A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 9
Capítulo 9 - O casamento


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis...



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FATMAGÜL

Depois que fui em busca de Mustafá, meu irmão foi me procurar e chegou à praia a tempo de me salvar do pesadelo da morte e da presença daquele homem. Não sei como ele fora parar ali de novo, mas fiquei com muito medo. Embora eu preferisse não vê-los nunca mais, infelizmente não conseguia esquecer seus rostos em meus pesadelos. Encontrar com um deles na praia, ainda mais quando ele tentara me tocar de novo, fora como reviver aquela noite horrível.

Quando chegamos em casa, os vizinhos e mais gente me esperava, incluindo Meryem, a mulher que me socorrera na praia, mas meu irmão não deixou ninguém se aproximar de mim.

“Ele queimou a nossa casa...” Eu repetia para meu irmão.

“Fatmagül, por que você fez isso?” Perguntou-me Rahmi, apontando para meu ferimento no pulso, que ele havia limpado com um antissético.

“Por que dói muito aqui, meu irmão.” Eu respondi, apontando para meu coração. “Eu não sou capaz de suportar. Não restou nada de mim para ele. Tudo se acabou... Como vou viver daqui pra frente?”

“Você ainda pode se casar...”

“Não vou me casar com aquele cafajeste!”

“Mas deveria. Não há outra solução.”

“Não quero fazer isso, me ajude, meu irmão...”

Eu sabia que Rahmi não poderia fazer muito por mim devido à sua condição limitada, mas ele era agora meu único aliado. Eu precisava apelar para ele. Simplesmente não conseguia sequer ficar perto daquele homem, então como poderia admitir me casar com ele?

Mukaddes e o advogado chegaram logo depois e meu irmão e Mukaddes discutiram a meu respeito. Eles haviam ido com a polícia na casa de Mustafá, imaginando que pudessem me encontrar lá. Quando chegaram, o incêndio da casa já havia sido apagado pelos vizinhos e os policiais perguntaram a ele se havia sido o responsável. Ele disse que sim, acrescentando que não apenas havia queimado a casa, mas que havia queimado todo o seu passado, conforme Mukaddes contara, sem disfarçar uma certa satisfação por supostamente ter razão no me que aconselhara sobre ele.  Meu irmão insistia em que eu não era obrigada a me submeter a um casamento indesejado enquanto Mukaddes descrevia o estado descontrolado de Mustafá e as consequências de que eu, agora uma mulher impura, permanecesse solteira no povoado.

Foi então que o Dr. Munir, que até antes se mostrara bastante paciente, voltou-se para mim muito irritado dizendo que eu faria o que eles mandassem porque era o melhor para mim.  E se eles estavam mandando que eu me casasse, eu devia me casar.  Eu me encolhi a um canto quando ele se aproximou de mim com gesticulando enfaticamente e meu irmão se interpôs entre nós, tentando nos proteger.  Ele reagia dessa forma porque havia sido informado de que a polícia havia capturado Kerim Ilgaz, aquele que havia se disposto a se casar. 

“Agora você precisa ir á polícia e dizer o que nós mandamos.” Prosseguiu o advogado, apoiado por Mukaddes.

“Não grite com minha irmã!” Interferiu Rahmi.

Foi quando os demais perceberam o corte em meu punho.

“Você só traz problemas, Fatmagül. Nos traz problemas e depois ainda quer se matar. Lembre-se de que você não tem mais a menor chance com Mustafá. Ele a abandonou, não quer mais saber de você.”

Eu tapava meus ouvidos, desejando não ouvir aquelas palavras duras de minha cunhada.

“Ele só quer vingança.” Ela concluiu.

E o Dr. Munir, então mais calmo, tentou apelar para meus sentimentos.

“Se você realmente ama seu irmão, Fatmagül, não deixe que ele fique triste. Case-se, para que seu irmão possa continuar a andar de cabeça erguida. Precisa calar a boca de todos esses vizinhos que estão ficando em sua porta.”

Nesse momento, a camionete de Mustafá parou na porta e eu temi que ele houvesse chegado.  Mas eram os seus parentes comunicando oficialmente que nosso noivado estava acabado e devolvendo os presentes que havíamos recebido. Eu devolvi minha aliança enquanto Mukaddes protestava inutilmente pela atitude da família de Mustafá.

Novamente as lágrimas vieram com força aos meus olhos e eu entrei rapidamente em casa para não chorar desesperadamente na frente de todos. Depois disso, como se eu fosse um fantoche, permiti que me levassem diante do delegado. Não consegui dizer muita coisa diante de suas perguntas, apenas que eu não me sentia no direito de falar ou de me queixar, o que ele, já muito impaciente por inutilmente me tentar falar, interpretou como concordância com a versão que Mukaddes havia apresentado do que acontecera naquela noite. E foi assim, principalmente pensando em não magoar meu irmão, que eu me deixei envolver por aquele casamento de mentira.

KERIM

Eu fui detido na delegacia quando voltava da praia. O capitão tentou fazer com que eu apresentasse meu depoimento, mas eu preferi me calar.  Tanto porque não sabia direito o que dizer sem complicar mais a minha situação e a de todos os demais, como por estar inclinado e me casar com a moça se ela aceitasse essa “solução”. A única coisa que insisti em dizer ao policial foi que eu não a havia estuprado, uma vez que minhas lembranças cada vez tornavam isso claro para mim, a despeito do que Vural dissera.

Fatmagül chegou logo depois, com sua família, e depôs em outra sala. Algum tempo depois, o delegado voltou, me perguntou se eu estava disposto a casar com a moça e, diante de minha resposta afirmativa, me informou que eu estava livre para ir embora uma vez que ela havia retirado a queixa.  Muito contrariado, o capitão reclamou que nosso encontro furtivo havia dado muito trabalho á polícia e perturbado a ordem pública, determinando que nos cassássemos logo, se essa era nossa intenção.

Percebi que Meryem, que me aguardava na antessala, ficou aliviada ao saber que eu não seria processado por aquele crime, mas quando voltamos para casa, ela se recusou a falar comigo de novo.  Eu sabia que ela nunca me perdoaria, assim com eu não era capaz de me perdoar.

Munir conseguiu acelerar a papelada de modo que nos casássemos no dia seguinte. Fomos eu e Munir em um carro e Fatmagül, seu irmão e sua cunhada em outro.  Meryem se recusou a vir. No caminho, paramos para tirar algumas fotos, que eram exigidas para a documentação.  A evidente contrariedade e o abatimento de Fatmagül diante daquele casamento de fachada marcou um clima de enterro que não se desfez quando chegamos ao cartório. Ela sequer me olhava, mas eu não precisava olhar em seus olhos para perceber o ódio por mim que transparecia em sua expressão.  Assim que tudo aquilo acabasse, eu esperava que pudéssemos nos separar e seguir destinos diferentes o mais rápido possível. Afinal, depois de algum tempo, era só nos divorciarmos.

Enquanto aguardávamos outros casais entrando felizes no gabinete do juiz de paz para que seus casamentos fossem celebrados, Munir entregou um volumoso envelope de dinheiro a Mukaddes e me ofereceu outro. Nessa hora, Fatmagül passou mal, ficando muito pálida e sendo socorrida pelo irmão. Ela não estava mais presente, mas de qualquer forma, eu não aceitei o envelope, porque isso me faria sentir ainda mais sujo do que já me sentia, embora soubesse que aqueles recursos seria necessários para ir embora de Izmir.  

Ao comparecermos diante do oficial, ele precisou repetir mais de uma vez as clássicas perguntas antes que Fatmagül respondesse concordando. Cheguei a pensar que ela desistiria do casamento, tal era sua expressão de tristeza e desânimo.  Mas ela concordou, assinando o termo daquele compromisso que, a princípio, deveria existir apenas no papel. Se antes daquele momento, talvez fosse possível tentar consertar o passado de alguma forma, ao menos para ela que era apenas uma vítima inocente de tudo aquilo, senti que a partir de agora nada mais seria o mesmo para nenhum de nós.  Nossa sentença havia sido selada de forma irrevogável.

 

 


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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