PDV - Freddie

Ainda naquele tempo chuvoso, meio escuro, procurei o meu rumo. Continuei correndo até ter certeza de que eu me afastei de verdade daquela casa, daquela vizinhança, daquela pessoa...

Droga! Nos beijamos! Eu acabei de beijar a namorada do meu melhor amigo! Isso não caia nada bem.

— "Continue correndo, Freddie!" - falei a mim mesmo.

A chuva começou a engrossar ainda mais e, com ela, notei algumas tempestades brotarem no céu. Não liguei muito para isso, afinal estava me aproximando do Bushwell Plazza.

Cruzei mais uma rua e pronto, cheguei. Mas notei algo de errado na entrada do Brushwell, pois, talvez tenha acontecido alguma coisa importante. Duas viaturas da polícia e um carro de bombeiros estavam estacionados na entrada e meio que atrapalhavam a passagem e o trânsito. 

Assim que entrei, notei vários polícias e alguns bombeiros andando para todos os cantos. No hall, encontrei um desesperado Spencer, irmão mais velho da Carly, conversando com o porteiro chatão, Lewbert. O Shay tomou um grande susto quando notou a minha presença no centro do hall e logo se aproximou de mim, deixando o Lewbert de lado.

— FREDDIE! - Spencer gritou, arregalou os olhos e segurou os meus ombros. Não entendi bem o que estava acontecendo ali. Por que todo mundo aparentava estar desesperado!? - Até que fim você apareceu! 

— O que houve? - perguntei, embora ele não tenha me respondido.

Eu estava todo encharcado - da cabeça aos pés -, mas isso não foi problema para o Spencer, que me deu um forte abraço. 

Depois do abraço, Spencer gritou para os polícias e para os bombeiros:

— Vocês estão dispensados! O garoto está são e salvo! - anunciou ele. Depois do anúncio, voltou as atenções para mim: - Vem, Freddie, a sua mãe está desesperada atrás de você! 

(***)

Spencer e eu subimos algumas escadas até o oitavo andar do prédio. Logo avistamos a minha mãe, Marissa, e a Carly conversando no corredor. Reparei também que ambas estavam mais que preocupadas.

— Filho! - minha mãe correu para me abraçar.

O seu abraço foi mais apertado que o do Spencer, e o pior era que ela não queria me largar mais.

— Tá bom, mãe... - dei uns tapinhas em seu braço, fazendo-a me soltar. 

— Freddie! - ela gritou, quase chorando. Notei, por cima dos ombros da minha mãe, que a Carly me observava, meio triste, sem conseguir esconder desespero. - Você está todo molhado! Vamos, vamos! - Ela me puxou para dentro do apartamento. - Você não pode ficar gripado!

Entrei em meu apartamento, sentei-me no sofá e olhei para os visitantes, no caso a Carly e o Spencer, enquanto a minha mãe ia buscar uma toalha seca para eu me secar.

— Você nos deu um grande susto! - murmurou Carly, ainda aflita.

Minha mãe voltou à sala de estar, trazendo uma pilha de toalhas coloridas, o que o Spencer dar umas risadas. 

— Eu deixei um recado na geladeira... - indaguei, relembrando do papel que fixei antes de sair:

"Mãe, 

Saí com a... Eh... Bem... Não vale a pena dizer quem. Não pretendo demorar muito! 

Assinado: Freddie Benson"

— Aquele recado não dizia quase nada! Para onde você foi? E com quem? - quis saber minha mãe. 

— Eu fui para o Vitamina da Hora... - Enquanto eu falava, a minha mãe me enrolava em uma toalha. 

— Com quem? - Ela repetiu a última pergunta.

Ah, eu não queria dizer com quem, nem pretendia dizer, ainda mais na frente da Carly. Sei que a Sam é a melhor amiga dela! Seria muito suspeito se eu dissesse que passei a tarde toda com a Puckett.

— Eu passei a tarde toda no Vitamina da Hora com o Gibby. - menti.

— Com o Gibby? - Carly se intrometeu. Sua expressão era indiferente. - Aquele garoto estranho, sem amigos, que frequentava as aulas de História com a gente?

Eu confirmei com a cabeça para a Carly. A partir daí fiquei impossibilitado de falar qualquer, pois a minha mãe pós uma toalha em volta do meu pescoço. 

— Nossa... Ele nem fala com a gente direito - disse Carly, se referindo ao Gibby. - O que ele queria com você lá? O que vocês fizeram? 

Essas perguntas da Shay soavam muito "curiosas". Tínhamos intimidade suficiente para falar de qualquer assunto!? - questionei-me.

Enfim, eu não queria mentir mais e a minha sorte foi que a minha mãe mandou a Carly e o Spencer para fora do nosso apartamento:

— O Freddie vai precisar descansar agora! Por favor, venham mais tarde!

Depois que Carly e Spencer foram embora, fiquei de repouso na minha cama. Claro, eu tirei todas aquelas toalhas coloridas de cima de mim quando fui me deitar, principalmente quando começaram a me deixar com calor.

Liguei a televisão do quarto por um momento e, com o controle na mão, passei os canais monótonos. Em um dos, a moça da previsão do tempo informou que o ambiente chuvoso continuará até amanhã. Logo após assistir a previsão, desliguei a televisão e refleti.

"Que ódio! Aquele único beijo com a Sam não conseguia sair da minha mente. Eu conseguia me entreter com uma besteira qualquer do meu quarto, mas no final acabava relembrando do ocorrido lá. Era uma tortura... Urhg! Seria melhor ter cometido um crime do que ter contribuído para um beijo - Fui um pouco dramático agora."

— Freddie! - minha mãe entrou no meu quarto sem bater. - A Carly está aqui...

— Ah, mãe - Coloquei as mãos na cabeça. - Não estou me sentindo bem... Poderia mandá-la embora? 

— O que você está sentindo!? - Ela quase pulou na minha cama. - Febre? Dores na garganta? Tonturas?...

— Não... Nada disso! - sussurrei. Eu estava sentindo culpa! - Apenas quero ficar sozinho. 

Ela suspirou. 

— Tudo bem! - Ergueu as mãos para o alto, saindo. - Será um prazer mandar essa garota correr...

Assim que ela fechou a porta do meu quarto, eu liguei o meu rádio e parei em alguma estação qualquer, apenas para me distrair um pouco. 

(***)

Dia seguinte, acordei com uma certa preguiça. Dei alguns espirros, consequências da chuva que levei. De qualquer forma, eu teria que ir para a escola. 

Fiquei feliz por naquele dia não ter aulas de Matemática Avançada, a única aula em que eu tenho que olhar para a cara da Sam. 

— Leve o guarda-chuva! - ordenou a minha mãe. Lá fora ainda chovia, contudo, era uma chuva fraca. - E se sentir alguma coisa, me ligue!

— Ok, mãe - revirei os olhos e saí.

Carly acabou saindo no mesmo momento em que eu. Parecia até que ela estava me esperando para irmos junto à escola.

— Está melhor? - Ela puxou assunto quando íamos descendo as escadas e seguindo para outro corredor.

— Sim - falei, ajeitando minha mochila. - Talvez eu fiquei gripado, mas... Obrigado por perguntar. 

Carly sorriu gentilmente.

— Ah, o diretor ligou para você hoje de manhã? - Ela me perguntou e eu fiz que não. Ela me explicou: - Ele disse que um ônibus iria nos levar para a escola hoje. 

— Que ótimo! - comemorei.

Geralmente o diretor ligava para os familiares e avisava que um ônibus iria nos levar e trazer. Isso sempre acontecia em dias chuvosos. 

Não demorou muito para um ônibus escolar parar em frente ao Bushwell. Carly foi a primeira a subir e a se sentar. Notei que ela se sentou no fundo ao lado de outras duas garotas, que eu desconhecia.

— Vem! - Ela acenou para que eu me sentasse no fundo e eu fui.

Fiquei em uma banca ao lado da janela esquerda, enquanto Carly, ao meu lado, colocava o assunto em dia com aquelas duas garotas. 

Observei da janela que ônibus estava entrando em rua esquisita, depois de várias curvas.

"Opa! Eu sei onde ele está indo..." - pensei. 

Carly parou de conversar com as amigas para catucar o meu braço e me informar:

— Vamos passar na frente da casa da Sam! - Ela disse alegremente. 

"Como se eu não soubesse onde ficava a casa da Puckett".

O ônibus parou e ao invés de uma loira marrenta subir, notamos apenas a vinda de um garotinho magro e alto, o que deixou Carly e eu espantados. 

— Cadê a Sam? - questionou a morena quando o ônibus voltou a andar normalmente.

— Não sei... - Respondi. Senti um forte alívio por não ter ficar ao lado da Puckett...  

Enfim, o ônibus estava bem próximo da escola agora. Vim escutando a voz da Carly e de sua amigas enquanto observava a paisagem em meio nublado.

Em um dos momentos, pensei ter visto a Sam passando de bicicleta. Parecia ela, usava as mesmas roupas que ela e ainda tinha a mesma mochila...