Amor Pleno escrita por Lola


Capítulo 1
Capítulo 1: Azul




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"... Achou estranho e melhor não comentar, mas a menina tinha tinta no cabelo" 

 

Era o décimo primeiro dia em que James Leonard Terch levantava de sua cama, no mesmo horário, saia de seu quarto, e seguia pelo corredor branco na direção do balcão aonde deveria receber o medicamento para poder controlar a raiva. Pela décima primeira vez ele escorou-se contra aquele mesmo balcão, olhando para o rosto mal humorado da mesma enfermeira e dando o mesmo sorriso debochado e sacana.

— Nada melhor do que começar o dia com esse seu lindo sorriso, Edna. - Disse, pegando o copo com dois comprimidos, olhando para o rosto da enfermeira que, nem por um segundo, mudou a expressão de tédio. 

Jogou os comprimidos na boca, abrindo-a em seguida para que Edna pudesse checar, o que ela também fez sem mudar sua expressão de tédio. 

O garoto suspirou quando girou em seus calcanhares, colocando as mãos nos bolsos da calça e caminhando pelo lugar, em seu percurso, pôde ver Nora ter outro surto e socar novamente o rosto de mais um pobre enfermeiro, Allie ainda estava sentada e alienada, como sempre estava nos últimos onze dias. Era sempre tudo igual, ele estava tão cansado de roupas brancas e daquele cheiro de hospital. 

Geralmente ele podia contar com ele mesmo para ter uma boa conversa, mas também estava cansado de sempre falar sobre o pudim do refeitório. 

Sentou-se em um banco, ficando algumas horas ali apenas observando as pessoas, em sua mente ele as usava para imaginar como eram suas vidas, escolhendo profissões, casas, relacionamentos. Era tudo o que tinha para fazer, afinal...

Foi quando o branco se tornou um azul intenso, passando por ele como uma bala, a única coisa que conseguiu fazê-lo desviar os olhos da pequena multidão de pessoas, para poder vê-la bufar e se jogar em uma cadeira, um pouco a frente dele. Assoprou a mecha azulada que caiu no rosto, cruzando os braços, e se esticando, balançando os pés enquanto parecia fazer o mesmo que ele fazia alguns segundos atrás. James não se lembrava da ultima vez que havia visto tantas cores, em um só lugar... ou pessoa. 

Ela olhou para ele, inclinou a cabeça para o lado. Talvez intrigada para saber o motivo daquele garoto estar a encarando tanto, mas não, estava acostumada a ser sempre o centro das atenções. Sorriu, não um sorriso doce ou delicado, um sorriso cortante, que se prolongou por alguns segundos até o momento em que ergueu sua mão, e então o dedo. 

Geralmente era o que fazia os garotos correrem, mas aquele gesto arrogante e explicito foi como uma lufada de ar gelado batendo contra o rosto de James, então, com o máximo de ironia, ele sorriu, acenando para ela como uma criança no natal. 

Aquele era o primeiro dia de Mia Saltzman naquele lugar terrível e sem qualquer diversão, porque seus pais achavam que ela precisava de ajuda. Era trágico pensar que as pessoas que iriam lidar com ela, a partir daquele dia, iriam, com urgência, precisar de ajuda. 

Estava curiosa para entender o porquê do garoto ter se levantado de onde estava sentado, para se sentar ao seu lado, depois dela ter-lhe dado o dedo do meio. Ele sorria, olhando para ela de uma forma bizarra. 

— O que? - Ela perguntou, em sua tão natural grosseria.

— Seu cabelo é azul. - Ele respondeu, segurando em uma mecha do cabelo da garota, levando um belo tapa na mão. - Eu sou o James. 

— Não me importa quem é. Pode dar o fora. - E voltou a cruzar os braços, olhando para a frente e balançando os pés. 

James endireitou-se na cadeira, começando a balançar a perna inquieto. Olhou-a novamente, reparando o rosto pálido e as roupas coloridas, até demais. Inclinou-se para a frente, afastando os braços da garota de frente da camisa, para poder ler o que estava escrito.

Sorry mom, i kiss girls. 

Outro tapa, mais forte. Ele sorriu para ela, voltando a se endireitar a cadeira.

— Não gosta que te toquem? - Perguntou, mas ela continuava a encarar a parede branca a frente, bufando e rezando por um pouco de silêncio. - Beija mesmo garotas? - Sua perna balançava mais a cada pergunta ignorada, James apertou os joelhos, antes de começar a cutucá-la.

— Mas que diabos. - Esbravejou enfim, fazendo o garoto suspirar, aparentemente aliviado.

Qual o problema dele? 

— Eu sou o James. - Ele repetiu, voltando a sorrir. 

Mia apenas ergueu uma sobrancelha, virando um pouco na cadeira para poder encarar aquele rapaz. 

— Mia. - Disse, constatando que ele era insistente da forma mais irritante que ela conhecia.

Ele finalmente pôde ver, quando ela virou o rosto de frente para ele, uma parte do cabelo da garota estava com tinta verde. Achou estranho, mas preferiu ficar calado. 

— Por que está aqui? - Perguntou finalmente, vendo-a bufar irritada mais uma vez. 

Ela também não gosta de interagir. 

— Eu tentei me matar. - Sua voz é indiferente quando ela fala, esperando uma avalanche de moralidade e discurso sobre o quanto a vida era preciosa. Mas se surpreendeu quando ele apenas balançou a cabeça em concordância, apontando para a camisa que ela vestia.

E daí que está rasgada? Ele tem problema com roupas rasgadas? 

— O que é? - Ela perguntou, querendo muito dar outro tapa nele. Sentia falta de agredir as pessoas. Mia adorava agredir as pessoas. 

— Você beija garotas? - Perguntou e novamente ela se surpreendeu, ao acenar um sim com a cabeça e receber um sorriso animado. - Que legal. 

— O que você tem? - Ela perguntou, irritada com o jeito pacifico e nada julgador daquele garoto estranho.

— Quer saber por que estou aqui? Eu tentei matar um cara. - Ele diz, franzindo a testa após dizer aquelas palavras como se dissesse que ia a padaria. Mia o olhou cínica, gargalhando em seguida.

Como se um idiota desse fosse capaz de matar uma mosca.

— O que foi? - Ele perguntou confuso, não entendo a mudança repentina de humor dela. 

— Não brinca. Por que está aqui? - Não que ela estivesse realmente interessada em saber o motivo dele estar ali, não queria saber sobre os problemas dele, já tinha demais. 

James piscou algumas vezes, pela primeira vez sem o sorriso animado e irritante nos lábios. Ele pensou um pouco, fazendo gestos com as mãos como se conversasse com alguém, antes de começar a falar;

— Um cara disse que eu era muito estranho, ai eu bati muito nele. - Ele disse, vendo-a voltar a balançar os pés. – Ele está em coma.

Mia demorou algum tempo para entender que ele falava sério, ficando incomodada quando ele finalmente calou a boca. Saber que aquele garoto tinha um lado obscuro e perigoso o fez parecer mais atraente.

— Você é mesmo muito estranho, pudinzinho. — Ela disse, mudando aquela expressão fria e desinteressada, para algo mais leve. – Louco.

— Todos somos. – Ele disse, voltando a sorrir. – Não é por isso que estamos aqui?

— É, tanto faz. – Ela se levantou, de uma só vez, começando a caminhar, parando quase no fim do corredor apenas para olhar para trás e encarar James sentado, olhando para ela. – Você não vem?

Era o décimo primeiro dia em que James vivia uma monotonia, e era a primeira vez, em onze dias e em dezoito anos, que ele se levantava para seguir uma garota com tinta no cabelo.


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Notas finais do capítulo

Pudinzinho sz



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