By The Sea escrita por Breatty, Ballus


Capítulo 14
Capítulo 14




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Vanessa

Chegamos em casa ainda em silêncio. Entramos no quarto e vejo os lenções da cama sujo de sangue e as lembranças surgem na minha mente, eu não consigo continuar olhando para isso, eu não aguentaria.

— Eu vou limpar tudo.

Roland fala entrando no quarto. Estou parada em frente a cama.

— Vou tomar um banho.

— Tudo bem, querida. Quando terminar já vai está tudo limpo aqui.

— Não quero dormir aqui.

— Vamos para o quarto de hóspedes.

 — Certo.

Me retiro do quarto e vou para nosso banheiro, tiro o vestido, depois a camisola suja de sangue, me sinto um lixo, nunca imaginei passar por isso. Tomo um banho rápido, toco minha barriga e começo a chorar. É a pior sensação que eu já senti na minha vida, meu filho estava aqui vivo e crescendo e de repente ele se foi, eu não consigo para de chorar. Sem perceber, Roland entra no chuveiro e me abraça forte, ele desliga o chuveiro e ficamos assim por um tempinho, ele não pediu para eu parar de chorar, ele só fica ali comigo, me apoiando. Depois de uns minutos eu paro de chorar, ele segura meu rosto.

— Vamos deitar. Vem, eu te ajudo.

Ele sai todo encharcado e pega uma toalha e me dá, tira sua roupa e se enrola num roupão. Ele envolve seu braço no meu ombro e saímos do banheiro, visto uma camisola limpa e vamos para o outro quarto. Me deito na cama.

— Tente dormir um pouco, essa noite foi muito longa.

O dia já está claro lá fora, mas eu só quero poder parar de sentir o que estou sentindo por alguns minutos, essa dor insuportável que nunca imaginei que fosse existir.

— Volto já.

Confirmo com a cabeça e fecho os olhos. As lembranças da noite surgem novamente na minha mente e meus olhos se enchem de lágrimas...

Depois, acho que peguei no sono...

 

Roland

1 mês depois

As coisas ficaram difíceis depois do ocorrido. Vanessa se isolou e não conseguimos conversar muito, ela faz de tudo para evitar falar sobre o assunto. Não estou sabendo lidar com isso, tudo está difícil entre nós. Saio de casa com a intenção de espairecer a cabeça, mas nem escrever eu consigo. Ando frequentando bares quase todos os dias, é minha única válvula de escape. Eu sofro com a perda do nosso filho e sofro por não saber como ajudar Vanessa. Ela sofre calada e isso me assusta.

Acordo com uma dor de cabeça horrível. Ontem, cheguei tarde em casa e fui para nosso quarto, quando tentei abri a porta vi que estava trancada, fui dormi no quarto de hóspedes. Levantei e fui tomar um banho, olho para o relógio e são 8h da manhã, Vanessa já deve ter levantado. Entro no nosso quarto e ela não está lá, vou direto ao banheiro, tomo um banho rápido e escovo os dentes, me visto e vou para a cozinha preparar um café bem forte.

Chegando a cozinha sinto um cheiro de café, — Vanessa preparando comida? — penso. Geralmente eu que sempre ofereço comida para ela. Ela está no fogão preparando panquecas.

— Bom dia. — digo assim que entro na cozinha e sento na mesa.

Ela me olha e dá um pequeno sorriso.

— Bom dia.

— Preparando o café?

— Sim, hoje acordei disposta.

— Isso é muito bom querida.

— Ontem eu tranquei a porta e esqueci de abri, tomei um remédio para dormir e se você me chamou eu não escutei.

— Tudo bem, eu dormi no quarto de hóspedes.

— Chegou muito tarde ontem?

— Um pouco.

— Conseguiu escrever alguma coisa?

— Não.

— Espero que consiga.

— Eu também.

Pego uma xicara e me sirvo de café preto. Pego uma panqueca e como devagar. Olho para Vanessa e ela também come. Acho que aos poucos voltaremos a ser o que éramos antes. Depois do café vou para meu escritório tentar escrever alguma coisa. Algum tempo depois, Vanessa bate na porta e entra.

— Vou ao mercado comprar alguma coisa para o almoço.

— Tudo bem.

— Eu não achei a chave do carro.

— Ah, deixa eu lembrar onde coloquei ontem.

Saio do escritório e ela me acompanha, vou para o nosso quarto e procuro a calça que estava ontem, vasculho os bolsos e encontro.

— Pronto, achei.

Lhe entrego as chaves e ela sai do quarto. Volto para o escritório e tento pensar em alguma ideia para uma história nova, mas a noite que fomos ao hospital sempre surge nos meus pensamentos. Aquele monte de sangue em cima da cama, o desespero de Vanessa, seu grito. Eu não consigo me concentrar.

Vou a minha estante e escolho algum livro para ler. Consigo ler por algum tempo, depois vou para a mesa e tento escrever alguma coisa.

Eu sou um escritor de merda sem ideias.

Escrevo e risco o papel, eu nunca tive um bloqueio assim antes. Sempre tinha algo para escrever. Sempre consegui me expressar. Mas agora, tudo mudou. Quando olho no relógio já são meio-dia. Vou até a cozinha e Vanessa ainda prepara nosso almoço.

— Precisa de alguma ajuda?

— Não, já terminei tudo. Já podemos almoçar se quiser.

Vou a dispensa e trago os pratos e talheres, escolho um vinho e duas taças. Sentamos, nos servimos e começamos a comer, abro a garrafa de vinho e coloco nas taças. Vanessa toma um gole de vinho e começa a comer.

— Querida, vamos sair para jantar hoje.

— Roland, eu não acho uma boa ideia.

— Por favor, vamos sair um pouco de casa, tentar seguir em frente.

— Acha que não estou tentando seguir em frente?

Ela para de comer, deixa os talheres no prato e me encara.

— Vanessa...

— É difícil para mim e você não entende.

— Eu não entendo porque você não conversa comigo. Eu só quero que sejamos felizes de novo.

Me exalto um pouco.

— É muito fácil falar isso, eu não consigo esquecer e assim eu não consigo seguir em frente.

— Não falo em esquecer Vanessa e sim superar. Nós nunca vamos esquecer o que aconteceu.

— Eu preciso de mais tempo, você deveria entender isso.

— Eu só quero ajudar. Nos ajudar.

— Eu só queria ter um filho.

— Ness, nós tentaremos de novo.

Seguro sua mão. Ela me olha e não diz nada. Vejo que ela segura o choro. Penso em confortá-la, mas resolvo não fazer. Terminamos de almoçar e o clima não ficou lá muito agradável. Ajudo a arrumar tudo depois que almoçamos e vou para o quarto tirar um cochilo. Vanessa aparece um tempo depois e se deita também. Ficamos em silêncio por longos minutos.

— Roly.

— Sim.

— Adoraria sair para jantar com você.

Viro e olho para ela que está deitada olhando para teto, depois ela volta seu olhar em mim, nos encaramos.

— Hoje?

— Se você quiser.

— Eu quero.

— Tudo bem.

— Quer conversar?

— Não.

Balanço a cabeça positivamente. Encosto a cabeça no travesseiro e tento dormi um pouco. À noite, como prometido saímos para jantar. Tivemos uma noite agradável, toda nossa conversa envolveu assuntos triviais. Nada muito pesado ou que lembrasse o aborto. Tive a certeza que superaríamos isso e logo poderíamos ser felizes novamente.

 

Vanessa

1 mês depois

Já se passaram dois meses que perdi meu bebê. Foram meses de muitas dificuldades e superações. Tentei lidar com tudo isso da minha maneira, Roland não aceitava muito bem, ele me cobrava que eu me abrisse com ele, que conversasse, mas eu não queria isso, eu sabia que ele também sofria, que ele queria esse filho tanto quanto eu. Mas eu não consegui confortar ele do jeito que eu estava. Estava quebrada e não conseguia concertar ele sem antes me concertar.

Aos poucos vou voltando a ser o que eu era e começo a me recuperar. Roland sai todos os dias tentando escrever, mas quase sempre volta para casa bêbado e sem nenhuma palavra escrita no seu caderno. Nosso casamento está em crise e não conversamos sobre isso, tentamos seguir nossas vidas como se nada tivesse acontecendo e como se não estivéssemos com problemas.

Alguns dias se tornam bem agradáveis e conseguimos passar algum tempo sem brigas e sem cobranças. Em dias assim acabávamos fazendo sexo. Superei esse longo tempo sem ter vontade de ter relações com Roland. Ele como sempre esperava meu tempo e não me cobrava. Acho que podíamos estar em crise, podíamos estar brigados, mas quando fazíamos amor eu sempre me sentia bem nos seus braços, parecia que era a coisa certa, e por algumas horas, nós realmente estávamos bem.

[...]

2 meses depois

O tempo realmente vai curando as coisas. A cada dia minha dor vai diminuindo e as coisas com Roland vão melhorando. Estamos saindo toda semana para algumas festas, coquetéis ou jantares, tudo muito sofisticado, tentamos nos divertir juntos de novo. Levamos uma vida bem agitada com muitos convites para todo tipo de programa.

Hoje é domingo e acordo muito cansada, chegamos bem tarde e Roland ainda estava todo animado. Sento na beirada da cama e crio coragem para levantar, olho para Roland e ele está com a bunda descoberta e parece não sentir frio, levanto e o cubro, vou ao banheiro e tomo um banho, lavo o cabelo e removo a maquiagem.

Saio do chuveiro e procuro minha toalha, vou ao closet e pego uma roupa. Vou para o quarto e Roland ainda dorme profundamente. Resolvo ir fazendo o café primeiro, depois desço na mercearia perto de casa e vou comprar uns pães e leite fresco. Quando volto, Roland está na cozinha procurando alguma coisa, ainda de roupão.

— Bom dia.

— Bom dia, procurei você em casa e não te achei.

Ele se aproxima e sela nossos lábios.

— Desci para comprar pão e leite, trouxe seu jornal também.

— Obrigada querida. Estou faminto também, vou fazer o café.

— Tudo bem, vou arrumando a mesa.

Vou pegando nossas xícaras, queijo, meu suco de laranja, manteiga, deixo tudo no ponto para comermos.

— Você gostou daquele restaurante, Nessa?

— Sim gostei, mas o atendimento não era muito bom.

— Isso é verdade, ficou a desejar, mas no geral eu gostei.

— A comida era deliciosa e aqueles drinks especiais, fizeram sucesso, estou com uma dorzinha de cabeça.

Sorrio.

— Eu percebi que gostou dos drinks, ficou bastante animada.

Ele me encara sorrindo.

— Não gostou?

— O que? Se eu não gostei? Que tipo de pergunta é essa? Lógico que gostei, Nessa.

— E porque fica falando essas coisas?

— Era apenas brincadeira, não queria chatear você.

— Não estou chateada, mas você fala umas coisas que não gosto.

— Vanessa por favor, tivemos uma noite maravilhosa, nos divertimos, eu não quero brigar com você por algo sem sentido como isso.

— Não estamos brigando.

— Nossas brigas sempre começam assim, por algo sem sentido e depois explode tudo.

— Tudo bem, desculpe. Vamos tomar café.

Roland falou algo que acabou me tirando do sério, eu não sei porque tive essa reação, esse último mês venho sentindo muita coisa que normalmente eu não sinto, estou muito emotiva, as vezes zangada, as vezes chateada, as vezes triste e outras com muito tesão. Acabo descontando nele, sem nem merecer isso, mas as vezes viro uma megera e ele ainda me ama.  

— Eu não entendo você.

Ele diz sem me olhar, parece que ele ficou chateado. Ele coloca o café na mesa e senta. Me sento a sua frente e olho para ele.

— Eu sei, as vezes eu também não.

— Às vezes eu acho que você faz as coisas para me magoar.

— Roland isso não é verdade, eu não quero te magoar.

O encaro com minhas mãos no queixo, ele está chateado.

— Não é essa a impressão que tive durante esses últimos meses.

— Eu sei que passamos e que estamos passando por um momento difícil, mas estamos aqui, quero superar isso com você.

— Vanessa...

— Diz o que quer falar. Qualquer coisa, eu aguento.

— Você mudou.

— Eu sei, eu mudei. Mas você também mudou, nós mudamos Roland.

— Muitos meses fugimos dessa conversa, reprimi muito sentimentos, raiva e mágoa.

— Está zangado comigo?

— Não com você, a situação toda. Mas nunca conversamos sobre isso, vamos só deixando de lado.

— E o que você que conversar?

— Você sabe o que é.

— Sim, mas diga você, quero ouvir o que tem a dizer.

— Agora?

— Sim Roland, estamos aqui, por que não...

— Tudo bem. — vejo ele suspirar. — Nós passamos por aquela situação e você estava mal, eu estava mal, mas não conseguimos confortar um ao outro.

— Eu precisava de espaço, você sabe disso.

— Eu sei, mas acho que se você deixasse eu ficar ao seu lado, nós poderíamos... sei lá, melhorar a situação, eu queria ficar ao seu lado.

— Eu sabia que você estava lá Roland, eu sabia.

 

Roland

— Vanessa, mas eu não sabia se você estava lá, se ia voltar para mim, nunca te vi daquele jeito.

Nosso café da manhã ganhou um tom pesado, uma conversa que a muitos meses eu queria ter com minha esposa, algo que me incomodava e que não conseguia esquecer, mesmo fingindo que estava tudo bem entre nós.

— Eu nunca passei por nada parecido, não vou mentir para você, acho que nunca vou conseguir ser eu mesma de novo.

— Acho que você está se precipitando, aos poucos você vai conseguir se recuperar. Muitas pessoas passam por isso Vanessa e superam, juntas.

— Eu sei que você só quer ajudar, agradeço por isso, porque mostra que você se importa, mas eu não sei Roland, vamos esperar o tempo passar.

— Vamos tentar de novo?

— Você quer?

— Sim, muito.

— Eu não sei se aguento outra perda dessas.

— Nessa, vamos conseguir da próxima vez, eu acredito.

— Você acha?

— Sim, meu amor.

— Pois vamos tentar, lembro que o médico disse que temos que esperar uns 6 meses para tentar de novo, falta pouco.

Olho para ela e vejo o tanto que ela é vulnerável. Ela só precisava do tempo dela para superar tudo e eu demorei a perceber isso, e acabava cobrando dela e ela ia se afastando de mim.

Levanto e vou em sua direção. Ela me encara ainda sentada, fico ao seu lado em pé.

— Levante.

— O que está fazendo?

— Eu só quero abraçar você, essa é a primeira conversa sincera que temos há meses.

Ela se levanta e sorri olhando para meus olhos, observo seu rosto e vejo o quanto Vanessa é linda e que eu não digo muito isso para ela. Envolvo meus braços nas suas costas e a abraço forte, ela encosta a cabeça no meu ombro, passo minha mão no seu cabelo ainda molhado, sinto seu shampoo de lavanda. Sinto ela levantar a cabeça e me olhar, ela passa suas mãos delicadas no meu rosto. Ela me dá um sorriso e aproxima seus lábios dos meus, nós beijamos, agarro ela pelo quadril e aprofundo nosso beijo, ela se solta dos meus lábios e beijo seu pescoço, seus braços me envolvem forte.

— Eu te amo, Nessa.

Olho nos seus olhos e digo, há muito tempo não digo isso a ela.

— Eu também Roly.

Ela sorri e me dá um selinho.

— Vamos tomar café porque ainda estou faminto.

— Também.

Sentamos novamente nos nossos lugares e tomamos nosso café da manhã. Olhei para minha esposa e vi ela se abrindo novamente para mim, vi um sorriso sincero no seu rosto, vi ela tentando que déssemos certo, fiquei feliz, sua reação foi a melhor possível.

Terminamos de tomar café e fomos nós sentar no sofá, hoje é domingo e vamos passar o dia em casa, sem compromissos, sem visitas e sem livro para escrever, apenas nós dois.

— Roly acho que você deve dá uma parada da bebida.

Ela fala passando a mão na minha coxa. Olho para ela e sorrio.

— Acha que estou exagerando?

— Sim, acho.

— Eu não consigo escrever, eu não conseguia te ajudar, eu só tinha isso querida.

— Você podia procurar outra coisa para ocupar sua mente, você chega em casa muitas vezes bêbado e isso não ajudou ninguém.

— Me ajudou a esquecer um pouco, Nessa.

— Os problemas continuam aqui querido.

— Eu sei, vou tentar diminuir.

— Obrigada.

Vanessa faz uma cara feia e passa a mão na barriga.

— O que foi?

— Acho que a comida não me fez bem, estou um pouco enjoada.

— Quer vomitar?

— Não, não. Só um mal-estar. Já já passa.

Ela massageia a barriga enquanto conversávamos e sua cara começa a ficar pálida, num piscar de olhos ela sai correndo em direção ao banheiro social e vou atrás. Quando chego, vejo ela vomitando todo seu café. Lava o rosto e limpa a boca.

— Meu Deus Nessa!

Ela vem em minha direção e vamos para o sofá, pego uma toalha de papel no banheiro e limpo seu rosto.

— Foi só a comida, melhoro daqui a pouco.

— Se você se sentir mal de novo, vamos para o hospital.

 — Tudo bem, mas não vai precisar.

Passamos o dia em casa e realmente Vanessa não passou mal novamente, o que foi um alívio, não gostava de ver ela doente. Mas no outro dia, depois do café ela vomitou de novo. E durante a semana seu vômito estava constante. E ela se recusava em ir a médico.

— Vanessa isso não é certo.

— Roland meu estômago está sensível, não é nada.

— Sabe o que eu acho?

— Não, o que você acha?

— Acho que esses seus enjoos matinais significam só uma coisa...

— O que Roland?

— Está grávida querida.

Ela me olha incrédula.

— Roland eu não estou grávida, menstruei no mês passado no dia... deixa eu lembrar...

Seu olhar é de pura confusão, ela tenta lembrar quando ela menstruou a última vez e nada.

— Nessa, presta atenção, todos os sintomas estão aí na nossa cara: vômitos, mudanças de humor, sua libido aumentou... amor me escuta — me aproximo dela e ela me olha assustada.

— Não Roland, não é possível, eu estou tomando a pílula, minha menstruação está vindo.

— Quando foi que tomou a pílula?

— Eu tomei esse mês.

— Nessa, tem certeza? Não está confundindo?

— Claro que não, vou olhar na minha agenda meu último dia e olhar minha cartela de comprimidos.

Ela vai para nosso quarto e procura sua agenda, olha sua cartela, seus olhos se arregalam.

— Eu não acredito, Roland acho que estou grávida mesmo. Eu parei de tomar o remédio faz mais de dois meses e minha última menstruação faz esse mesmo período, como eu não me liguei nisso antes, estava achando tudo normal.

— Amor vamos ter nosso bebê! Estou muito feliz.

— Vamos ter calma, vamos ao médico fazer o exame de sangue e ter certeza, não vamos comemorar ainda, certo?

— Tudo bem, mas eu tenho certeza disso.

— Estou com medo.

— Não fique, vai dá tudo certo dessa vez.

Abraço ela forte e acho que já estamos comemorando essa notícia. Vanessa fica emocionada e começa a chorar no meu ombro, tento confortá-la e decidimos ir marcar logo sua consulta.

 

Vanessa

Descobri estar grávida assim do nada me deixou em choque, eu e Roland não planejamos, mas aconteceu, isso podia significar alguma coisa. Mas meu coração não deixa de ficar receoso com tudo isso, o medo me assombra e fico tenebrosa.

Fiz o exame e o resultando não deu outra coisa: GRÁVIDA. A médica disse que pelo ultrassom e as medidas do feto estou de aproximadamente 5 semanas. Ela disse que como já tive histórico de aborto, tenho que ter cuidado redobrado, não fazer esforço e descansar muito, minha gravidez pode ser de risco e esse primeiro trimestre é o mais delicado.

Eu e Roland andávamos mais felizes do que nunca, ter nosso filho era tudo que precisamos no momento. Nós estávamos resolvendo nossos problemas e muita coisa já foi resolvida. Finalmente nós entendemos e superamos tudo ou quase tudo. Eu estava tentando ter uma gravidez tranquila e ele me ajudava nisso.

Mas parecia que a natureza não queria ajudar, eu passava muito mal e acabava indo parar no hospital, sentia tontura, enjoos e desmaiava com frequência. Mas a médica dizia que era normal e que eu tinha que cuidar muito bem da alimentação e tentar ficar tranquila com tudo. Eu andava com medo de tudo, tinha medo de sair de casa, medo de ir ao mercadinho, eu andava assustada com tudo e qualquer dor que sentia eu achava que estava perdendo o bebê de novo e eu não aguentava isso.

Completei 8 semanas de gravidez e estava tudo saudável comigo e com o bebê, minha obstetra sempre dizia para não me preocupar e seguir todos os conselhos dela que tudo sairia como o previsto. Eu tentava acreditar nisso, mas era difícil ter 100% de confiança.

— Nessa, está sentindo alguma coisa?

Estou olhando pela janela do nosso quarto, pensando demais sobre isso.

— Não, estou bem, não se preocupe.

Ele se aproxima e puxa uma cadeira e senta ao meu lado, ele passa a mão na minha barriga e faz carinho e conversa com o bebê.

— Eu não vejo a hora de colocar as minhas mãos nele ou nela.

— Roly...

— O que foi?

— Eu já conversei com você, vamos esperar mais um pouco.

— Eu quero pensar que dessa vez vai dá certo. Eu quero pensar que ele pode ser um menino ou uma menina. Você deveria estar pensando o mesmo.

— Eu não consigo fazer isso. Eu preciso de mais tempo para acreditar.

— Amor, olha para sua barriga, já aconteceu, ele ou ela já está crescendo aí dentro.

Ele acaricia minha barriga de novo.

— E se tudo der errado?

— Não vai dá, ok? Não pense assim.

— Tudo bem, vou tentar ser otimista.

Eu digo isso, mas é uma tremenda mentira. Eu só estou esperando acordar no meio da noite com algo dando errado. Roland tenta me tranquilizar de todas as maneiras possíveis, mas eu não consigo acreditar. Quero pelo menos sair desse primeiro trimestre e completar 4 meses.

 

Roland

1 mês depois

Passamos esses dois últimos meses cheios de precauções. A obstetra de Vanessa disse que o perigo maior era sair dos 3 meses de gravidez e estávamos tentando fazer isso ocorrer. Foram meses de muitos cuidados e preocupações, Vanessa ainda estava sem querer levar muito a sério que a gravidez iria a diante, ela sempre esperava que algo ruim fosse acontecer. Ainda levamos um susto com ela passando mal durante a madrugada, mas tudo foi apenas um grande susto.

Hoje é dia de consulta, estamos nos arrumando para ir ao médico.

— Querida, estou confiante.

— Eu também, até agora tudo está normal.

— E vai permanecer assim até o final.

— Espero muito por isso.

Terminamos de nós arrumar e vamos, estamos mais que ansiosos.

Chegamos lá a doutora conversa conosco, ela faz o ultrassom na Vanessa e tudo parece bem, ela faz várias recomendações e disse para continuarmos com o cuidado redobrado, mas ela disse que tudo está saudável, o feto já tem 3 cm e escutamos o coração dele bater muito rápido e tudo indica que ele está crescendo muito saudável.

[...]

 1 mês depois

Vanessa andava muito apreensiva. Ela passou mal umas duas vezes e houve um pequeno sangramento, passamos mal bocados, mas nada que fizesse Vanessa perder o bebê.

Hoje é dia de consulta e ela já completa 4 meses, sentimos um grande alívio com o progresso da gravidez e tentamos levar tudo na tranquilidade, queria deixar Vanessa calma e sem preocupações.

Mais uma consulta e tudo indica saúde, Vanessa ainda precisa ter as precauções para não ocorrer nenhum incidente. Saímos do hospital mais calmos.

— Viu, está dando certo.

— É estou mais confiante Roland, mas ainda tenho medo.

— Eu também tenho, mas você está bem, todos os exames estão dando normais. É um grande alívio.

Entramos no carro e vamos para casa. Quando chegamos Vanessa veio com uns desejos, sai desesperado para comprar o que ela pediu para comer.

Passamos a semana muito bem, Vanessa não andava sentindo mais nada, só muito desejos.

Estávamos nos arrumando para dormir em uma sexta à noite, Vanessa tomava seu banho e eu ainda estava no escritório. Estava concentrado, parece que minha inspiração surge de novo e começo a escrever uma nova história. De repente escuto seu grito de longe.

— ROLAND!

Sua voz está assustada, me levanto correndo e vou ver o que aconteceu. Chego no quarto e ela não está, escuto o chuveiro ligado e vou em sua direção, meu coração dispara, tenho medo com o que vou me deparar. Entro no banheiro e vejo sangue dentro do box por toda a área do chuveiro. Vanessa chora com uma mão na barriga e outra mão toda suja de sangue.

— Vanessa, o que aconteceu?

Minha voz sai mais alta do que imaginei.

— Me ajuda, estou sentindo muita dor.

Vou em sua direção e ajudo ela terminar de se limpar, eu já sei o que isso significa, já passamos por isso uma vez. Vanessa chora muito. Vamos para o quarto e visto ela.

— Vamos para o hospital agora.

— Eu não acredito nisso Roland, de novo.

— Nessa, nós não sabemos ainda se aconteceu, vamos ter calma.

— Desceu muito sangue...

— Consegue andar?

— Sim.

— Vamos agora então.

Procuro a chave do carro e Vanessa não para de chorar, chegamos ao hospital e digo o que aconteceu. Ficamos numa sala, Vanessa deita na maca e esperamos o médico de plantão chegar e isso não demora muito.

— Boa noite Vanessa, aqui na sua ficha diz que teve um sangramento.

— Sim, estava tomando um banho e senti uma dor muito grande, quando me abaixei vi o sangue descendo.

— Vamos conferir isso, está grávida de quantos meses?

— Quatro meses.

— Vamos fazer um ultrassom e ver como está o feto.

— Tudo bem.

Vanessa encosta a cabeça no colchão e fecha os olhos. Seguro sua mão e aperto, ela não abre os olhos.

— Vou levantar seu vestido e passar o gel na sua barriga.

Ela responde que tudo bem com a cabeça. O médico começa a passar o aparelho na barriga dela e procura algo, olho para ele apreensivo, ele olha para barriga, olha para tela e nada.

— Doutor!?

Chamo sua atenção, ele negativa com a cabeça e já entendo, Vanessa ainda está com os olhos fechados, seus olhos estão cheios de lágrimas. Eu não suporto e choro também, nem acredito que estamos passando por isso de novo.

— Vanessa sinto muito em dizer, mas o bebê não sobreviveu.

Ela olha para ele sem acreditar. Ela chora que soluça, eu seguro sua mão e me levanto e beijo sua testa, ela encosta sua cabeça no meu peito e chora, chora e chora.

— Vou deixar vocês a vontade.

— Doutor?

Vanessa chama sua atenção.

— O que eu fiz de errado? Isso é minha culpa?

— Vanessa isso não é culpa de ninguém, essas coisas acontecem.

— Eu tive outro aborto com 2 meses de gravidez, acabei ficando grávida antes de 6 meses, isso tem alguma coisa a ver?

— Eu não posso confirmar isso, o indicado é esperar o tempo certo de resguardo para o útero se recuperar, mas muitas mulheres conseguem engravidar antes e levar a gestão adiante. Não vamos pensar nisso agora.

— Doutor, eu só posso ter alguma coisa a ver com esses abortos, eu não aguento mais isso.

— Você não tem culpa de nada. Não faça isso com você agora.

— Nessa para, você não tem culpa, por favor.

Eu peço que ela pare com isso. Ela não pode falar essas coisas.

— Eu vou deixar vocês a vontade e depois volto, precisamos retirar os resquícios do feto de você, não é muito agradável, mas é necessário para evitar infecção.

— Faça logo.

Sua voz sai séria e áspera.

— Nessa vamos esperar um pouco.

— Não, eu quero me livrar disso e sair daqui, agora.

— Nessa...

— Doutor por favor.

— Tudo bem, vou chamar a enfermeira e trazer o material.

Ele nos deixa a sós e olho para ela, ela volta a chorar e encosta a cabeça no meu corpo.

— Amor, olha para mim, nós vamos superar isso, por favor me escuta.

— Eu não aguento mais isso, nunca mais quero passar por isso de novo.

— Amor, não vamos mais passar por isso, eu prometo.

A enfermeira entra e prepara tudo, Vanessa já tinha tomando um remédio para dor.

— Se o senhor quiser pode sair da sala.

— Não, eu quero ficar com minha esposa.

— Roland não é algo legal para você ver, eu vou ficar bem, me espera lá fora.

Hesito enquanto posso, Vanessa insiste para eu sair, acabo aceitando e deixo ela com a enfermeira e o médico.

Saio da sala e me abaixo, não consigo segurar o choro e fico sentado no chão por alguns minutos, depois vou ao banheiro jogar uma água no rosto, estou péssimo, tento me recompor para falar com Vanessa.

Meia hora depois o médico sai da sala e diz que posso entrar. Converso com o médico e ele diz que Vanessa está melhor e que parou de chorar. Entro no quarto e ela está deitada de lado na cama, me aproximo devagar e deito na cama com ela, a abraço forte e ela fica calada.

— O doutor disse que precisa ficar aqui a noite toda em observação.

— Ele me falou.

— Vamos ficar bem, querida.

Ela me olha e vejo lágrimas descendo pelo seu rosto. Passo meus dedos levemente no seu rosto e beijo sua testa, ela me abraça e fico surpreso. Não sei como vamos superar mais essa perda, demorou tanto para conseguirmos nos entender, e agora fica difícil saber. Passamos a noite em silêncio, eu tentava puxar assunto, conversar um pouco e ela ficava na dela, respondia alguma coisa ou outra. Acordamos cedo e o médico vem dá a alta e vamos para casa. 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem. Beijos.



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