A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 20
Capítulo 20 - A ligação


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis.



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KERIM

Eu me senti desolado ao ver o estado em que Fatmagül ficou quando precisei arrombar a porta para ver se ela estava bem, a pedido de Ebbe Nine.  Desde que o dia amanheceu depois da quela noite, eu tentava imaginar o quão mal ela devia se sentir em relação a tudo o que havia acontecido e em relação a mim especificamente.  Mas foi só naquele dia, quando vi todo o horror que estava estampado em seu rosto, acho que cheguei mais perto de realmente entendê-la e estive consciente de que nunca seria capaz de realmente me colocar no lugar dela, por mais que tentasse.  A cunhada fazia o que podia para perturbá-la e o irmão, embora fosse uma pessoa boníssima, não era capaz de fazer frente à esposa quando Fatmagül tentava enfrentá-la.

Fatmagül foi levada por Ebbe Nine para dar uma volta. Ainda bem que ela agora aceitava a ajuda dela, que tentava convencê-la a procurar a ajuda de um psicólogo. Eu as vi de longe, mas quando ela me viu fez menção de levantar-se e eu preferi me afastar.  Mais tarde eu soube que naquela conversa Fatmagül havia contado a Ebbe Nine que eu ia viajar, pedindo-lhe que não me impedisse. Ela ficou muito aborrecida, nem tanto por ela mesma, embora obviamente ela fosse sentir muito minha falta, mas me chamou a atenção novamente pela minha responsabilidade com Fatmagül quando eu lhe disse que não poderia ficar.  Mas ela ao menos teria Ebbe Nine.

No entanto, por mais que aparentemente eu não me deixasse influenciar pelo que minha mãe adotiva dizia, ela ecoava aquilo que meu coração também sentia. Eu estava muito atormentado e dividido entre o que eu desejava fazer e entre o que achava que realmente deveria fazer. Sim, eu desejaria tomar conta de Fatmagül, mas ela não permitiria e seria profundamente infeliz ao meu lado. 

Resolvi caminhar, para não enlouquecer por ficar parado em casa pensando no que faria, agora que não a casa estava completamente reformada.  Quando já era noite, eu passei no restaurante do Senhor XXX que nos havia indicado para alugar a casa do Sr. Ibrahim e ele me chamou.  Nos sentamos para conversar e ele reclamou que andavam falando coisas ruins de nós e que o proprietário, Senhor Ibrahim, estava preocupado, pois sua esposa havia presenciado uma briga feia acontecendo quando fora nos visitar. Disse também que havia telefonado para a esposa de Gallip e ela havia dito coisas desonrosas sobre mim.  Eu respondi apenas que era mentira tudo o que diziam, embora me sentisse muito envergonhado com aquela situação, ainda mais porque o filho do Sr. Ibrahim, Emren, havia chegado para testemunhar o que conversávamos. Sem ter mais o que retrucar, fui embora.  Quando cheguei em casa, eu me sentei á margem do rio para colocar minhas emoções em ordem, pensando em como aquele dia fora ruim, ainda que eu não pudesse dizer coisa muito melhor dos últimos tempos que eu vivera. 

FATMAGÜL

Acordei assustada após sonhar com Mustafá me entregando o baú de noivado. Em meu sonho, as mãos dele estavam sujas de sangue e quando eu gritava assustada perguntando o que havia acontecido com ele, era o rosto “daquele homem” que aparecia como se fosse o dele! As  lembranças de nosso noivado, que antes eram tão doces para mim, praticamente meu único consolo da vida dura que levava, agora se misturavam às memórias ruins que faziam as lágrimas correrem e escureciam os dias da minha vida.

Eu me sentia sufocada de tristeza dentro do quarto onde dormia na cama com meu sobrinho e embora fosse quase madrugada e fizesse frio, preferi vestir um sobretudo e sair um pouco para tomar ar e me refazer do mal-estar provocado pelas sensações do pesadelo.  Entretanto, quando me dirigi ao quintal dos fundos que dava para as margens do rio, “aquele homem” estava lá. Ele se assustou ao ver-me, e eu me surpreendi que seu  rosto estivesse coberto de lágrimas. 

Acho que ele ficou envergonhado, porque rapidamente se afastou, sem dar uma palavra.  Piedade era a última coisa que eu devia sentir por ele, mas não pude evitar uma certa surpresa ao vê-lo desse jeito.Todavia, tanto ele como eu sabíamos que nem todos o seu remorso, por maior que ele fosse, poderia apagar uma gota do mal que ele havia me feito. Não depois de não mais consegui dormir naquela noite, tomei uma decisão.

Assim, no dia seguinte saí de casa cedo em busca de um telefone público nos arredores, já que eu não tinha mais um celular.  Eu pretendia conversar com Mustafá para resolver nossos assuntos pendentes de uma vez por todas. Quando liguei para aquele número, que eu ainda guardava tão bem na memória, surpreendentemente uma voz feminina atendeu, dizendo que o telefone era de Mustafá e que ele estava dormindo ainda. A constatação de que ele não estava sozinho em Istambul me abalou muito.  Perguntei quem estava falando e a doce voz ao telefone disse que era uma amiga dele.  Não consegui falar mais nada depois disso e desliguei o telefone. Tudo estava muito evidente. Eu me sentei para chorar as últimas lágrimas de meu amor perdido.  O telefone público tocou. Talvez fosse ele.  Mas eu não seria capaz de atender. Embora eu não alimentasse grandes ilusões sobre um dia estarmos juntos outra vez, não havia imaginado que ele fosse me esquecer tão rápido assim. 

KERIM

Dizem que depois da tempestade vem a bonança.  Mas não estava sendo assim conosco, pois as tempestades se sucediam continuamente.  No dia seguinte de manhã, Ebbe Nine bateu à minha porta bem cedo para dizer que Fatmagül havia desaparecido! Eu saí atrás dela e não demorei a encontrá-la em um parque próximo da casa.  Por que teria saído daquela forma, sem avisar a ninguém? Eu perguntei onde ela havia ido, dizendo-lhe que todos haviam ficado preocupados, principalmente seu irmão. Ela chorava, mais uma vez, recusando-se a dizer qualquer coisa, exceto pedir-me que me afastasse dela para que  pudesse voltar para casa. 

E assim fomos os dois, eu alguns passos a frente para que ela não fosse incomodada com a minha companhia ao seu lado. Levando em conta o ridículo da situação para quem não soubesse das razões de seu comportamentei, pensei que não era à toa que a família do Sr. Ibrahim estava nos chando tão estranhos.  Mas, nada disso era realmente  importante agora, porque o que importava era Fatmagül estar bem. Não era só seu irmão que havia se preocupado se algo acontecesse com ela, eu não sei como reagiria. 

Quando chegamos, sua cunhada chamou a atenção dela com seus maus modos habituais, enquanto seu irmão e Ebbe Nine externaram suas preocupações.  Minha mãe a levou para conversar em reservado, um pouco mais longe dos gritos de Mukaddes, enquanto eu tentava consolar, Murat, seu sobrinho, que chorava sem parar.  Quando entrei com ele, pude ouvir as palavras de Fatmagül com Ebbe Nine:

“Ele não se importa comigo. Ele não sabe como stou sofrendo.  Está vivendo a vida dele. Uma moça atendeu o celular.  Disse que Mustafá estava dormindo. Que era amiga dele.  Ela estava dormindo ao lado dele. Ele está com ela. Não acredita em mim, não tem pena de mim. Encontrou alguém e está com ela. Isso me deixou muito triste.”

Mandei Murat ir para o seu quarto e saí, perturbado pelo que havia ouvido.  Ele não se importava em nada com ela, como ela mesma havia dito, mas mesmo assim ela o havia procurado.  E evidentemente ainda o amava, por mais magoada que estivesse! Eu não tinha o direito de esperar muito dela, mas mesmo assim não conseguia evitar meu desapontamento diante dos seus sentimentos pelo seu ex-noivo, mesmo que ele a houvesse abandonado.

E como se fosse uma resposta ao meu conflito interior, no dia seguinte meu visto no passaporte chegou, trazido por um courier. Se eu ainda tinha dúvidas sobre ir embora, aquele parecia um forte argumento em favor de minha viagem.  Decidi que iria embora.  


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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