Gota a gota [HIATUS] escrita por Tamires Vargas


Capítulo 8
Partido


Notas iniciais do capítulo

Yo!

Peço desculpas pela demora. Povo, estou com cinco fics em andamento e não é fácil dar conta de atualizar todas elas. Podem me xingar, mas não vou parar com nenhuma, pois cada tem suas singularidades que são muito importantes para eu trabalhar, além disso, ter esse grande número me ajuda a não enjoar de nenhuma.
Você podiam ler as outras enquanto esperam GG, sabe? XD

Agradeço a The Epic, Strangel e A P R Pereira por colocarem nos acompanhamentos e também ao povo que se oculta.



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Fugaku voltou tarde àquela noite, e a convicção de Mikoto não foi capaz de enfrentar a expressão cansada que ele carregava. Seus olhos lutavam para ficar abertos, mas falhavam vez ou outra, fazendo-o ressonar em pé por alguns minutos e acordar com sobressaltos seguidos de muxoxos e resmungos.

Ela sabia que o clã e a força policial consumiam o marido, porém não percebera o quanto. Fugaku sempre escondia o cansaço, a raiva e qualquer emoção negativa relacionada às posições que ocupava. Aliás, ele engolia tudo não importasse o quão difícil fosse. Numa busca incessante pelo equilíbrio, seu interior se desgastava e a cada dia que se moldava como um bom líder, perdia-se um pouco de si.

Na manhã seguinte, ele saíra antes do sol raiar, e Mikoto desconfiou que Fugaku possuía alguma espécie de sexto sentido, mas logo aquietou os ânimos ao relembrar que a rotina dele não mudara, diferente de sua ansiedade que crescia a despeito de seu esforço para controlá-la.

De súbito, ela empurrou o resto do desjejum garganta abaixo e trocou de roupa com igual velocidade, tomando as ruas de uma Konoha iluminada pelo sol da manhã. Tinha as palavras na boca e a certeza no pensamento, não esperaria ou hesitaria. Não era sua a obrigação de curar o luto dos outros, menos ainda servir de apoio a alguém que a tratava como se fosse invisível. Não viveria de títulos ou ilusões. Não era mais uma menina tola e encantada por um sorriso.

Próximo ao prédio da polícia, seu coração deu o primeiro sinal de traição. O bater acelerado se intensificava conforme a distância entre seu corpo e seu objetivo diminuía. De repente, as palavras se embaralhavam em sua mente, algumas fugiram pelas portas que encontraram, deixando para trás um punhado de sentenças quebradas que mal serviam para expressar uma ideia sem engasgar para completá-la.

Mikoto se sentiu idiota, entretanto continuou a caminhar decidida a não permitir que coisas tão pequenas lhe impedissem de proferir a frase recém decorada. “Acabou” era simples demais e “estou lhe deixando”, dramático feito aqueles filmes que lhe causavam enjoo, então “irei embora de sua casa” foi escolhida como um ponto final decente.

Caminhou mais dois passos firmes, fitando as escadas do edifício e o gato estirado nela, outra passada mais devagar e uma parada estratégica para se organizar por dentro. “Pare de ser mole!”, esbravejou mentalmente. Retomou o movimento, reconectou-se à determinação que havia adormecido uns minutos e se apressou a extinguir o espaço que a separava de concretizar seu desejo. De esguelha, desviou o olhar para um vulto que lhe chamou a atenção, percebendo se tratar de Kagami.

Ele carregava o filho no colo junto a um bocado de sacolas que faziam seu andar desajeitado e apesar do desconforto, mirava a criança com uma devoção que emocionava. Sorria para ela como se esta fosse um pedaço do céu e recebia de volta um sorriso desdentado de quem sem entender, entendia que o outro lhe amava.

Mikoto se perdeu observando a cena e se lembrando da mãe do menino. Quem poderia prever que aquela família se quebraria no mesmo dia em que nasceria? Injusto era uma palavra branda demais para denominar a crueldade do destino.

Algo se espremeu em seu interior e uma sensação antiga aqueceu seus olhos, forçando-a a mover os pensamentos em outra direção. Tinha um casamento para terminar e adiar qualquer minuto seria transformar o ponto final em reticências.

Virou o rosto para o seu destino. De lá saíram alguns policiais conversando em tom despreocupado, um deles se abaixou e coçou a barriga do gato enquanto o outro achava graça do bichano fazendo cara de desdém.

— Mikoto! — Kagami acenou como pode. — Não lhe vejo desde o casamento.

Ela assentiu sem vontade, não era hora para jogar conversa fora. Estava pronta para dar a primeira desculpa que passasse pela cabeça quando notou um par de olhos redondos grudados em sua reação.

— Shisui cresceu bastante — soltou, devolvendo o olhar ao pequeno.

— Ele faz um bom trabalho comendo. — Kagami respondeu com um sorriso suave.

— Dá para ver pela bochechas... — rebateu achando graça da repentina fixação dele por seu cabelo. — Quer vir comigo? Hum? — Estendeu as mãos para ele. — Vem!

Shisui olhou para Kagami por um momento, depois para Mikoto e as mãos dela, piscou devagar e apontou o indicador como se tivesse uma pergunta a fazer. Abriu a boca quando sentiu o dedo dela colar no seu e rasgou um sorriso que se escondeu ao perceber que fora tirado dos braços do pai, mas retornou aos poucos ao passo que se acostumava com o aconchego de um colo diferente.

— Sabia que você é uma fofura? — Mikoto o mimava apreciando o riso banguela. — O rapazinho mais lindo de Konoha! Aposto que dá muito trabalho ao seu pai. — A frase inocente devolveu-a aos pensamentos anteriores, e ela se obrigou a esperar um minuto antes de perguntar o que queria: — Tem realizado missões, Kagami?

— Não. Estou vivendo do que acumulei durante a gravidez de Hanako.   

Mikoto emudeceu. A ideia viva em sua mente abraçava o ímpeto, porém a prudência mantinha as duas em seu laço. Intrometer-se na vida alheia não era de seu feitio, contudo não lhe parecia impróprio fazê-lo agora.

— Imagino que tenha tudo planejado para quando voltar à ativa — arriscou a naturalidade no comentário.

 — Na verdade, ainda estou tentando me organizar para isso... — Kagami falou sem encará-la. — Sinto que preciso colocar algumas coisas nos eixos, mas não é tão simples. Criar uma criança é descobrir que planos podem dar muito errado.

— Entendo... Pelo menos, você não terá trabalho para encontrar quem cuide dele enquanto estiver fora.

— Sim, mas o problema é o inverso. Shisui não simpatiza com qualquer pessoa.

— Hum... Quer dizer que sou uma privilegiada?! — indagou ao menino que respondeu mostrando as gengivas. — Então esse mocinho deveria passar mais tempo comigo para que eu possa desfrutar desse privilégio.

Kagami percebeu no mesmo instante e sentiu algo desabar dentro de si. Tentou forçar uma frase eloquente, mas nada fluiu além de um “obrigado” que Mikoto de um modo quase infantil lhe perguntou sobre o que se tratava.  

Ao finalmente adentrar ao prédio da polícia, descobriu que Fugaku não se encontrava. Cogitou sair em sua busca, ficar a espera, fazer ambos e acabou por retornar para casa com o sentimento de derrota. Lutou contra a expectativa até as onze quando a chuva intensa daquela noite trouxe o marido de volta ao lar e a hora decisiva se apresentou vestida de tensão.

— Algo aconteceu? — Fugaku perguntou ao percebê-la. Ter a esposa a sua espera naquele horário não era comum e tornava isto algo preocupante. — Sua avó está bem?

— Não o esperei para falar sobre ela, e sim, sobre nós.

A voz seca intrigou Fugaku e o deixou com o pé atrás na mesma medida. Uma conversa sobre o relacionamento deles não poderia resultar em boa coisa, por isso sentia que a dor de cabeça estava próxima.

— Ok, comece — rebateu maldizendo a resposta. Poderia ter dado uma desculpa e matado o assunto ou ao menos empurrá-lo para um futuro no qual conseguiria lidar com ele, mas isto não era uma atitude pertinente a sua personalidade.

Fugaku não se sentia em um relacionamento nem sabia definir o que vivia com Mikoto, por isso discutir sobre o que não existia era tão ilógico que não valia a pena começar, no entanto o líder dos Uchiha viu a coerência se estilhaçar quando um mínimo receio brotou em sua mente. Sem compreender o motivo dele e levado pela prática de nunca recuar perante o temor, aceitou levar adiante a conversa com potencial de lhe provocar uma dor de cabeça inesquecível.

Já Mikoto se sentiu estremecer diante da prontidão e da proximidade de cruzar a linha que a separava de sua vida atual para uma antiga e nova liberdade. Não que tivesse medo do que viria, mas as possibilidades eram muitas e a enxurrada delas que se apoderou de seus pensamentos, travou-lhe as palavras.

Uma volta do ponteiro no relógio e o silêncio conversou com ambos feito velhos amigos mostrando que nenhum deles estava preparado para aquele diálogo. Era começar de uma vez ou esquecer até uma próxima oportunidade. Rasgar a folha ou guardar o caderno para quando estivessem prontos para escrever o novo capítulo.

— Deixarei sua casa — sussurrou as sílabas devagar.

Fugaku piscou numa falha tentativa de organizar a bagunça mental.

— Começamos isso por insistência do conselho quando deveríamos ter iniciado por nossa vontade e se ela não existe quais motivos temos para continuar? Não somos crianças para obedecer às ordens dos outros e não precisamos suprimir nós mesmos aceitando imposições. — Forçou a solidez na voz, porém o que conseguiu foi impedi-la falhar. — Você não será um líder pior se não tiver uma esposa, aliás, você não precisa de uma pessoa como um enfeite ao seu lado para enaltecer o seu potencial porque ele é visível a qualquer um que saiba enxergar minimamente. Então vamos nos poupar de desgastes e manter o resto de simpatia que existe entre nós.  

— Mikoto...

— Não precisamos de cenas, Fugaku. É tão simples.

O silêncio voltou para lhes dizer que algo havia se partido e que o novo capítulo seria difícil como prometia seu título. Caminhos distintos seriam traçados a partir daquela ruptura e uni-los novamente dependia do destino. Restava saber se o caprichoso senhor de todas as vidas insistiria em fazer surgir o amor entre aqueles dois ou deixaria nas mãos deles a chave para destrancar seus corações.  


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Notas finais do capítulo

E aí, gente!
Eu fiquei bem na dúvida sobre fazer a Miko falar sobre a separação, mas achei que ela estava decidida demais para não falar sem ter um bom motivo para isso. Fugaku vai precisar dar esse motivo para fazê-la voltar atrás.
Não tenho experiência em escrever cenas com bebês e tive que me esforçar ao mostrar o pequeno Shisui. Espero que tenham gostado.
Quero saber a opinião de vocês.
Bjs!♥