A vida é com toda certeza entranha, porque quando ela concordou com Temari que distrairia Gaara na hora do intervalo, ela não pensou que iria ser tão difícil, afinal, tudo isso não se passava da mais pura encenação e armação vindo das duas loiras.

            Em sua cabeça, Gaara seria uma pessoa muito fácil de conversar assim a loira não teria muitas dificuldades em arrumar algum assunto para distraí-lo, mas Gaara era tão esperto que fazia duas semanas que ele simplesmente sumia de seu campo de visão toda vez que tocava o sinal do intervalo. Isso desde quando ela tentou conversar com ele há uns dez dias atrás sobre qual estilo de música ele gostava, e ali ela acabou tagarelando sozinha os 20 minutos que faltava para terminar a pausa, mas o estranho era que ele a ouviu, em momento nenhum ele a mandou calar a boca ou coisa do tipo. E durante esses dez dias ela procurou por ele, porque ela era uma menina de palavra.

            Ela se sentia uma idiota por estar procurando ele em vez de estar devorando seu biscoito recheado que lhe aguardava lacrado no seu bolso de trás direito. Essas semanas que se passaram não foram boas para ela e muito menos para Temari que estava sem falar com Shikamaru ou com qualquer outro menino que chegasse perto dela.

            Avistou Gaara quase alcançando Temari no outro lado do local aberto. Muitas pessoas estavam no pátio e sem perceber Ino apressou o passo e em questão de segundos já estava empurrando algumas pessoas para abrir caminho. Ela agarrou o pulso dele o mais rápido que pode, ele, mesmo sem virar pra trás tirou o braço com facilidade da mão magra de Ino, pronto para continuar marchando até a irmã. Ino agarrou mais uma vez o seu pulso, mas desta vez com as duas mãos e fez força para que ele parasse de andar, sem sucesso, ele continuou andando em uma marcha mais lenta.

— Você está me ignorando?

            Os músculos do ruivo ficaram tensos e ele parou de andar. Molhou a boca com a língua e em seguida mordeu os lábios como um tique nervoso.

— Eu não estou te ignorando.

— Ah, mas parece. – Ino o olhou. – Dá pra olhar pra mim enquanto a gente conversa? Não gosto de falar com a parte de trás das pessoas.

            Ele soltou um riso anasalado e sua boca se curvou em um sorriso. Ele se virou.

— Você faz uma tempestade em um copo de água menina.

— Menina não, meu nome é Ino e você sabe disso.

            Ele revirou os olhos com pouco interesse.

— O que você quer?

— Conversar. Achei que tinha ficado obvio.

            Gaara relaxou os ombros, não fazia sentido ele ficar na defensiva com ela, ainda mais depois de todo esse tempo que ele tentou a todo custo evita-la.

— Você sumiu essas semanas.

— Por que, sentiu minha falta? – Ele sorriu sacana.

— Não, mas estava te procurando. – Ela disse rápida.

— Que contraditório. Não sentiu minha falta, mas estava me procurando?

— É. – Ela pensou um pouco, realmente, ela não deveria ter dito aquilo. – Mas eu não te achei de qualquer forma. – Ela deu de ombros.

— Eu estava fugindo de você. – Ela riu. – É sério, não estou mentindo.

~*~

Sakura deu um longo gole no seu suco de laranja e pegou o celular no bolso de trás da calça com a mão desocupada. Desbloqueou e procurou o nome de Hinata, lhe mandou uma mensagem e depois ligou para Naruto.

Coragem. Chamou, chamou.

~*~

Naruto quase cuspiu o refrigerante que estava em sua boca.

— Não acredito. – Ele disse animado. – Estou indo agora mesmo.

— O que houve? – Shikamaru lhe lançou um olhar meio curioso.

— Sakura me ligou e disse que tem um menino do segundo ano tretando com a professora Kurenai. Ela disse que está um estouro lá. – Ele se levantou. – Querem ir?

— Não, estou com preguiça. Depois você me conta. – Shikamaru se apoiou no braço.

— E vocês?

            Ele olhou para o resto dos amigos, Shino estava mais entretido em cutucar a comida e ver se o purê de batata no meio do hambúrguer saia rolando de lá, Chouji estava devorando o lanche de Shikamaru sem ele perceber roubando suas batatas fritas entre as mordidas de seu próprio hambúrguer e finalmente olhou para Sasuke que meio sem vontade estava levantado e pronto para segui-lo.

— Ebba. – Animado, Naruto deu socos no ar.

— Menos Dobe, se não eu não vou com você.

~*~

             Aquilo tudo estava cheirando a carne podre. Quem em santa paciência e coragem iria contrariar a professora de matemática mais temida de toda a escola?

            Sasuke não sabia, mas tudo aquilo tinha duas respostas plausíveis.

            Uma era que, a alma corajosa não temesse perder a vida e se saísse vivo dessa teria um grande status na escola inteira. A segunda era que aquilo tudo não passava da mais pura armação para cima dos alunos, porque afinal de contas tudo aquilo estava cheirando ao Pernil que sua mãe esqueceu no forno por duas noites depois do Natal.

            Sasuke sabia qual era o cheiro de carne podre e... Sentiu braços femininos enroscar em seu pescoço em uma chave de braço, tombou para trás imediatamente, sua agressora era mais baixa que ele, obviamente. Antes que ele pudesse gritar por Naruto, que andava a sete passos a sua frente, sentiu uma mão tapar sua boca. Ele olhou pelo canto dos olhos e viu uma cabeleira rosa, ela o puxou para um canto, um vão entre alguns armários de parede. Ela o soltou quase de imediato e depois entrou no mesmo vão e de frente para ele.

— O que você esta fazendo aqui? — Ela sussurrou com raiva.

            Ele jurava que se ele não estivesse olhando para os lábios da garota quando ela falou, ele não entenderia. Ele a sentiu respirar e pelo espaço apertado e desconfortável começou a respirar em sincronia com ela. O olhar de esmeralda transbordava algo estranho.

~*~

            Tenten era extremamente familiar, com seus cabelos e olhos castanhos escuros ela integrava uma parcela extremamente comum naquela cidade. Deveria ser por isso que Neji a achava estranhamente familiar. Mesmo com aquela aura toda bonequinha que ela geralmente emanava quando estava fazendo algum dever, ele não poderia deixar sua mente se distrair da imagem verdadeira e ameaçadora que é Tenten. Aquela pessoa, aquela garota, estava sendo um grande empecilho em seu futuro.

               Ele deveria fazer algo.

            Mas antes ele tinha alguns problemas para resolver, como por exemplo, o de Naruto.

            Ou o do tal evento “Criando Laços” que iria ocorrer no último final de semana do mês na escola, ele seria obrigado a ficar ali durante dois dias, comer ali, dormir ali e aturar as pessoas que estivessem ali.

            Bufou e se encostou ao tronco da árvore. Pelo menos a sombra dela lhe trazia um pouco de paz ao contrário do resto do mundo.

~*~

— O que esta acontecendo? — Ele sussurrou para ela.

— Escuta, me ajuda a trancar o Naruto naquela sala... — Ela espiou para fora de onde estavam escondidos. – Depois eu te explico. Só me ajuda agora.

~*~

            E iria começar. Olhou para frente confiante e estendeu a mão para ruiva sua amiga, ela por sua vez o olhou.

— Você tem certeza disso?

— Sim, mais do que minha própria vida.

            Na opinião de Karin, aquilo tudo era uma loucura, mesmo sendo ela "a mente brilhante do plano". Sai concordou sem pestanejar com aquilo tudo o que tornava ele ainda mais louco que ela. Ela disse aquilo brincando, mas a brincadeira nunca foi o seu forte e quase todos levavam a sério as coisas que ela dizia.

            Ela agarrou a mão dele, só para depois se perguntar se aquilo tudo era mesmo prudente.

            Andaram de mãos dadas.

~*~

Onde estava a briga? Estava tudo silencioso. Confuso, entrou na porta onde supostamente Sakura disse que a briga estava acontecendo. Parado na soleira da porta olhando para a janela ele tentava processar a ideia de que tinha sido enganado.

Antes mesmo de estar preparado para sair dali ele sentiu um par de mãos o empurrarem para dentro da sala.

Clec.

A porta se fechou.

Tomado por um desespero repentino tentou forçar a porta, que para sua surpresa estava sendo forçada pelo lado de fora também.

— Fecha logo essa porra Sakura. – Ele ouviu a voz de Sasuke soar do outro lado.

— Merda. – Ele disse dando uma investida contra a porta.

Clec.

— Merda, merda, merda. – Ele dizia enquanto forçava a porta sem nenhum sucesso.

Olhou a fechadura, fechada. Rodou a maçaneta com uma pontada de esperança, fechada. Bateu na porta desesperado. Por que eles o trancaram ali?

— Vocês são vacilões. – Ele gritou. – Filhos da polícia. – Ele chutou a porta.

            Por quê?

            Passou a mão pelos cabelos desesperado. Olhou para a janela.

           Seu sangue quente deu mil voltas por todo o seu corpo e como em um processo químico gelou tão rápido quanto esquentou, suas mãos antes fechadas em punho relaxaram os dedos, seus ombros caíram e ele tinha a certeza que estava muito pálido e com olhos arregalados. Mas isso não era muito diferente da menina a sua frente, ela estava mais pálida que o normal e seus olhos de cor lilás estavam muito arregalados assim como sua boca que formava um pequeno “o”.

            Era obvio como nenhum dos dois esperava encontrar um ao outro ali.

— Naruto? – A voz de Hinata soou insegura e um pouco gélida.

              A voz entrou por seus ouvidos, ele teve a certeza de que aquilo não terminaria bem.