Pénombre escrita por Lord


Capítulo 1
O início do fim da minha vida.


Notas iniciais do capítulo

Espero do fundo do meu coraçãozinho que vocês gostem.



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O maior suspiro dado por um adolescente saiu da minha boca assim que o meu pai parou em frente à casa antiga de dois andares que pertencia à minha tia-avó Pérola. Muitos adolescentes problemáticos são mandados para escolas supercaras, reabilitação ou vão para um grupo de apoio. Eu fui parar no interior do interior do interior do interior, bem no fundo do poço. Bregalândia, população de idosos 70000000 população de adolescentes lindos e maravilhosos 1. Eu queria morrer. Eu ia morrer.

— Eu estou tão arrependido de traficar maconha para os meus amigos podres de rico. – Falei encarando o meu pai.

Eu era a cópia fiel do meu pai, só que uns trinta anos mais novo. Os dois tinham o mesmo cabelo castanho-claro que era uma cor estranha, era muito escuro para ser loiro e muito claro para ser castanho, os mesmos olhos verdes inteligentes e perigosos, além de carregar a mesma expressão de poucos amigos.

— Você vai se arrepender ainda mais quando tiver que trabalhar na livraria do seu tio. – Meu pai sorriu.

— Por que você me odeia? – Perguntei formando uma falsa cara de choro.

— Ozzy, não é o fim do mundo. – Meu pai pousou a mão em meu ombro. – Eu também passei por isso na sua idade, bem, eu não era um traficantezinho, mas eu também tive problemas e passar um ano aqui fez de mim o homem que eu sou.

— Eu achava que as pessoas do interior eram boazinhas.

Eu poderia tentar argumentar com o meu pai até o resto da minha vida, eu poderia me jogar no chão e fazer birra e nada disso mudaria. Como eu sabia? Eu havia me jogado no chão como uma criança pequena no meio de uma das reuniões importantes dele, isso acabou deixando ele ainda mais puto.

— É só um ano.

— Ele é a sua cara! – Uma mulher muito bonita disse descendo as escadas da varanda.

Ela devia estar na casa dos trinta anos, seus cabelos eram loiros, não iguais aos meus, loiros como se fossem feitos de ouro, seus olhos eram os típicos olhos verdes dos Pénombre, provavelmente ela devia ser alguma das netas da Tia Pérola.

— Pérola! – meu pai disse empolgado.

— Tom! – Ela disse mais empolgada ainda. – Você deve ser o Óscar.

— Ozzy. – Falei apertando a mão dela. – Você deve ser alguma neta da Tia Pérola, eu particularmente acho um pouco falta de criatividade você ter o mesmo nome que a sua avó, mas nada contra, regras do interior e eu respeito.

Meu pai soltou um risinho pelo nariz.

— Que foi? – Perguntei. – Ela não fala a língua da cidade?

— Eu sou a sua Tia Pérola.

— Não brinca. – Gritei assustado. – O interior fez muito bem para a sua pele, você parece ter uns trinta e cinco. Pai me deixa aqui, pode voltar para a cidade e a poluição e tudo mais.

— Na verdade, eu tenho trinta e seis. – Ela disse séria.

— Sua avó era dezessete anos mais velha que a irmã mais nova, que no caso é a Pérola. – Meu pai disse sorrindo. – Eu sou um ano e dois meses mais velho que ela.

Eu estava completamente abismado. Meu pai era mais velho que a minha tia-avó. Deus, isso é certo? Se eu fosse a minha avó eu ficaria louca em saber que a mãe dela ainda dava horrores pro pai dela mesmo depois de velha. Era confuso e nojento.

— Eu tenho que voltar se não vou perder o meu avião. – Meu pai disse quebrando o momento. – Três segundos e sem olhar nos olhos.

Abracei o meu pai e contei até três. Essa foi uma técnica desenvolvida quando eu era criança e ele tinha que viajar. Acabei me acostumando com abraços rápidos e nenhum sofrimento, era como tirar um curativo.

— Vamos entrar? – Tia Pérola disse assim que a porta do carro bateu.

— Claro.

Estranhamente a casa era mais antiga por dentro do que por fora. Mais ou menos um milhão oitocentos e noventa e sete mil livros decoravam a casa. Tinha todos os tipos de livros. Os móveis eram antigos e rústicos, sem falar que o chão rangia quando eu andava. Era como se eu estivesse em 1800. Eu queria deitar no chão barulhento e chorar até que as minhas lágrimas apodrecessem a madeira.

— E aqui é o seu quarto.

Meu “quarto” na verdade era o sótão. Havia duas camas que como todas as outras coisas da casa, um pequeno armário e uma escrivaninha de cada lado do quarto, em um dos cantos havia uma estante cheia de livros antigos, no outro havia uma estante vazia. Era um quarto estranho, porém agradável.

— É bem acolhedor. – Falei sendo educado. – Por que tem duas camas no quarto?

— A outra é da Parvati. – Ela sorriu. – Sobrinha do Jack, ela tem dezessete, assim como você.

Agora sim eu queria deitar e chorar. Eu nunca, never, jamais dividi nada além de... Eu nunca dividi nada, meu pai é podre de rico, eu não divido as coisas, quanto mais dividir um quarto. Ou melhor, dividir um quarto com uma completa desconhecida. Eu precisava tweetar a minha ira.

— Qual é a senha do wi-fi?

— Wi o que? – Pérola perguntou confusa. – Brincadeira, eu sei o que é wi-fi, mas nós só temos internet na livraria, então vai ter que esperar até mais tarde para falar com os seus amigos.

— Eu não queria falar com os meus amigos, eu queria falar com o meu terapeuta. – Resmunguei.

Tia Pérola sorriu e me deixou sozinho no meu novo quarto.

Como eu não sou burro eu sabia que não haviam empregadas e como meu pai não deixou eu trazer nenhum eu mesmo tive que desfazer as minhas malas e guardar as minhas coisas no armário vago.

— Você deve ser o Óscar. – Alguém falou.

Quase cuspi meu coração do susto que eu levei.

Um homem de meia idade estava parado na porta. Aquele devia ser o meu tio, eu nem lembrava o nome dele. Meu tio tinha os cabelos pretos decorados com alguns fios brancos, seus olhos eram castanhos, sua pele era morena e ele devia ter uns dois metros de altura.

— Sou o Jack. – Ele riu.

— Pode me chamar de Ozzy. – Apertei a mão dele. – Será que você poderia me levar na livraria logo?

— Claro.

***

Quando eu falei que eu ia morrer eu falei exagerando, bem, pelo menos era o que eu pensava até chegar à tal livraria. A Livraria Penumbra era um prédio de dois andares amassado entre uma cafeteria e uma loja de roupas. Eu tinha quase certeza de que o pó que segurava as paredes e o assoalho só estava unido porque os cupins estavam de mãos dadas.

— Não querendo ser inconveniente ou coisa do tipo, mas eu não posso trabalhar aqui. – Falei. – Eu tenho rinite e sinusite, provavelmente no fim da noite vocês estarão fazendo o meu velório.

Um garoto do outro lado do balcão tossiu a palavra “mimado”.

— Perdão?

— Está perdoado. – Ele respondeu seco.

— Jaspe! – Uma garota negra repreendeu.

— Parvati. – O garoto fez uma careta engraçada.

Jaspe era pelo menos vinte centímetros mais alto, seu cabelo era de ruivo tão forte que parecia que uma pequena fogueira fora acendida na cabeça dele, algumas sardas rodeavam os olhos azuis. Em um dos dedos ele tinha um anel com uma pedra tão laranja quanto o seu cabelo.

— Esse é o Ozzy, ele vai ficar o turno da noite com você. – Jack disse com um sorriso sarcástico. – E Parv, esse é o seu novo colega de quarto.

— Se fodeu. – Jaspe disse baixinho.

Parvati cutucou o ruivo.

— Expliquem para ele como as coisas funcionam, eu tenho que levar esse livro para um... – Tom fez uma pausa. – Cliente.

— Tudo bem, te vejo em casa. – Parvati deu um beijo no tio e se virou para mim.

Eu conhecia o tipo dela, uma flertadora nata, provavelmente não faz nada, quem faz as coisas é o cabeça de fósforo. Ela era linda, seu cabelo encaracolado e preto ficava até perto da cintura, era bastante encorpada pra alguém de dezessete anos, era alguns centímetros mais alta e tinha um sorriso encantador.

Ela se apoiava no cara de raposa e eu me apoiaria nela e juntos nós dominaríamos o mundo. O mundo não, mas a livraria.

— Então novato, nós trabalhamos em cinco pessoas... – Jaspe começou a falar, mas como a voz dele me dava tédio eu parei de ouvir, apenas balancei a cabeça positivamente.

— Quem é Ruby? – Parvati lançou no ar.

— Ruby? Que Ruby?

— Quando alguém fala com você, você presta atenção. – Ela me deu um tapa na nuca. – Somos uma livraria especializada em livros raros e nossos clientes são um tanto quanto peculiares, então se você quebrar um elo você quebra tudo, logo comesse a prestar atenção nas coisas que as pessoas falam. Eu não gosto de você, eu não gosto do seu tipo, Óscar Pénombre, você é o príncipe do playground, a abelha rainha, mas isso é onde você costumava viver. As coisas não são como no seu mundinho rico e perfeito, então amadureça ou vamos fazer da sua vida um inferno.

 Parvati pegou um livro que estava sobre o balcão e saiu pisando firme. Eu não sabia se estava mais impressionado por ela conseguir falar tudo aquilo sem parar pra respirar ou ela ter dado um piti de diva do nada.

— Ela te desmontou. – Jaspe sorriu. – Seja bem-vindo, novato.


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