Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 5
De novo Garota da Biblioteca


Notas iniciais do capítulo

I'm back! Capitulo da semana fresquinho.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678080/chapter/5

Ao chegar ao pequeno castelo de Romckpay, tento agir da forma mais natural possível.
Estive tentando disfarçar o sangue seco daqueles dois ladrões com esfregões e puxões no manto em uma tentativa de cobrir a parte mais escura e avermelhada nas minhas roupas desde que saí daquela rua. Minha intenção era ser discreta, mas perguntas iriam surgir mandando meu uniforme para lavar depois de uma missão não autorizada.
Olhava para os dois lados da rua por todo o caminho de volta para casa. Eu evitava os olhares que podiam denunciar que eu estava fora da mansão até agora, sem permissão.
Já passava da meia-noite há muito tempo e eu temia estar encrencada, pois a minha permissão para sair não envolvia voltar para cá no meio da madrugada. Principalmente saindo sem comunicar ninguém, como eu havia feito.
Todos os Caçadores já autorizados para sair em missões podiam sair em noites em que não tinham trabalho a fazer, mas isso exigia que o mesmo avisasse algum superior de que estaria na rua. Sabia que isso era uma forma de manter o controle entre os soldados, mas certamente minha responsabilidade de ir até o Blaze Bailey era um tanto confidencial, e eu não podia arriscar falar sobre uma tarefa tão importante para algum oficial que não sabia desse pedido de Romckpay.
Sem falar que eu tinha acabado de roubar e desperdiçar parte dos espólios que pertenciam aos cientistas, e eu não podia deixar ninguém descobrir que eu tinha arrombado a porta e roubado da sala de troféus.
Esperava que o colar de Robert realmente funcionasse, era a única garantia de que todo meu trabalho valeria a pena. Caso contrário, minha noite teria sido uma perda de tempo.
Ao virar no corredor dos quartos, sinto uma mão me puxar com força para um dos cantos, me soltando em seguida. Não preciso dizer nada, Adam já fazia isso comigo há tanto tempo que já não me importava mais. Eu reconheceria seu jeito brusco de me convocar para suas conversas particulares em qualquer lugar.
— Onde é que você estava até agora?-ele me pergunta irritado.- Sabe que horas são?
— Eu estava trabalhando.-digo em tom irônico. Não era mentira, mas é bom que ele perceba que sua irritação não me atinge. Tiro a moedeira com o colar de meu bolso e o balanço perto do rosto do meu melhor amigo.- Fazendo o que você teve medo de fazer.
— Não consigo acreditar que você estava na casa daquele maluco do Fletcher até uma hora dessas! Você é maluca. -exclama.
— Hey, acalme-se, ok?-eu o repreendo.- Está bem tarde e as pessoas devem estar querendo dormir.
Ele me lança um olhar indignado.
— É, eu estava.-admito.- Algum problema com isso?
— E o que é todo esse sangue na sua roupa?-ele questiona apontando para o meu uniforme sujo com uma expressão um pouco preocupada.- Se machucou?
— Não é meu sangue.- o tranquilizo quando olho brevemente para as minhas roupas sujas. Acho que eu mesma terei que lavar meu uniforme no banheiro do quarto para não levantar suspeitas. - Tive um pequeno encontro desagradável com dois ladrões desprezíveis.
— Humanos?-aceno confirmando com a cabeça.- Você os matou?
— Não.-respondo.
Ele respira aliviado.
Mas eu sorrio com maldade ao continuar.
— Só os feri gravemente.
— Você fez o que?-ele grita. Faço um movimento com as mãos como se dissesse abaixa o tom, Adam, está tarde.
Olho ao redor, as poucas pessoas ao nosso redor nos olham curiosos.
— Quer calar a boca?-peço irritada e volto meu olhar para seu rosto de novo.- Eu só dei um susto neles. Duvido que aqueles dois idiotas irão abrir a boca para falar que perderam uma luta para uma mulher. São só dois idiotas medrosos que julgam as pessoas antes de analisa-las, nunca poderiam se juntar à nós. Acho que agora vão ser mais cautelosos. Principalmente quando eles sabem que sou Caçadora. Não vão ter coragem de me atacar mais uma vez. Os amigos deles iriam destruí-los se tentassem. Nem iria ter que me preocupar com isso, afinal, trabalho a menos para todos os servos da lei dessa cidade.
—Você não mede consequências, não?-pergunta começando a ficar nervoso outra vez. - Sabe o que pode acontecer se descobrirem que você saiu e voltou a essa hora toda ensanguentada?
— Não vai acontecer nada!-exclamo apoiando minhas mãos nos ombros de Adam de forma dramática.- Relaxa! Nada vai dar errado.
— Assim espero, Saphira.-diz.- Assim espero.
— E o que são todos esses livros que você está carregando?-perguntei curvando uma das sobrancelhas ao apontar em direção aos livros enormes que Adam carregava com uma das mãos. Uma mão com dedos brancos como papel. Com certeza, ele devia ter trancado a circulação do sangue por conta do peso.
Reconheci as capas pesadas e empoeiradas da seção de artigos e história da biblioteca da mansão. Era uma seção fechada e necessitava de permissão.
— Livros.-respondeu óbvio. Seu sorriso brincalhão sumiu ao ver minha expressão séria. Definitivamente, comentários óbvios não tinham graça quando feitos por outras pessoas.- Também andei trabalhando essa tarde. Encontrei esses livros lá na biblioteca. Aliás, que lugar enorme!
— É, você saberia disso se passasse mais tempo na biblioteca e menos na sala de treinamento.- lembrei-o sem me preocupar com o que sei que ele diria.- Há outras formas de ser o melhor sem precisar interagir tanto com todos os Caçadores que moram nessa mansão. E não são poucos.
— Parece que não importa o quanto eu insista na sua vida social, você não quer mesmo fazer novas amizades, não é?- apenas aceno em negação com a cabeça. Eu sempre fui uma garota de poucos amigos, isso não mudaria tão rápido assim. - Acho que se aceitasse sair um dia conosco, mudaria de ideia. E eu não sou o único a pensar que você deveria focar mais no seu treinamento, ao invés de ler tanto. -ele observou.
Observo Adam mudar de posição antes de pensar em uma resposta. Eu não tinha tempo para essa conversa hoje.
— Não vou começar essa discussão mais uma vez.- apontei já tentando desprezar sua opinião sobre minhas prioridades. - Sabe que ser inteligente é uma vantagem tão boa quanto qualquer habilidade com armas, acho até que te mantém vivo por mais tempo. E isso só se consegue estando em uma biblioteca, e você sabe.
— Não está errado, Saphira, mas isso não muda minha opinião.-respondeu. Eu aceno com a cabeça, prefiro acatar sua forma de lidar com nosso tempo livre antes de começarmos uma verdadeira discussão. Fico feliz quando ele concorda com meu gesto silencioso.- De qualquer forma, todos esses livros fazem alguma menção ao Blaze Bailey e também falam alguma coisa sobre como invadir um lugar como aquele sem morrer. Sei que o Blaze Bailey é mais antigo do que podemos imaginar, e que muda de lugar de tempos em tempos, então imaginei que relatos antigos de humanos que entraram e saíram vivos de lugares feitos por submundanos, para submundanos. Pensei que isso poderia nos ajudar a estudar nossa estratégia para entrarmos lá. Sabermos onde ir primeiro. É de preferência, sairmos vivos de lá para contar nossa história.
Ele sorri.
Me limito a assentir em concordância.
— Infelizmente, é muita coisa para ler, então provavelmente vou passar os próximos três ou quatro dias trancado em algum lugar lendo tudo isso.-o olho interessada. Adam lendo? Isso que é novidade.- O que é uma pena, já que essa é a semana de lua cheia e eu queria caçar com John e os irmãos...
— Espera! Espera!-peço assustada. Eu não podia ter entendido bem.- Essa é a semana de lua cheia?
— Sim, é.-tento reprimir minha surpresa. Droga, eu tinha esquecido!- E eu não vou poder caçar, porquê preciso ler isso.
Ele continua falando, mas não presto atenção até escutar o final da frase.
— Não vou ter muito tempo, de qualquer forma. -ele completa.- A lua cheia é na sexta-feira.
Ai, merda! Eu não tenho muito tempo.
—Eu tive uma ideia melhor.- proponho tentando agir de forma natural.- Por que você não volta para a sala de armas, escolhe suas espadas favoritas e vai caçar lobisomens na sexta-feira com seus outros amigos?-completo e estendo minhas mãos para puxar os livros pesados das mãos de Adam.-Eu leio bem mais rápido do que você. Deixe que eu me responsabilizo em ler todos esses livros e penso em alguma estratégia de fuga para nós.
— Tem certeza?-ele pergunta. Adam deve querer que eu vá também, é uma pena que ele não saiba porquê eu não posso.
— É, claro.-respondo tentando convencê-lo com um sorriso confiante.-Pode ir.
Sorrio.
—Divirta-se!-digo, e dessa vez não estou mentindo. Adam merece se divertir com outras pessoas, considerando o tempo que ele passa me ajudando e me seguindo como um irmão muito protetor.- Eu também vou me divertir com esses livros.
— Você quem sabe.-Adam diz aliviado por não precisar mais perder a caçada de sexta-feira para fazer algo que ele não gosta de fazer. Adam me entrega os livros e me dá um rápido abraço. Fecho minha expressão com o gesto desnecessário, ele sabe que não gosto que me toquem.- Você é mesmo a melhor, Saphira.
Ele me agradece várias vezes pelo favor enquanto caminha de costas pelo corredor, provavelmente para o seu quarto ou então para o refeitório encontrar os garotos. Eu o observo rir feliz por ter se livrado de horas na biblioteca e virar o corredor correndo para longe de mim, da biblioteca e dos livros. Ele nunca gostou de ler como eu. Isso era bom, era uma boa distração para mim.
Eu não me incomodo mesmo que ele desgrude um pouco de mim. Vai fazer bem quando eu tiver que ir embora. Um dia, isso vai acontecer. Não posso fugir para sempre.
Dou de ombros e caminho até o meu quarto, não vou remoer meu futuro de novo. Preciso deixar essa fase para trás.
Chegando ao meu quarto no andar de cima, deixo os livros pesados sobre a minha mesa bagunçada e vou até o banheiro para tentar salvar meu uniforme ensanguentado por culpa daqueles dois garotos humanos idiotas que tentaram me roubar. Abro a porta e verifico pela janela para ter certeza de que estava completamente sozinha antes de tirar a bolsa com o colar que Robert havia criado para mim de dentro do bolso do casaco comprido que usei essa noite e o escondo em uma caixa de madeira onde guardo todos os meus itens importantes, ou até perigosos embaixo da minha cama. Me lembro de trancá-la com um cadeado especial antes de escondê-la sob o colchão de novo.
Depois de guardar minhas coisas e organizar meu quarto, caminho até a janela para fechá-la. Ao olhar para o andar de baixo, vejo Adam conversando com seus amigos no lado de fora da mansão. Nós Caçadores nunca nos importamos com a temperatura para nos impedir de ficar onde queríamos pelo frio extremo ou o calor. Mesmo durante o início de inverno de dias quentes e noites geladas que estávamos enfrentando. Ele se vira de costas para seus amigos e olha para cima, e, quando percebo que me viu olhando-o da minha janela do terceiro andar, acena rapidamente para mim com um meio sorriso. Aceno de volta e assim que ele se vira para seus amigos, fecho a janela e em seguida as cortinas. Eu teria muito a fazer nos próximos dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caçadora da Meia-Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.