sua vida, Selene.

Suas palavras confirmam meus medos, e agradeço em pensamento pela garoa incessante que disfarça minhas lágrimas. Eu odiaria a mim mesma se Katerina me visse chorar agora.

— Você não vai voltar. — Quase sussurro, mas sei que ela vai me ouvir. — Não é?

— Não. — Katerina confirma gentilmente. — Não vou.

O silêncio cai pesadamente entre nós. Agora sou eu quem não consegue encará-la. Ao invés disso, viro o rosto e mantenho meus olhos fixos no chão. O polegar de Katerina continua a acariciar gentilmente minha bochecha.

— Eu te amo. — Digo afinal. 

Mesmo que seja só uma vez, não me perdoaria se a deixasse partir sem ouvir isso.

— O que?!

A surpresa dela é tão grande, tão comicamente óbvia em sua expressão que, em qualquer outra situação, teria me feito cair na gargalhada.

— Eu te amo, Kat! — Dessa vez eu gritei, deixando minha mágoa e frustração levarem a melhor. — Que droga!

— Eu também te amo, sua boba. — Ela ergue delicadamente meu queixo para que eu a olhe. — Sempre, e para sempre.

— Mas ... ?

— Mas ... Você merece alguém melhor do que eu. — Katerina declara — Alguém que possa lhe oferecer um futuro.

Ela se inclina e me beija com delicadeza, como se eu fosse algo frágil que pode se quebrar com a menor pressão. Nosso beijo tem gosto de chuva, e do sal das lágrimas, além daquele gosto doce característico de Kat. É doce, e amargo ao mesmo tempo, um sabor que ficará gravado em minha mente como o gosto da despedida.

Katerina

Os lábios de Selene são como uma droga, um vício que não quer me deixar ir. Posso ser eu a vampira com força sobre-humana, mas são os seus braços que se enrolam ao redor de meu pescoço e me prendem.

Finalmente reúno a força de vontade necessária e consigo me afastar, estremecendo ante a súbita ausência de seu calor reconfortante.

— Katerina ...

Posso ouvir a dúvida e a mágoa em sua voz, mesmo nessa única palavra.

— Não torne isso pior do que já é. — Eu quase imploro. — Só ... Por favor, me prometa que não vai esquecer.

Selene assente com ar solene, seus olhos verdes expressando apenas a mais pura reprovação.

— Jamais.

Sua promessa me conforta e mais uma vez me inclino para beijá-la, dessa vez apenas um selinho breve. Um adeus.

 Quando me afasto, olhar para ela uma última vez é tudo o que me resta, e assim o faço. Apesar da ausência de maquiagem, das roupas molhadas e do cabelo encharcado que gruda em seu rosto, Selene nunca me pareceu tão bonita. Me pego protelando mais uma vez, tentando encontrar uma justificativa para ficar.

Mas não há justificativa, e nós duas sabemos disso. Como se sentisse minha hesitação, ela ergue uma das mãos e acena. Aquele pequeno gesto, mais do que qualquer coisa, é o que finalmente me dá forças.

 Eu aceno de volta enquanto giro nos calcanhares e começo a correr para longe dali. Sua imagem, porém, permanece comigo, e sei que assim será pelo restante da eternidade. Enquanto eu ainda viver.


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