Acampamento Olympus escrita por Cris de Leão
Passaram-se nove meses e Piera já estava no hospital para dar a luz.
Donatela mandou chamar Paolo que veio a contragosto.
— Ela já está na sala de parto.
— Hum – resmungou.
— Que foi, vai desistir? – perguntou com a sobrancelha levantada.
— Não, eu disse que ia assumir não disse?
— Vai levar o bebê pra sua casa?
— Não, Maria não quer que leve pra lá.
— Que coisa não? Maria é mais esperta do que pensei – disse sorrindo. – Nós dois a subestimamos.
— Ela ainda não me perdoou – disse amargo.
— Vai demorar ela confiar em você de novo – disse ela. – Nico e Bianca já sabem que vão ter uma irmã?
— Só Bianca sabe e ela não fala mais comigo – disse triste.
Donatela olhou o irmão de lado. Você cavou sua própria sepultura — pensou.
Nisso uma enfermeira chega com o bebê no colo.
— Senhora Di Angelo.
Donatela e Paolo levantam-se. A enfermeira entrega o bebê a Donatela.
— Correu tudo bem ela está sendo levada para o quarto.
— Obrigada.
A enfermeira se retira.
— Parabéns irmãozinho, você é pai novamente.
Paolo olha para o bebê que era um pouco parecido com Piera, mas tinha a pele pálida como a sua.
— Pegue – Donatela coloca o bebê nos braços do irmão que ficou um tanto sem jeito. – Tome cuidado.
Paolo tomou o bebê nos braços e ficou olhando para ele. Sentiu uma ternura inexplicável. Aquela criança era sua filha, afinal, embora, fruto de sua concupiscência*.
— Não seria melhor esperar um pouco, ela vai precisar de leite materno – disse Paolo.
— Piera não quer a criança e nem pense em dar pra trás – ameaçou. – Suma logo daqui.
Donatela vira as costas e vai até o quarto da filha. Paolo suspira e se retira com o bebê. Foi até a uma ala do hospital onde as mães lactantes coletavam leite para doação. Lá já havia uma enfermeira esperando, ele entrega o bebê e aguarda. Enquanto espera ele liga para Alberta*, a babá contratada para cuidar do bebê.
— Pois não senhor.
— Daqui a pouco estarei aí. Já está tudo arrumado?
— Sim senhor.
— Muito bem – ele diz e desliga.
Paolo ficou pensando nos acontecimentos desses nove meses. Maria continuava arredia, ela não o havia perdoado, não tinham mais intimidades, não dormiam mais no mesmo quarto. Bianca já não sorria mais para o pai e nem o abraçava mais. Suas visitas eram breves e era só para ver a mãe e o irmão, quanto a Nico continuava fugindo dele, seu namoro com o tal do Percy estava cada vez mais firme. Ele frequentava mais a casa do namorado do que a sua. Quando estava em casa se trancava no quarto e só saía para comer ou quando Jason ou o namorado vinha visitá-lo. Paolo já não sabia mais o que fazer, por isso comprou um pequeno apartamento num prédio perto de sua casa, comprou mobília simples e mandou decorar o quarto do bebê. Contratou uma babá permanente para cuidar da criança. Logo levaria o bebê para lá.
Nisso a enfermeira volta com o bebê já alimentado. Ela lhe entrega alguns frascos com leite materno. Paolo agradece e se retira.
Quando entra no apartamento Alberta já o esperava.
— Boa tarde senhor – ela cumprimenta.
— Boa tarde Alberta – ele retribui. – Pegue. Esses são os frascos com leite que me entregaram no hospital.
A garota pega os frascos e os coloca no congelador. Depois pega o bebê e o leva até o quarto colocando-o no berço.
— Preciso ir Alberta, qualquer coisa me telefone – recomendou.
— Pode deixar senhor – disse a moça.
— Obrigado – agradeceu e se retirou.
Paolo voltou para casa mais sossegado. Alberta já era experiente nesse ramo, ela foi babá de Nico logo que chegaram a América. Ele e Maria trabalhavam fora, Bianca estava terminando o ensino médio e não tinha tempo de cuidar do irmão, por isso, seu sócio, o senhor Tenório* indicou sua sobrinha Alberta que na época estava desempregada. Nico gostou da moça de imediato. Alberta era uma boa companhia para o garoto falante que era o Nico. Os dois se deram muito bem. Agora novamente ela cuidaria de mais uma cria sua. Alberta era muito discreta e não fazia perguntas.
Ele voltou para casa e encontrou o filho sentado ao lado do namorado na frente da TV jogando vídeo game.
— Boa tarde – ele cumprimenta.
— Boa tarde senhor Di Angelo – cumprimenta Percy.
Nico permanecia mudo, Percy dá um cutucão nele.
— Boa tarde – disse sem emoção.
Paolo se retira e sobe as escadas para o quarto.
— Vocês dois ainda não fizeram as pazes? – Percy perguntou.
— Eu não consigo Percy – disse Nico largando o console. – Não consigo.
— Calma, Nico, não precisa ficar nervoso – disse Percy abraçando-o.
— Ele me deixa assim – disse. – Meu pai causa esse efeito nas pessoas.
— Tudo bem, tudo bem, não vamos mais falar nisso tá bem? – disse Percy levantando seu queixo. – Vem cá – ele beija os lábios de Nico que retribui. O beijo começou calmo, Percy pede passagem com a língua e Nico concede. Os dois embarcam num beijo apaixonado, nem ligando se tinha alguém olhando. O fôlego faltou e eles foram obrigados a se separarem. Sorriram um para o outro.
— Eu amo cada vez mais você Nico – Percy diz olhando o namorado nos olhos e acariciando seu rosto.
— Eu também te amo muito Percy – disse com o rosto corado.
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Maria chega em casa cansada, mas feliz. Sua agência foi escolhida para a organização do desfile da estilista Marlene Bonelle. Ela entra e vê o filho no sofá com o namorado os dois estavam concentrados no beijo que nem notaram a sua presença. Maria sorriu e se afastou, pelo menos você tem alguém que te ame de verdade — pensou. Ela sobe as escadas e vai para seu quarto tomar um banho relaxante. Ao passar pelo quarto de hóspedes ela vê as luzes acesas, isso significava que Paolo já voltara do hospital. O bebê de Piera ia nascer hoje. Ela ficou parada na frente da porta se perguntando para onde ele levou a criança. Fez menção de bater, mas a porta foi aberta antes.
Paolo deu de cara com Maria parada na frente da porta, ficaram algum tempo se olhando e então disse:
— O bebê já nasceu. É uma menina.
— E Piera, está tudo bem com ela?
— Sim, está tudo bem. Donatela ficou com ela no hospital.
— E... você já deu um nome a ela?
— Eu estava pensando em Marcella*, o que acha?
— É um belo nome – os dois ficaram meio sem graça. – Eu vou tomar um banho e já desço pra fazer o jantar.
— Tudo bem, eu vou pro meu escritório.
Maria se retira e entra em seu quarto, fecha a porta e se encosta nela com os olhos fechados. Ela no fundo sentia um pouco de pena do marido. Ele estava realmente arrependido, mas era difícil para ela perdoá-lo, pois a consequência de seu erro iria viver entre eles, a presença daquela criança faria com que ela lembrasse de que seu marido a traiu ou pior que ele abusou de uma jovem só para satisfazer um desejo errado. Não, ela perdeu toda a confiança nele, não conseguia mais suportar que a tocasse, por isso passou a ignorá-lo, só falando o necessário. E ainda tinha o Nico que também não conseguia ver o pai como antes. Desde que Paolo ignorou o filho por tanto tempo que o próprio também o tratava do mesmo jeito. Imagine se ele soubesse o que o pai aprontou, ao invés de ignorá-lo ele iria odiá-lo. Por isso, Maria achou melhor não agravar a situação entre eles, somente Bianca estava a par de tudo. A filha não fala mais com o pai, nem se despediu dele quando voltou para a Itália com o marido. E agora isso, mais um problema, esperava que dessa vez Paolo aprendesse a lição.
Tomou um banho relaxante. O dia hoje foi bem proveitoso, mas cansativo. Depois desceu e foi até a sala. Percy ainda estava lá.
— Boa noite – ela cumprimenta.
— Mãe – Nico vai até ela e a abraça. – Quando você chegou, eu não vi.
— Agora a pouco – disse retribuindo o abraço. – Você estava um pouco ocupado – disse ela cochichando.
Nico ficou vermelho na hora.
— Boa noite Percy, janta conosco? – ela pergunta.
— Amm... não sei – disse ele em dúvida.
— Ah, por favor, fique eu faço questão – disse ela.
— Está bem, eu aceito – disse sorrindo.
— Ótimo, fiquem à vontade – ela diz e se retira.
O jantar estava delicioso. Maria contava as novidades para os presentes. Paolo observava, mas não participava da conversa. Nico sorria, até Percy interagia com a esposa, Maria conseguia envolver as pessoas em conversas descontraídas ela era uma ótima anfitriã. Depois do jantar todos foram para a sala conversar. O assunto era o futuro.
— Como eu gosto muito da vida marinha, eu quero me formar em oceanografia – disse Percy. – Meu pai queria fazer exatamente isso, mas como ele era o único herdeiro do meu avô ele teve que mudar de ideia. Passou a fazer administração de empresas, mas nunca deixou de lado a oceanografia. Esse passou a ser o seu hobby – disse. – Ele me falava tanto do seu sonho de ser oceanógrafo que eu resolvi que quero me formar nessa profissão.
— Isso é lindo Percy – disse Maria. – Você tem tudo a ver com o mar.
— Obrigado senhora Di Angelo – disse sorrindo.
— E quanto a empresa de seu pai, quem ficará na administração? – perguntou Paolo.
— Meu irmão mais velho Tommy que quer seguir a mesma carreira do papai – disse Percy. – Ele terminou o ensino médio e está fazendo faculdade de administração na mesma universidade onde o papai estudou.
— Parece que o senhor Jackson já tinha tudo planejado, ele já sabia exatamente o que esperar dos filhos – disse Paolo de cabeça baixa lembrando que ele também já havia planejado o futuro de Nico, mas por sua falta de interesse no filho perdeu essa oportunidade. Nico sequer falava sobre o assunto. Ele não tinha nenhuma perspectiva na vida, pelo menos que ele tivesse conhecimento.
— Meu pai sempre se interessou em nosso futuro, quando nos reuníamos ele falava da sua juventude quando trabalhava com o vovô nos barcos de pesca – disse nostálgico. – Ele contava as suas aventuras no mar. Ele gostava de mergulhar e por isso ele se apaixonou pela vida marinha.
— Você tem um pai excelente Percy, eu mesma pude comprovar isso quando o conheci – disse Maria lembrando quando o viu no aeroporto. – Você é um garoto de sorte – disse olhando de soslaio para o marido que ficou sem jeito.
Nisso o celular de Percy toca.
— Oi.
— Já cheguei.
— To indo – respondeu guardando o celular no bolso. – Meu pai já está lá fora. Obrigado pelo jantar senhora Di Angelo, boa noite senhor Di Angelo.
— Boa noite – ele responde.
— Até outra vez – disse Maria.
Nico vai até a porta com Percy. Os dois se despedem com um selinho e Percy vai até o carro em que o pai o espera.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
*Alberta – Alecto *Tenório – Tânatos *Marcella - Macária
*Concupiscência – Anseio pelos prazeres sensuais; desejo sexual exagerado; aspirações por satisfações sexuais. Sinônimo de incontinência, lascívia e luxúria.
Até o próximo.