Gota a gota [HIATUS] escrita por Tamires Vargas


Capítulo 5
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo!

Desculpe a demora, estava na luta para atualizar outra fic, daí veio a ideia para uma one-shot e tive que escrever.
Ficou uma lindeza só! Se quiserem conferir:
https://fanfiction.com.br/historia/687825/Silabado/

Agradecimentos:

— a Anne Angel por ter favoritado. ♥
— a Hell-chan, Sakurita1544, Sayuri, Puppy e Ana Carolina42 por comentarem ♥
— a Kah Lockhart e Ilucida, um duplo agradecimento por comentarem e favoritarem ♥♥
— Reeh Tetsuya e demais que colocaram nos acompanhamentos ♥

Boa leitura!



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Mikoto levantou devagar encarando o marido e escondendo o espanto provocado pela frase. Uma chuva de ideias lhe ocorreu sobre qual seria o conteúdo da conversa e a ânsia por descobrir aumentou junto à quantidade de minutos que se acumulavam enquanto Fugaku não prosseguia com a fala.

Ele se aproximou o suficiente para ficar em frente a ela e ao lado do lago que ondulava calmo apesar da ausência de correntes de ar. Desviou seu olhar para o movimento das águas, vislumbrando uma parte de algo branco, laranja e escamoso que depois de alguns minutos, sacudiu-se com vigor como numa apresentação ao senhor da casa.

Fugaku piscou surpreso tentando se lembrar de ter visto o animal alguma vez. “Não”, pensou convicto. Então desde quando havia peixes naquele lago? Ele fitou Mikoto procurando a resposta, logo recordando do bilhete que avisava sobre a compra deles e a razão por não tê-los achado na geladeira.

— Há quanto tempo você sabia do casamento? — questionou sério, cravando os olhos frios nos dela.

— Soube alguns dias antes.

A voz de Mikoto soou serena, no entanto em um dado instante o tom se enfraqueceu minimamente, dando a Fugaku a certeza de que existia mais por trás daquela simples afirmativa. 

— E que meu pai a escolheu para ser minha esposa?

O timbre dele guardava um traço de desconfiança aliada a uma acusação pronta para se mostrar no momento oportuno. Aquilo não só a inquietou como irritou mesmo desconhecendo o que se passava na cabeça do marido.

 — Há meio ano — exprimiu com frieza, suspeitando do rumo que o diálogo tomaria.

Fugaku engoliu a raiva por se sentir enganado. Todos sabiam de seu destino, exceto ele. As escolhas foram tomadas, os personagens de sua vida, selecionados, e ele foi apenas mero espectador dos acontecimentos.

— Por que aceitou? — questionou baixo e devagar como se exigisse sinceridade.  

Mikoto segurou uma réplica ríspida com muito esforço, quase não podia acreditar que algo tão absurdo cruzara o pensamento dele. Não havia outra explicação para aquele olhar senão a que feria seu orgulho, minando deste a mágoa que roçava as pontas dos dedos em seu coração. Ela precisou controlar a respiração que ameaçava se acelerar devido à revolta e devolveu o mais suave que pode:

— A resposta está debaixo do seu nariz.

Um instante de silêncio preencheu o enfrentamento entre os olhos negros que carregavam uma dureza acusadora. Mikoto decidiu seguir caminho antes que os seus lhe traíssem externando a decepção que sentia, porém foi impedida pelo braço de Fugaku que numa ordem implícita bloqueou sua passagem.

— Seja direta.

Ela não rebateu, apenas o encarou novamente. Os minutos escorreram enquanto o impasse não se dissolvia, aumentando a tensão que pesava o ar. Fugaku estava disposto a arrancar a réplica da boca de Mikoto e a impassividade dela o enervava de um modo que parecia impossível. Quando, por fim, ele tencionou fazê-la falar, uma ideia cruzou sua mente, deixando-o perplexo.

— Não me diga que... — engasgou ainda processando a possibilidade. — por acaso, você sente algo... — A voz se perdeu na certeza da expressão dela.

Fugaku abaixou o braço, vendo-a se afastar com um sentimento indecifrável no rosto. Permaneceu estático juntando os pensamentos que corriam em seu cérebro, maldizendo sua ignorância. Como pôde não ter cogitado a mais simples das razões? Como se deixou levar pelas piores, criando uma imagem terrível da mulher com a qual dividia o mesmo teto? Quando se tornara tão ruim em reconhecer o caráter das pessoas? E quando passara a desconfiar de qualquer um que se aproximasse?

Encostado no umbral da cozinha observando Mikoto, ele mal podia conter a irritação que sentia de si. Talvez o título de idiota completo tivesse vindo junto com o de líder do clã Uchiha.

— Você quer jantar? — Ela indagou de costas.

— Sim... — Limitou-se incerto sobre como deveria se portar.

Poucas situações tinham o poder de fazer Fugaku se sentir desconfortável e o primeiro jantar com sua esposa mostrou sua capacidade de deixá-lo sem saber como agir. Ele demorou muitos minutos até conseguir levar uma porção de comida à boca e outros tantos mastigando. Fitou Mikoto de esguelha algumas vezes, cuidando para que o ato passasse despercebido, ruminando sobre a conversa de outrora e a razão que levara a ela.

A jovem engoliu um naco de atum, inquietando-se com os olhares recebidos, tentando imaginar o que passava pela cabeça dele e se arrependendo do que fizera. Comer sozinha era bem mais agradável que na companhia do marido e se soubesse que ele aceitaria, não teria questionado. Apesar disso, não conseguia negar que a afirmativa lhe trouxera um risco de alegria e o momento dividido com ele, amplificava esse sentimento.

— Eu pensei que havia aceitado por interesse... — Fugaku derramou sua voz sobre o silêncio despedaçando a harmonia entre o casal.

Mikoto se enrijeceu mirando a parede, seus tendões se evidenciavam na pele branca que segurava o hashi com igual força a que segurava os vocábulos na garganta. Trincou os dentes deslizando uma arcada sobre a outra duas vezes e deixou sair:

— Sempre vivi muito bem com o que tinha e não seria dessa forma indigna que buscaria por mais.

Ela tentou voltar a comer, mas o alimento não descia, tencionou sair da presença dele, contudo se manteve ali sentindo a dificuldade de controlar as emoções que borbulhavam em seu íntimo, proibindo-se de externá-las e revestindo o peito com uma armadura de frieza.

— Desculpe. — O murmúrio soou forte e débil ao mesmo tempo. — Eu pensei em várias razões e nenhuma parecia ser a verdadeira... Não vou me perder em justificativas rasas. — Sacudiu a cabeça devagar. — Acredito que você é uma mulher que decide os passos de sua vida, por isso não aceitaria um casamento imposto, logo possuía algum interesse.

Mikoto se dividiu entre a horrível frase que ouvira e o pedido de desculpas. Havia uma parte de si que desejava perdoá-lo, a outra lhe advertia que não deveria fazer isto de modo precipitado. Deixou a mesa sem revidar qualquer palavra. Ele não as merecia naquele momento. A resposta poderia esperar até o dia seguinte, talvez a empurrasse para o outro ou pelo tempo que sentisse vontade. Preocupar-se com isto não seria problema dela.

 

Na semana que se seguiu, Fugaku suportou a indiferença da esposa. Nada de olhares, palavras ou dividir o mesmo ambiente além de cinco segundos. Mikoto o ignorava com uma maestria que incomodava e enchia sua cabeça de dúvidas quanto ao que fazer.

“Merda!”, bufou. Como se já não fosse difícil cuidar do clã e da polícia tendo que enterrar sua dor, ainda havia aquele casamento que jogaram em seu colo. Fugaku não sabia lidar com ele, que dirá um desentendimento. Preferia a convivência fácil com seus subordinados, resumida em ordenar e vê-los acatarem suas ordens. Sem tensão, situações desconfortáveis, pedido de desculpas e sem se sentir um patife por ter atirado sua sinceridade na cara de alguém.

— Capitão. — Yashiro chamou, percebendo que havia desperdiçado sua saliva. Fugaku tinha uma estranha habilidade de parecer atento quando estava absorto. — Problemas em casa?

O líder Uchiha estacou o passo com força, virando o rosto com o semblante carregado.

— Por que diabos acha que tudo se relaciona ao meu casamento?! — bradou provocando um arrepio na espinha de Teru, que os acompanhava em silêncio até então.

— Ele não disse por mal, capitão... — O soldado falou baixo, levantando as mãos em sinal de rendição após receber um olhar fulminante.

— Foi apenas uma pergunta. Desculpe se o ofendi.

— Uma pergunta... — Fugaku remendou. — Tenho cara de quem está com problemas em casa?

Yashiro e Teru se olharam rapidamente, concordando em ficarem calados. A dose de mau-humor recebida fora suficiente e continuar a conversa não renderia outra coisa além de dor de cabeça.

Fugaku teve vontade de mandá-los para o inferno, porém se conteve, não queria explicitar os infortúnios de seu matrimônio. Continuou o caminho tentando não alimentar a irritação provocada pelo par de intrometidos num mutismo que os deixou igualmente tensos e aliviados.

 

Kagami aguardava o líder na sede da polícia, observando os detalhes do cômodo de forma distraída, às vezes, concentrava-se num detalhe, mas logo os pensamentos dispersavam para longe. Embora sua presença ali não passasse de um bunshin, a tranquilidade falhava em abraçá-lo. Ainda estava se acostumando a se distanciar do filho e mal podia pensar no dia em que teria de deixá-lo sob os cuidados de outra pessoa.

Ele percebeu a surpresa de Fugaku ao vê-lo e mostrou uma expressão amigável que foi recebida com seriedade junto ao franzir de cenho que indicava um questionamento.

— Sinto por não ter vindo até você antes. Ser pai exige muito de mim.

— Você tem a sua própria vida para cuidar. Não se preocupe com a minha.

Kagami piscou devagar avaliando a hostilidade do jovem líder. De fato ele havia mudado como ouvira falar, pouco lembrava o rapaz que cumpria seus deveres sem mergulhar neles a ponto de permiti-los moldar seu espírito. Quem o olhasse agora jamais diria que era alguém que pudesse inspirar simpatia ou manter uma conversa agradável.

— É verdade, eu tenho, mas isso não me deixa cego para as outras. Mesmo que a minha esteja ruindo, não deixarei de olhar por um amigo.

Fugaku sentiu a saliva descer pesada diante da fala e os olhos serenos de Kagami, havia neles a compreensão e empatia próprias daqueles que bem sabiam o gosto de perder quem se ama, e isto perturbou a solidez de sua máscara.

— Tem o direito de perder tempo com o que quiser.

— Não considero perda — rebateu calmo. — Se precisar de mim... — Meneou a cabeça em despedida e sumiu em uma nuvem de fumaça.

A solidão se aproximou de Fugaku tornando a ausência de Kagami um desconforto inexplicável, apontando a realidade irrefutável e amarga que se apoderara da vida do primeiro, facilmente descoberta pelo último.

 

Voltar para casa e encontrar Mikoto foi a cereja do bolo de um péssimo dia. O clima parecia ter piorado, pesava e se arrastava pela casa marcando os móveis e objetos, engasgava com a certeza de uma situação insustentável e fez Fugaku se esquecer de procurar o melhor modo de falar com a esposa. Ele parou em frente à porta do quarto convicto quanto à atitude, contudo a passagem dos minutos minou a firmeza de sua decisão. O que diria? Que não aguentava mais se sentir um intruso dentro do próprio lar, que a raiva dela estava beirando ao exagero? Não. Porque em suas mãos não cabia julgar a última circunstância nem reclamar da primeira, ambas foram consequências de sua estupidez e deveria aprender a suportá-las.

Respirou resignado, esperaria o momento em que ela voltaria a lhe dirigir a palavra através de bilhetes, virou as costas percorrendo o curto trajeto até seu quarto e fitou de esguelha a porta que abandonara antes de abrir a sua.

— Espere. — Mikoto pronunciou decidida. — Você vai me ouvir.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Falem tudo!
Gente, eu sou louca pelo Kagami! Fico toda derretida quando escrevo uma cena com ele. Se souberem de alguma fic com esse lindo, digam para mim, por favor! Teremos mais dele nos próximos capítulos e uma surpresa mega fofa. ^^
Eu disse que as coisas iam melhorar nesse capítulo e melhoraram, só não ficaram boas por completo. kkkk Mas calma, de pouco em pouco eles vão se acertar. Pensem pelo lado bom: ele pediu desculpas, isto já é um grande passo para quem a ignorava.

Bjs e até o próximo!



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