Pénombre escrita por Lord


Capítulo 2
Eu sou um perigo para gente velha.


Notas iniciais do capítulo

Olá menines, espero que gostem.



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Além do pó, o olhar maldoso de Parvati também caía sobre mim. Eu só estava no meu novo trabalho há dez minutos e já queria desistir. Na verdade eu nem havia começado a trabalhar, só estava parado no mesmo lugar desde que Jack foi pra Deus sabe onde.

— Escreva tudo, exatamente tudo que acontecer dentro dessa livraria aqui. – Jaspe me entregou um livro de capa azul. – É como se fosse um diário, quando você terminar coloque na estante número sete do sótão, então você pega outro e faz o processo todo outra vez.

— Pra que? – Perguntei.

— Apenas escreva. – Parvati disse emburrada.

Eu devo ter ficado sentado em um dos sofás não tão confortáveis da livraria por umas duas horas e nada aconteceu. Quando eu digo que nada aconteceu eu realmente quero dizer que nada aconteceu. Nenhuma viva alma entrou na livraria, os únicos sons eram as vozes de Parvati e Jaspe que conversavam baixo de mais para eu poder entender. Então meu diário estava sem nenhuma palavra escrita, apenas um desenho de Parvati, ela era bonita e eu talentoso, era inevitável.

— Ozzy! – Jaspe gritou um pouco alto demais. – Eu tenho que fazer algumas coisas, volto em uns vinte minutos, você pode tomar conta de tudo sozinho?

— Como assim sozinho?

— Meu turno acabou de acabar. – Parvati pegou uma mochila atrás do balcão. – Te vejo em casa.

— Te vejo em casa. – Forcei um sorriso.

— Então?

— Claro que eu posso tomar conta das coisas sozinho. – Falei.

— Não toque nos livros. – Parvati falou batendo a porta.

Como não havia nada para fazer, eu acabei começando a escrever no meu diário.

 ~*~

22 de março de 2015.

Estou aqui faz um bom tempo, nenhum movimento além dos meus dois detestáveis colegas de trabalho. Minha “prima” Parvati mandou que eu não mexesse em nada e o garoto que devia me ensinar como a livraria funciona saiu. O pior de tudo é que ninguém se deu o trabalho de me deu a senha do wi-fi. Eu estou ficando louco.

Alguma coisa nesse lugar chama a minha atenção. Por mais que não pareça eu já estive em muitas livrarias, conheço a capa de uma centena de livros, mas não vejo nenhuma capa conhecida, não vejo nenhum livro do Harry Potter ou algum dos clássicos que eu fui obrigado a ler na escola.

~*~

Quase tive um ataque do coração quando alguém entrou na livraria. Uma garota ruiva com cara de menos amigos que eu estava segurando um copo de suco e um diário vermelho. A garota olhou em volta por algum tempo até perceber que eu estava sozinho.

— Onde está o imprestável do meu irmão? – Ela disse ríspida. – E quem é você?

— Ozzy. – Respondi. – Se o imprestável do seu irmão é o Jaspe, então eu não faço a mínima ideia, ele só saiu.

— Ah, você é o sobrinho da Pérola? – Ela sentou no balcão. – Soube que você é um garotinho mal.

— Desculpe, mas você não se apresentou ainda. – Falei.

— Ah, eu sou Ruby, a irmã gêmea do Jaspe. – Ela apertou a minha mão, percebi que ela tinha um anel muito parecido com o do seu irmão, porém a pedra era vermelha. – Como está sendo o seu primeiro dia?

Ruby era bem diferente do Jaspe, primeiramente seu cabelo era mais puxado para o tom de vermelho, enquanto o dele era completamente laranja, ela não era tão alta e os olhos azuis eram gelados.

— Seu irmão e a Parvati me odeiam. – Falei. – Eu estou com fome e minha cabeça vai explodir, talvez eu seja a primeira pessoa a literalmente morrer de tédio.

— É o seu primeiro dia, relaxa. – Ela revirou os olhos. – As coisas ficam muito interessantes depois da meia-noite, é quando temos mais movimento.

— Como assim?

— As pessoas que vem aqui são estranhas, loucas de pedra, o tipo de gente que te faria atravessar a rua. – Ela fez o barulho mais irritante do mundo tomando o suco que restava no copo de plástico. – Os clientes são tipo a Britney Spears de 2007.

Eu ri. Diferente de Parvati e Jaspe, Ruby era uma garota legal e com um bom humor, provavelmente havia feito alguma merda bem grande e ido parar naquele fim do mundo, assim como eu.

— O que você faz aqui? – Jaspe perguntou entrando na livraria. – Você devia estar em casa.

— Eu quero o turno da noite. – Ela deu de ombros.

— Não, o turno da noite é meu, já basta eu ter que dividir ele com o novato. – Jaspe fez uma cara feia.

— Oh, Jaspe, querido, eu vou ficar e você não pode me impedir, eu posso te ferrar e você sabe muito bem disso. – Rubi saltou do balcão.

— Você está ficando muito tempo aqui. – Jaspe murmurou. – Se Jack descobrir que você passa mais tempo do que devia aqui ele vai te tirar.

Eu já não estava entendendo nada que estava acontecendo. Eu tenho uma irmã três anos mais velha, nós sempre brigamos. Uma vez eu colei os Luoboutins dela no chão e foi a maior gritaria, mas nada de chantagem, afinal, irmãos devem se amar, chantagem só pode ser usada na hora de dividir a herança. Vovó que me ensinou.

— Você pode ficar no meu lugar. – Ofereci.

— Não, você vai perder toda a ação da madrugada. – Ruby falou sorrindo. – Você tem que conhecer a Margot, vou pedir para ela ler a sua mão.

— Você tem conversado sobre a vida pessoal dos clientes? – Jaspe perguntou assustado.

Enquanto a discussão rolava solta e os dois estavam prestes a sair no tapa, alguém entrou na loja. Quando Ruby disse que as pessoas que iam à livraria eram estranhas, ela sem dúvidas não estava brincando. Um sujeito de uns setenta anos foi quem entrou, ele usava um casaco amarelo mostarda que poderia ser visto da lua, tinha a maior corcunda que eu já havia visto na vida, sem falar que havia apenas um tufo de cabelo na sua cabeça inteira, e ele saia da orelha esquerda do sujeito.

Lembrei do que Jaspe falou e catei o diário. Como eu não conseguiria fazer nenhuma descrição que não fosse ofensiva e não me fizesse parecer ser dez vezes mais cruel do que eu realmente sou, eu comecei a desenhar o sujeito.

— Posso ajudar o senhor? – Ruby perguntou abrindo um sorriso amarelo.

O homem olhou com uma cara um tanto quanto rabugenta para Ruby que devolveu na mesma moeda.

— 324, vermelho. – Ele disse seco entregando um cartão para Parvati.

— Vou buscar enquanto meu irmão checa os seus dados. – Ela disse simpática.

Ruby encaixou seu braço no meu e me levou para o segundo andar. O segundo andar parecia ser incrivelmente maior do que o primeiro, as estantes deviam ter o dobro da altura e tinha pelo menos três vezes mais estantes que no primeiro andar.

— Bem, esse é um cliente especial. – Ruby disse. – Cada um deles tem um código em forma de cartão, são como clientes especiais. 324, significa que o livro que ele quer está na terceira estante, segunda prateleira de cima para baixo e é o quarto livro da esquerda para a direita.

Ela pegou a escada de correr e posicionou no lugar que o livro se encontrava.

— E a cor?

— Só o Jack sabe. – Ela respondeu ainda pendurada na escada. – A gente só coloca o último livro que o cliente comprou na ficha dele, o Jack cuida dessas coisas pela manhã.

A garota voltou carregando um livro fino e de capa preta. Ele parecia um daqueles livros infantis que são altos e largos, porém quase não tem páginas. Voltamos para o primeiro andar, Jaspe digitava alguma coisa no teclado barulhento do computador velho.

— Aqui está. – Ruby entregou o livro para o velho.

— Obrigado. – Ele disse.

— O senhor tem que pagar. – Jaspe falou tenso.

— Eu não tenho dinheiro. – O velho falou abraçando o livro.

— Então você não pode levar o livro. – Ruby tentou pegar o livro novamente.

— Não! Eu tenho que levar ele. – O homem gritou. – Eu tenho que levar ele.

— Não, você tem que pagar. – Jaspe disse sarcástico.

Ruby tentou pegar o livro outra vez, mas foi empurrada para longe. O velho estava pronto para sair quando eu tive um ataque de adrenalina e acabei colocando o pé na frente dele. Casaco Amarelo foi para um lado e o livro foi para outro.

— Volte com dinheiro e nós te daremos o livro, sem dinheiro, sem livro. – Eu disse com ar vitorioso.

Casaco Amarelo não disse nada, apenas saiu com cara feia.

— Você derrubou um velho. – Jaspe disse.

— Você é mau e cruel. – Ruby me olhou sorrindo.

— Ai meu deus, eu derrubei um velho. – Falei. – Eu pago o livro.

Coloquei duas notas de cinquenta no balcão, peguei o livro que ainda estava caído no chão e saí correndo loucamente atrás do velho. Correr foi um exagero, já que ele andava extremamente devagar.

— Aqui. – Eu disse ofegante. – Fique com o livro, eu peço mil desculpas por ter derrubado o senhor.

— Tudo bem meu jovem. – Ele disse, dessa vez em um tom doce. – Muito obrigado, você está desculpado.

Quando eu voltei para livraria me deparei com Ruby e Jaspe me encarando perplexos.

— Nunca mais faça isso. – Jaspe disse.

— Eu sei que derrubar um velho é errado...

— Nunca mais compre um desses livros para ninguém, muito menos para você. – Ruby disse séria.


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