Gota a gota [HIATUS] escrita por Tamires Vargas


Capítulo 2
Resiliência


Notas iniciais do capítulo

Yo, gente! Como estão?

Mais um capítulo para vocês.^^
Espero que gostem!

Agradeço a receptividade de todas! Obrigada llucida, Sayuri e Aline por comentarem e Ashamy,e Lais Kaori por favoritarem, por fim a Daniele um obrigado duplo por comentar e favoritar. ♥♥



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Fugaku absorvia o que lhe despejavam com o máximo de atenção. As orientações acerca de sua nova posição formavam uma lista que se desenrolava com a premissa de que muito faltava para o fim, e isto o fez reconhecer que havia um abismo entre observar a liderança e exercê-la de fato. De repente, os ensinamentos de seu pai não eram suficientes para lidar com tudo que estava por vir e a desorientação apresentou seu cartão de visitas. Inúmeras pessoas agora dependiam dele e depositavam expectativas em suas atitudes. Uma realidade que o acompanharia até o dia em que deixaria de carregar o título de líder dos Uchiha.

Ele jamais pensou em recusar a responsabilidade. Abraçara a ideia desde garoto, com o fervor que só as crianças têm, e se preparou para o cargo. Acompanhou as reuniões no santuário, lapidou sua personalidade a fim de garantir que inspirasse respeito e treinou para se tornar o mais forte dentre os herdeiros de Indra. No entanto, os sonhos do menino ingênuo se dissiparam pelo ar como areia levada pelo vento.

A palavra “casamento” chegou aos seus ouvidos sobressaltando-o. Ela não fazia o mínimo sentido naquele contexto, tão deslocada quanto à pergunta que não se verbalizou por ter sido prontamente respondida.

— O importante é oficializar o mais rápido possível. Não há necessidade de cerimônias. — Um ancião disse.

— Não ter uma parecerá estranho. Levantará suspeitas. — Outro retrucou. 

— Concordo. Não podemos transparecer desespero em nossas atitudes. — Um terceiro ponderou.

— De qual casamento estão falando?... — Fugaku falou para si com certa desconfiança.

— Do seu, capitão. — Yashiro respondeu baixo escondendo a ironia com um tom de voz comedido.

 Fugaku piscou estarrecido e observou o diálogo prosseguir como se sua presença fosse um mero detalhe naquela sala. Estavam traçando as diretrizes de sua vida, negando-lhe e permitindo-lhe o que queriam, amarrando as cordas que o tornariam uma marionete.

— Não me convencerão desse absurdo! — interrompeu a confabulação dos idosos que se entreolharam por um instante.

Um deles tomou a frente com calma, havia cogitado a possibilidade daquela reação e guardado na manga o argumento que derrubaria a postura contrária do jovem.

— Embora pareça repentino, isto é algo que foi pensando há algum tempo. — Ele pausou propositalmente a fim de amainar a revolta e despertar a curiosidade do rapaz. — Seu pai conversou conosco sobre a questão e chegamos ao consenso de que manter o critério de hereditariedade para o cargo evitaria problemas futuros. Tivemos muitas batalhas pela liderança no passado e isto enfraqueceu o clã. Não podemos arriscar que se repitam. E a melhor forma é garantir um descendente.

Como premeditado, a justificativa atingiu Fugaku em cheio.

Ele possuía ciência das disputas ocorridas e como aquela época foi turbulenta para todos. A desunião era grande e a tensão se espalhava pelo ar tornando a convivência quase impossível. Lutas eram travadas frequentemente para apontar um novo líder e conspirações se formavam a cada nome anunciado. Não raramente, um membro se perdia numa missão que poderia ter sido concluída tranquilamente.

O Quinquênio do Leque de Sangue teve seu fim pelas mãos de um jovem de dezesseis anos. Uchiha Yachi venceu a todos que o desafiaram, sobreviveu a diversas emboscadas e puniu seus opositores com severidade, percorrendo uma trajetória de mortes e respeito adquirido através do medo.

— Pelo seu silêncio, creio que compreendeu o que eu disse. — O ancião retomou a fala.

— Sim... — Fugaku respondeu meditativo. — Mas um casamento agora não deixa de ser precipitado.

— Se algo acontecesse a você neste momento, nós teríamos grandes problemas, da mesma forma, até que um herdeiro seu nasça, viveremos numa delicada condição. Prolongá-la é uma imprudência que não podemos cometer — concluiu certo de que a réplica cumprira seu papel.

A lua banhava a vila com sua luz pálida e fria, delineando as sombras dos habitantes que não queriam voltar para casa. Era o início da primavera em Konoha e a temperatura mais elevada tornava as noites animadas. Alguns bares se mantinham abertos até altas horas e outros estabelecimentos, que ofereciam diversão para adultos, apresentavam suas ofertas típicas da estação.  

Numa tímida pensão deslocada da agitação, o líder Uchiha terminava sua refeição. Havia estendido o máximo possível seu tempo perambulando pelas ruas embora soubesse da inutilidade da atitude. Era impossível escapar dos fantasmas que moravam em seu coração.

Percorreu o trajeto até sua residência, seguindo pelo mais longo. Adentrou uma ruela parcialmente iluminada por lâmpadas cansadas que desmaiavam o brilho quase com a mesma frequência que seus passos lentos e primorosamente iguais. Parou sob um poste esperando a escuridão se despejar sobre si. Contou um minuto, dois e desistiu. A sua frente os feixes deixaram de fraquejar como se reconhecessem sua presença e lhe dedicassem o devido respeito. Incomodado, aumentou o ritmo da caminhada, recebendo o vislumbre de seu destino ao dobrar a esquina seguinte. 

O encontro de seu pé esquerdo com o assoalho de madeira dividiu o silêncio do cômodo, deixando para trás a confortável tranquilidade contida nele e transformando-a numa solidez esmagadora. Inundou seu ouvido gritando memórias e dores, apontando o vazio que preenchia aquela casa como o ar e reforçando a certeza da solidão.

Fugaku não aumentou a quantidade de barulho como fizera nas outras vezes. Caminhou suavemente sem macular a ausência de som, adentrou ao quarto que não lhe pertencia percorrendo os olhos pelo mesmo até fixá-los num porta-retratos e engolir a saliva que precisou desviar de um nó para seguir caminho. Não ousou tocá-lo, a foto abrigada pela moldura de vidro petrificava seus músculos, permitindo somente um trabalhar livremente e este se movia conforme as emoções lhe atormentavam. A escuridão lhe inquietou, entretanto não acendeu a luz, enxergava o suficiente daquela forma e não precisava de uma visão mais nítida do ambiente. Também não carecia de voltar para seu lar à noite, menos ainda pisar nele durante o dia. Se lhe fosse dada uma escolha, viveria como se ele nunca tivesse existido.

Na semana que antecedeu o matrimônio, a atmosfera da casa sofreu bruscas alterações. O cheiro seco e gelado foi sobreposto gradualmente por um aroma de flores conforme os pertences da nova moradora chegavam. O quarto principal teve sua decoração modificada e os bens do falecido líder cuidadosamente guardados e transferidos para outro cômodo. As janelas se abriram e o vento, como se soubesse da necessidade, varreu todo o interior com ar morno, espalhando pétalas e cor no ambiente. A vida retornava em cada detalhe, devolvendo ao lugar o que havia perdido. Detalhes que Fugaku não viu, pois nada daquilo lhe importava.

Ele encontrou com sua noiva na véspera do casamento, atendendo ao pedido dela que queria situá-lo quanto à mudança e talvez conversar sobre outros assuntos.

Uchiha Mikoto logo percebeu que suas palavras apenas roçavam os ouvidos dele, sem adquirir qualquer relevância. Calou-se observando a expressão do futuro marido. O frio e arrogante Fugaku parecia um menino quebrado, carregava o horizonte nos olhos como se procurasse nele um alento e quando sua voz se apresentou, não passou de um fio rouco e pesado pronunciando devagar um par de frases dotadas de algum sentido.

— Faça como preferir... Não precisa me consultar.

A jovem assentiu se voltando ao ponto que ele olhava fixamente e assim compartilharam calados o pôr do sol que se arrastou em tons de dourado e laranja até ser sucumbido pela noite.

Mikoto não se ressentiu pelo distanciamento evidente na expressão de Fugaku durante a cerimônia, apenas a observou e guardou para si o que viu. Não esperava que ele demonstrasse algum traço de felicidade, menos ainda que fingisse. Sinceridade era uma de suas virtudes embora fosse tão seca que beirava à grosseria, o que não a impedia de admirá-la. No entanto, a primeira dose recebida a fez perceber que necessitaria de maior resiliência do que acreditava ser o suficiente.

— Este quarto será somente seu — anunciou antes de dormir. — Se precisar, estarei ao lado.

 Ela fitou suas costas se afastaram e desaparecem com o baque da porta, anunciando o fim do dia e negando a ínfima possibilidade de uma conversa. Esperou-o voltar com alguma palavra esquecida ou um “boa noite” digno da cartilha da boa educação até se convencer que nada viria. Deitou-se na cama de casal deixando o espaço que pertencia a ele e lutou contra suas pálpebras enquanto apurava os ouvidos a fim de captar qualquer ruído, dando-se por vencida em pouco tempo. Esperar era inútil e esta foi a primeira lição que Fugaku lhe ensinou.


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Notas finais do capítulo

Despejem suas opiniões!!!!
Quero muito saber o que estão achando da história e do Fugaku. A Mikoto vai aparecer mais a partir do próximo, vocês vão gostar. ^^
Gente não interpretem mal a parte de "esperar é inútil". Eu quis dizer que esperar algo que o Fu deixou claro que não dará, é inútil. Ok?
Bjs!!♥♥



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