Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 5
5 – O diagnóstico




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678132/chapter/5

Os pais conversaram muito com Denis para que ele aceitasse ir às consultas médicas e fizesse os exames. Denis não gostava nem um pouco de ir em médicos, tomar injeções e muito menos fazer exames. Ele ia no médico somente quando estava muito doente e não tinha outro jeito. O clinico geral não encontrou nada de errado no garoto, além de sintomas características da adolescência e do excesso de hormônios. Em todo caso, o médico pediu mais alguns exames, para ter certeza.

Mais tarde, no mesmo dia, Denis foi ao oftalmologista. Ao sair do consultório, a mãe de Denis, que estava acompanhando-o, saiu com uma expressão tensa e preocupada, abraçando o filho com um dos braços.

— Vai ficar tudo bem! – A mulher repetia para o filho, que permanecia calado, durante todo o caminho de volta para casa.

Nos dias que se seguiram, foram feitas mais consultas e mais exames oftalmológicos. Denis foi diagnosticado com coroideremia, uma doença hereditária ligada ao cromossomo X, caracterizada pela perda progressiva da visão. A perda da visão noturna é o primeiro sintoma da doença, que a medida que progride causa a redução do campo visual e na acuidade visual.

Sendo uma doença genética, Leonardo também passou por exames, mas felizmente o gene doente não foi transmitido à ele. A mãe de Denis era a portadora do gene com a doença, mas por ser filha única e não ter muito contato com os outros familiares, nunca souberam de casos da doença na família. Além disso, em geral a coroideremia se manifesta mais em homens, sendo uma condição muita rara.

Os médicos disseram haver pesquisas para o tratamento da doença, que apesar de promissoras, ainda não eram aplicadas em pacientes. Não havia muito o que podia ser feito, além de acompanhamento médico para monitorar a progressão da perda de visão.  

Quando chegou em casa, Denis entrou em seu quarto e bateu a porta. Foi jogar um jogo de computador, desses que o jogador sai atirando para todos os lados. Não queria falar com ninguém sobre a doença ou ouvir ninguém comentando sobre isso. Ele não compreendia porque dentre tantas pessoas no mundo, logo ele foi ter essa doença. Desejou até mesmo que fosse o irmão que a tivesse e não ele.

Denis não quis mais jogar futebol no time da escola. Ele não estava tão bom para defender as bolas e os médicos o aconselharam a não fazer atividades que forçassem muito os olhos. Aliás, o mais provável é que dentro de pouco tempo ele não conseguiria nem mesmo assistir à um jogo sem perder muitos detalhes e acontecimentos importantes.

Nas consultas médicas, os médicos quase não falavam perto dele, deixando os detalhes para serem explicados em outro momento para os pais. Denis passou a se consultar semanalmente com uma psicológica. Os pais estavam preocupados com o impacto que a descoberta da doença causou e ainda poderia causar no filho à medida que se desenvolvesse.

A família tentava não tocar no assunto, tentando deixar as coisas o mais normais possíveis. Mas Denis percebia o olhar cheio de lágrimas da mãe todas as vezes que olhava para ele, o pai sempre dizendo que tinha muito orgulho dele e o irmão sempre em frente ao computador ou um livro grosso, pesquisando sobre a doença e o que fazer para ajudar.

Na escola, os professores passaram a preparar provas com letras maiores e todos os trabalhos eram em grupos de dois ou mais alunos, por mais simples que fosse. Os pais de Denis se reuniram com os professores e explicaram a situação do filho e o melhor seria que as adaptações à baixa visão já começam aos poucos, de modo que o garoto não sentisse tantas mudanças à medida que fosse ficando mais difícil enxergar com clareza.

No geral, a turma toda achavam que as aulas estavam ficando mais legais, porque não ficavam mais a maior parte do tempo copiando matéria do quadro e as aulas tinham mais dinâmicas e debates. Mas Denis não estava gostando. Ele passava o tempo todo da aula calado, sentado na primeira carteira, com o professor sempre ao seu lado. Alguns professores se esforçavam mais do que outros, mas isso não importava para Denis, o que ele queria mesmo era não ter que voltar. Não queria que ninguém sentisse pena dele, muito menos os amigos.

Nos intervalos, Denis e os amigos costumavam ir para a cantina comprar lanche e se sentavam em algum lugar pelos jardins da escola. Às vezes, eles jogavam alguma coisa, outras só jogavam conversa fora. Mas Denis passou a preferir levar lanche de casa e ficar sentado em frente à sala de aula, comendo seu lanche, em silêncio e sozinho. Os amigos conseguiam arrastá-lo vez ou outra, mas ele se tornava cada vez mais fechado e rabugento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mesmo se não der certo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.