Astoria lia seu livro serenamente, sem se perturbar com os barulhos e conversas paralelas do grande salão. Suspirou, extasiada com o amor que Jane Austen descrevia em Orgulho e Preconceito, seu livro favorito.

Amava ler, e sua paixão por artes percorria gerações. Sempre que se sentia pressionada ou até ligeiramente incomodada com algo, recorria a seus livros e suas pinturas, não há nada que um pouco de Shakespeare e sua amada Jane Austen não resolvessem.

Sua família é composta por sangue-puros, mas esses são quase livres de preconceitos. Astoria sempre anda na Londres trouxa em suas férias e concorda que em questão de literatura e música eles estão muito a frente dos bruxos, que muitas vezes não fazem nada a não ser agitar suas varinhas, esquecendo que magia é importante mas, muitas outras coisas também são.

 — Não sabia que gostava de Jane Austen.

Ela olhou para cima, surpresa ao ver que era Draco Malfoy que lhe dirigia a palavra. Quer dizer, ao seu ver os dois não tem absolutamente nada em comum. Para ser sincera, nunca gostou muito dos Malfoys.

 — É meu livro favorito. Você gosta?

—  É um dos meus livros favoritos. —  Ele disse, ligeiramente tímido.

—  Oh, não sabia que gostava de literatura trouxa.

— Minha mãe gosta, cresci a ouvindo ler pra mim, com o tempo acho que aprendi a gostar também.

—  Não posso negar que estou surpresa.

—  Não deveria  — ele riu  — Os Blacks e Malfoys são conhecidos por apreciarem a arte.

—  Não mais que os Greengrass.

— Sei que sim. 

Aquela curta conversa foi a única que teve com o garoto por muito tempo. Ele parecia querer falar mais porém, foi chamado por Snape em seguida —  esse que parecia extremamente impaciente. Draco acenou, desanimado, logo indo atrás de seu padrinho e professor.

Dafne e Draco eram do mesmo circulo de amigos, mas sendo mais nova que eles nunca realmente andou com os amigos de sua irmã —  Dafne era completamente louca por Draco. Astoria nunca o achou tudo isso.

Ela seguiu sua vida sem muitos empecilhos, em suas férias fez cursos de pintura e de italiano —  pois gostava como as palavras saiam como mel de sua boca. Se formou em Hogwarts e resolveu seguir a carreira de Jornalista, apenas porque gostava de escrever sobre coisas aleatórias e politica.

Apesar de sua família não ser uma das mais tracionais eles ainda seguiam o costume de casar suas filhas cedo, a primeira fora Daphne —  que teve a sorte de se apaixonar pelo melhor amigo depois de anos, esse que era um sangue-puro muito respeitado na sociedade bruxa. Porém, a mais nova Greengrass não teve a mesma sorte.

Não costumava ficar muito com os garotos porque não via nada de interessante neles, um beijo aqui e outro ali, mas nada que durasse mais de duas semanas. Sabia que se não conhecesse alguém que gostasse teria que aceitar calada o marido que seu pai escolhesse.

—  Isso é injusto, não quero me casar! —  Disse para sua mãe, um dia antes de ter um encontro arranjado e as escuras.

—  Sabe que vai ter que aceitar, Ast! Vai aprender a gostar do homem que se casar. Quando conheci seu pai, o odiava, não conseguia ficar mais de uma hora perto dele. No dia do nosso casamento chorei tanto que tive que tomar uma poção tranquilizante! Mas hoje em dia, sei que não haveria pessoa melhor para estar comigo.

— Não vou ter a mesma sorte, sabe que não vou.

 — Vai ter, é a mais doce dessa família, o homem que tiver a sorte de ser seu marido vai te amar tanto que fará com que você também se encante por ele.

x.x.x

—  ... E sabe, mamãe diz que que gosta do meu cabelo assim, e eu concordo, fica mesmo mais bonito.

Astoria sorriu forçadamente, desejando morrer.

O encontro com o homem que sua mãe havia arrumado estava sendo um desastre, tudo que que Oliver dizia fazia com que Astoria cogitasse a hipótese de sair correndo. Não estava aguentando mais um filhinho de papai narcisista falando besteiras atrás de besteiras.

Homens eram tão burros, nossa! O que sua família tinha na cabeça ao pensar que gostaria de passar a vida inteira ao lado de um? Não estava aguentando ficar nem uma maldita hora.

 — Com licença, vou ao toalete. —  Disse se levantando. O homem  leia-se, garoto —  assentiu, sorrindo.

''Ele deve pensar que está arrasando.'' Pensou.

Andou elegantemente até o banheiro, fechou a porta, contou até três e aparatou.

Por algum motivo acabou indo para o beco diagonal, que estava decorado para o natal e muito bonito. Sorriu verdadeiramente pela primeira vez em horas.

Amava o natal, pois tudo que uma vez é triste fica um pouco encantador, e tudo que antes era bonito fica mil vezes mais interessante. As pessoas são mais simpáticas e sempre há jantares beneficentes para sua família contribuir, mesmo que seja com pouco.

Parou em frente a uma vitrine, onde exposto estava um belo vestido branco, se recriminou por não ter trago nem um misero galeão.

''Oh, mãe, sabe que odeio esse tipo de festa, não me obrigue a ir''

Astoria reconheceu a voz, antes mesmo que visse quem era o dono dela. Se virou disfarçadamente para observar Draco e Narcisa Malfoy conversando, a última parecia estar extremamente contrariada.

Ele parecia diferente da última vez que o vira —  três anos atrás em sua formatura —  seu maxilar estava mais marcado e o cabelo mais loiro, sem o ar franzino que sempre tinha em seu semblante. Parecia estranhamente relaxado.

Mordeu o lábio quando ele encontrou o seu olhar, logo em seguida dando um sorriso quase imperceptível.

''Vá, mamãe, sabe que não vai conseguir me convencer. Diga para Lucius que sinto muito.'' Disse, antes de dar um beijo na bochecha de Narcisa.

Ele veio em sua direção, e, por algum motivo, Astoria sentiu seu coração palpitar de maneira estranha e desconhecida. Tentou não parecer desconcertada ao perceber que ele não era tudo isso, mas certamente era alguma coisa.