A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Início


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis...



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FATMAGÜL

“Fatmagül Ketenci, aceita este homem como seu legítimo esposo?”

Enquanto as palavras do juiz de paz ressoavam em meus ouvidos, as cenas de minha vida nos últimos dias passaram rapidamente pela minha mente, sem que eu pudesse controlar aonde iam meus pensamentos. Por mais que eu considerasse com alguma serenidade o que havia acontecido, tentando justificar para mim mesma as escolhas que eu fora compelida a fazer, tudo aquilo ainda parecia irreal e sem sentido.

Nasci e cresci em Ildir, uma pequena localidade na região de Izmir, em frente às águas azuis do Mar Egeu. Depois de perder meus pais e passar a adolescência sob os cuidados de meu irmão Rahmi e de minha cunhada Mukaddes, eu havia me comprometido com Mustafá. Um dia, fui a sua casa levar algo para sua mãe e o encontrei pintando um baú de madeira. Era um grande baú azul-claro com pequenas gaivotas em azul mais escuro nas laterais. Perguntei a Mustafá para quem era aquele baú e ele respondeu em tom misterioso que estava destinado à moça com quem iria se casar. Fiquei curiosa e ao mesmo tempo triste, pensando em quem poderia via a ser esta moça, mas nada respondi. Mustafá novamente insistiu em dizer que o baú era para a mulher a quem ele amava, mas que ela ainda não sabia disso. Então ele parou o que fazia, tomou as minhas mãos e me perguntou se eu queria me casar com ele.

Foi um dos momentos mais felizes que eu havia vivido, aos quais se seguiram os dias tranquilos e felizes de nosso noivado, nos quais desfrutávamos fazer planos em nossa casa ainda em construção, cada um de nós descrevendo detalhadamente como seria nossa vida de casados. Sim, eu estava apaixonada por Mustafá e pela ideia de ter minha própria casa, onde cuidaria de meu marido e de meus filhos. Esses eram meus singelos sonhos e eu nunca havia imaginado seriamente que experimentaria uma vida diferente da que vivia em nosso povoado, ignorando o quanto as coisas podem mudar em tão pouco tempo na vida de alguém.

Mas naquele dia em especial eu tão somente aguardava ansiosa que Mustafá avisasse pelo celular que estava chegando para eu ir esperá-lo no cais. Depois de dez dias em que ele estivera no mar, eu estava com muitas saudades. Quando ele enviou a mensagem, imediatamente pedi a meu irmão Rahmi para sair. Claro, se eu pedisse à minha cunhada, Mukaddes, ela não deixaria. Ao caminhar pela encosta íngreme que levava ao pier ainda vazio, acenei com um lenço enquanto o barco ainda estava distante. Quando a embarcação aportou, eu me aproximei para cumprimentar discretamente Mustafá por estarmos na presença de seus companheiros de trabalho. Depois que toda a pesca foi desembarcada, o mestre do barco nos deu carona para casa em sua camionete., anunciando que partiriam para pescar de novo em dois dias. Eu fiquei triste porque Mustafá mal havia chegado e já sairia outra vez, mas sabia que ele estava trabalhando tanto para nós podermos nos casar, então não reclamei.

Por mim, nós não teríamos esperado tanto por nosso casamento. Moraríamos temporariamente na casa de seus pais enquanto ele construísse nossa casa, que ficava no mesmo terreno, mas Mustafá insistia em terminá-la primeiro, por mais que ele também desejasse que nós nos casássemos. E por tanto esperarmos, às vezes ele tentava avançar nas intimidades de nosso noivado, embora eu sempre resistisse. Ele então se conformava dizendo que quando nos casássemos ficaríamos semanas sem sair de casa para melhor aproveitarmos nosso tempo juntos. E continuava a tentar acabar nossa casa o mais rápido possível.

Diante do noivado prolongado, Mukaddes não acreditava que eu estivesse me guardando para o casamento e sempre me importunava sobre esse assunto. Por mais que eu protestasse minha inocência, cada vez que eu voltava para casa após me encontrar com Mustafá ela afirmava que eu ficaria mal falada quando as pessoas soubessem do que fazíamos. Mas como eu sabia que esse era apenas mais um pretexto que ela procurava para me acusar de algo, eu não lhe daria esse motivo, ainda mais agora que estava próximo o dia em que eu me casaria e estaria livre de suas ladainhas infindáveis.

Por isso, quando voltei para casa naquele dia, Mukaddes reclamou comigo como sempre fazia até que fosse interrompida pelo Sr. Ismail, mordomo da rica família Yasaran que chegou para comprar queijos. Depois de ser atendido em suas encomendas, ele disse que estava precisando de mão-de-obra para o noivado do filho da família que aconteceria daí a dois dias e Mukaddes decidiu que nós iríamos trabalhar na festa para ganharmos algum dinheiro. Como naquele mesmo dia a família de Mustafá viria a nossa casa conversar sobre o casamento, havia muito o que fazer. Eu queria impressionar meus futuros sogros e logo comecei a preparar um jantar caprichado incluindo as sobremesas favoritas de cada um deles.

Depois do jantar, a conversa naturalmente se dirigiu à data de nosso casamento. Mustafá informou que a casa ficaria pronta até o final do verão e que portanto já poderíamos comprar o vestido e marcar a data. Mukaddes se declarou feliz com a proximidade das bodas mas manifestou sua incredulidade quanto a casa estar pronta a tempo. Ela também sugeriu não fazermos festa, por medida de economia, porém, a família de Mustafá insistiu em algum tipo de celebração, ainda que dentro de nossos orçamentos limitados. Para completar a noite, além de fazer seus usuais comentários impertinentes, Mukaddes também me chamou a atenção asperamente por Mustafá ter feito um discreto carinho em meu rosto no único momento em que ficamos sozinhos.

Ainda assim, quando mais tarde fui me deitar na cama estreita que dividia com Murat, meu sobrinho de seis anos, nada me impediu de dormir embalada pelos mais doces sonhos com o futuro. Apesar de amar profundamente meu único irmão, a convivência com minha cunhada ao longo dos últimos anos não havia sido feliz e agora eu mal podia conter minha alegria ao pensar em ter minha própria casa.

—x-x-x-x-x-x-x-

No dia seguinte, fui de manhã cedo ficar com Mustafá enquanto ele trabalhava em nossa casa. Embora eu não entendesse de serviços de construção, era nosso único dia livre antes que Mustafá fosse para o mar outra vez e eu queria estar com ele. Mas nosso tempo juntos não durou muito pois logo fomos interrompidos por Mukaddes que ordenou que eu fosse cuidar das ovelhas uma vez que o pastor não poderia vir naquele dia. Eu protestei dizendo que havia combinado ficar com Mustafá naquela manhã, mas eu sabia que nem meu irmão nem Mukaddes teriam condições para pastorear os animais, por isso acabei cedendo. Mustafá queria me acompanhar, mas eu disse que não precisava pois sabia do pouco tempo que ele teria para trabalhar em nossa casa.

Assim, fui cuidar das ovelhas e depois de muito esforço para retirar uma delas que havia se atolado na água, cheguei em minha casa muito molhada e precisei ouvir a censura de Mukaddes, que me recriminou por ter andado pelo vilarejo com roupas grudadas ao corpo. Como se naquela emergência eu pudesse ter entrado na água sem molhar minhas roupas! Inclusive meu celular havia parado de funcionar porque também se molhou quando entrei na água. Para piorar, Mustafá, que também estava me esperando, também recriminou-me por me expor desnecessariamente. Mas ele logo se esqueceu do que havia ocorrido e deixou de ficar aborrecido.

Ao entardecer, nós voltamos a ficar em nossa casa mais uma vez, conversando sobre nossos planos a frente de uma fogueirinha para espantar o fio da noite. Era nesses momentos que costumávamos descrever detalhadamente um para o outro como seria nossa vida juntos. Uma vez que ambos estávamos tão felizes com essas perspectivas, ninguém poderia imaginar que as coisas por acaso não fossem acontecer dessa forma. Não sabíamos o quanto uma única noite seria capaz de mudar nossos destinos.


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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