Essa ideia era, provavelmente, nossa única saída, mas eu ainda não conseguia acreditar que teríamos mesmo que fazer isso.

—Não temos escolha, April! - Ele respondeu enquanto amarrava a corda na bancada da sacada - quer ser pega?
—Não...
—Então essa é nossa única opção.
   Após amarrar a corda, Harry voltou até o quarto e trouxe as sacolas e a mochila junto com tudo que pegamos no quarto. Ele colocou as sacolas dentro da mochila, e em seguida colocou a mochila nas costas.
—Vem, você desce primeiro - Harry falou segurando minha mão e me levando até a corda. Com um impulso, puxei minha mão e dei alguns passos para trás. Céus, onde está a coragem de agora pouco? - April, veja bem: Não temos outra escolha! Eu sei, esse é o nosso primeiro dia fazendo isso, você está com medo e assustada, mas lembra quando eu disse que não era de quebrar promessas?
Balancei a cabeça em sinal positivo.
—Então, eu prometi que iria te proteger se entrássemos em algum perigo - Harry se aproximou de mim e colocou suas mãos em cada lado do meu rosto, olhando fixamente para meus olhos e inclinou um pouco a cabeça para o lado - Me diga, AP, não confia em mim?
—..Confio - Respondi meio hesitante. Harry me lançou um olhar desapontado e perguntou de novo.
—Vamos lá, quero confiança na resposta! - Harry aproximou mais seu rosto do meu e encostou sua testa na minha. Eu conseguia sentir sua respiração no meu rosto, seu olhar se iam de meus olhos ao meus lábios. Em seguida Harry passou seu polegar pelo meu lábio inferior e passou a língua em seus lábios - Vou perguntar de novo, April : Você confia em mim?
—Confio, Harry - Respondi dessa vez sem hesitar. Fixei meu olhar em seu rosto e logo vi um pequeno sorriso nascendo ali - Confio até de mais.
   Harry levemente encostou seus lábios junto aos meus, em um beijo rápido. Em seguida, ele novamente pegou minha mão e nos levou até a sacada.
—Eu vou primeiro, então. Assim poderei pegar você lá em baixo, vai se sentir mais segura - Ele falou e em seguida lançou-me uma piscada.
   Harry começou a descer pela corda e quando já estava na metade, ouvimos batidas na porta.
—Abram a porta! - Falaram do outro lado da porta. Reconheci, pela voz, que deveria ser o mesmo homem que nos deu a chave do quarto.
—Droga! - Escutei Harry xingar baixinho - Temos que ser rápidos.
  Assim, Harry começou a descer mais rápido pela corda. Ele segurava a corda com ambas as mãos enquanto seus pés estavam apoiados na parede. Cada passo que ele dava para descer, era um susto. E o susto maior ainda era saber que a próxima a fazer isso seria eu.
   Harry, após alguns segundos conseguiu descer até o beco, levando em conta que o andar onde estávamos era baixo.
—Vamos, April! É a sua vez. É só fazer como eu fiz: segura a corda com ambas as mãos e coloca um pé de cada vez na parede - Harry gritou lá de baixo.
   Ignorando o medo, segurei a corda e passei por cima da grade, em seguida hesitante coloquei um pé de cada vez na parede. Meu medo não era só de cair, mas também de ser pega, ou sair descendo e minhas mãos queimassem na intensidade em que eu fosse caindo.
—Vem logo, April - Harry gritou novamente.
   Assim que dei o primeiro passo, comecei a escutar alguém mexendo na maçaneta da porta. Provavelmente alguém estava mexendo na fechadura e, provavelmente, conseguiriam abrir a porta em poucos minutos. Com a adrenalina correndo em minhas veias, comecei a dar passos mais rápidos, sem me preocupar se iria cair ou não.
—Vai devagar, April! - Harry falou, mas eu não liguei. Eu estava totalmente ignorando tudo ao meu redor, meu coração estava batendo rápido, minha respiração estava acelerada e eu estava em uma luta interna com meu corpo para fazer meu corpo se mexer.
   Continuei ignorando os avisos do Harry e voltei a descer mais rápido ainda. Minha mente estava focada apenas no fato de que eu poderia ser presa por vandalismo e outras coisas que eu nem mesmo sabia. " E se eles me pegassem? E se eu não conseguisse descer a tempo e, ao invés de me ajudar, Harry apenas fugisse?!", meu subconsciente alertava. Mil pensamentos rondavam minha cabeça, e eu acreditava em todos eles.
   O medo de Harry me abandonar e ir embora era enorme. Em meio a esses pensamentos, eu ainda podia ouvir a voz do Harry, mas tudo saia muito abafado. De repente, meu ouvido e minha atenção se focaram apenas no som da porta no quarto sendo destrancada. Olhei para baixo e, vendo que faltava pouco para chegar até o Harry, em um impulso eu soltei a corda e me joguei em cima do Harry.
   Para minha sorte, Harry me pegou e segurou com sua mão na parede atrás dele, evitando nossa queda. Em seguida, ele me colocou no chão e pegou minha mão me puxando para longe do beco.
   Corremos pelas ruas escuras de New York, virando em ruas aleatórias apenas com medo de ter alguém nos seguindo. Meus pés doíam, a cada passo que eu dava contra o chão, eu sentia meu pé doer. Soltei um pequeno gemido de dor, mas não pequeno o suficiente, fazendo Harry ouvir. Ele imediatamente parou e virou seu rosto em direção a mim, ele olhou ao redor e entrou em uma pequena rua escura, parecida com o beco onde estávamos.
—Você esta bem? - Ele perguntou, seu tom de voz parecia preocupado.
   Não respondi, meu coração ainda estava acelerado e minha respiração ainda estava rápida. Meus pensamentos ainda estavam bagunçados, eu ainda não sabia o que fazer nem pensar, por isso meu primeiro ato foi abraçar o Harry.
   Ele pareceu surpreso, mas logo retribuiu o abraço, colocando uma de suas mãos em minhas costas e a outra afagando meu cabelo. Encostei minha cabeça no peito do Harry e com as duas mãos, agarrei forte a sua camisa. Em seguida eu chorei. Chorei como nunca havia chorado antes.
   Meu coração estava a mil, minha respiração estava descontrolada e meu corpo tremia. Eu nunca havia feito nada desse tipo em toda minha vida, por isso eu já esperava tal reação do meu corpo, mas imaginei que não fosse tanto assim. A camisa do Harry a esse ponto já estava encharcada, mas mesmo assim Harry parecia não se preocupar. Ele continuava afagando meu cabelo e depositando leves beijos no topo da minha cabeça.

E em nenhum momento da minha vida, nem mesmo com o Charlie, eu me senti tão bem protegida como me sentia agora.