A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 22
Capítulo 22 - A carta


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis...



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 KERIM

Chegou o dia da minha partida. Arrumei minhas malas, guardando comigo o pequeno bordado de Fatmagül, meu fio de esperança cada vez mais tênue. Antes de ir, eu disse a Ebbe Nine, já em lágrimas, que não nos separaríamos para sempre. A  ideia era que eu me instalasse no exterior e depois viesse buscá-la.  Também pedi desculpas a minha mãe, dizendo o quanto lamentava tê-la decepcionado. Percebi que Fatmagül nos espiava pela janela, mas seria inútil dizer-lhe algo.  Meu fio de esperança ia se romper definitivamente. Já estava passando da hora. Embarquei no táxi a caminho do aeroporto.

FATMAGÜL

Por mais que eu quisesse estar livre “dele”, senti muita pena da tristeza de Ebbe Nine ao vê-lo ir embora. Quando ela entrou eu lhe disse que não ficasse triste comigo, pois aquela partida deveria acontecer por conta do que ele havia feito e não por minha culpa. Ela então me entregou uma carta que ele havia deixado para mim. Dizia o seguinte:

Fatmagül,

 

Desejo algo que minha vontade não é capaz de alcançar. Eu queria voltar no tempo. Queria muito poder retirar nós dois daquele momento em que não havia luz.  Quando não importava se o sol ia se pôr ou nascer.

 

De agora em diante, eu vou viver na esperança de que um dia você possa me perdoar. Sei que não adianta dizer o quanto lamento a dor que você que vejo em seus olhos, mas eu verdadeiramente sinto muito por tudo.

 

Vou sonhar com o dia em que você conseguirá construir uma nova vida. Quero guardar a esperança de que tudo vai dar certo. Quando suas feridas cicatrizarem, as minhas cicatrizes também poderão sarar.

 

Deixo um depósito no banco para que você possa fazer com ele o que quiser. Eu sei que esse dinheiro também poderá magoá-la, mas por favor aceite, é só ir ao banco assinar o recibo. Ebbe Nine a ajudará, se for preciso.

 

Vou pensar em você o tempo todo em qualquer lugar do mundo onde estiver. Eu não queria que você me odiasse tanto. Queria que você acreditasse em mim. Queria que tudo houvesse sido diferente. Vou embora com todos esses desejos e arrependimentos e sempre viverei com eles.  Adeus.

 

Kerim

KERIM

A gangue e Munir apareceram para se despedir de mim no aeroporto. Eles sorriam, aparentemente felizes em se ver livre de minha presença no país. Mas as coisas ainda ficaram piores quando Erdogan me disse para não ficar preocupado com o que eu estava deixando para trás, pois ele continuaria por perto para “tomar conta” de Fatmagül. Eu não me contive e lhe dei um soco, advertindo-o para não se aproximar dela ou eu o mataria!

Foi então que acordei no táxi. O embarque era de madrugada e durante a longa distância do percurso até o aeroporto, eu havia cochilado. O encontro com Erdogan havia sido apenas um sonho ruim, mas nem por isso a possibilidade de que ele pudesse voltar a se aproximar de Fatmagül era menos verdadeira, e isso me preocupava. As cenas dos últimos tempos de minha vida passaram rapidamente por minha cabeça, com destaque para tudo que se relacionava a ela. Como Fatmagül teria recebido minha carta? Eu não tinha o direito de nutrir esperanças, mas ao menos havia buscado uma oportunidade de dizer-lhe o que eu sentia, antes de nos separarmos definitivamente.

FATMAGÜL

Quando acordei no dia seguinte de manhã, Ebbe Nine chorava outra vez. Mas agora ela não estava triste. “Ele” havia mentido! Não havia viajado!  A alegria dela não conteve a indignação que ferveu em meu peito. E ainda fui obrigada a ouvi-lo dizer à mãe que não havia ido embora por minha causa, repetindo as mesmas mentiras da carta. Claro, devia ter arquitetado toda essa farsa para justificar sua presença e tentar me convencer de sua “inocência”. Essa história de se apaixonar por mim era muito conveniente. Havia pensado que teria um pouco de paz, mas estava enganada. Primeiro, eu não havia conseguido falar com Mustafá. Agora seria obrigada a suportar que “ele” continuasse em Istambul... 

Eu havia guardado a carta embaixo do meu colchão, pois poderia ser útil para algo no futuro... Talvez ser uma prova de algo. Ou talvez eu quisesse acreditar um pouco no que ele dizia... Não, não, não! Eu não podia acreditar. Ele era e continuaria sendo um dos meus inimigos. E eu não aceitaria aquele dinheiro sujo ou muito menos engoliria suas desculpas. Mas eu precisava pensar no que poderia fazer agora de minha vida, diante daquele novo acontecimento.  

KERIM

Eu tentei. Tirei o passaporte, consegui o visto, comprei a passagem, arrumei as malas... Cheguei a começar o checkin no balcão da companhia de voo.  Mas na hora de embarcar, não pude ir embora. A cada passo que eu dava, pensava em Fatmagül, sentindo que ficar longe dela me mataria por dentro, por mais que também fosse doloroso continuar ao seu lado.

Foi bom ver a expressão aliviada de Ebbe Nine enquanto desarrumava minha mala com alegria. Confessei a ela que eu estava irremediavelmente apaixonado por Fatmagül. Ebbe Nine ficou feliz e me perguntou quando contaria isso a ela. Eu respondi que não sabia como ou quando faria, pois ela me odiava e muito provavelmente ainda odiaria o resto da vida. O máximo que eu poderia fazer seria ficar por perto para ajudar a cuidar dela.  Porém, ao menos eu agora eu havia sido sincero comigo mesmo.

Contei a Ebbe Nine tudo o que eu sentia.  De como eu pensava em Fatmagül o tempo todo, como sempre a buscava com o olhar: quando ela estava na janela, quando passava pela porta, quando andava pelo jardim... Eu buscava cada pequena oportunidade de vê-la como um pássaro se sentia atraído pelo sol.  

Quando ela havia saído para usar o telefone público e havia demorado, eu a encontrei chorando sozinha, desamparada como uma gazela assustada. Naquele momento, tive mais certeza ainda do quanto a amava e queria proteger.  Mas ao descobrir que ela havia saído para telefonar para Mustafá, o homem por quem ainda nutria sentimentos, também tive certeza de que deveria partir.  Mas não pude. Eu não podia deixar de amá-la, mesmo que não pudesse dizer-lhe o quanto, já que ela não me ouviria.


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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