Gota a gota [HIATUS] escrita por Tamires Vargas


Capítulo 7
Flor de diamante


Notas iniciais do capítulo

Gente, vocês devem ter me xingado muito!
Peço desculpas, tive um bloqueio com esta fic e estava complicado da inspiração voltar.

Agradecimentos:
— a Emma e Raizinha por terem favoritado ♥
— a Lunally, Haruno Hime e Fujisaki D Nina e mais o povo oculto por terem colocado nos acompanhamentos ♥
— a todos os lindos que comentaram no último capítulo ♥
— a quem não abandonou a fic ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

Capítulo dedicado a Wilma pela recomendação. Muito obrigada, amora! ♥

Boa leitura!



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Mikoto fitava Emi com tranquilidade, esperando o momento certo de questioná-la. Fora à casa da avó para se certificar que nada lhe faltaria durante sua ausência e receber a benção para a partida, porém não poderia deixar escapar a oportunidade de saber sobre o diálogo que ela tivera com Fugaku.

— Você acha que consegue disfarçar esse olhar, mas esquece que eu o conheço muito bem. O que quer saber da conversa que tive com seu marido?

— O conteúdo. Foi no mínimo estranho, a senhora convidá-lo para vir aqui.

A troca de olhares perdurou junto ao mutismo de ambas. Mikoto tinha dúvidas se ouviria uma resposta sincera de Emi ou uma frase que lhe conduziria a um assunto fora de seu interesse. Se recebesse a segunda, suas chances de conseguir a primeira estariam reduzidas a zero, por isso se manteve impassível, mostrando no rosto a serenidade que dava sinais de fugir de sua mente até a idosa iniciar sua fala com calma:

— Fugaku é um líder jovem que assumiu o clã em meio ao luto. Acredito que poucos tenham chegado a ele para dizer outra coisa além das relacionadas ao seu título: cobranças, pedidos... Certamente ele ouve isso todos os dias de tantas pessoas diferentes que mal deve decorar o rosto de todas elas. Mas se cada um o busca apenas por interesse próprio, quem se lembrará de que ele é um homem? — calou-se aguardando a reação da neta e vendo a inércia, continuou: — Talvez ele tenha ouvido e ignorado os conselhos de uma velha que mal conhece, porém eu disse o que achei necessário. E não mencionei a relação de vocês, se é o que desejava saber, por mais que eu a ame não tenho o direito de me intrometer em suas escolhas, embora não concorde muito com elas.

Mikoto respirou aliviada provocando um pequeno sorriso na avó, mas logo voltou a fitá-la com a expressão de quem precisava despejar um segredo.

— Eu pensei no que a senhora falou sobre se acorrentar a infelicidade — pronunciou baixo. A vergonha de admitir seus pensamentos perante ela travava a fala, no entanto o olhar sereno lhe incentivava a superar o desconforto. — Meu casamento... não existe. São dois estranhos dividindo a mesma casa. Nossa convivência é quase nula, e eu não vejo possibilidade de mudanças no futuro. Então... não vou insistir — murmurou, segurando a ardência na garganta. — Não posso evitar me sentir triste com isso, mas devo evitar uma tristeza maior... Eu não vou amar sozinha.   

Emi a chamou com um gesto e Mikoto atendeu deitando a cabeça no colo dela. Não derramou lágrimas, apenas fechou os olhos enquanto recebia os afagos em seus cabelos.

Ao retornar, encontrou a casa tomada pela penumbra, a mínima luz que havia era doada pelo luar que brilhava no assoalho. O silêncio denunciava que Fugaku se recolhera e isto lhe deu a sensação de liberdade, encontrá-lo depois daquela afirmativa não seria agradável.

Adentrou a cozinha para tomar água e notou a frigideira em cima do fogão, franziu o cenho, pegando-a para guardá-la no forno quando se deu conta do peso em excesso. Destampou-a intrigada, descobrindo uma omelete de arroz ocupando a metade do alumínio, cheirou a comida com receio, constatando que estava fresca e apesar de não sentir fome, a curiosidade lhe pediu para prová-la.

Mordeu um pedaço, mastigando devagar para apurar o paladar. Não era um primor da culinária mas também não era a pior coisa que comera na vida. Fugaku cozinhava de forma mediana, logo não morreria de fome se ficasse sozinho.

Mikoto tomou um banho demorado pensando que isto a ajudaria a dormir rápido, no entanto seus ouvidos lhe traíram ao captar os sons que vinham do quarto do marido, provocando seu interesse e inquietude. Eram apenas o roçar de folhas de papel sendo passadas para trás ao fim da leitura, alguns estalos que poderiam ser dos dedos ou do pescoço e murmúrios incompreensíveis, dos quais só era possível depreender uma ou outra sílaba e o tom rouco que fazia seus pensamentos caminharem por fantasias. Suspirou um par de vezes enquanto tentava encontrar uma posição para dormir e seu corpo se negava a colaborar, tornando-se cúmplice de seu cérebro que não desviava a atenção dos ruídos provocados por Fugaku. Rolou na cama, enfiou a cabeça debaixo do travesseiro relaxando com a paz sentida, quebrada minutos depois pelo baque de uma gaveta sendo fechada e quando um resmungo estava pronto para sair de seus lábios, o silêncio se tornou absoluto.

Ela ainda ouvia seu som ao pegar a bolsa de equipamentos pendurada próximo a saída. Mentalmente checou se tudo estava em ordem: repassou os objetivos da missão, traçou rotas e repensou planos alternativos, por fim estipulou o tempo que levaria para concluir o trabalho e correu a porta a fim de ganhar as ruas. O movimento se interrompeu de súbito e ela virou o rosto comprovando o que não acreditava.

O olhar de Fugaku não dizia muito, contudo sua boca pronunciou um “tenha cuidado” em voz baixa e grave de quem havia acabado de acordar, fazendo Mikoto paralisar de confusão. Num estalo, ela percebeu a própria reação e deu as costas deixando o marido sem resposta. 

Escoltar o senhor feudal do País das Fontes Termais em sua viagem política era uma incumbência que não prometia percalços, líderes de países pequenos não eram visados e por isso não costumavam sofrer atentados. Seria uma missão de fácil execução, sem riscos, porém não tranquila e Mikoto sabia disso, mas não tinha ideia do quanto.

 Ela observava a movimentação com olhar atento enquanto o burburinho zumbia em seu ouvido. O jantar se convertera numa reunião informal que beirava a festa, tornando o trabalho um enfado resumido em assistir rodas de homens de meia-idade debatendo sobre assuntos que começavam importantes e terminavam numa velada disputa de egos, uma boa quantidade de flertes e alguns pares de pessoas que aprofundavam a amizade com o álcool.

Varreu o salão mais uma vez à procura de algo suspeito, avistando a bandeja carregada por um garçom sofrer baixa de um aperitivo. Soltou um curto suspiro e advertiu no comunicador:

— Kushina, não viemos para comer. Controle sua gula.

— Sim — respondeu mastigando.

— Espero que ninguém mais esteja afanando comida — disse aos outros dois, recebendo um coro de silêncio.  

Mikoto relevou. O trio era bom apesar das chatices e se não fosse por elas, tudo estaria perfeito. Não precisaria ter adotado o semblante ranzinza nem o olhar que gelava a espinha de qualquer um, muito menos o tom cortante e indiferente. No entanto, ela possuía ciência que aquilo era mais reflexo do seu interior do que irritação com o time de adolescentes pentelhos que vez ou outra resolvia começar brigas infantis.

Quando o descanso enfim veio, não foi da forma que ela esperava.

— É verdade que é casada? Você é tão nova! — Kushina abriu a boca assim que ficaram sozinhas.

— Sim. — Mikoto respondeu, enfiando os pés debaixo da coberta.

— O Fugaku parece um homem tão chato, quer dizer, ele sempre está com aquela cara. — Imitou-a por um momento. — Como se tudo estivesse ruim.

— Cada um é de um jeito. — Ajeitou o resto do corpo e puxou o cobertor para cobrir a cabeça.

— Mas ele também é assim com você? Como conseguiu gostar dele?!

Mikoto permaneceu parada, segurando o cobertor a centímetros do rosto. Sentia que a garota não lhe deixaria em paz e se questionou até onde sua paciência iria. “Não muito longe”, respondeu para si, escolhendo entre saciar a curiosidade dela, ignorá-la ou apelar para a autoridade e mandá-la fechar a boca.

— Ele... — interrompeu-se procurando as palavras que corriam travessas para o fundo de sua mente. — não é como as pessoas pensam. O Fugaku é... agradável. Pelo menos era antes da morte do antigo capitão — concluiu, recordando a primeira vez que reparou nele.

Estava caminhando pela vila com sua avó quando seus olhos foram puxados para a direção de Fugaku. A imagem lhe fez retardar os passos até parar por completo na cena de um sorriso pequeno cheio de carisma que sobressaía no rosto sério.

— O que tanto lhe interessa na loja de dango? — Emi perguntou, acompanhado o olhar da neta. — Não me diga que é o filho do Fukuma?

— Qual deles?

— O alto de cabelos nos ombros — respondeu, notando a surpresa dela. — Você não sabia?

— Nunca associei o nome à pessoa.

— Ora, por favor, Mikoto! Qualquer um sabe!

— Sabem porque lhes interessa, e a mim não interessava.

Emi revirou os olhos, resmungando. Às vezes tinha raiva da velocidade das respostas da neta.

— E seu interesse surgiu por qual motivo?

— Curiosidade — soltou, voltando a caminhar.

Emi sabia bem o que era aquela curiosidade e a sensação de que teria problemas em breve, invadiu-lhe num instante. Quinze anos era uma idade perigosa, de muitas ideias e emoções, mas pouco juízo e apesar de confiar na maturidade da neta, não ignorava a possibilidade de ela jogar isto pela janela por conta de uma paixão. Adolescentes eram todos iguais, tinha convicção disso por experiência própria.

O rosto de Fugaku se aninhou nos pensamentos de Mikoto com seus olhos fortes e serenos, mostrando detalhes que cismavam em se tornar algo significativo, e ela se sentiu tola por permitir que tomassem conta de sua cabeça, afinal ele era um homem como outro qualquer e não seria o último a prender sua atenção devido à beleza.

Com o caminhar das semanas, deixou para trás aquelas bobagens.

Às vezes, o avistava e guardava uma nova característica. Parecia juntar as peças de um quebra-cabeça, mas apenas estava reunindo todas as cores e pintando seu próprio quadro de Fugaku. Não demorou a tê-lo pendurado numa das paredes de seu coração, contudo não viu aquilo com importância. Ela se firmava na certeza de que não passava de um estúpido amor platônico.

Sua convicção foi colocada à prova tempos depois quando o líder a escolhera para integrar o time que estouraria um esconderijo de ninjas da névoa próximo à fronteira da vila. Era uma missão de rank A e a oportunidade perfeita para mostrar que estava apta a se tornar jounin. Fazia meses que buscava o título que lhe permitiria ganhar mais dinheiro e assumir o sustento da casa, propiciando descanso a sua avó.

Mikoto não se intimidou por ser a única chunnin do time nem esboçou reação diante dos olhares surpresos que recebeu ao chegar ao ponto de encontro. Apenas quando o último integrante se apresentou, seu rosto paralisou de espanto. Ela o viu cumprimentar os outros com um aceno rápido de cabeça e trocar uma dupla de palavras, para depois caminhar em sua direção.

— Mikoto, certo?

Seu nome nos lábios dele lhe provocou uma sensação desconhecida, e ela demorou mais do que deveria para responder.

— Sim — disse, tentando doar a voz o máximo de firmeza.

— Sou Fugaku e serei seu capitão nessa missão. Não conheço suas habilidades, mas meu pai lhe recomendou, e eu confio no julgamento dele — pronunciou cortês, atraindo a concentração dela para a forma que articulava as palavras. — Siga as ordens e tudo correrá tranquilamente — finalizou austero.

Ela guardou o diálogo durante a missão e depois dela, sempre voltando seus pensamentos ao estranho fato do líder tê-la recomendado. Não sabia que ele a observava, menos ainda que possuía uma opinião positiva sobre sua pessoa. No entanto, a surpresa maior veio ao receber o título tão almejado.

Mikoto sentia um nervosismo incomum brincar com seu equilíbrio. Tentou domá-lo antes de sair de casa, mas logo desistiu ao perceber a ineficácia de sua atitude. Respirou fundo adotando a melhor expressão de neutralidade e partiu a fim de cumprir seu objetivo.

Não foi difícil encontrá-lo nas ruas, rodeado de pessoas como sempre, mas interromper a conversa para lhe falar pareceu caminhar sobre o muro que dividia o anormal do trivial. Chamou-o com firmeza, driblando o incômodo que sentia, quase perdendo a postura quando ele lhe atendeu de pronto com um sorriso suave.

— Você deve ser uma pessoa muito reclusa porque não a vejo desde a missão. — Ele pronunciou amistoso.

O inocente comentário a desconcertou por um instante e Mikoto piscou devagar, pondo a cabeça em ordem.

— Vim agradecê-lo pela indicação. O capitão disse que você sugeriu meu nome para jounin.

— Você é muito habilidosa, seria um erro não indicá-la.

— Pensei que o ocorrido tinha lhe desagradado.

— Confesso que fiquei irritado por ter desobedecido minhas ordens, mas isso não tira o seu mérito.

— Era a melhor oportunidade que nós tínhamos, se não a aproveitássemos correríamos um risco maior.

— Por isso você assumiu o risco sozinha. — Fugaku rebateu, desarmando-a. — Não se preocupe, tudo deu certo no final, mas ficarei de olho em você na próxima para o caso de querer me surpreender de novo.

Ela sentiu o desconforto roubar aos poucos a indiferença que tentava manter na face, deixando-a suscetível às emoções que borbulhavam em seu peito e num gesto de fuga, curvou-se agradecendo.

Não conseguiu terminá-lo. Fugaku segurou seus ombros, assustando-a com a atitude.

— Não faça isso. — Ele pediu num tom urgente. — Aceito suas palavras, mas por favor, sem formalidades.  

Eles continuaram estáticos, um dentro do olhar do outro.

Mikoto sentiu algo se derramar em seu interior, quente como brasa reacendida pelo vento, apagando a voz de seus pensamentos. Sua boca se entreabriu num convite discreto e um leve rubor tingiu seu rosto.

Fugaku tirou suas mãos de súbito sem saber o que fazer com elas.

— Não precisa agir como se estivesse diante do meu pai.

— Um dia você será o líder do clã, todos o tratarão formalmente.

— Até lá me trate como qualquer outro.

A despedida quebrada trouxe um vazio desagradável, no entanto deixou gravado o toque e acendeu a vontade de descobrir mais sobre aquele homem.

Mikoto fitava a parede lembrando o encontro, fazia tanto tempo mas também era tão recente em suas memórias como se tivesse acontecido ontem. Percebeu Kushina espernear chamando seu nome e se questionou se estava realmente absorta ao ponto de não ouvir ou se a garota apenas não sabia esperar.

— Você não explicou como ele é agradável!

— É a minha opinião.

— Você é chata igual ao resto dos Uchiha! Com essa pose de “eu sou inabalável, eu sou superior, eu sou...” — interrompeu-se ao notar o olhar duro de Mikoto.

— Por que quer saber? — questionou num tom afiado. — Qual o interesse na vida matrimonial de sua capitã?

— Eu queria saber como é se casar tão nova... — murmurou cautelosa.

— Existe alguma pretensão por trás da pergunta? — Inclinou a cabeça, pensando. — Não está coletando respostas para tomar uma decisão, está?

— Claro que não! — Kushina rebateu, sentindo o corpo enrijecer.

— É melhor encerrar essa conversa. Não quero alimentar as minhocas da sua cabeça.

— Minha cabeça não tem minhocas!

— Boa noite, Kushina — disse cobrindo a cabeça.   

Um acordo de paz foi celebrado entre o trio adolescente, por ordem de Mikoto, fazendo o trajeto até Konoha ser tranquilo, contudo a serenidade desejada se transformou num tormento crescente.

A decisão que fora tomada em algum momento durante a missão parecia se fragilizar perante as recordações revividas pelo diálogo com Kushina, inclusive as respostas que dera a ela pinicavam seu cérebro. “Agradável”, dissera sobre Fugaku. Uma definição que fazia parte do passado e não correspondia a uma gota do presente, no entanto a palavra forçava seu peso na convicção de que havia julgado corretamente.

Ela sacudiu a cabeça quando chegou a sua casa. Não voltaria atrás. Diria assim que o visse. Assustou-se quando ele lhe encontrou com o vidro de geleia na mão. A hora havia chegado e seu novo futuro começaria ali.

 — Foi sua avó quem fez. — Fugaku quebrou o silêncio.

— Minha avó esteve aqui?

— Não. Ela me deu quando estive na casa dela.

— Você... foi visitá-la?

— Para me certificar se não precisava de algo — rebateu sem jeito. Não conseguia distinguir se o tom da esposa era de surpresa ou reprovação.

Mikoto piscou devagar e caçou alguns biscoitos enquanto engolia o que ouvira.

— Ela passou esses dias bem... — Fugaku completou incerto.

— Obrigada — respondeu de costas para ele, procurava não permitir que aquela novidade lhe influenciasse. — Fu... — Sua voz foi abafada pelo chamado de um homem.

Ela viu a chance escapar por seus dedos quando o marido se despediu rapidamente e saiu para cumprir mais uma obrigação com a polícia. Contudo, prometeu a si mesma que anunciaria sua decisão naquele dia, ignorando a incerteza que ameaçava crescer enquanto esperava pelo momento que colocaria o ponto final em seu casamento. 


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Notas finais do capítulo

E aí, gente? Será que a Mikoto vai falar? E como o Fu vai segurar a notícia?

Eu ia desenvolver a luta na missão dos dois, mas achei que não caberia na fic que é de romance tranquilinho.

Bjs, comentem e até o próximo! ♥



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