A p r i l escrita por Hamélia


Capítulo 16
D e z e s s e i s




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A pedido de Rachel, America aumentou o volume do rádio do carro ao máximo. America dirigia rápido, provavelmente ultrapassava o limite permitido na área, porém isso não importava no momento. America havia ficado bastante animada quando disse que Rachel iria conosco, o que fez com que nossa tarde juntas ficasse melhor ainda. 
  Rachel havia comprado uma fantasia de policial, segundo ela era para combinar com a fantasia de ladrão do Dean. America comprou uma fantasia de múmia, porém ao invés de cobrir todo corpo com as faixas, haviam pano de mais faltando. Segundo ela, muitos rapazes iriam adorar descobrir o que havia por debaixo daquelas faixas.
  Já estávamos voltando cada uma para casa, America dirigia feito uma louca enquanto cantávamos a música Hollaback Girl.


       Uh huh, this is my shit (Uh huh, essa é minha merda)
All the girls stomp your feet like this (Todas as garotas pisando os pés assim)

A few times I've been around that track (Poucas vezes estive dentro dessa estrada)
So it's not just gonna happen like that (Então não vai simplesmente acontecer assim)
'Cause I ain't no hollaback girl (Porque eu não sou uma garota fácil)
I ain't no hollaback girl (Eu não sou uma garota fácil )


  America, Rachel e eu cantávamos o mais alto que podíamos, sem nos preocuparmos se acertávamos a letra ou como nossas vozes estavam. Eu sentia falta de momentos assim, já que eram poucas as vezes em que eu me divertia. Por apenas esse momento experimentei deixar Harry e todos os meus outros problemas de lado, apenas para aproveitar mais um pouco o momento com elas duas.

Ooh, ooh, this is my shit, this is my shit (Ooh, ooh, essa é minha merda, essa é minha merda)

I heard that you were talking shit (Eu soube que você estava falando merda)
And you didn't think that I would hear it (E você não achou que eu ouviria)
People hear you talking like that, (Pessoas ouvem você falando assim,)
Getting everybody fired up (Deixando todo mundo agitado)
So I'm ready to attack, gonna lead the pack (Então eu estou pronta para atacar, vou liderar a galera)
Gonna get a touchdown, gonna take you out (Vou fazer um touchdown, vou te colocar pra fora)
That's right, put your pom-poms downs (Isso aí, abaixem os seus pom-poms)
Getting everybody fired up (Deixando todo mundo agitado)


Diminuímos o volume de nossas vozes quando America reduziu a velocidade do carro, avisando que havíamos chegado na casa de Rachel.   Nos despedimos e Rachel colocou as sacolas com as compras em seu braço esquerdo, indo em direção a porta de entrada. America novamente deu a partida e voltou a dirigir, dessa vez em direção a minha casa. 
  A viagem não demorou já que minha casa não ficava tão longe da casa de Rachel. Assim que chegamos na minha casa, peguei apenas minha pequena bolsa que havia levado e sai do carro, indo em direção a janela do banco de America e dando-a um beijo na bochecha. 
—Você vai ficar bem? - America perguntou, com a expressão suave.
—Claro, por que não ficaria? - Perguntei confusa.
—Qual é, AP - Ela falou levemente irritada - Eu sei que tem algo te incomodando, por mais que tenhamos nos divertido hoje eu vi várias vezes a sua expressão triste e pensativa. 
  Suspirei derrotada e passei a mão pelo meu cabelo, olhando para baixo.
—É por causa do Harry? Algo que ele fez? - America questionou com as sobrancelhas franzidas - Por que se ele te fez algo, eu juro por Deus que vou...
—Calma, America, pelo amor de Deus! - Ralhei e ela logo se acalmou, voltando a sua posição normal no banco. Sorri fraco e inclinei um pouco minha cabeça - Pelo contrário, estou assim exatamente por que ele não fez nada.
—Quer me contar? Posso estacionar o carro, a gente sobe , conversa um pouco e fazemos... Você sabe, "coisas de garotas" - Ela falou com uma careta engraçada e fazendo aspas com as mãos.
—Não precisa - Garanti rindo -Eu vou ficar bem. Só preciso resolver tudo isso.
—Certo - Ela falou e me deu um sorriso solidário- Nos vemos depois, tudo bem?
Assenti e ela logo deu partida na carro, provavelmente indo em direção à sua casa. Suspirei frustrada e virei-me em direção à entrada do condomínio.
  Eu deveria falar com o Harry? Não apenas para desfazer essa proposta, mas também para me desculpar sobre minha atitude idiota e infantil. Harry realmente havia sendo uma grande ajuda e um grande amigo durante esse pouco tempo que passou comigo, e afasta-lo assim seria algo totalmente idiota a se fazer. Talvez eu quisesse o afastar apenas para não confirmar minha hipótese de que eu realmente estava sentindo algo a mais do que deveria por ele, o que simplesmente eu não poderia nem se quer pensar em fazer.
  Desde o dia em que o vi na loja de discos percebi que tinha algo nele que me chamava a atenção. Talvez fossem seus olhos verdes intensos ou seu cabelo encaracolado que sempre que ele abaixava a cabeça caiam sobre seu rosto, ou até mesmo suas botas amarelas cafonas, mas havia algo nele que despertava em mim meus desejos mais profundos, desejos cujo nunca havia tido antes. 
  Sua proposta de me aventurar todas as noites com ele me deixou completamente abismada. Harry não era o tipo de cara com quem eu havia sonhado me apaixonar, ele estava mais para o tipo de cara com quem dormimos e no dia seguinte ele já não esta mais lá.
  De cabeça baixa, frustrada e imersa em meus pensamentos caminhei pelo saguão em direção ao elevador, porém antes que eu chegasse lá alguém segurou meu pulso.
  Olhei em direção à pessoa quem segurava meu pulso e logo senti meu corpo estremecer ao notar que se tratava de Harry. Seu cabelo estava preso em um coque desarrumado, me fazendo lembrar da última vez em que nos vimos, na minha casa. Ele usava uma simples camisa cinza de mangas e uma calça preta apertada, que por sinal estava marcando mais do que deveria, fora que em seus pés estava um crocs branco. Céus, quem imaginaria que Harry usava crocs?!
—April... - Ele murmurou enquanto me olhava com suas sobrancelhas franzidas. Em baixo dos seus olhos estavam pequenas manchas roxeadas, iguais as que vi no dia em que o vi na loja de disco e na primeira vez em que ele foi no StarBucks - Precisamos conversar.
.
.
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  Harry estava sentado em um dos sofás da sala enquanto eu ainda me mantinha de pé, encostada à parede. Eu não sabia ao certo o que dizer, ou melhor, várias coisas, frases, palavras e assuntos rodavam em minha mente, porém eu não conseguia organizar cada um para que finalmente pudesse falar algo. Harry também se matinha em silêncio, sua cabeça estava baixa, seus cotovelos estavam apoiados sobre os seus joelhos e uma de suas mãos estavam sobre sua boca.
  Respirei fundo, pronta para finalmente falar algo, porém Harry foi mais rápido.
—April, eu... Eu sinto muito - Ele murmurou baixo e passou suas mãos pelo rosto, respirando fundo - Eu sei que fui um completo idiota com você naquele dia. Pra falar a verdade, desde o começo eu estive sendo um completo idiota com você. Você talvez estivesse certa, nós realmente deveríamos conversar sobre isso, certo? - Ele desviou seu olhar do meu e sussurrou - Sinceramente, sou um pouco orgulhoso de mais para admitir isso.
—Harry, eu.. - Falei, porém antes de terminar ele me interrompeu.
—Não, deixe eu terminar - Harry trouxe seu olhar até o meu e mordeu de leve seu lábio inferior, provavelmente está com sua mente tão confusa e bagunçada quanto a minha - Você não é um incômodo. Pra falar a verdade, você está muito longe de ser um incômodo, e acredite em mim quando eu digo isso pois você é uma das únicas pessoas que eu trato bem. De uma maneira diferente e estranha, porém trato bem.
  Realmente, eu nunca havia visto Harry olhar para outra pessoa sem ter uma carranca em sua expressão. Suas sobrancelhas estão sempre franzidas, seu maxilar sempre travado e seu olhar sempre duro, como se fosse querer matar qualquer um que se aproximasse dele. Comigo Harry sempre esteve fazendo brincadeiras idiotas e piadas sem graça, sempre tentando ter cuidado ao máximo com o que fala.
—Eu sei, Harry... - Respondi comprimindo meus lábios, tentando achar as palavras certas para não falar besteiras - Eu também não falei coisa muito agradáveis para você e... Bem, apenas acabei criando algumas idiotas expectativas. Eu realmente sinto muito, você tem sido alguém bastante prestativo e me ajudando com tanta coisa, foi bastante rude da minha parte ter tido aquelas coisas - Respirei fundo novamente e cruzei os braços, virando um pouco o rosto - E talvez, só talvez, eu tenha sido um pouco infantil e orgulhosa.
  Harry levantou uma de suas sobrancelhas e sorriu de lado, me olhando divertido.
—Só talvez? - Ele perguntou, ainda rindo.
—Tudo bem, já entendi, eu realmente fui infantil e orgulhosa. Feliz? - Falei deixando meu braços caírem para cada lado do meu corpo.
  Harry levantou-se do sofá e caminhou em minha direção, envolvendo seus braços ao redor do meu corpo e descansando sua cabeça na curva do meu pescoço.
—Muito - Ele murmurou, inspirando fundo - Já disse o quanto você é cheirosa?
  Sorri fraco e correspondi o seu abraço, passando meus braços ao redor do seu pescoço e apoiando meu queixo em seu ombro.
—Na verdade não - Respondi risonha.
—Então fique ciente de que você tem um cheiro incrivelmente bom - Ele falou me abraçando mais forte - Caso algum dia você acorde no meio da noite comigo na sua cama, te cheirando, não fique surpresa.
—Céus, Harry! - Exclamei batendo de leve na sua cabeça.
—Calma, calma... - Ele se afastou levantando as mãos em rendição.
  Ele me olhava incerto, com ambas as mão nos bolsos da calça, os lábios comprimidos e as sobrancelhas levemente levantadas.
—Estamos bem? - Ele perguntou, hesitante.
—Sim, Harry, estamos bem - Garanti, sorrindo fraco.
  Harry se aproximou e colocou suas mãos sobre meu rosto, me olhando diretamente nos olhos. Aproximou seus lábios dos meus, porém coloquei minhas mãos sobre seu peito e o afastei relutante, fazendo Harry me olhar confuso.
—Harry, eu... - Mordi os lábios nervosa e respirei fundo - Eu não quero mais fazer isso.
—Você... Não quer mais fazer isso? Como assim "isso"? - Ele perguntou ainda sem entender.
—Isso, essa coisa de apenas beijar e depois fingir que não aconteceu nada - Falei, em seguida deixando meus ombros caírem - Harry eu... Eu gosto de você, gosto mais do que deveria, e é por isso que não posso continuar. Eu sei que não tem nenhuma chance de termos algo ou que algum dia você vai sentir algo por mim, e não quero ficar me alimentando com falsas esperanças.
  Harry me olhava em choque, sua boca se abria e mexia inúmeras vezes, porém as palavras não saiam da sua boca.
—Não precisa falar nada, não é como se eu estivesse esperando que você dissesse que também sente algo por mim, por que eu realmente não estou - Murmurei - E por mais que eu queira ficar com você, a ideia de que assim que você sair da minha casa você vai beijar outras pessoas ou fazer com outras mulheres a mesma coisa que fez comigo me machuca. 
  Suspirei e coloquei ambas as mãos sobre meu rosto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Não queria que ele me visse chorar, não queria que ele visse o quanto isso estava me machucando, porém era inevitável esconder isso.
—Doí, Harry - Murmurei depois de algum tempo. Abaixei minha cabeça e permiti que as lágrimas rolassem pelo meu rosto.
—April, eu... Eu não consigo entender - Harry falou baixo, novamente tentando se aproximar de mim, porém dei um passo para trás.
—Doí tanto, Harry. Eu já senti essa dor antes, e prometi a mim mesma que nunca mais iria senti-la, mas ela está aqui novamente - Falei com a voz embargada pelo choro - E eu não quero ela aqui, Harry, eu não quero.
  Fechei a palma da minha mão e a passei pelo meus olhos, tentando retirar as lágrimas, porém quanto mais eu enxugava mais elas saiam.
—April... - Harry começou, dando um pequeno passo até mim. Levantei meu rosto, o encarando e sua expressão se tornou em surpresa assim que me viu chorar. Ele repetiu sua ação anterior e novamente deu um passo, porém para trás, seguida de outros e outros passos. Ele se virou para porta e, antes de sair, me olhou novamente e murmurou - Eu sinto muito.
  Assim que ele saiu, me permiti encostar minhas costas contra a parede e escorregar por ela, até sentar completamente no chão. Mais e mais lágrimas saiam dos meus olhos, soluços incontroláveis também saiam da minha gargante mesmo que eu tentasse controlar.
  E a mesma cena de anos atrás estava acontecendo novamente. Quando Charlie me deixou, eu simplesmente senti meu mundo desmoronar, senti um pedaço de mim ser arrancado sem dó nem piedade. Charlie havia me deixado, sem nenhuma explicação nem nenhum aviso, logo após termos dormido juntos. Eu sabia que tinha algo de errado na sua voz, algo de errado no seu olhar quando ele disse que me amava, algo do tipo tristeza.
  E, por mais que eu houvesse jurado nunca mais passar por isso, a cena se repetia de forma parecida hoje. Harry me mostrou o paraíso, me deu uma amostra do lado bom da vida, mas logo em seguida o arrancou de mim. Eu sabia que sairia machucada disso, porém mesmo assim eu insisti nisso desde o começo, eu sou a única culpada nisso tudo.


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