PDV - Freddie

Depois que terminei de beber a minha Vitamina de Morango, fiquei entediado, observando a Sam terminar o seu longo lanche da tarde. 

Nossa, ela não era nada delicada enquanto comia os fast food. Gostava de misturar tudo... Pois reparei quando ela molhou a batata frita na vitamina e quando colocou as batatas dentro do hambúrguer. 

— O que foi? - Ela largou o hambúrguer na mesa quando reparou que eu estava olhando para ela.

— Nada... - Virei o meu rosto para outra direção, mas logo me encontrei olhando para a Puckett novamente. 

E dessa vez eu dei uma risadinha abafada. A boca da loira estava toda melada de molho vermelho. 

— Ah, qual a graça, Benson!? - Ela mais uma vez largou o hambúrguer e bateu na mesa, irritada.

— É que você está toda suja! Parece até uma... 'Palhaça' - Deixei escapar essa última palavra e não fiquei com medo dela vir me atacar depois.

 Sam se rendeu, abriu um longo sorriso, puxou um guardanapo numa cestinha da mesa e se limpou.

— Saiu? - Ela me perguntou, agora, com uma seriedade. 

Eu olhei diretamente para a boca da loira e notei que havia apenas uma manchinha vermelho no cantinho, mas nada de mais.

— Hmm... É... Ainda tem um restinho... - respondi, sem jeito. 

Sam revirou os olhos. Ao invés dela retirar mais um guardanapo e se limpar, como da outra vez, ela resolveu tirar a manchinha com as mangas da minha camisa. 

— Ah, Sam! - reclamei. Ela certamente sorriu da situação. - Olha, dá para você terminar logo esse seu hambúrguer, porque eu não tenho a tarde toda!

— Tá! - Ela bufou. 

Enquanto eu tentava tirar a mancha da minha camisa com um guardanapo, a Sam terminava de comer o hambúrguer dela. Restava apenas mais duas mordidas para ela finalizar o "processo".

— Já podemos ir! - Ela murmurou de boca cheia para mim.

Levantamos das cadeiras e saímos.

P.S.: Óbvio que eu paguei o meu lanche e o dela.

(***)

Assim que saímos do estabelecimento percebi numa mudança extremamente drasticamente: o céu estava nublado. Eu estava desprevenido e a Sam também. 

Enfim, fiz o favor de levar a Puckett em sua casa. Para ser sincero, eu pensei que seria uma tortura sair com a loira, mas até que estava sendo um momento legal. Fiquei muito feliz por ela não ter me agredido naquela hora. 

— Então, Freddie - ela chamou a minha atenção. Agora, distantes do Vitamina da Hora. - Eu quero saber o porquê de você querer namorar a minha amiga Carly.

— Como? - questionei-lhe.

— Quais as suas intenções, bocó!? - Ela foi mais clara. - Olha, estou apenas fazendo o papel do Spencer. Ele sempre faz esse tipo de pergunta quando a Carly se aproxima de algum paspalho. 

Por essa eu não esperava.

— Ah... São das melhores possíveis. 

Sam me analisou da cabeça aos pés quando entramos em uma rua qualquer e acenou com a cabeça. 

— Eu espero que você não cause nenhuma mágoa a mim amiga ou... - Ela entortou a boca para o meu lado e fez uma expressão de mau, o que me deixou um pouco espantado. 

Cruzamos mais duas ou três ruas, sendo que tivemos que apressar os passos. A chuva não iria demorar para acontecer. 

— A minha casa fica ali - A loira apontou para uma rua larga, mas com poucas casas. 

— Ótimo! - olhei para o relógio do meu Pear Phone e me dei conta de que a minha mãe já havia voltado do mercado, e talvez estivesse preocupada.  

Começamos a correr quando os primeiros pingos bateram em nossos cabelos. Sam conseguiu ser bem mais rápida que eu, chegando em 'primeiro lugar'. 

— Nossa... - murmurou Sam, que ficou esperando a minha chegada em sua porta. - Você é uma lesma mesmo.

Cansado da corrida, eu olhei com desperezo para a Sam e me preparei para me despedir:

— Bom, eu vou indo... - falei curto e grosso. Naquela hora a chuva já havia engrossado num nível assustador. 

— Você vai mesmo nessa chuva? - Ela fez uma careta estranha para mim.

Suspirei.

— Por um acaso você tem um guarda-chuva para me emprestar? - perguntei gentilmente. 

Sam não me respondeu de imediato. Ficou olhando a chuva se agravar, em total silêncio. 

— Sam!? - chamei a atenção dela.

— Ãn? - Ela acordou do transe. - Ah... Sim... Eu vou procurar um guarda-chuva para você.

Ela abriu a porta da casa e entrou, enquanto eu fiquei do lado de fora, esperando ela voltar. Certo que ela deixou uma brecha da porta da casa aberta - possivelmente para que eu entrasse também -, mas optei mesmo em esperar do lado de fora.

Dez minutos depois a Puckett voltou, mas não havia nenhum guarda-chuva ou qualquer objeto - que pudesse me proteger da chuva - em suas mãos. 

— Por que não entrou? - Sua voz era de irritação, o que também me deixava irritado. Impressionante como isso era algo recíproco entre nós.- Tem alguma demência? 

Eu estreitei os olhos para ela, que se escorou na porta.

— Você não me convidou para entrar... - respondi. Reparei que ela notou o estado das minhas roupas: parcialmente molhadas.

— Pode entrar, Freddie! - Ela escancarou bem a porta e deu espaço para que eu entrasse. - Não vou te morder.

Entrei. Pensei em deixar os meus sapatos do lado de fora - já que estavam encharcados -, mas, como a Sam entrou com os sapatos, eu decidi fazer o mesmo.

— Não achei nenhum guarda-chuva nas coisas da minha mãe - informou Sam.

Acompanhei-a até a sua sala de estar (nada arrumada). Havia duas poltronas no centro, além de alguns móveis, uma TV velha e uma chaminé apagada.

Fiquei apenas zanzando de uma lado para o outro, observando a chuva pela janela da sala, enquanto a Sam estava jogada na poltrona, em pleno tédio. 

— Acorda, Benson - ouvi ela murmurar para mim. - Essa chuva não vai pausar nem tão cedo.

Bufei e voltei a andar pela sala, como se não houvesse ouvido aquelas palavras. 

— Se pelo menos tivéssemos algo legal para fazer. - Decidi me sentar na outra poltrona.

Ela se ajeitou na poltrona, parecia ter alguma ideia em mente, pois não parava de morder os lábios. 

— Eu já volto! - Sam pulou da poltrona e correu para algum canto da casa.

— "O que será essa louca vai fazer?!" - questionei-me.