A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 8
Capítulo 8 - De novo na praia


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis...



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KERIM

Logo após o trama para inocentá-los ter sido devidamente traçada, ainda na mesma noite, Selim, Erdogan e Vural retornaram para Istambul. Meryem voltou para casa e eu passei o restante da noite na mansão dos Yasaram. Minha covardia não me permitia enfrentar o seu olhar mais uma vez, embora ela ainda suspeitasse da verdade.

No dia seguinte, Rifat Yasaran, o pai de Erdogan, me ofereceu uma grande quantia em dinheiro como uma compensação antecipada pela minha participação naquela mentira. Eu não aceitei e voltei a pensar em me entregar, denunciando toda a verdade à polícia. Mas, como se adivinhasse meus pensamentos, nesse momento a mãe de Erdogan entrou na sala onde estávamos e me agradeceu em lágrimas, implorando que eu não desistisse de ajudar os outros e eu continuei sem ter certeza do que deveria fazer.

Eu soube que Munir havia se aproximado da cunhada da moça, que aceitou a proposta de montar a farsa e foi com ele ao posto policial para retirar a queixa. Eles disseram à polícia que Fatmagül e eu mantínhamos um relacionamento secreto há algum tempo e que naquela noite eu havia proposto a ela que fugíssemos, mas ela não havia aceitado. Como consequência disso, segundo essa versão, eu teria abusado dela para que não pertencesse a mais ninguém, uma vez que não poderia ser minha. Para tentar justificar-me nessa história, se é que isso era possível, Munir acrescentou que eu não sabia direito o que estava fazendo quando tudo ocorreu e que estava muito arrependido e desejoso de reparar a situação por meio de um casamento.

O fato de eu residir na localidade, assim como Fatmagül, e a coincidência de termos nos aproximado na mansão dos Yasaran na véspera daquela fatídica noite ajudavam a construir essa versão sobre algum fundamento objetivo. O médico responsável pelo laudo do estupro havia sido devidamente subornado para alterar seu registro. No entanto, a peça mais importante do quebra-cabeça ainda estava faltando: para que essa lastimável história fosse aceita, o capitão exigiu que houvesse confirmação de todos os detalhes por parte da própria Fatmagül. E a reação dela era um incógnita para todos.

FATMAGÜL

Quando Mukaddes e o Dr. Munir enfim me deixaram em paz, ouvi meu irmão dizer a eles que eu só faria o que desejasse, frisando que ele não interferiria. Mas ambos continuaram a insistir que eu deveria mentir à polícia, me casar e partir de Izmir e enumerar as consequências de minha recusa. Eu ficaria falada no povoado. Meu irmão não conseguiria vender mais nada. Poderia acontecer uma tragédia por causa de Mustafá. Mukaddes ainda chegou ao ponto de dizer que deveríamos agradecer pelo fato de um deles ter concordado em se casar comigo.

Eu decidi que iria procurar pessoalmente por Mustafá. Saí escondido, porque sabia que não me deixariam ir por minha própria conta. Quando me aproximei de sua casa, uma grossa fumaça escura se espalhava pelo céu claro de verão. Procurei chegar mais rápido para descobrir o que estava acontecendo, para então encontrar Mustafá em pé em frente a nossa futura casa que era destruída pelas chamas. Ele não me viu, pois estava de costas. Mas antes mesmo que eu tentasse chegar mais perto, sua mãe colocou-se ao meu lado para dizer que eu não me aproximasse mais dele ou ele me mataria. Nesse momento, ele me viu de longe e eu pude perceber quanta dor e ódio havia em seu olhar. Sua mãe disse então que não haveria caminho de volta para nós depois do que havia acontecido, pois eu havia estragado minha vida. E Mustafá, depois de me olhar de longe por algum tempo, partiu sem falar comigo.

Fui embora, correndo a esmo, e quando dei por mim havia voltado á praia onde fora violentada. Eu me sentia completa e absolutamente sozinha... Tão só como nunca achei que estaria. Minha pureza fora destruída. O homem a quem eu amava e em quem eu havia depositado minhas esperanças de futuro havia me abandonado definitivamente. Exceto pelo meu irmão, eu não teria apoio de ninguém para dizer a verdade sobre o que acontecera. Eu não sentia mais nenhuma vontade de viver.

KERIM

Incapaz de me ficar mais tempo parado na casa dos Yasaran, decidi visitar o túmulo de minha mãe para rezar e pensar no que fazer. Depois, resolvi voltar à praia onde tudo acontecera mais uma vez para tentar me recordar com mais clareza de como fora minha participação naquilo tudo. Apesar de o mal ser irremediável, talvez isso me ajudasse a decidir como agir agora.

Enquanto isso, a despeito de minha pusilânime omissão, Meryem não havia desistido de ir em busca da verdade. Com a ajuda de Gallip, ela tentou investigar o que de fato havia ocorrido, primeiramente visitando o hospital para descobrir que Fatmagül havia sido retirada de lá pela família antes de ter alta médica. Meryem então procurou a garota em casa, mas seus vizinhos disseram que toda a família havia saído com a polícia.

Foi então que, por puro acaso, eu a encontrei de novo na praia. Ela estava ajoelhada na areia, chorando muito. Como eu não poderia me aproximar sem assustá-la, me limitei a observá-la de longe quando ela tomou de um caco de vidro, provavelmente resto de alguma garrafa que havíamos deixado lá naquela noite, e o aproximou lentamente de seu pulso. Gritei seu nome e me aproximei dela, tentando impedi-la. Segurei seus braços e consegui que ela soltasse o pedaço de vidro. Ela gritou e se arrastou para longe de mim, aparentemente com medo do que eu pudesse fazer com ela, mais uma vez. Como havíamos sido tcovardes com aquela moça, meu Deus! Eu tentei explicar-lhe que eu não havia abusado dela naquela noite, mas ela não me ouviu, fudingo apavorada.

Nesse momento, o irmão dela chegou e eu me afastei antes que ele me visse. Ele a socorreu, descobrindo a pequena ferida em seu pulso e ela confirmou, entre lágrimas, que sentia vontade de morrer. Ele a amparou carinhosamente e levou-a embora para casa. Foi então que decidi que faria qualquer coisa que me fosse possível para consertar aquela situação. Porém, não por Selim, Erdogan e Vural. Nem por sua família ou por ninguém mais. Mas pelo que restara de minha honra. E por ela. Por Fatmagül. Para que ela não viesse a morrer de tristeza, da mesma forma que minha mãe havia morrido.


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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