Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 1
A Caçadora


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse no disclaimer, a história é original. Embora o nome pareça clichê, prometo que a história não é. Ainda sou um pouco nova nessa história de fanfics e livros :)
Posto mais ou menos uma vez por semana, a menos que as aulas me impeçam. Terceiro ano, muita responsabilidade e tudo o mais.



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Eu corria o mais rápido que podia dos homens atrás de mim, tudo que eu podia fazer era correr. Lembrava a mim mesma todas as coisas horríveis que podiam fazer comigo. Alimentava minha disposição para correr mantendo a cena da forma bruta como arrancaram as dobradiças da porta de minha casa e de como me assustei ao reconhecer suas armaduras de couro e metal e a marca de uma flecha em chamas em seus peitos como um imã de problemas que eles eram, a forma como pouco explicaram quando jogaram a intimação que me reivindicava a eles sobre a mesa de jantar e me agarraram pelo braço com força para machucar enquanto sorriam de forma maligna ao explicar a minha mãe que eu havia passado no teste formal. Sua filha de 8 anos havia passado no temível teste anual que todas as crianças e jovens passavam por todas as cidades e vilarejos da Inglaterra para procurar por novos recrutas para a Caçada. Eles não faziam qualquer distinção entre ricos, pobres, homens, mulheres ou crianças, eles só queriam soldados para morrer no lugar deles durante as caçadas. Que grande azar o meu! Em meu primeiro ano de teste, a pequena Saphira Cartwright havia passado com grande êxito em todos os testes físicos e mentais exigidos de mim dois dias atrás. Como me arrependia de ter pedido ao papai que me levasse para caçar com ele!
Todas essas memórias de brutalidade me faziam correr cada vez mais, tentando ignorar a dor em meus pés já cansados e machucados graças ao gelo duro que era obrigada a aguentar. Ao olhar para trás, acabo tropeçando em um galho e antes que eu perceba, já estou no chão. Sorte a minha por ter tido reflexos rápidos o bastante para botar minhas mãos a frente e proteger o meu rosto. Olho para trás e percebo a aproximação repentina dos homens atrás de mim, cegos de ódio por ter conseguido chutá-los e fazê-los me largarem por tempo suficiente para correr até a porta. Eu puxo a maçaneta com toda a força das minhas mãos pequenas e consigo sair em direção a neve e a floresta, infelizmente, não escuto a porta se fechando e não preciso virar a cabeça para saber que eles me seguem. Naquele momento, não me importava o destino, apenas sair dali e fugir deles. Porém não iria aguentar por muito mais tempo.
— Anda, levanta! Eu vou te ajudar a fugir.-diz o jovem garoto de cabelos brancos como a neve estendendo-me sua mão.- Rápido! Levante-se, por favor.
Os três soldados estavam próximos demais, por isso desisto de pensar e estendo minha mão para o garoto que prontamente me ajuda a levantar. Enquanto faço isso, vejo o cenário ao meu redor mudar. A neve começa a derreter em poucos segundos, dando lugar a grama e a escuridão total da floresta e da noite, contrastando completamente com as roupas branco-acizentadas que usávamos. O frio desaparece também, dando lugar a uma brisa calma que silvava pelas árvores. Estávamos no fim da primavera, e eu já não era mais uma criança assustada de 8 anos, era uma garota alta de 14 anos aprendendo a lutar. Quando solto a mão do garoto, olho para ele com mais calma, notando que não era muito mais alto do que eu, porém não era tão novo quanto eu achava antes. 16 anos, talvez 17. Uma grande diferença entre mundos considerando as mudanças entre nós, tão pouca diferença de idade, mas uma fase tão distinta nos separava. O garoto pede que eu me apresse, antes que as criaturas nos alcancem. Desato a correr, lembrando-me do medo que senti ao ver aqueles monstros pela primeira vez de verdade. Fortes como nunca, assustadores demais para alguém como eu. Não sei por quanto tempo conseguimos correr antes de nos encurralarem, neste momento, vejo o mundo ficar mais lento ao meu redor. Tudo tão claro e simples. Não sei o que me deu forças para o que veio a seguir, mas logo estava lutando com toda a garra e determinação que me passaram durante os últimos 6 anos. Eu não ligava para o que estava fazendo ou como fazia, mas logo todos os demônios Rarzut estavam no chão, mortos e ainda mais sinistros em suas eternas expressões de ódio em sua aparência reptiliana. O choque de adrenalina ainda não havia passado completamente quando sinto algo tocar de leve meus ombros, pensando ser mais um demônio que poderia ter sobrevivido, não penso e não olho quando levanto minha adaga e cravo-a exatamente onde eu sei que se localizaria seu tórax com um grito parte assustado, parte determinado. Ou melhor, não olhei até ouvir o gemido muito humano que se seguiu ao meu golpe. Não tenho muito tempo para pensar no que havia feito antes de ver o belo jovem de cabelos claros me olhar com uma expressão de choque e desabar aos poucos em minha direção, sua mão livre de segurar a adaga em sua barriga cheia de sangue já flácida passando em meu braço ao cair. Tento ao máximo segurá-lo para que não piorasse ao cair de mal jeito, mas ele era pesado e não podia suportar seu peso e isso foi o suficiente para que ele logo caísse de costas no chão, os olhos em direção as estrelas brilhantes no céu. Ignoro todo o sangue acumulado em suas roupas claras e em suas mãos, e tento de tudo para pressionar o ferimento e tentar impedir a provável hemorragia.
— Não, por favor. Não morra.-peço olhando em seus olhos, tão lindos eram em sua tonalidade verde-dourada.- Me desculpa por isso. Eu sou tão idiota, por favor me perdoe. Eu vou te ajudar. Mas não morra.
— Você não...deve se desculpar.-disse com a voz falhada pela dor. Ele estava morrendo e era minha culpa.- Eu entendo o que você fez. Eu não te culpo por nada, e você deve fazer o mesmo.
— Por favor, pare de falar como se isso fosse uma despedida. Você não vai morrer.-digo duvidando até mesmo de minhas próprias palavras, mas eu não podia perder minhas esperanças. Uso meu telecomunicador para mandar uma mensagem ao QG, assim logo irão saber onde estou e virão me buscar. Nos buscar.- A ajuda já vai chegar, e eles trarão médicos. Você vai ficar bem.
— Nem você acredita nisso.-resmungou o garoto deitado sobre a grama. Eu não o conhecia, mas ele era corajoso.- Eu estou morrendo, mas está tudo bem. Eu aceito minha morte, meu tempo neste mundo acabou, o de todos um dia acaba. Esta tudo bem. Aceite suas escolhas, pois elas podem determinar seu futuro.
— Por favor não fale assim.-imploro.- Não morra.
— Thyago, meu nome é Thyago.-diz tossindo um punhado de sangue na grama.- Por favor, cante alguma coisa para mim.
— O que?-pergunto.
— É, por favor.-pede.- Cite um livro, um poema. Cante sua musica favorita para mim, não importa. Só faça isso para um homem morrer em paz.
— Certo. Tudo bem.-cedo por fim.- Eu vou pensar em alguma coisa.
— Obrigada.-diz, sua voz já praticamente ininteligível. Ele vira a cabeça para o lado e não tenho tempo de ajudar antes de vê-lo tossir sangue. Quando ele me olha, ignoro o cheiro acobreado do sangue e uso a manga escura da minha roupa para limpar o líquido escarlate escorrendo da sua boca até seu queixo.
Vejo que ele irá falar alguma coisa, mas aceno com a cabeça pedindo silêncio. Ele acolhe.
— Tu não indagues (é ímpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses
tenham dado, Leuconoé, nem recorras aos números babilônicos. Tão
melhor é suportar o que será!-Começo a declamar meu poema favorito entre todos que já havia lido durante as aulas de literatura histórica obrigatórias no nosso treinamento.- Quer Júpiter te haja concedido muitos invernos, quer seja o último o que agora debilita o mar Tirreno nas rochas contrapostas, que sejas sábia, coes os vinhos e, no espaço
breve, cortes a longa esperança.
Ao abaixar minha cabeça para o observar mais um vez, percebo que sua respiração já está muito falha e que não terá mais muito tempo.
Ele sorri, possivelmente reconhecendo a famosa poesia de Horácio. Ele segura a minha mão em seus dedos trêmulos, fecha seus olhos e vejo seu peito estufar pela última vez, acabando com sua vida no momento em que seus dedos ensanguentados escapam do meu braço, caindo frouxos na grama alta do bosque.
— Enquanto estamos falando, terá
fugido o tempo invejoso;-decido por terminar a declamação, olhando o corpo ainda quente do garoto que havia me salvado.- colhe o dia, quanto menos confia no de amanhã.
Ao terminar de pronunciar, sinto uma dor em minha cabeça e minhas lagrimas começam a correr com cada vez mais frequência. Grito com a dor forte em minha nuca, e tudo que vejo antes de apagar são os vultos de armaduras escuras correndo em minha direção e gritando pelo meu nome.
Acordo assustada e com o meu coração batendo com tanta força que posso ouví-lo pulsar por todo o meu corpo. A dor e o medo que senti em meu sonho, tão reais agora quanto anos atrás ainda mandando adrenalina para o meu coração e artérias com frequência quando me sento em minha cama e tento acalmar minha respiração com a calmaria que o médico que curou minhas feridas havia me ensinado a pensar. Por sorte, eu não tinha mais uma colega de quarto para ter que esconder minhas reações fora do comum quando tinha esse tipo de pesadelo.
Infelizmente, mais frequentes do que eu gostaria.
— Saphira, eu posso entrar?-disse a voz de Adam, um pouco abafada pela porta de madeira resistente à minha frente, mas mesmo assim, me assusta mais uma vez. Eu ainda estou sensível pelo meu sonho.- Preciso te avisar algo importante, mas tem que ser agora.
— Tudo bem, Adam.-disse, levantando-me e me apressando em vestir o mais rápido possível o uniforme preto padrão jogado de forma desleixada em cima da cadeira do meu quarto. Todos os dias eu precisava vestir essas roupas largas e extremamente complexas de serem vestidas, embora ficassem realmente bonitas no corpo. Eram obrigatórias para todos dessa Organização, então eu não poderia esperar menos de algo que temos que vestir com tanta frequência.
Abri a porta para ele com facilidade, dando alguns passos para trás para que ele possa entrar em meu quarto bem iluminado. Arrumo meu cabelo em um rabo de cavalo alto enquanto ele dá alguns passos a frente para entrar.
— Desculpa a demora para abrir.-peço.
— Tudo bem. Não se preocupe...Que bom, já está pronta!-exclamou me olhando.- Assim não vamos nos atrasar para conversar com o Mestre Romckpay.
— O que nosso chefe quer nos falar dessa vez?
Nosso chefe era o dono dessa Organização. Ele nunca disse exatamente o que o levou a criar um grupo de assassinos altamente treinados a fim de matar demônios e espíritos. Tudo o que sabíamos a seu respeito era que o Mestre Rockmpay era um homem corajoso e excêntrico, que teve algum tipo de contato desagradável com algum demônio maior que o levou a odiá-los com todas as suas forças. Além do mais, eu não acho que poderia reclamar da vida que tenho no Instituto Millenium.Os Filhos da Noite, Assassinos Sobrenaturais, era do que a maioria das pessoas nos chamavam. Mas, para ser sincera, eles falavam dessa forma porque nosso verdadeiro nome os assustava. Nós éramos os Caçadores da Meia-Noite, e a Caçada nunca terminava. Era o nosso principal lema, e nosso slogan padrão.
— Eu não sei. Ele disse que não nos diria nada até que fossemos juntos até a sua sala.
Ele nunca nos chamava para nos dizer algo sem alguma explicação mínima do que está acontecendo antes de termos de ir. Aparentemente, a situação era bastante séria.
Acenei a cabeça, dispensando-o.
— Tudo bem. Vamos logo, é melhor não fazê-lo esperar por muito tempo.
O que quer que ele queira que façamos, deve receber atenção imediata.


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