By The Sea escrita por Breatty, Ballus


Capítulo 13
Capítulo 13




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Vanessa

3 semanas depois

Janeiro

— Roly estou me sentindo diferente, não sei explicar. Será que já estou grávida?

Ele me olha. Sorri bobo.

Estamos sentados no sofá vendo TV, tiramos o domingo para ficar de preguiça em casa.

— Está brincando comigo Ness?

Eu rio. Bato em seu braço de leve.

— Claro que não. Estou falando sério! Eu não sei como é estar grávida, claro, mas pelo que andei vendo e ouvindo acho que meus sintomas batem com gravidez.

Antes mesmo de contar a Roland no Natal que eu queria engravidar, eu já havia parado de tomar a pílula e já tínhamos transado algumas vezes, e desde que eu contei a ele não paramos mais de tentar, então é bem possível que eu já esteja grávida. Ando sentindo algumas coisas estranhas, indisposta, cansada e sentindo enjoos estranhos.

— Está sentindo o que? Já percebi que você está preguiçosa, coisa que você nunca é. Lembro no dia do ano novo, você ficou enjoada com o empadão de queijo da minha mãe, e você adora aquele empadão.

Ano Novo nós passamos em Hamptons, fomos com os pais e a irmã de Roly, meus pais que vieram da Flórida e Charlotte e Ricardo também. Alugamos uma casa, foi muito divertido, viramos o ano na praia e passamos quase uma semana lá, aproveitando e descansando.

— Enjoos chatos, mas não muito, fadiga, e sim ando com muita preguiça, parece que fiz milhões de coisas no dia.

— Amor, será que está grávida então? - seus olhos brilham. — Vamos fazer um exame logo, acho que pelo tempo você já deve estar.

— Calma...

— Calma nada, você está maluca?! Quero logo a notícia de que teremos nosso bebê.

Ele beija meu cabelo. Estou com a cabeça encostada em seu pescoço.

— Acho melhor irmos direto ao médico...

— Tem algum outro tipo de exame mais rápido?

— Tem um teste de farmácia caseiro.

— Confiável?

— Acho que sim. Mas acho que no futuro eles vão inventar algum teste mais rápido e mais preciso... tipo um aparelhinho que já diz na hora se a mulher está grávida ou não.

— Provavelmente sim. Quer fazer esse teste ou quer ir ao médico logo?

— Vamos ao médico logo, pelo menos teremos certeza absoluta. Vou marcar a consulta.

Ele me abraça e me beija.

— Se você estiver grávida, pode ter certeza que irei mimar você mais do que eu já mimo normalmente.

Sorrio.

— Vai me acostumar mal Roly.

— Você merece.

Faço carinho no seu cabelo. Ele sorri.

[...]

Dias atrás fui à consulta, Roland foi comigo, fiz os exames e tive que esperar mais alguns dias para receber o resultado. Hoje iremos saber se estou grávida ou não, é a hora da verdade. Estou muito nervosa, sinto minha mão gelada e meu corpo ansioso em expectativa. Estou no carro com Roland, estamos indo para a consulta, percebo seu olhar sobre mim, ele está nervoso também e preocupado comigo.

—Ness, tudo bem?

— Sim, amor. Tudo tranquilo... eu acho.

Sorrio.

— Você está nervosa.

— Sim.

— Eu também estou. Bastante.

Nós rimos. Ele continua.

— Mas vai dá tudo certo Nessa. Certo?

— Não sei. Estou ansiosa, parece que vou desmaiar aqui.

Começo a chorar de repente. O que está acontecendo?!

Roland me encara e vejo pânico nos seus olhos.

— Ei, Vanessa, não chore!

Ele encosta o carro. Continuo chorando, as lágrimas caem com tamanha facilidade.

Roland segura minha mão e me encara.

— Olhe para mim bebê.

Obedeço e encaro seu rosto. Meus olhos estão anuviados do choro.

— Porque está chorando assim? Não chore, não tem necessidade.

— Eu sei, desculpa...

Enxugo meu rosto. Aperto sua mão.

— O que está te preocupando? Temos que estar felizes, vamos ser pais! - diz empolgado.

— Mas e seu não estiver grávida, Roland? E aí? Nos empenhamos tanto nisso.

— É com isso que você está preocupada? Oh amor, se você não estiver grávida nós continuaremos tentando e tentando, uma hora a gente consegue. Não tem porque se preocupar com isso. Certo?

Consegui parar de chorar. Sorrio. Roland sempre com seu jeito protetor.

— Certo. Desculpe, foi de repente o choro, não consegui controlar... vai vê é coisa de grávida também. – sorrimos. — Com certeza continuaremos tentando.

Ele dá partida no carro e sai do acostamento.

— Estou muito ansioso e nervoso aqui, mas vamos pensar positivo.

Seguimos para a consulta, em poucos minutos chegamos ao consultório.

— Olá, boa tarde. Tenho uma consulta agora com a Doutora Christina.

Digo a recepcionista ao entrar no consultório.

— Qual o nome da senhora?

— Vanessa.

Entrego meus documentos a ela.

— Aguarde um pouco, ela já vai chamar à senhora.

— Obrigada.

Sento em um sofá ao lado de Roland. Ele descansa a mão na minha coxa enquanto alisa carinhosamente. Após alguns minutos a médica me chama e eu e Roland entramos. Trocamos cumprimentos e ela me faz algumas perguntas de como foi meus últimos dias, detalho tudo ao máximo e ela abre o envelope do resultado do exame.

— Preparados? – confirmamos com a cabeça, não temos nem forças para falar. — Eu tive que abrir o exame antes de vocês para poder fazer as recomendações agora na hora da consulta, pois cada caso é diferente, cada mulher tem um corpo e um metabolismo diferente.

Ela abre o envelope e entrega o papel a nós dois.

— Vanessa você está grávida. Parabéns papai e mamãe!

Ela sorri feliz e respiro fundo, ainda não consegui assimilar a confirmação.

Eu e Roland nos abraçamos apertado. Estamos emocionados e exultantes. Esquecemos a doutora ali sentada e curtimos o nosso momento. Nós nos encaramos profundamente, ele alisa meu rosto e a intensidade dos nossos sorrisos preenche o ambiente, eu aliso seu rosto, eu o amo tanto. Trocamos um selinho longo e apaixonado.

Ficamos meio sem jeito de continuar nossa comemoração particular ali. A doutora já deve estar acostumada, mas não dá para ficar totalmente à vontade.

Ela nos felicita e passa várias recomendações para mim. Eu fico perdida com tanta receita e tantos detalhes, Roland está atento a tudo, ele pergunta várias coisas e tira algumas dúvidas, fico até surpresa com seu nível de informação sobre gravidez. Quero rir com a cena, mas me contenho e presto atenção ao que a médica diz. Quando ela me diz que não poderei tomar bebida alcoólica por um tempo, sinto uma pontada de tristeza, adoro tomar um vinho no jantar. Ela também me manda parar de fumar, mas isso eu já estava fazendo, aos poucos fui diminuindo e fumando cada vez menos e agora definitivamente irei parar. A doutora diz que pelo tamanho da minha barriga e pelos resultados do exame, devo estar com provavelmente um mês de gravidez.

Terminamos a consulta e voltamos para o carro.

— Estou grávida Roly!

Grito no corredor. Começo a rir e me jogo em seus braços.

— Grávida amor! Vamos ser pais!

Ele me abraça e me tira do chão. Nos beijamos intensamente encostados em uma parede.

— Depois de tanto tempo, finalmente. – digo.

— Está vendo? Eu sabia que você estava grávida.

Ele coloca a mão na minha barriga.

— Obrigada por esperar Roly, esperar todo esse tempo por esse momento.

— Ness, tudo acontece na hora certa. E a nossa vez de ter um filho chegou, agora é a nossa hora.

Sorrimos.

— Estou muito feliz, quero sair gritando por aí.

Ele ri e eu rio.

— Eu também. Amo você Ness. Obrigada.

Beijo sua boca.

— Obrigada também. Amo você.

Saímos abraçados do prédio e seguimos para casa.

Estamos tão felizes.

 

Roland

1 mês depois

Vanessa já está com dois meses de gestação. Sabe um homem bobo? Então, sou eu nesses últimos meses. Eu já mimava ela antes, imagine agora.

A barriga ainda não está grande, mas já é possível perceber o crescimento. Vanessa está mais linda ainda. Ela também está toda boba, querendo comprar as roupinhas e tudo que é preciso, já estamos doidos para comprar os móveis e montar o quarto. Mas como ainda não sabemos o sexo do bebê, não podemos adiantar muita coisa. Compramos uma casa mais espaçosa para morar, o nosso apartamento é pequeno e não tem outro quarto. Estamos fazendo alguns ajustes na casa antes de mudar.

Hoje é sábado e estamos no clube. O dia está lindo e o sol apareceu com tudo.

Almoçamos e tomamos banho de piscina juntos. Carrego Vanessa nos meus braços dentro da piscina e a gente namora um pouco, apenas alguns beijos, sempre tomando cuidado para as coisas não esquentarem, sorrio.

Depois Vanessa toma sol na cadeira e eu passo o protetor nela, acariciando sua pele e fazendo massagem, passo na barriga delicadamente e sinto o local já um pouco saliente, crescendo cada dia mais. Ela me olha observando a cena e sorri carinhosa para mim.

Encontramos alguns amigos nossos e acabamos alongando mais nossa tarde no clube, foi maravilhoso.

Quando saímos do clube, quase 17h, levei Vanessa para uma doceira, ela estava a alguns dias sonhando com uma torta de doce de leite e chocolate branco, então fomos matar o seu desejo. Ela continua comendo tudo normal, não está enjoando quase nada e evita comer besteiras, mas as vezes a vontade aperta e não tem como segurar.

Depois de sair da doceira seguimos de volta para casa, foi um dia tranquilo e muito agradável. Eu e Vanessa estamos muito felizes e ansiosos, e graças a Deus tudo está correndo bem.

 

Vanessa

2 semanas depois

Hoje é terça e estamos de bobeira em casa. Na verdade, todos os meus dias agora serão assim de bobeira em casa, pois já me aposentei da dança e saí da companhia de balé. Ainda sinto a dor da aposentadoria, é um momento difícil para qualquer pessoa, dancei por tantos anos, uma parte da minha vida foi em cima dos palcos, foram momentos maravilhosos. E foi em cima do palco que conheci Roland, quer dizer, tecnicamente ele me viu, mas foi a partir daí que passamos a nos relacionar, então a dança me trouxe também o meu marido, e agora nosso filho também.

Não sei ainda o que irei fazer agora, Roland deu a ideia de eu abrir uma escola de balé minha, mas acho que ainda não estou preparada para fazer isso e nem sei se quero. No momento não vou me preocupar com isso, vou curtir a gravidez e depois irei pensar nisso. Roland lançou um livro recentemente, então deu uma parada e disse que vai tirar umas férias para a gente curtir juntos esse momento.

Estamos na cozinha, sentados na mesa tomando café. Roland fez panquecas com mel para a gente, adoro porque lembra minha infância na Flórida.

— Estão boas? - pergunta.

— Muito.

Como e sorrio.

— Está parecendo uma criança comendo.

Ele ri.

— Amo panquecas com mel, você sabe. Lembra minha infância na Flórida. Acho que toda criança tem em seu café da manhã panquecas com mel. Nosso filho ou filha vai ter com certeza, irei me certificar disso.

Sorrio.

— Suas panquecas são boas também. – diz.

— Mas as suas são melhores, eu prefiro muito mais.

— Realmente são melhores.

Ele sorri convencido, reviro os olhos sorrindo.

— Estou com sono. - digo.

— Eu também.

— Mas a gente nem fez nada hoje, só ficamos de bobeira em casa.

— Acho que estamos ficando velhos amor.

Ele sorri e eu também. Ele segura minha mão.

— Acho que sim. Vamos sair para dançar amanhã? Espantar a preguiça. – pergunto.

— Vamos. Vamos curtir, com moderação é claro.

Ele me lança um olhar de quem diz "está ouvindo?". Reviro os olhos e ele ri.

— Vontade de tomar um vinho geladinho.

— Só daqui a alguns meses mocinha. Vem, vamos dormir.

Me levanto e ele me abraça, beija minha testa e vamos andando juntos até o quarto. Já estamos de banho tomado e roupa de dormir, então só nos deitamos na cama e dormimos.

De madrugada sinto um incômodo estranho na barriga e acordo, olho para o relógio e são 3h da manhã, Roland dorme tranquilo ao meu lado. Sinto uma dor intensa na minha lombar, em seguida o incômodo na barriga se transforma em cólica e eu me curvo de dor, não sei o que está acontecendo. Me viro e acendo a luz do abajur, minha barriga se contrai com as cólicas intensas, começo a respirar mais rápido, sinto contrações estranhas na barriga. Me desespero. Tento levantar da cama e com certa dificuldade consigo ficar sentada, coloco a mão ao lado do meu corpo para me apoiar e sinto o lençol molhado, um líquido grosso e pegajoso, quando olho vejo sangue ao meu lado e minha camisola na parte de baixo encharcada de sangue também e com alguns coágulos. Meu coração dispara, levo minha mão a barriga.

— ROLY!

Grito, estou desesperada, sem reação, não sei o que fazer. Sinto medo.

— ROLY!

Grito novamente.

— Oi? O que foi?

Ele diz sonolento, mas em alerta, quando vejo ele está ao meu lado com o rosto pálido.

— Estou sangrando... estou sangrando. Sinto dor na barriga, está doendo muito.

Estou trêmula, ele observa o sangue e olha minha camisola, vejo o sangue escorrer por minha perna.

— Meu Deus! Amor, calma!

Ele tenta manter a calma, mas percebo seu desespero, ele fala rápido e está pálido. Ele continua.

— O que está sentindo? Como foi isso?

— Eu acordei sentindo um incômodo e de repente senti uma cólica forte e vi o sangue na cama... estou com medo. Está acontecendo algo com o bebê amor, é o nosso bebê.

Não consigo falar, minha voz não quer sair.

— Amor, calma, por favor. Senão vou ficar mais nervoso e mais preocupado com você, calma, vamos para o hospital agora... não vai acontecer nada com o nosso bebê e nem com você, vai ficar tudo bem.

Começo a chorar e seguro a barriga, a dor aumenta. Choro de dor e de desespero.

Vejo que Roland não sabe o que fazer, se fica comigo para me acalmar ou se sai para pegar as coisas para irmos para o hospital. Ele beija meu rosto.

— Vanessa...

— Vamos para o hospital.

Digo para ajudar ele.

Ele sai correndo e escuto o barulho das portas do armário sendo abertas e fechadas. Ele volta correndo e veste qualquer calça e qualquer blusa. Não tenho forças para vestir nenhuma roupa, então ele coloca um vestido em mim pela cabeça por cima da camisola e veste uma sapatilha no meu pé. Ele pega minha bolsa e me carrega no colo.

Eu choro em seu pescoço, e não sei como reagir, só penso em coisas ruins. Ele corre comigo no colo e beija minha cabeça e me pede para ter calma, que ele não vai deixar nada acontecer comigo e com o bebê. Ele me coloca no carro e seguimos para o hospital, ele acelera o carro, está nervoso e atordoado. Sinto dor e sinto meu coração apertado.

 

Roland

Chegamos no hospital muito rápido, eu saí correndo igual a um louco na rua. Estou sem saber o que fazer, Vanessa está desesperada e sentindo dor, e todo aquele sangue no lençol, estou muito assustado. Ela chora e meu coração está apertado, não posso ver ela chorar, ela está desolada e eu também.

Entro com ela no meu colo e meio que grito para a recepcionista que ela está grávida e que está sangrando e sentindo dor. A emergência não está cheia, e as pessoas olham para nós assustadas e a recepcionista corre chamando os médicos. Eles trazem uma maca e eu a coloco deitada, um médico se aproxima e faz perguntas a Vanessa, ela tenta responder, mas só consegue perguntar se o bebê vai ficar bem. Eles levam ela pelo corredor e eu vou atrás.

— Nessa, estou aqui. Estou aqui amor, vai ficar tudo bem.

Ela aperta forte minha mão e encaro seus olhos, meu coração aperta mais ainda e quero chorar.

— Tenho que pedir para o senhor esperar aqui fora. Sei que é o esposo, mas precisamos examinar logo ela. Peço que o senhor se acalme, vai ficar tudo bem. - um enfermeiro me diz.

Eles empurram a maca e levam ela até uma sala, não tenho nem tempo de falar nada. Sento em uma cadeira e coloco as mãos na cabeça, não consigo pensar em nada, a adrenalina está pulsando em meu sangue, meu coração bate acelerado. Os minutos se arrastam, algumas pessoas passam, mas ninguém sai da sala.

Depois de quase meia-hora o médico sai da sala e me pede para entrar. Assim que entro vejo Vanessa sentada na cama com a roupa do hospital, ela parece cansada e tem um olhar triste. Me aproximo dela e a abraço. Ela está tomando soro na veia.

— Você está bem? Eles te deram remédio? E o bebê? - pergunto.

— As dores melhoraram. Mas não sei se estou bem. Eles ainda não falaram nada do bebê.

O médico se aproxima com uma postura profissional.

— Sinto muito em ter que lhes dizer isso, mas infelizmente Vanessa perdeu o bebê.

Vanessa cai no choro, ela leva as mãos ao rosto e chora sem parar. A abraço e tento me manter forte, mas lágrimas escorrem pelo meu rosto, uma tristeza se abate sobre mim e tudo vai abaixo.

O médico prossegue.

— Você sofreu um aborto espontâneo Vanessa.

— Foi minha culpa então.

Vanessa diz e chora.

— Não amor, não diga isso, não foi sua culpa.

Digo e beijo seu cabelo. Estamos abraçados, abraço ela bem forte, tento consolar ela. Não é culpa dela, de maneira alguma.

O médico se aproxima com uma expressão de pena e compaixão.

— Vanessa, não foi sua culpa. Quando as mulheres descobrem que sofreram um aborto espontâneo, a primeira coisa que pensam é que foram responsáveis por isto, mais isso não é verdade, de maneira alguma. Aborto espontâneo é comum, principalmente antes das 12 semanas, o período que você estava. E no seu caso, pelo pouco tempo de gestação que você estava, o aborto ocorreu porque o bebê não se formou direto, a gravidez não estava caminhando corretamente. Vamos dizer que o aborto é a resposta do corpo da mulher quando a gravidez não se desenvolve como deve.

Nós ouvimos, mas parece que não estamos ali. Nossa cabeça estava a mil.

— Será que não foi porque fizemos sexo pela manhã ou porque eu fiz muito exercício?

Vanessa pergunta entre soluços. Ela está trêmula.

— Não Vanessa, essas coisas não causam aborto. O fato é que simplesmente acontece. Você estava no início da gravidez e o bebê ainda estava bem no início da formação e não foi se formando direito. O aborto foi espontâneo e ninguém tem culpa.

— Doutor, o senhor fez exames?

Pergunto. Ainda não caiu a ficha.

— Claro. Fiz a ultrassom e detectei que o feto não estava mais com sinais vitais. Vanessa sofreu o que chamamos de aborto completo, que é quando a mulher expeli todos os tecidos da gravidez, isso é comum antes de 12 semanas de gestação, por tanto não é preciso fazer nenhum procedimento complementar para limpar o útero. Sinto muito por vocês, sei que é um momento difícil.

— O aborto afeta alguma coisa em relação a tentar a engravidar de novo?

Pergunto. Vanessa está abraçada comigo, ela parou de chorar, mas seu rosto está triste e ela não consegue dizer nada. Eu tento me manter firme. Ela precisa de mim.

— Não. O aborto normalmente é uma ocorrência única na maioria das mulheres. Podem tentar engravidar normalmente, na verdade devem, não desistam do sonho de vocês.

Ele sorri acolhedor. Continua.

— Mas é preciso esperar de três a seis meses para engravidar novamente, para que o corpo se recupere.

— Certo. Obrigada doutor. - digo.

Beijo o rosto de Vanessa, ela me olha.

O médico se aproxima.

— Fiquem bem. No início é difícil, mas vão superar isso. Vamos esperar pelo menos uma hora até vocês poderem ir para casa, só até os remédios fazerem efeito.

Ele sorri consolador e se retira da sala.

Sento na cama ao lado de Vanessa, seguro seu rosto e faço ela olhar para mim.

— Ei. Você é forte, somos fortes. Vamos superar isso, ok? Eu estou devastado aqui, foi um susto grande, estou triste também, mas vamos ter nosso filho. Não pense que foi sua culpa, porque não foi... Vanessa, não quero que pense isso, ouviu? Aconteceu, o médico explicou.

— Estou devastada. Acho que nunca senti nada parecido. Me desculpe, Roly.

— Pare. Porque está pedindo desculpas? Não tem que pedir desculpas por nada.

Abracei ela. Beijei sua bochecha e alisei seu cabelo. Ela faz carinho nas minhas costas e me abraça forte.

Ficamos uns segundos abraçados. Ela me olha e alisa meu rosto.

— E você? Dei um susto em você não foi?

Ela pergunta e me olha preocupada.

— Sim. Ainda estou assustado, sinto várias coisas. É difícil. Mas vamos ficar bem. Não podemos desestimular.

— Eu sei, é só que é bem triste isso.

— Vem cá.

Ela me abraça.

— Me sinto segura com você, nos seus braços.

— Estarei aqui sempre protegendo e cuidando de você.

— Eu também Roly. Sei que está tentando ser forte por mim, mas eu sei que você está devastado. Quero que saiba que não vou desistir de ter o nosso filho, vamos superar essa perda.

— Vamos sim meu amor.

Ficamos abraçados sentados na cama esperando o médico liberar a alta.

Após uma hora um enfermeiro vem e diz que podemos ir.

Ajudo Vanessa a vestir o vestido que ela veio por cima da camisola. Ela está meio sonolenta por conta dos remédios e do calmante que o médico colocou no soro, então vamos andando devagar enquanto ela se apoia em mim. Assino os papéis na recepção e seguimos para o carro. Ajudo Vanessa a entrar no carro e coloco o cinto nela. Ligo o carro e dirijo indo para casa.

Eu e Vanessa ficamos em silêncio durante o caminho, a dor que sentimos é muito grande. Já passam das 5h da manhã, o dia está nascendo e o tempo está meio fechado. Com certeza esse é um dos piores momentos que já vivemos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem. Beijos.



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