POV Coretta.

Começou com uma simples algazarra em plena madrugada.
Acordei com aquela gritaria e olhei para a cama onde minha irmãzinha dormia. Bem, pelo menos ela não acordou. Joguei as cobertas longe e estremeci com o frio. Cobri Babi e sai silenciosamente do quarto. A casa da minha mãe ficava num condomínio em frente a Avenida Marcelino. Muitos caras que não eram boa coisa gostavam de ficar fazendo algazarras na rua tarde da noite. Mas aquilo era anormal. Era uma gritaria cruel e doentia. Deve ter sido por isso que eu acordei. Olhei pela janela do banheiro e pisquei os olhos para afastar a névoa do sono que teimava em permanecer nos meus olhos. A medida que eu acordava os som se tornavam mais nítidos e compreensíveis. Palavras como socorro, alguém, pare, me fizeram pensar se estavam sendo torturados pelos assaltantes. Mas não. Olhei pela janela de novo. A principio não vi nada demais. Um grupo de quatro pessoas estavam em cima de um cara. As pernas do cara - a única coisa que dava para ver - se sacudia violentamente. E ele gritava horrores. Então ele parou de gritar e as quatro pessoas saíram de cima dele. Suprimi um grito. Do pescoço até o quadril, via-se tripas e vários órgãos estraçalhados. Olhei para as quatro pessoas. Suas faces estavam manchadas de sangue junto com as roupas. Eu não consegui ver mais porque estava de noite e um pouco longe, mas tive certeza que as veias pulsantes em seus rostos os tornavam assustadoramente anormais. Os olhos negros, sem vestígio de branco ou outra cor. Totalmente negros. Eles seguiram se arrastando em direção a St Patrick, o centro de Peterson, a cidade onde eu morava. Virei-me e dei de cara com a minha irmãzinha. Ela coçava os olhos.
—O que tá acontecendo Corrie?-Ela perguntou.
Na verdade meu nome é Coretta. Anota aí.
—Nada Babi, vai dormir.
O nome dela mesmo era Meghan. Eu a chamo de Babi porque Babi foi o que ela falou quando eu tentei lhe ensinar a falar Bambi, seu desenho favorito. Além de, claro, ter sido sua primeira palavra.
Empurrei Babi até o quarto e a pus na cama.
—Eu acordei ouvindo gritos.
—Eu sei, eu também. Mas vai dormir Babi, já passou.
Beijei sua testa e afastei os cachinhos dourados de seu rosto. Eu e Babi somos irmãs do mesmo pai e da mesma mãe, mas somos tão diferentes que as vezes me pergunto se somos mesmo irmãs. Eu era ruiva, pequena, e tinha olhos tão pretos quanto o céu à noite. Já a Babi era loura, era meio alta para sua idade e tinha olhos azuis claros. Ela tinha dez anos apenas, mas era bem madura para a idade e muito inteligente. Bem isso ela puxou de mim, é claro.
Babi tinha meses quando nossos pais se separaram. Meu pai é um cara bem estudioso e curioso. Ele já descobriu tantas coisas que já ganhou prêmios e um lugar no livro dos recordes mundiais. Ele parou de visitar-nos a cinco anos.
Fui até a cozinha e bebi água. Pus o copo em cima da pia e virei-me para ir dormir. Uma batida na porta da frente me fez parar. A luz pálida do lado de fora iluminava a sala e mostrava a forma completa do estranho. Resolvi não ver nem quem era. Mas então o estranho começou a tentar abrir a porta e eu fiquei apavorada. Corri e peguei um facão na cozinha. Fiquei parada em frente a porta com medo do caramba. O estranho então parou de tentar abrir a porta e começou a esmurrá-la. Olhei sem reação enquanto ele esmurrava e gritava feito um psicopata. A porta infelizmente cedeu e caiu ao seus pés. O estranho me olhou com aqueles buracos negros no lugar dos olhos e eu fiquei paralisada de medo. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de sangue. Sua pele era arroxeada e tinha muitas veias. Veias enormes e pulsantes. Os dentes era como de tubarão, e ele rosnava para mim. Ouvi passos e um sussurro assustado. Então o estranho avançou para cima de mim, agarrou meu pescoço e aproximou a boca do mesmo.  Mesmo quase sem ar, eu levantei o facão e fui certeira no meu golpe.